terça-feira, abril 18, 2006

Curtas (1)

Há 3 segundos que olhava para aquelas teclas do piano que as suas mãos dedilhavam, sem conseguir perceber.
Que música era aquela que estava a tocar, que não conhecia, mas que tão agradável e naturalmente estava a sair?

- Chamaste? (perguntou uma voz grave, femininamente grave, quase num sussurro)

Levantou os olhos do teclado do piano de cauda que fazia 2 anos tocava naquele bar, daquele hotel à beira mar. Levantou os olhos quase num sobressalto e vislumbrou-a, linda, quase perfeita, encostada ao piano com o copo na mão e o corpo embalado ao som da música – daquela música.

- Desculpa?
- Perguntei se chamaste!
- Eu?
- Sim... com essa música!


Não estava a perceber.
Quem era aquela mulher que nunca vira antes por ali?
Quem era aquela mulher que até uns instantes antes não tinha visto pelo bar?
Como apareceu ali tão repentinamente?

- Com esta música? Mas eu nem sei que música é esta! Estava precisamente a tentar descobrir isso!
- Não percas tempo! Essa, é a nossa música!
- Nossa? Nossa de quem?
- Minha e tua e de todos os que amam.
- Mas, eu nem te conheço!
- Conheces sim! Senão, como estarias a tocar essa música?


Desviou o olhar novamente para o teclado, à procura de algo que lhe indicasse que música era aquela, algo que lhe desse algum indício de como e porquê, continuava a tocar com tanta naturalidade aquela música que lhe sendo completamente desconhecida, lhe soava a tão familiar.
Não conseguiu! Nada lhe dava a justificação para o que estava a acontecer.
Confuso, levantou de novo os olhos para a mulher, que… já lá não estava, apenas o copo ficara.

Instintivamente olhou para praia e viu o seu vulto, que caminhando em direcção ao mar, entrou pela água, sempre caminhando, até que, desapareceu por completo coberto pela água.

Chamou o empregado e perguntou-lhe se conhecia a mulher que havia estado ali a conversar com ele.

- Mulher? Que mulher? Não vi mulher nenhuma!

Ficou ainda mais baralhado. Tão baralhado, que parou de tocar.
Quis recomeçar, mas não sabia como. Não sabia que música era, não a conhecia.
Terá sido uma alucinação? Terá sido um “sonho”? Mas como é que é possível? Ele continuava ali, onde estava desde a hora do jantar.
Vasculhou o seu livro de pautas, tentando encontrar aquela música, mas em vão.
Não sabia o nome, não sabia o autor, vendo bem… já nem sabia como era!

Enquanto se encaminhava para o carro, teve um impulso de ir até à praia, ao local onde a avistara a entrar no mar. E encontrou, desde a varanda do hotel, um caminho de pegadas feito, que entravam no mar.

Cada vez mais confuso e incrédulo com o que lhe estava a acontecer, entrou no seu carro, rebateu a capota para trás e rolou em direcção a casa, com a brisa marítima a povoar-lhe os sentidos e sentindo em todo o seu corpo, novamente, a presença daquela mulher. Parou. Parou virado para o mar e sentiu a crescer em si, o desejo de, também ele, entrar naquele mar, naquele banho de sensações e vontades que não paravam de aumentar. Não resistiu e tirando apenas os sapatos, foi isso mesmo que fez.

Quando estava já completamente rodeado pela água, por um instante, apenas um instante, fechou os olhos e deixando-se levar pela sensação de plenitude que todo aquele mar lhe provocava, deitou-se de costas, ficando a flutuar.
Quando os abriu, viu, a seu lado, aquela mulher!

A seu lado, ali, na cama.
E aquela mulher, de mistério feita, tão bela, tão perfeita, era a sua, companheira “de sempre”, que tão bem conhecia, mas que há muito, não “via”!

Não teria tudo passado de um sonho?

Não interessava, tinha “reencontrado” o seu amor, tinha-se reencontrado de novo com a vida, e isso, bastava-lhe.

Beijou-a com um sentimento até então, ele próprio adormecido e abraçando-a, de novo caminhou em direcção à terra dos sonhos, onde tudo é possível, até mesmo, reencontrar o amor!

4 comentários:

Anónimo disse...

Oi! Como seria tudo mais fácil se nós todos periodicamente reencontrassemos os nosso amores, adormecidos ao nosso lado. Parabéns para quem o consegue fazer.

Brain disse...

Olá papoila!
Contente com o teu regresso, respondo-te para transmitir isso e que... concordo plenamente contigo.
Volta sempre!

Anónimo disse...

Estive fora uns dias... Antes disso apenas te observava... beijos

Raquel Branco (Putty Cat) disse...

"...Na Terra dos Sonhos
Podes ser quem tu és,
Ninguém te leva a mal.
Na Terra dos Sonhos
Toda a gente,
Trata a gente toda por igual.
Na terra dos Sonhos
Não há pontos, entrelinhas
Ninguém te pode mudar
Na terra dos Sonhos
Escuta bem o coração
Sei que queres ir para lá morar..."

Jorge Palma
Na Terra dos Sonhos