quarta-feira, julho 05, 2006

Dias de Silêncio

Em dias de silêncio,
Fala-nos a alma!

Enceta connosco um diálogo surdo,
E leva-nos pela mão,
Pelo mundo dos sentimentos,
Das lembranças,
Das promessas perdidas,
Das emoções revividas,
Dos seres que mesmo ausentes
Estão (e estarão) sempre presentes,
Dos amores que nos preenchem
E nos tornam os dias mais azuis,
Dos dissabores de um passado
Já não sentido mas lembrado,
Do “nós” que fomos,
Do “nós” que gostaríamos de ter sido,
Dos projectos realizados
E dos que ficaram pelo caminho,
Da inocência e timidez da nossa infância,
Dos dias de glória da adolescência,
Das frustrações das ausências,
Das gratificações dos actos,
Do sentimento de tudo poder,
Da constatação das limitações,
Dos esforços excedidos,
Dos erros cometidos,
Dos testares dos limites,
Dos “rebentar da corda”,
Dos bons e dos maus com que cruzamos,
Da perseguição do óptimo
Quando já dispúnhamos do bom,
Do ficar insatisfeito com o razoável,
Do tanto querer e não poder,
Do poder e já não querer,
Das vontades de um acabar,
Das ânsias de um recomeçar,
Dos dias intermináveis,
Das noites infindáveis,
Dos calores de alguns abraços,
Da frieza de alguns olhares e falas,
Das opiniões obsoletas,
Da falta de vontade de ter opinião,
Das dúvidas da timidez,
Do querer que o tempo passe
E a vontade que um momento perdure,

Tempos de tudo,
Passado,

Vontades de nada,
Presente.

Em dias de silêncio!

7 comentários:

Anónimo disse...

Dias de silêncio...eu tenho os meus. De quando em vez acordo com vontade de ficar calada, não falar para ninguém. Penso que é um processo de reciclagem. Fico com vontade somente de pensar e ouvir, os outros, mas sobretudo de ouvir o som do silêncio. Para alguns pode parecer estranho, acordar sem vontade de falar?, mas faz parte da minha essência, preciso deles para renovar ideias.

Anónimo disse...

"Em dias de silêncio,
Fala-nos a alma!"

Em dias de Alma,
Fala-nos o silêncio!

E esse ,transforma toda a descrição!Porque a cor do interior,o sossêgo obtido;dá sorriso às pedras e alegra o caminho!

Raquel Branco (Putty Cat) disse...

Em dias de silêncio,
Fala-nos à alma tudo aquilo que,
Em dias de sons, não conseguimos ouvir.
Em dias de silêncio, ouvimos a voz do coração, e de memórias, e histórias passam-nos de fininho nos ouvidos, tal como quando encostamos um búzio ao ouvido, e ouvimos o som do mar.
Dias de silêncio são precisos, mais que não seja, para nos ouvir-nos a nós próprios.
Às vezes esqueço-me do meu tom de voz interior e custa reconhecê-lo... até que por fim, lá está ele, a conversar connosco e a tentar puxar conversa.

Faz-nos falta um búzio...

Anónimo disse...

Olá Brian
Dias de Silêncio, acho que todos precisamos, por vários motivos, o importante é que não deixemos que o silêncio se prolongue e passe a dias de solidão!

Aprecio muito o silêncio para refletir, mas como tive um passado rechado de "barulhinhos" agora quando estou no meu cantinho chego a ter receio de tanto silêncio e de já não estar tão receptiva aos barulhos....
Silêncio sim, o interior!!

Anónimo disse...

Silêncio..
Não faz parte de mim
Sempre preferi o "barulho", a conversa, falar, falar, falar...
Contudo, quando falar faz mais estragos do que o silêncio, provoca o negativo, mais que o positivo, então talvez seja melhor mesmo optar pelo silêncio...
Mas depois este silêncio para fora
torna-se insurcedor cá dentro.

Anónimo disse...

Silêncio…
Silêncio de redoma, silêncio de mergulho no mar profundo do nosso pensamento. Balanços, contas, jogos de correspondência, cenários, contar histórias em versões novas, momentos de silêncio vertiginoso em círculos infindáveis pelas entranhas dos nossos saberes e experiências.
Fases em que se põe a correr o desfragmentador, para reunir as peças soltas pelas famílias respectivas.
Já fui assim, sobretudo assim. Lidava com o presente através do silêncio com o exterior e o diálogo introspectivo. Como resultado, chegava a entendimentos carentes de alguma “isenção” racional. Toda o acervo fotográfico e experimental passado concorria para dificultar uma saída.
Agora, perante novas realidades, decidi-me por “arriscar” inverter os pólos: mais silêncios interiores e mais diálogos exteriores. Mas, a herança é forte e, de quando em vez, lá me afundo no poço secreto, até que me lembro de levantar a mão e esperar que alguém me puxe de lá. Vou tentar levar corda nas próximas quedas…

Brain disse...

Acho que os comentários dispensam que os comente.

Apenas uma nota de agrado pela visita das "afastadas" Divina e Kitty.
Contente por vos ver de novo por aqui.
Beijo às duas.

Kitty, o silêncio deve ser apenas "nosso", não para "os outros". O Andarilhus descreve bem o que pretendo dizer.