terça-feira, setembro 05, 2006

A minha noite

Na minha noite,
Eu sou dono de mim,
E a escuridão é a minha companhia.

Na minha noite,
Com o manto da escuridão a cobrir-me,
Eu desperto os meus sentidos,
E consigo,
Com os olhos da minha mente,
Visualizar.

Visualizo situações,
Pessoas,
Vivências,
Medos e vontades,
As minhas imagens dos outros,
Os meus quereres que acontecessem,
Os meus não quereres que nunca ocorressem,
Os meus…

Nos meus olhos fechados,
Os meus dias repassam,
A minha existência,
De novo acontece,
E depois,
Com eles já abertos,
Constato a realidade,
Do estar ali,
Deitado,
E olhando o relógio,
Vejo que mais uma hora passou,
E eu,
Ainda não dormi.

E então vejo,
E então apercebo-me,
Que dormir não quero,
Por (talvez) saber,
Que depois de dormir,
Um novo dia começará,
Quando neste momento,
O que queria,
Era que ele parasse,
Para que assim,
Eu continuasse na minha noite,
A ver e rever,
Os meus momentos,
E desta forma,
Conseguir,
Que os meus não quereres aconteçam,
Que os meus medos,
Vençam as minhas vontades.

Hoje,
Uma vez mais,
A minha noite vai chegar,
E hoje,
Uma vez mais,
Sei,
Que não vou querer dormir,
E muito menos,
Acordar.

5 comentários:

Raquel Branco (Putty Cat) disse...

Às vezes não queremos adormecer, porque do outro lado está o cabo do medo.
Não um, nem dois, mas vários medos que assumem diferentes formas, diferentes sentimentos. Ás vezes há que os enfrentar sozinho, outras vezes há, em que não temos as forças todas reunidas para o fazer, e então recorremos a algo ou alguém.
Há quem escreva, como tu, e como eu. Há quem chore como tu e como eu, há quem cale e há quem deite para fora. Há quem não durma.
Os medos, estão aí, todos à nossa espreita e mais cedo ou mais tarde, teremos que os enfrentar. Ninguém está imune. É a lei da vida. É a lei da Sobrevivência, mas sobretudo a Lei da Resistência.
Às vezes questiono, se as coisas que nos acontecem, não são provas que nos colocam no caminho, para ver até onde vamos, até onde resistimos, até onde suportamos, e depois, ou somos recompensados ou somos castigados.
Diria que somos mais castigados do que recompensados, Somos os carrascos e os benevolentes de nós próprios.
Mas a tua noite não é só tua, é conjunta com alguém. As tuas preocupações não são só tuas, há quem as partilhe contigo. A dor é a mesma? Não sei. Mas a partilha e o ombro estão lá sempre, para te amparar sempre que precisares.
Não precisamos de ser guerreiros. Não precisamos sempre de ser fortes. A fraqueza também faz parte do homem.
Infelizmente, há mais remédios para o corpo do que para a alma e essa é tão difícil de sarar.
Mas o tempo é melhor remédio para as mazelas da alma. E o tempo, leva TANTO tempo. Mas no fim, a dor acabamos por apaziguar.
Até lá, sê guerreiro, mas não te esqueças que és também um homem.

Anónimo disse...

bom dia,
peço desculpa não ter concentração para vos ler.Confesso que vejo ,leio mas não "capto".Estou longe de mim,longe de tudo.E da noite ,do eco do escuro,do medo e do amanhacer ,de mais um dia que pode afinal ser apenas a continuação do que não se queria;ocorre-me uma frase lida algures:
"noite escura,mas devo lembrar que quanto mais escura é a noite melhor se veem as estrelas a brilhar!"
Em tempos "atravessei um túnel" que parecia sem fim.E a busca da luz ,foi a força,foi a mudança!
Agora,sempre que fecho os olhos e a noite,não é o meu tempo de sossego e descanso,mas sim o martelar constante dos barulhos da vida; o eco do meu "erro",a voz do outro,as palavras que ferem ,o silêncio com expressao...
Aí, não quero fechar os olhos !Tento fazer o escuro claro,com voltas do meu pensamento.E por vezes rendo-me e dormo e acordo já com claro,o sol brilha e a noite demora.
Outras vezes,porque o medo do escuro era tal,não dormi...e o facto de ser dia torna-o escuro por ser sequência do escuro de que fugi!

Anónimo disse...

Bom dia!

Temos uma vida tão intensa, física e emocionalmente, que as horas da vigília não são suficientes para absorvermos tudo o que se passa à nossa volta.
Deitamos (literalmente), então, mão às horas da noite, do sono, que deveriam ser espaço e tempo de descanso.
A paz de espírito é muito difícil no ritmo da vida que criamos: há sempre algo que fica por terminar, por pensar. E depois há o coração a coabitar com o cérebro…
Feliz aquele que se deita e consegue desligar o candeeiro da preocupação… estamos no reino das insónias espirituais!

Anónimo disse...

Nunca nada me tirou o sono até há um, dois meses atrás...

Esta "passagem" pela nossa vida, pelos outros, pelos nosso medos, receios, alegrias, etc, faço-a muitas vezes a conduzir. Benditas horas de condução sozinha. Um dos meus maiores prazeres.

Quando esta "passagem" pela nossa vida se faz durante as horas roubadas ao sono, pelo menos para mim, reveste-se de muita sombra, muitas dúvidas, muitas inseguranças. Toda esta insegurança, duvida, escuridão atenua-se com o amanhecer...

Com a minha idade e vivência, já olho para trás e muitas vezes sinto prazer no que vejo. "prazer" em relembrar os variados momentos, bons e maus, que já tive. Sorrir muitas vezes e muitas vezes apetecer dar um murro na mesa...

É bom olhar e reconhecer que já se tem uma vida, uma história.

É doloroso essa "passagem pela vida" quando é noite também interiormente.

Flor: tu tens uma história rica, com passagens boas e más. tu podes olhar e dizer: eu faço a minha história. há pessoas que nem isso podem dizer! como disseste: vê as estrelas que brilham ainda mais quando existe essa escuridão.

Anónimo disse...

Papoila
Partilho do teu “prazer”, também uso o tempo da condução, com a música bem alto, para reflectir sobre as coisas da vida. Embora o meu lema seja “NÃO PENSAR”, principalmente sobre coisas que não contribuem para a minha felicidade.

Como diz o Andarilhus “Feliz aquele que se deita e consegue desligar o candeeiro da preocupação…”. Pois eu sou uma dessas felizardas. Já passei por situações muito más, que o mais normal seria criarem insónias, e tal não aconteceu. O sono para mim é com um carregador, que eu uso e abuso, para me “carregar” de energia, que eu sei que vou precisar para enfrentar o dia seguinte.

Assim:

Hoje,
Uma vez mais,
A minha noite vai chegar,
E hoje,
Uma vez mais,
Sei,
Que vou querer dormir,
para amanhã enfrentar um melhor dia,
que espero ter ao acordar.

Um raio de luz para ti Brain