sábado, setembro 16, 2006

Rimas de uma Vida

Um dia quedou-se criança,
E o mundo ele foi aprendendo,
Era novo, tinha tudo, esperança,
E a vida assim foi correndo.

Estudar, aprender com perseverança,
Aplicar-se para os melhores resultados ir obtendo,
Abdicou das brincadeiras, de ser criança,
E delas se foi esquecendo.

E a vida assim, foi correndo…

E uma jovem, em determinada altura da andança,
Aos poucos o coração lhe foi enchendo,
Viveu dias e noites de plena confiança,
E o amor no seu peito foi crescendo.

E a vida assim, foi correndo…

Na faculdade conseguiu entrar,
E muito estudo ela lhe foi requerendo,
Com a amada já não tinha tempo para estar,
E o amor de outra forma foi vivendo.

E a vida assim, foi correndo…

Com o trabalho e a ânsia da liderança.
Pela disputa, a competição foi desenvolvendo,
Nisto envolvido nem reparou na “matança”,
Que dos sentimentos ele ia fazendo.

E a vida assim, foi correndo…

Com os filhos, cresceram responsabilidades,
O máximo de si, lhes foi oferecendo,
Trabalhou mais, para ter mais possibilidades,
E da companhia deles se foi “esquecendo”.

E quando um dia, parou e olhou,
Para eles, já não os reconhecendo,
Muito chocado consigo próprio ficou,
E os olhos, com lágrimas, tremendo.

Então, estendendo a sua mão,
Procurou a sua companheira de vida,
Já muito tarde se apercebendo então,
Que também ela já estava de partida.

E com os dias correndo ligeiros,
Os anos aos poucos foram mingando,
Os “ontens” dos Dezembros eram os Janeiros,
E cada vez mais cansado, ele ia ficando.

E a vida assim, foi correndo…

Foi então que um dia se apercebeu,
Que no meio da azáfama, do frenesim,
De conviver com os outros se esqueceu,
Dando por si a ficar sozinho, assim.

E aquando da sua partida lhe perguntaram,
Por dele saber querendo,
Então? Como correu a vida para ti?
Olhando para dentro si respondeu gemendo:
A vida? Não sei! Pouco a vivi.
Ela é que foi correndo!


28 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia,
Uma refeflexão cuidada deste teu post,é que por vezes é assim...
Estremeci,e ainda não sei comentá-lo.
Boa escolha!Um beijo de boa semana para todos.
A ti em especial,sempre nos alertas e "empurrões" que precisamos.

Raquel Branco (Putty Cat) disse...

Maioritariamente, somos nós que passamos pela vida e não o contrário.
cada vez mais lamento não aproveitar mais as "coisas", a companhia das pessoas, "gastar" mais o meu sorriso.
E qdo a cisa anda "torta" é que nos lembramos dos "pequenos nadas" que nos fazem grandes momentos de felicidade e que nos fazem grandes por dentro tb.

E hoje, que ando às cabeçadas comigo mesma, apercebo-me dessa realidade.

Anónimo disse...

Bom dia! E bem-hajam, no reencontro.
A vassalagem à conquista cega das metas a que nos propomos seca o indivíduo que há em nós. É a maquinização do ser humano e da vida que se pretende original e específica a cada pessoa. Felizes aqueles que sofrem o sinal, o abanão, que os obrigue a parar para pensar nas prioridades efectivas da sua existência.
Pessoalmente, e numa fase de início de carreira, cai excessivamente na falsa crença da necessidade de vingar e impor a minha marca no espaço laboral do mundo social. Aculturação, integração, ser produtivo, contribuir a qualquer custo. Entre outros "ser-se bom social" que abracei...
Entretanto, enquanto calcorreava aceleradamente montes e vales com as botas do caminheiro, cada vez menos dogmático e em crescendo de cepticismo, quanto mais depressa andava, mais parava para pensar e... estiquei-me e alcancei o interruptor. Desliguei!
Agora, disperso-me mais por afazeres e quereres que estavam marginalizados. Continuo a dar atenção e cuidado às minhas obrigações, mas não me deito, não acordo, nem me sufoco com elas.
Há vida e vida, há a vivida e há a vendida... escolho a primeira.
Boa semana para todos! "(º0º)"

Raquel Branco (Putty Cat) disse...

"Quem passou pela vida em brancas nuvens
e em plácido descanso adormeceu.
Quem nunca bebeu das fontes da alegria,
da paz, do amor, do silêncio e da harmonia.
Quem nunca se deleitou com a meditação.
Quem nunca experimentou o êxtase interior.
Vegetou. Se arrastou do útero à cova...
Foi um espectro de homem, não foi homem.
Só passou pela vida, não viveu."

Fernando Pessoa

Anónimo disse...

...e de uma forma mais vernácula:

"Entre a chuva dissolvente
no meu caminho de casa
dou comigo na corrente
desta gente que se arrasta.
Metro, túnel, confusão,
quente suor vespertino
mergulho na multidão,
no dia-a-dia sem destino.

Putos que crescem sem se ver
basta pô-los em frente à televisão
hão-de um dia se esquecer
rasgar retratos, largar-me a mão.
Hão-de um dia se esquecer,
como eu quando cresci.
Será que ainda te lembras
do que fizeram por ti?

E o que foi feito de ti?
E o que foi feito de mim?
E o que foi feito de ti?
Já me lembrei, já me esqueci...

Quando te livrares do peso
desse amor que não entendes,
vais sentir uma outra força
como que uma falta imensa.
E quando deres por ti
entre a chuva dissolvente,
és o pai de uma criança
no seu caminho de casa.

E o que foi feito de ti?...."

Xutos e Pontapés: "Chuva Dissolvente"

Anónimo disse...

Bom dia,
Grande momento de reflexão.
Deviamos aproveitar mais o Agora e não deixar para depois, depois pode ser tarde demais.
beijinhos

Anónimo disse...

Bom dia! São os votos, não o sentir...
Hoje estou capaz de dançar com furacões e correr paralelo aos epicentros dos sismos!
Porque será que quanto mais queremos e mais o demonstramos com toda a sinceridade e efusão, mais as pessoas se assustam e reprimem o contentamento? Porque desconfiam das nossas intenções? O hábito e o receio ao falso e à mentira são assim já tão avassaladores que não lhes permitem discernir entre o genuíno e o impostor?
Para onde vai este mundo?!
Somos nós que estamos errados? Perde-se o gosto pelo sentir, pelo querer bem, pela atenção e cuidado pelo outro…
Este fogo esmorece, mas não se rende ou cai por terra…
"(º0º)"

Anónimo disse...

Do outro lado, andarilhus, acho que muitas vezes está o receio de exigirem muito de nós. O receio de não conseguirmos corresponder.

Não acredito que não saibam destiguir o genuíno do impostor. Acredito mais que há ritmos diferentes. Raras vezes andamos ao mesmo ritmo...
De um lado há que saber acelarar, do outro lado há que saber esperar.

Equilibrio.

Anónimo disse...

Papoila:
Palavras sábias, as tuas.

Mas, sabes tão bem como eu que quando caminhamos por trilhos em ritmo certo, o cansaço é muito menor do que quando estamos sempre a alterar a cadência.
Não tenho negligênciado o equilíbrio. Pelo contrário, talvez seja por me aplicar demais que chego a alguma saturação e me vejo obrigado a "gritar"!
Talvez esteja mesmo desalinhado do modus vivendi actual...

Raquel Branco (Putty Cat) disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Raquel Branco (Putty Cat) disse...

Papoila, sábias palavras de facto!
Concordo plenamente contigo.

Eu já vivi na pele situações semelhantes. Já desconfiei, já desconfiaram, já gritei, já pus os pontos nos "is", e isso é tão normal!! Por isso, tem lá calma, Rosinha!
A vida são 2 dias, e este já vai na conta.
Não queiras dançar com os furacões, dança antes com a doce calma do diálogo.
Actualmente, é esta a nossa "arma".
Epicentros de sismos?! Não! Procura o epicentro da harmonia!

Bj

Anónimo disse...

o nosso andarulhus é um lindo homem, cheio de força para viver. só é preciso ter paciência. o acerto do ritmo de ambos os lados virá... com o tempo e com a imensa vontade de fazer as coisas resultarem...

paciência e muita vontade... parece fácil, não é?

pelo menos não estás naquela vida de correria relatada no post..

Anónimo disse...

ups, andarilhus...

Anónimo disse...

Papoila, para ti:

Em tempos de guarda-chuva esquecido
Nunca te pensei assim.
Na verdade, nada pensava.
Agora, por conversa e por texto lido,
Próxima de mim,
Vejo o quanto ignorava!

…o post não é específico a uma pessoa; é abrangente a uma teia de relações…


Putty, para ti, da “Rosinha”:

É sem rosto que te vejo.
Posso imaginá-lo, mas não quero:
Prefiro desenhá-lo nos teus escritos!
Nesses, solta-se em lampejo,
O teu ânimo fero
E a força dos teus “gritos”!

…a desconfiança que existe – parece-me – é que aquilo que transmito – pela diferença da rotina – soa a muitos como fantasia, idealismo e utopia… as pessoas perderam as crenças e eu não consigo fazê-las acreditar…

Bjs para ambas e… OBRIGADO!
“(º0º)”

Raquel Branco (Putty Cat) disse...

Bom dia, a todos

Rosinha:
Lindas palavras!
Bem melhor conhecer-nos pelas palavras que revelam o que somos, do que os traços de um rosto que não nos diz coisa nenhuma.
Defendo isso!

Beijo grande para ti.

Anónimo disse...

Bom dia!!!

Já viram como está o dia? Lindo! Chuva vento e temperatura amena.

Eu gosto, e muito!!

Anónimo disse...

Putty, julgo que a escrita liberta a nossa espontaneidade e a nossa natureza mais genuina.
Papoila: ;)

Brain: está tudo bem?
"(º0º)"

Raquel Branco (Putty Cat) disse...

Papoila

Falta estar em casa, enrolada no sofá.
Falta o cházinho e as torradas...
Falta o Damien Rice como som de fundo.
Aí, sim. Agradável.

Este tempo deprime-me.... sobretudo qdo estou a trabalhar (ou pelo menos a tentar...)

Anónimo disse...

Voltando ao post, não estando a reflectir sobre se é a vida que corre por nós ou se somos nós que corremos na vida, o que interessa é existirem momentos que nos façam parar e pensar.

Este bolg (como outros, né andarilhus, né putty...) tem-me permitido parar muitas vezes.

Quando ando desesperada venho cá e vocês aturam-me... Muitas vezes o meu desejo é "apenas" desabafar. Isso ajuda imenso. Mas aqui tenho tb o proveito de ter sempre uma palavra vossa em troca.

Este espaço também me faz parar nas minhas fazes boas. Ler os posts, ler-vos, conhecer outras formas de ver a vida, faz-me parar e pensar.

Outras situações na vida nos fazem parar. marcos que nos marcam... situações boas, situações más...

Tenho a certeza que a maior parte da vida temos uma atitude idêntica à relatada no post, mas o importante é saber parar e aproveitar atempadamente esses momentos de paragem.

Agradeço ao brain este espaço, à putty o espaço dela, ao andarilhus e a muitos outros espalhados por aí.

Agradeço pela capacidade de nos abanar.

Ao brain, e tb porque estou a escrever neste espaço, a minha admiração. sei que ele sabe aproveitar cada momento e destinguir os mais merecedores do dispêndio a nossa energia. beijo especial

Anónimo disse...

putty, falta sentir a chuva na cara, no corpo. sentir o vento e todas a natureza à nossa volta.

falta sentir que fazemos parte de um mundo vivo. um mundo desafiador e que passo a passo chegamos ao nosso objectivo...

chuaaac

Anónimo disse...

Papoila: desabafar os maus arejos que nos consomem pela medula e tomam conta do nosso descernimento... Eu, talvez abuse um pouco disso no Galga, mas é para isso que existe...
Da minha parte, digo-te que refreies a tua caravana de experiências e desabafes sempre que quiseres...
Uma caminhada com chuva e vento também ajuda e andar depressa, nos limites do organismo, então, expulsa todas as toxinas físicas, sentimentais e mentais... ;)

Anónimo disse...

Será a vida que nos comanda?
Seremos nós a comandar a vida?

Momentos há em que sem dúvida temos forças, energia, vontade, objectivos, que nos permitem comandar a nossa vida, fazê-la seguir o rumo que queremos.
Momentos há em que é ela que nos comanda, em que os acontecimentos à nossa volta são tantos, e tão dificeis de controlar por nós, que o melhor é deixar-nos levar. Acontecimentos que por muita vontade que exista da nossa parte em fazer que tomem um rumo diferente, não está ao nosso alcance, e aí sentimo-nos impotentes perante algumas realidades e surpresas menos agradáveis que a vida nos reserva.
Aí contamos com a ajuda das pessoas que amámos, com a ajuda dos amigos, para simplesmente nos darem conforto neste deixar levar, até que tenhamos condições de novamente traçar objectivos e conduzir a nossa vida, como bem queremos.

Importante sim, é não nos arrependermos nunca do que fazemos e principalmente do que deixamos de fazer.

Brain disse...

Papoila,

Embora neste momento, tenha as atenções viradas para outras "questões", não pude ficar indiferente ao teu comentário sobre este e outros blogs, conhecidos aqui do nosso "circuito".

Este blog a início, era apenas "um espelho" de pensamentos e sentimentos meus, mas a tempo, "extrapolou" e passou a ser também um espaço de convívio, a meu ver (e agora confirmado e reforçado por ti) saudável, o que de sobremaneira me satisfaz.

Por isso, te retribuo também num beijo especial e a todos os que frequentam este espaço, mesmo os que cá vêm sem nada dizer, um agradecimento especial pela vossa participação, sem a qual, este espaço nunca seria o que é hoje.

Anónimo disse...

beijo brain

Brain disse...

Kitty,

Esta tua análise é boa de ler, sobretudo se sentida por cada um de nós que a lê.

Em verdade, era bom que estivessemos sempre num destes estados.
"Porquê bom, quando um deles é mau"? perguntarás tu.
Porque pelo menos, temos consciência que estamos num qualquer estado e não nos deixamos cair na impassividade que refiro no post, de deixar a vida simplesmente correr.

Comentário excelente.
Beijo.

Raquel Branco (Putty Cat) disse...

A vida que por mim passou, tornou-me numa pessoa interiormente melhor, julgo eu.
Tornou-me mais forte e mais dura em algumas coisas, mas a par com a minha "fragilidade" que me marca desde sempre. Apenas aprendi a contorná-la em algumas situações.
Gostava de ser eu a passar pela vida mais vezes, e não o contrário.
Gostava de saber como fazê-lo.
A vida é mesmo como um palco, onde existem actores e espectadores, e há pessoas com maior apetência para serem espectadores, e eu provavelmente enquadro-me mais neste perfil. Sempre me "escondi" um pouco do mundo lá de fora e sempre tentei resguardar-me no meu próprio mundo no qual ainda hoje ninguém entra.

Raquel Branco (Putty Cat) disse...

Correcção....

Abri uma brechazinha no portão do meu mundo...e vocês sabem disso, pq vão lá espreitar!

Bj

Anónimo disse...

Brain

Penso que consigo sempre ou quase sempre ter consciência sobre em que estado me encontro. Infelizmente para mim, apesar de consciente, não me agrada ver a vida a passar por mim, sem poder fazer nada para a controlar ou modificar alguns aspectos dela.

Conforme a Putty diz, no palco da vida há os actores e os espectadores, e eu sem dúvida não "me dou" com o papel de espectadora. A vida existe para ser vivida e para mim só funciona quando consigo desempenhar o papel de actora, podendo não ser o de principal, mas pelos menos o de secundária, permitindo-me ter um papel interventivo, activo e por vezes até controlador. Tento aplicar esta minha atitude em todos os aspectos da minha vida, quer profissionais, quer sentimentais, quer familiares.

Contudo neste momento, tal não é possível, pelo simples facto de que me é negada qualquer possibilidade de intervir, tendo que aguardar passivamente que o tempo passa e depois...

Ganha-se forças para de novo se voltar a comandar a vida e ver que apesar de tudo estas etapas ou fases da vida, que menos nos agradam, acabam por nos tornar pessoas diferentes, mais vividas
E assim olharmos a vida de forma diferente.