segunda-feira, outubro 30, 2006

Brisa

Brisa…
Afago de vento,
Que sentimos sem o ver,
Que vem até nós sem o pedirmos,
Que nos trás os salpicos da maresia,
Os odores das estações,
O calor num fim de tarde de verão,
A frescura de um dia de Inverno.

Na brisa,
Circulam sensações.

Na brisa,
Se tentarmos,
E assim o quisermos,
Podemos fazer transportar,
Os nossos desejos e quereres,
As nossas vontades de,
A outros fazer chegar,
O nosso deles tanto gostar.

Assim,
Hoje,
Numa brisa de calor de sentir
E frescura de espírito feita,
Envio,
Para ti,
Um olhar de conforto,
Um afago de carinho,
E um beijo,
Apaziguador de alma.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Nada do que é importante se perde verdadeiramente...

"... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente.
Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

Miguel Sousa Tavares

(a propósito da perda de sua Mãe, a escritora e poetisa Sophia de Mello-Breyner)
Julho 2004

quarta-feira, outubro 25, 2006

Medo

O medo, essa força misteriosa que nos rouba a alegria e o sonho, devia vir no dicionário como antónimo de vontade.
O medo é como um terreno minado; nunca o atravessamos mesmo que do outro lado estejam todos os nossos desejos.

Margarida Rebelo Pinto
in "Diário da Tua Ausência"

terça-feira, outubro 24, 2006

Esperar

Quando se ama alguém, tem-se sempre tempo para essa pessoa.
E se ela não vem ter connosco, nós esperamos.
O verbo esperar torna-se tão imperativo como o verbo respirar.
A vida transforma-se numa estação de comboios e o vento anuncia-nos a chegada antes do alcance do olhar.
O amor na espera ensina-nos a ver o futuro, a desejá-lo, a organizar tudo para que ele seja possível.
É mais fácil esperar do que desistir.
É mais fácil desejar do que esquecer.
È mais fácil sonhar do que perder.
E para quem vive a sonhar, é muito mais fácil viver.

Margarida Rebelo Pinto
in "Diário da Tua Ausência"

terça-feira, outubro 17, 2006

Será

Será que ainda me resta tempo contigo,
ou já te levam balas de um qualquer inimigo.
Será que soube dar-te tudo o que querias,
ou deixei-me morrer lento, no lento morrer dos dias.
Será que fiz tudo que podia fazer,
ou fui mais um cobarde, não quis ver sofrer.
Será que lá longe ainda o céu é azul,
ou já o negro cinzento confunde Norte com Sul.
Será que a tua pele ainda é macia,
ou é a mão que me treme, sem ardor nem magia.
Será que ainda te posso valer,
ou já a noite descobre a dor que encobre o prazer.
Será que é de febre este fogo,
este grito cruel que da lebre faz lobo.
Será que amanhã ainda existe para ti,
ou ao ver-te nos olhos te beijei e morri.
Será que lá fora os carros passam ainda,
ou as estrelas caíram e qualquer sorte é bem-vinda.
Será que a cidade ainda está como dantes
ou cantam fantasmas e bailam gigantes.
Será que o sol se põe do lado do mar,
ou a luz que me agarra é sombra de luar.
Será que as casas cantam e as pedras do chão,
ou calou-se a montanha, rendeu-se o vulcão.

Será que sabes que hoje é Domingo,
ou os dias não passam, são anjos caindo.
Será que me consegues ouvir
ou é tempo que pedes quando tentas sorrir.
Será que sabes que te trago na voz,
que o teu mundo é o meu mundo e foi feito por nós.
Será que te lembras da cor do olhar
quando juntos a noite não quer acabar.
Será que sentes esta mão que te agarra
que te prende com a força do mar contra a barra.
Será que consegues ouvir-me dizer
que te amo tanto quanto noutro dia qualquer.

Eu sei que tu estarás sempre por mim
Não há noite sem dia, nem dia sem fim.
Eu sei que me queres, e me amas também
me desejas agora como nunca ninguém.
Não partas então, não me deixes sozinho
Vou beijar o teu chão e chorar o caminho.
Será,
Será,
Será!

(Pedro Abrunhosa)

quinta-feira, outubro 12, 2006

Tu não Sabes

Tu não sabes
Quanto tempo vais poder
Dizer: "Este sou eu",
Gritar que o chão é teu,
Tu não sabes,
Que o céu chama por ti,
Quando à noite te sorri,
Quando as pétalas se abrem
Só por si,
Tu não sabes.
Tu não sabes
Quanto tempo irás pedir
Quando o sangue te fugir,
Quando o punho se fechar
Sobre ti,
Tu não sabes,
Que o sonho não morreu
Quando o beijo se perdeu,
Que a manhã não acabou
Só por nós,
Tu não sabes.

Que palavras vais usar
Quando o sono não vier,
Quando a noite te disser:
"Vem comigo".
Que loucura irás dizer
Quando a mão que te apertar
Te pedir para ficares
Só mais um dia,
Tu não sabes,
Tu não sabes,
Tu não sabes.

Tu não sabes
Quantos rios se vão deter,
Quantos olhos vão beber
Nas palavras que colaste
Junto ao peito,
Tu não sabes,
Que os teus dedos são já meus,
Que se vão fechar nos teus,
Quando os barcos se despedem
Na maré,
Tu não sabes.

Que palavras vais usar
Quando o sono não vier,
Quando a noite te disser:
"Vem comigo".
Que loucura irás dizer
Quando a mão que te apertar
Te pedir para ficares
Só mais um dia,
Tu não sabes,
Tu não sabes,
Tu não sabes,
Tu não sabes….

(Pedro Abrunhosa)

segunda-feira, outubro 02, 2006

Como Sou

Por vezes escondo-me atrás das palavras,
Outras, escudo-me atrás do silêncio,
Mas sempre,
Sempre me mostro quando me dou,
Na forma e no quanto para os outros sou.

E nesta “dádiva” de amor feito,
Eu surjo aos outros como perfeito,
Mas nenhum ser,
De cérebro escorreito,
Se pode considerar assim,
Como um ser perfeito.

E o que eu penso saber fazer,
Que dos restantes me faz diferenciar,
É antes de alguma coisa dizer,
Recorrer à arte do bem pensar.

E desta forma tão linear,
A de recorrer ao meu pensamento,
Acabo quase sempre por ter,
Algo a dizer, para o momento.

E triste é o ser,
Que procura algo dizer,
Mas a boca abre e nada sai,
Porque até mesmo o seu pensamento,
Ele não sabe por onde vai.

Mas por vezes é assim,
Dias há,
Em que não sei nada de mim,
Procuro,
Procuro sob todas as formas,
E em todo e qualquer lugar,
Mas nem assim,
Nem assim,
Eu me consigo encontrar.

Dias de névoa,
De tempo escuro,
De humidade, chuva,
E vazio interior,
Nos quais não me vejo nem a mim,
Quanto mais a esse amor.

Seja ao menos sempre possível,
Manter a seguro dentro mim,
Ainda que de forma não visível,
(a capacidade e a vontade),
De me manter sempre assim,
Simplesmente como sou!