terça-feira, novembro 28, 2006

Excerto

Porque o amor, não é aquilo que cada um de nós deseja. O amor, é o tudo e o nada, sendo que o tudo é feito de pequenos nadas e que um nada pode ser tudo. Tudo contribuiu para que o nosso amor crescesse e se desenvolvesse. Todos os olhares, todos os toques, todas as palavras, todos os pequenos beijos e todos os abraços, porque quando nada se espera o que se obtém é tudo, mas quando tudo se quer, nada é suficiente. E nós fomos com o tempo, sabendo apreciar todos os pequenos nadas e com isso… tivemos tudo!

...

E com isto eu apercebo-me do quão exigente pode ser o amor. Como dando sempre tanto a todo o momento, estamos sempre em falta, porque nunca é possível darmos tudo. Agora vejo que num amor, numa vida a dois, o verdadeiramente importante é a sintonia entre o esperado e o oferecido. Apenas com essa sintonia, estamos permanentemente satisfeitos, porque obtemos aquilo que pretendemos e damos aquilo que o outro espera, ainda que isso sejam apenas pequenos nadas. Pequenos nadas de sorrisos, de palavras e simples atenções feitos, mas que nos enchem o coração e a alma de uma tal forma plena, que nos leva à satisfação connosco e por consequência com os outros. Quando felizes com nós próprios, a felicidade irradia-nos dos olhos, transpira no sorriso, liberta-se no ar com os nossos gestos, espalhando-se à nossa volta contagiando os outros que connosco se cruzam.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Curtas (4) - Esperei

Durante todo o dia, esperei um sinal de ti.

Do rescaldo da noite, ficou o amargo da discussão.
No meu peito, um frio que paralisava o pensamento e o meu tão bem querer por ti.

Durante todo o dia, esperei um sinal de ti.

Do calor das palavras ditas em discussão, uma dor emergiu e povoou o meu ser sentimento não me deixando ter memória dos momentos anteriores a essa hora.

E durante todo o dia, esperei um sinal de ti.

Não me chamaste. Não me falaste. Não quiseste fazer-me sentir, que o nosso amor é mais que um orgulho e que o teu sentir do nosso amor, é para ti bem mais que uma troca de razões.

E eu, durante todo o dia, esperei um sinal de ti.

Não te chamei porque decidi esperar. Se calhar, fizeste o mesmo…
Mas eu penso que tu bem saberás que deverias ser tu a chamar-me.
Eu penso que sabes que o meu conceito de amor, tal como o que nutro por ti, é mais que uma acesa troca de palavras e está acima de qualquer tipo de discussão ou birra.
Tantas vezes to disse…
Tantas vezes to fiz sentir…
E tu sabes que podes sempre contar comigo, incondicionalmente, como o fazem os verdadeiros amigos.
Sim, porque acima de tudo e no início de tudo, está uma bela amizade que desenvolvemos em nós.
O amor… esse foi o florir de uma relação que já pedia por mais e que extrapolava até os sentidos.

Durante todo o dia, esperei um sinal de ti.

E agora, já deitado com os olhos a começarem a acusar o avançado da hora, sou invadido por uma tristeza, que me diz, que tu não me ligaste, não me deste um sinal e assim, quem sabe, marcaste o início da queda de um sentimento que em nós era tão bonito, tão simples e tão completo, por tão sincero e espontâneo.

O amor é para mim (conforme muito bem o sabes) uma dádiva constante.
Um constante dar em todos os momentos e sob todas as formas.
E o pensamento é uma das principais dádivas que podemos oferendar e hoje não foi diferente.
Todos os meus pensamentos foram para ti e com o passar das horas, a ansiedade pelo teu contacto foi sempre aumentando num crescendum que forçava as próprias paredes deste peito onde bate o meu coração por ti.

Durante todo o dia, esperei um sinal de ti, mas agora…

Agora… não mais o vou esperar!

terça-feira, novembro 21, 2006

Toca-me onde me dói...

Toca-me onde me dói
e verás uma flor a abrir-se lentamente sobre a pele,
a maravilha nunca adivinhada de um mistério.

Esta é a tua vez de o desvendares.
Paixão é uma palavra demasiado antiga no meu corpo,
já não sei a última vez,
a única vez.

Toca-me
por isso devagar,
não me lembro da primavera
que fez nascer a doença sobre a ferida,
não sinto o recorte da cicatriz que o tempo
pousou nela.

Agora
chama-me ao teu peito com as mãos,
tal como a chuva
chama pelos narcisos sem cessar,
ano após ano;

diz o meu nome
com os dedos a serem rios
que latejam no coração adormecido
de uma aldeia.

Não me adivinhes.

Lá, onde me doer,
vou recordar-me.

(Maria do Rosário Pedreira)

sexta-feira, novembro 17, 2006

Hoje, não Te vou chorar

Hoje,
Não te vou chorar,
Porque não me vou permitir o egoísmo,
De continuar a querer ter-te aqui comigo.

Hoje,
Não te vou chorar,
Porque vou direccionar o meu pensamento,
Para o final do sofrimento,
Que os teus últimos dias de vida,
Teimaram em te infligir.

Hoje,
Não te vou chorar,
Porque vou lembrar,
A guerreira que sempre foste,
Em luta com a vida,
Que durante tantos anos,
Teimava em te querer fugir.

Hoje,
Não te vou chorar,
Porque já muitas noites o fiz,
Enquanto via,
Dia após dia,
A vida a fugir-te,
Por entre os dedos,
Cada vez mais débeis.

Hoje,
Não te vou chorar,
Porque vou lembrar,
A tua resistência,
Até ao momento,
Em que vendo-te tão cansada,
Acariciando o teu braço,
Num sussurro te disse:
“Descansa Mãe”,
E então tu,
Finalmente acedeste,
E dando o teu último suspiro,
Entregastes-te assim,
À paz do descanso eterno.

Hoje,
Não te vou chorar,
Mas sabes Mãe,
É muito difícil!

Difícil,
Fazer prevalecer o ânimo do cessar do teu sofrimento,
Sobre a tristeza de não mais te ter connosco,

Difícil,
Fazer prevalecer a memória da guerreira,
Sobre o sofrimento da enferma,

Difícil,
Fazer prevalecer o olhar de Mãe para o filho,
Sobre o olhar da doente para o vazio.

Difícil,
Contrariar este desejo,
De agora,
Mais do que nunca,
Querer ter-te de novo,
Aqui,
Comigo.

Só há pouco soube,
O que é ser pai.

Só há pouco compreendi,
A plenitude do amor de um pai pelo filho.

Só há pouco soube em pleno avaliar,
As atitudes que como crianças não entendemos.

Só há pouco soube,
Avaliar e admirar-te devidamente.

Tu,
Geraste-me no teu ventre,

Tu,
Abdicaste muito de ti, por mim,

Tu,
Amaste-me à tua maneira,
Da melhor forma que soubeste e pudeste,

Tu,
Fizeste de mim,
Um prolongamento de ti.

Por tudo isto Mãe,
Hoje não te vou chorar,
Vou ao invés disso,
Exultar a mulher que sempre foste,
E esperar…

Deixar o tempo actuar…

Para que ele,
Transforme a dor da partida
Na memória doce da saudade,

Para que ele,
Desfaça este nó na garganta
Que me embarga a voz,

Para que ele,
Atenue esta dor no peito
Que me faz suspirar,

Para que ele,
Acalme as vagas que teimam
Em querer libertar-me as lágrimas.

Hoje Mãe,
Hoje, não te vou chorar,
Hoje, vou começar!

Vou começar a,
Para sempre,
Te lembrar,
Como “A Minha Mãe”!

quinta-feira, novembro 02, 2006

Momentos

Por vezes,
somos ultrapassados pelos momentos
sem que de tal nos apercebamos.
Uma série de acontecimentos ocorrem em catadupla
e quando deles tomamos consciência,
eles já ocorreram
e a volta ao passado não é possível.

Por vezes,
esses momentos duram breves instantes;
outras quase uma vida.

No entanto,
vezes há,
em que reconhecemos que eles estão a ocorrer,
mas nada fazemos para os evitar.
Ou porque o nosso desejo é contrário a isso,
ou porque somos impotentes perante a força
que os mesmos carregam em si,
capazes de arrancar do seu chão
até o mais resistente ser.

MAS,
Há algo que é sempre possível
E desejável:
O reconhecimento da nossa intervenção,
E o devido retratamento
(se for caso disso)
Perante o(s) outro(s).

Haja coragem para assim agir,
Haja carácter para o fazer.