quarta-feira, dezembro 31, 2008

Novo Ano

P Á R A !


O L H A
…os dias do ano que termina.

V Ê
…aqueles pelos que passaste e olha aqueles que passaram por ti.

G U A R D A
…em ti o que de melhor viveste

A T I R A
...janela fora o que te magoou

A P R E N D E
…a aceitar o que de bom te aconteceu

F A Z _ H I S T Ó R I A
…do que de mau te ocorreu

E para os dias do novo ano que agora se inicia

F A Z
…aos outros o que gostarias que te fizessem a ti

N Ã O
…aceites menos do que pensas merecer

L U T A
…pelos teus desejos e convicções

V I V E
…todos os dias com a intensidade do último

A M A
…os que te são Queridos e em especial a ti mesmo

S O N H A
…e faz acontecer os teus sonhos

Guarda para ti mesmo:
… um pouco de cada dia
… um pensamento em cada dia
… um olhar em cada dia
… um sentir em cada dia
… uma "loucura" em cada dia

G R I T A

S E N T E


V I V E !!!!



A TODOS UM EXCELENTE 2009!


terça-feira, dezembro 09, 2008

Velho


Olá! Ainda bem que vieste. Porque quero contar-te uma coisa: Hoje, vi-me velho!

Não foi através de um espelho, que muitas das vezes nos retorna a imagem que o nosso cérebro constrói sobre nós. Não.

Vi-me pela objectiva de uma máquina de filmar num filme recente. E vi-me velho.

Não velho pelo cabelo branco, esse que sempre afirmo que tenho desde os 16 anos, mas que no fundo sei que a área do branco de agora, ocupa a do preto desses meus 16 anos e a restante, quase já não existe, por força da queda;

Não velho pelo espaço entre as mãos e os objectos que encurta cada vez mais e que resulta quase sempre no virar do copo cheio ou da garrafa sobre a mesa;

Não velho pelo acto repetido de tirar a gravata para almoçar, como forma de evitar sujá-la, nem da frustração de descobrir que tendo poupado a gravata, tenho de mudar de camisa;

Não velho pelo meu corpo, cujos músculos perdem cada vez mais densidade e firmeza e a luta pela manutenção dele se torna cada vez mais penosa com o passar do tempo, obtendo-se cada vez menos resultado em contraposição com o acrescer do esforço;

Não velho pelos meus amigos, que tal como eu, passam já todas as noites em casa e adormecem quase de imediato, após terem deitado o seu número múltiplo de filhos, enquanto aquele programa (de informação/debate) importantíssimo que tanto ansiavam por ver e não podiam perder, passa na televisão que está mesmo em frente ao sofá em que eles dormem, de boca aberta, sentados;

Muito menos velho pela minha mente, essa que agora considera ainda novos todos os que se situam na casa dos trinta, que afirma que o importante é o espírito jovem (sinal efectivo de que a idade começa já efectivamente a pesar) e que se orgulha pela perspicácia (que no fundo não reflecte mais do que experiência de vida) mas que não se pode dar ao luxo de dispensar a muleta do PDA, pois o que se lembra de manhã, não é o mesmo que se lembra ao início da tarde e muito menos à noite;

Não. Não falo destes aspectos que no fundo apenas agora reuni e que assim aglomerados reforçam ainda mais esta minha sensação. Não.

Vi-me velho… pelas rugas.

Não pelas rugas da pele. Essa pele na qual as mazelas deixam já marcas, na qual cada ferida demora agora muito mais tempo a curar e que também, guarda já muitas dessas marcas vincadas de expressão. Não.

Vi-me velho, pelas rugas vincadas no cansaço do olhar.

E digo-te que fiquei perplexo. Digo-te que fiquei surpreendido por não me reconhecer. Que fiquei mesmo abismado com aquele eu que estava perante os meus olhos, mas que os meus olhos não haviam ainda vislumbrado.

E neste momento penso: E tu? Como será que me vês tu?

Diz-me…

sexta-feira, novembro 28, 2008

Injustiçada Justiça

Injustiçada pela vida,
Incorporaste em ti a figura da justiça.

Vendaste os olhos,
Empunhaste a espada,
Mas a balança não.
Falhou-te a balança.

Precisavas da mão livre para segurares as rédeas do cavalo, que mantens sempre em galope livre.

E embrenhada da tua justiça por fazer acontecer, avanças pela multidão que te cerca, degolando, decepando, fazendo-a realidade.

E de olhos vendados, sempre vendados, apenas com os olhos de um sentir que te é sombra, de um sentir que não te deixa ver para além do teu ser injustiçado, avanças… avanças sempre e sempre e cada vez mais e mais e mais. E vais. E prossegues. E não vês. Não vês que o inimigo ficou para trás e que são agora os teus companheiros de lado da batalha que mutilas. E não vês. E prossegues. És uma lutadora. Uma lutadora de vida. Impiedosa como ela sempre o foi contigo. Justa apenas para contigo, pois nunca ninguém mais o foi.

E por dentro do interior da tua armadura sangras.
Sangras as tuas vitórias que são derrotas passadas.
Sangras os teus golpes que desferes defendendo-te de ti.
Sangras um sentir com eco próprio que só tu ouves.
Sangras sobre ti e por ti.

A armadura nunca a tiras. Não sabes, mas tens medo de ti. E dentro dela a sombra guarda-se.
Por vezes baixas a viseira. No limite, tiras o capacete. Mas nunca mais do que isso. Sem ele respiras outro ar e chegas a pensar… ser possível. Mas logo dentro de ti uma nova batalha se despoleta, nessa guerra que te é a vida. Por vezes, é apenas o silvo do vento. Por vezes, ecos de batalhas de outros, mas que tu, logo fazes tuas. E corres a montar o teu cavalo. E maldizendo a vida e a sorte, empunhas de novo a espada (muitas das vezes ainda não limpa da batalha anterior).

E não vês.
Não vês que a espada que carregas és tu. E a guerra que travas é a tua vida.
Não tens descanso.
E fazes-te grande perante o mundo, mas pequena perante ti.

E és em ti mesma,
A própria justiça injustiçada...
...à espera de ser feita.

quarta-feira, novembro 19, 2008

Por vezes...

Por vezes... tenho de me parar os batimentos, apenas para ME lembrar que te amo.

Por vezes... tenho de me ensurdecer, apenas para me lembrar dos sussurros e ignorar algumas palavras que me atiras de encontro ao peito.

Por vezes... tenho de me cegar, apenas para ficar com a imagem da tua serenidade e libertar da retina certos olhares da tua indiferença.

Por vezes... tenho de me emudecer, apenas para não te gritar que te AMO, como uma necessidade latente de to lembrar e to fazer sentir.

Por vezes... tenho de cruzar os braços, apenas para não te agarrar, como uma vontade superior em mim de te ter.

Por vezes... tenho de ser forte, para não me veres fraco.

Por vezes... tenho de ser fraco, para veres como sou forte.

Por vezes...
Tenho de me parar os batimentos,
Apenas,
Para TE lembrar,
Que EU,
Na minha (complexa) simplicidade,

Simplesmente,

T E - A M O!

terça-feira, outubro 14, 2008

Curtas 21 – “Pára o Relógio”


Acabara de chegar, vindo de um momento no tempo em que apenas tu existias no meu pensamento.

Não chegara montado no meu cavalo branco, não trazia a espada embainhada, nem viera a galope de cabelos ao vento.

Chegara montado num sentimento único e tão cheio de ti, absolutamente e simplesmente cheio de ti, que tudo em mim transbordava um pouco de algo de ti. Eu era Tu, espalhada por tudo de mim.

Estacionado o carro, dirigi-me ao pontão que dava acesso àquela minha velha cabana, que herdara do meu avô paterno. Segurava na mão a enorme chave, ainda agarrada ao velho porta-chaves a que vinha agarrada quando o notário ma passara para a mão após a leitura daquele testamento que a todos surpreendera e em especial a mim.

Naquele momento, aquela chave encerrava em si mesma o acesso a algo que esperava muito bom, mas que a expectativa e a ânsia pelo acontecer, não deixavam anteceder. No entanto… no entanto era uma sensação já nossa conhecida que o tempo se encarregara de amadurecer em nós, resgatando-lhe tudo o que de perturbador poderia conter em si, deixando apenas ficar o doce da espera, o bom da expectativa da espera, no fundo, apenas a certeza infindavelmente reconfortante da espera. De chave na mão e ânsia no peito, dirigi-me para aquele pontão e caminhei até àquele espaço que confinaria todo o nosso mundo naquela noite.

Não havia trazido nada para criar ou sequer compor o ambiente. Não tinha trazido velas, não tinha trazido essências aromatizantes, não tinha trazido nenhum extra, que não apenas a realidade do momento, para a realidade do acontecer. Tu acontecias em mim, sempre em todos os momentos, em todos os actos, em todos os sentimentos, sentidos, poros, respirares, olhares e sentires. Tu acontecias em mim, existindo dessa forma no mais que poderias ser. Não precisaria de nada mais nessa noite, que não “apenas” Tu.

Por isso quando entrei naquele espaço, limitei-me a olhá-lo no relance de um instante sem que a importância dos pormenores fosse algo maior como era sempre meu costume. Rapidamente arrumei as minhas coisas. Tirei do saco a roupa que de manhã conteria em si (sabia-o) as memórias do que se passaria no decorrer da noite e pendurei-a numa das cruzetas que deixaras livres no armário, ao lado da tua roupa, lisa quaisquer de rugas maculadoras das suas formas, assim como liso e sem máculas era o sentimento que dentro de cada um de nós, nos aquecia os dias das horas, as horas dos minutos, os minutos de todos os infindáveis segundos, em que não existíamos um na presença do outro.

Coloquei a música de tons calmos e ambientadores a tocar e fui despojar o meu corpo dos vestígios do cansaço do dia, acalmar a pele da ânsia pela tua que nela já se começava a fazer notar em cada poro e assim, num duche rápido, preparar o meu corpo para a recepção condigna que o teu merecia.

E tudo (eu) estava pronto para o corolário da tua chegada.

E então, o tempo.

O tempo que passava devagar por mim, se demorava por cima de cada uma das palavras do livro que lia, saltava lentamente de letra em letra, desacelerava a cada vírgula, se demorava ainda um pouco mais em cada ponto final. E mesmo na lentidão desse tempo que na tua espera se fazia cada vez maior, as páginas do livro rolavam sob as minhas mãos e estendia esse próprio tempo que insistia em se deter no ponteiro dos segundos do relógio que num repente, resolvi colocar fora do alcance da minha visão, para não contribuir ainda mais para o aumentar do meu desejo, da minha impaciente forçada passividade pela tua espera.

E o tempo era grande. O tempo era maior. O tempo era muito. O tempo não mais terminava.

E eu lia as palavras, e eu folheava as páginas e tu mesmo não estando presente, tu existias ali, como um ser omnipresente maior que o tempo, maior que as palavras, maior que o livro, maior do que eu, que de forma tão pequena, tão infinitamente pequena, esperava por ti.

E então, Tu.

Com um bater leve de nós dos dedos na face exterior da porta daquele nosso pequeno mundo, anunciaste o término da espera pela tua chegada. Impulsionado por uma vontade que me crescia nos pés, me crescia nas pernas, me crescia nas mãos, me autonomizava o tronco e me empurrava em direcção em ti, rapidamente me coloquei junto à porta que de pronto abri, para que tu entrasses. E o momento aconteceu.

Trazendo contigo o eco dos meus desejos e de todas as minhas vontades, entraste no quarto. Atiraste-me de encontro aos sentires um sorriso arrancado do mais fundo de ti e num simples estender de braços encontraste os meus, guiando-me suavemente de encontro a ti e na envolvência de um abraço, sussurraste-me ao ouvido:

“Pára o relógio!”

E o tempo que era tanto, o tempo que era muito, o tempo que se alongava e demorava e teimava em passar d-e-v-a-g-a-r, esse mesmo tempo, no tempo de um instante, tornou-se pouco. O tempo tornou-se calor, materializou-se desejo, realizou-se paixão, fazendo de nós um, tornando-se a ele próprio, o anti-infinito do toque dos dedos, da carícia das mãos, do teu respirar sobre mim e em mim.

O relógio não parou. Mas a magia dos instantes vividos, eternizou os momentos que cruzamos e fizemos nossos. Eternizou as paredes daquele nosso mundo em nós. Eternizou os quereres sentidos num tudo de nós, em nós e para nós.

E com a pressa do tempo a manhã chegou. E foi com a pressa do tempo do relógio não parado, que amanhecemos um no outro. Amanheci em ti, da mesma forma que amanheceste em mim. E a suavidade desse amanhecer, veio com um tudo tatuado na pele. Foi o odor tatuado na pele, foi o respirar tatuado na pele, foi o nosso silêncio tatuado na pele, foi os gestos tatuados na pele, foi os gritos tatuados na pele, foi com os olhares tatuados na pele, foi a tua própria pele tatuada na minha pele e a minha pele, tatuada na tua pele.

“Afinal, não paraste o relógio!” – disseste.

Não.
Não havia parado o relógio.
Mas o tempo, aquele tempo, o nosso tempo, esse…

Definitivamente…

Ficará para sempre…

Parado em mim!

sexta-feira, setembro 26, 2008

Curtas 20 - Até Quando


Porque num determinado dia um qualquer espelho te disse que tinhas de perder uns quilos extra, subias naquele fim de tarde as escadas de casa, a mesma onde desde sempre moravas. Carregavas nos ombros e nas pernas o peso de um dia inteiro de (silêncio) trabalho e (a dor) o cansaço de afazeres vários, a que a tua (quase) vida solitária te obrigava.

No final do terceiro lanço, após contados todos os 54 degraus dos quais conhecias já todas as imperfeições, arestas, riscos, textura e cores, rebuscavas a carteira em busca das chaves enquanto num grito atirado para dentro de ti, te ecoava na mente a mesma pergunta de sempre: “Até quando?”

Pergunta que assumira já vida própria.
Tinhas consciência da sua existência, mas nem sempre sabias ao que ela se referia.

Até quando continuar a subir escadas?
Até quando o peso de uma vida solitária?
Até quando morar na mesma casa com mais de 30 anos de estória da tua própria vida?
Até quando permanecer nesse espaço vazio de sentires, de respirares, de olhares que não o teu?
Até quando essa solidão?
Até quando essa mesma vida, dia após dia, noite após noite?
Até quando

E a força da vida exterior continua a empurrar-te para (um nada) a frente, num destino que (não) desconheces mas que também pouco te importa conhecer, porque o lugar onde (não) vais ter pouca importância tem, mediante o lugar (de ninguém) onde agora te encontras.

Queres mudar, mas nada fazes por isso. Na cadência dos dias cedes à habituação dos gestos, à inocuidade dos olhares e nesse marasmo navegas (completamente) à deriva de ti, chorando em alguns momentos em que de fora te olhas e (não) te reconheces.

Navegas por águas passadas e (re)lembras, ambições, desejos, sensações, todas elas grandes, todas elas Maiores e todas elas… por concretizar. E (não) vês que hoje os teus desejos são os mesmos, permaneceram inalterados, excepto na força e na vontade que sentias em concretizá-los. Todas as tuas ambições são (ainda) grandes, mas esperas (muito) pouco.

Transformaste-te numa mera espectadora de ti própria, sem força para abandonar o palco após o baixar do pano.

Encontras finalmente o molho de chaves (ainda agarradas ao teu primeiro porta-chaves) abres a porta e entras na sala com o papel desbotado de mais de 20 anos, (a)tiras os sapatos com gestos abruptos e prostras-te no sofá com a mesma idade e na força do silêncio que te aperta o peito, pensas em ti. Choras o teu destino ingrato e não vês… não vês que o teu destino depende em primeiro lugar de ti e a tua vida é aquilo que TU fazes dela.

Choras a má sorte, maldizes todos os outros que se cruzaram contigo e não te conseguiram fazer feliz e não te apercebes que foste tu, que mediante os teus rigorosos “critérios de selecção” foste afastando gradualmente todos de ti. Hoje, vives de relações conseguidas atrás do conforto da barreira de um monitor e não te chega uma mão cheia para contares todos os amigos (?!?) que assim fizeste.

E volta de novo a ecoar na tua mente a mesma pergunta de sempre: “Até quando?”

Olhas o tecto do qual pende o mesmo candeeiro que a tua Mãe comprou com o juntar de uns tostões suados e pensas que nada de teu existe ali, naquele lugar que é teu (?) e que tão pouco te diz. “Um dia mudo isto tudo” pensas tu para dentro de ti própria, onde ouves o eco da frase resposta: “Mas hoje não. Hoje estou muito cansada.”.

O estômago lembra-te o já ultrapassar das horas de refeição e um novo cansaço nasce de dentro de ti. Limitas-te a enfiar a mão num dos sacos que carregaste escadas acima, do qual retiras uma maçã que assim é elevada à categoria de refeição num momento de esgotamento profundo elevado à categoria de vida.

Comes a maçã com o mesmo desinteresse que choras as cenas do filme a que assistes mais tarde, até te lançares sem resistência nos braços de Morpheu, que querias homem para te aconchegar nessa noite e nas próximas que sabes virem, entradas pela mesma porta, sentadas no mesmo sofá, debaixo do mesmo candeeiro, entre o mesmo papel de parede que te serve mais vezes de lençol que os próprios lençóis da cama, a qual muitas das noites, não chegas sequer a sentir.

Estás parada em ti, num tempo que é só teu, com a vida a decorrer à tua volta, mas não em ti.

Até quando?

Tens os desejos envoltos em sentimentos que te são externos e não consegues resgatar para dentro de ti.

Até quando?

Tens as mãos frias de um nada de sentires a que te agarras para não te afundares.

Até quando?

Tens o vazio de uma casa outrora não tua, tal como agora.

Até quando?

Não tens nada!

Até quando?

sexta-feira, setembro 19, 2008

Curtas 19 - Tempo


Tento arrancar de mim as palavras, que a força do silêncio teima em segurar.

Palavras que falem de mim sem que te digam.
Palavras que falem do tempo, esse que acalma a dor da ausência, mas não cala a ausência nos sentidos.
Palavras que falem do espaço, essa pequena imensidão que me separa dos teus poros.

As palavras, agitam-se no meu pensamento, ao ritmo das batidas céleres do fluxo da vida, pela força de te pensar com este querer de te sentir.

E na força da tua ausência, essa que tem a mesma intensidade do toque e da forma, que o teu ser exerceu sobre o meu, no repente em que nos inventamos com um só, Existes em mim, como uma tatuagem invisível impregnada sob a pele, que esse momento deixou como herança de nós em nós.

Hoje espero-te.
Espero-te em cada palavra largada ao vento, que me chega trazida pela brisa,
Espero-te em cada esquina do tempo, que no seu dobrar me traga o teu vislumbre,
Espero-te em cada levantar do lençol, em cada virar de cabeça, em cada sorriso sedento dos teus lábios.
Espero-te em cada som, em cada odor, em cada toque nos meus braços que hoje abraçam o nada.
Espero-te, assim como espero um sinal teu, que cada vez mais pareço sentir que não vem.

Mas a espera não desvanece,
E o meu sentir-te não esmorece...

E chamo a mim as palavras para a formação de frases novas, que quero sentidas ao longo do branco das folhas em que te sinto e te escrevo, espelhando-te nas curvas de cada letra que dando no seu fim início à próxima, me levam numa corrida de palavra em palavra em busca de ti, deixando-me ofegante, até ao fôlego do suspiro de uma vírgula ou término de um ponto.

E tu... tu estás presente em tudo, pois tu existes em tudo o que é de mim.
E assim, ficas tão por dentro de mim, que eu quase te sinto e quase te toco e fico assim a beijar em pensamento, esse teus lábios, pequenas fontes de calor húmidas, que me trazem o acelerar dos sentidos e a guerra à paz dos sentires, no calor do teu peito junto ao meu.

A música ecoa, mas não é a melodia dela que ouço. O que ecoa em mim, é o teu respirar, forte, profundo, o teu grito solto do fundo de ti, quando juntos, nos dávamos ao som destas mesmas músicas, balançávamos os corpos ao ritmo destas mesmas melodias e líamos-nos um ao outro, no fundo dos olhos de cada um de nós, a cada compasso, em profunda partilha de alma, em profunda partilha de Ser.

O tempo é contagioso e retém de nós os momentos que não estando juntos, ficam desperdiçados para proveito de ninguém.
O tempo é contagioso e leva-nos os sentimentos para auras do pensar em auroras de sentir.
O tempo é contagioso e leva-te a ti, de mim. Leva-me os teus momentos, leva-me os teus sorrisos, leva-me os teus olhares, leva-me o tudo e o tanto de ti, que por não te ter perto de mim, deles fico despido.

O tempo é contagioso, mas o tempo... o tempo não consegue apagar o tudo que vivemos, nem as saudades que eu tenho de ti e de tudo aquilo que contigo ainda não vivi.

O tempo é contagioso, mas o tempo...

Esse mesmo tempo,

Um dia,

Será para sempre...
...o “nosso tempo”!

quinta-feira, julho 24, 2008

Curtas 18 - Quase


Olho-te no soslaio de uma certeza de quase te ter tido em completo apenas para mim.

Na incerteza de um acidente que quase não aconteceu, ficou a certeza do choque que as tuas mãos provocaram no meu corpo.

Para mim, serás a eterna dúvida que o teu cheiro me dá como uma quase certeza.

Nas noites em que juntos quase dormimos, elevamo-nos a um estádio maior de sentires, nos lugares onde as nossas mãos quase aconteceram por dentro de nós.

E na emoção das memórias quase diariamente revividas, surges como o todo de um sentir de tudo o que quase foi nosso.

E o mundo que quase se vergou a nós e à explosão do que fomos, quase que ficou deserto, pelo esgar do grito que se soltou, quando tu quase te despediste de mim.

Eu, que quase morri no momento em que me apercebi que tu apenas quase ficaste, abandonei-me em prostração ao desvario dos meus pensamentos que quase pensei controlar, em todos os momentos que no mais fundo da tua ausência, quase te conseguia sentir.

E quase consegui ficar no mesmo lugar.
Mas a ausência dos teus sítios em mim, quase me deixaram vazio ao ponto de quase não conseguir respirar o ar, daquele lugar que quase foi nosso.

E quase consegui continuar a fazer as mesmas coisas.
Mas os teus gestos em mim impregnados, quase me transmitiam a tua omnipresença não me permitindo avançar no perseguir dos meus intentos, quase me prendendo os movimentos.

E... quase consegui continuar a ser eu.
Mas eu quase não existia sem ti; sem o calor que o teu olhar me transmitia quase não sendo necessário nada mais para me aquecer; sem o toque da tua pele que quase sentia quando te pensava; sem o som do teu sorrir que quase ouvia sempre que olhava uma foto tua.

E foi então que me apercebi que não fazia sentido continuar apenas a quase viver. Tu havias fugido para longe de mim. Levaras o teu corpo, o teu odor, o teu olhar, as tuas palavras, as tuas sonoridades... todos os meus sentires e quase a minha sanidade em todos os momentos em que pensava que…
...Quase fomos “nós”!

E agora, que apenas em pensamentos existo, quase vivo em ti, dentro de ti, por ter sido esse o lugar onde me guardaste quando soubeste que eu partira, por não ter sabido viver, sabendo, que apenas, quase te tinha tido!

E ironicamente,
Com isso,
Agora,
Quase posso dizer,
Que finalmente...


...Quase somos “nós”!



(inspirado pela música que tocou em loop durante quase 2 dias, os dedos não resistiram às teclas e saiu isto)

quinta-feira, julho 17, 2008

Curtas 17 – A Surpresa


Um dia, chegaste com ânsia no olhar, um desejo nas mãos e olhando firme nos meus olhos, pediste-me uma surpresa.

E com a certeza de que eu conseguiria corresponder às tuas expectativas, pediste que te oferecesse algo que te surpreendesse, que te fizesse abrir a boca de espanto, se possível te tirasse do sério pela excitação no momento de a receber.

E complementaste a lista de requisitos referindo que deveria ser algo que a cada dia te fizesse sentir renovada, te desse alegria para viveres mais aquele dia, com a pressa do adormecer pela ânsia na expectativa de um novo acordar e de novo viver mais um dia na ânsia pelo próximo.

Pediste-me algo que te desse Vida e Vontade de Viver, algo que te fizesse sentir bem sempre, todos os dias a todas as horas;

Algo que te enchesse o peito, te fizesse sentir bonita e desejada, fizesse irradiar de ti uma Luz, Límpida, Brilhante, que atraísse até ti todos os sentires plenos de um existência Feliz;

Pediste-me um brilho nos olhos, a todos os instantes, na vivência de cada momento e nas mãos, um bom punhado de felicidade para te alimentar e poderes também distribuir alguma;

Pediste-me um coração sempre a bater no peito ao ritmo de 1000 cavalos desenfreados, um fluxo sanguíneo a querer saltar-te das veias, numa seiva de vida, de crescimento, de geração de Ser;

Pediste-me algo que te renovasse todos os dias, que te fizesse sentir que cada novo dia a nascer, serias tu própria a renascer no resultado da soma do melhor de ti em todos os dias anteriores;

Um dia,
Pediste-me uma surpresa assim,

E eu...
...estendi-te a minha mão!

(olhando-me surpresa, vi que o primeiro objectivo estava conseguido)
Segurando firme a tua, levei-te numa viagem inédita pelo interior de um espelho que segurava na outra, com início no fundo dos teus olhos reflectidos na segunda camada de vidro e término no interior da tua alma.

“Tudo o que pediste, encontras aqui!”, disse-te
“E se me quiseres, ficarei contigo para sempre, apenas para to lembrar!”

sexta-feira, julho 11, 2008

Abismo


Do alto do meu ser, observo a profunda imensidão do Abismo sempre tão presente entre nós.

Abismo existente desde o extremo da fina linha dos teus lábios, quando de encontro aos meus, eternizam os momentos até que se toquem;

Abismo existente entre a ponta de cada um dos meus dedos, quando numa incansável procura pelos teus, repetem gestos mecanizados de encontro às teclas em textos que falam de Ti e sempre tão de Ti em mim;

Abismo existente entre as linhas dos meus textos, no fôlego tomado entre o final de cada linha e o início da próxima, numa cadência compassada ao ritmo das batidas que gerem o fluxo de mim para ti, num vai e vem contínuo de sentires e quereres;

Abismo existente entre cada ponto do mostrador do relógio, quando conto os momentos que faltam para o nosso reencontro e o caminho a percorrer pelo ponteiro aumenta por entre os seus avanços através do espaço interior da redoma de vidro que o (te) protege em toda a sua extensão;

Abismo existente na pausa entre cada uma das palavras vertidas de ti directamente para o mais fundo de mim, proferidas dos teus lábios em movimentos contínuos, nos ventos dos tempos infindos, que não param, que nunca param, de me chamar a ti e em ti para eles;

Abismo existente em todo o tempo que deambulando como dois seres autónomos pela vida, não somos nós, num único existente, de apenas um feitos, materializados em dois corpos distintos, de esperanças pequenas e quereres simples;

Há um Abismo imenso sempre tão presente entre nós,
E eu,
De braços abertos e peito a descoberto,
Vou-me atirar!

Encontramo-nos na penumbra...

quinta-feira, junho 26, 2008

Desenho-te

Dentro das surpresas que esta vida nos vai reservando, recebi por e-mail dois escritos de alguém que não tendo blog, tem o que nos caracteriza a todos: Ímpetos de escrita.

E por ter gostado do que li, aqui o partilho convosco.


Nestes caminhos semblantes de luz,
Pego minha mão num pincel e desenho-te
Vou fechando os olhos e desenhando...

Pinto-te de aguarelas brilhantes...

Acercas-te em mim... o medo perdeu-se
e tu tocas-me... retocas os meus lábios
Ainda por acabar de serem feitos
...e brilho no teu olhar...

e uma pena suave se cruza em nós...
mas eu não consigo acabar-te...

Desenho mais uma vez,
tento retocar todos os cantos
que te conheço...
aii... e a penumbra da vida ali se faz.

Ficamos juntos em semblante delírio
e fazemo-nos um ao outro...

Os dedos que se encaixam,
Os olhos que se fazem
e os lábios que se unem
E o ritmo aumenta...

O instinto desenha-nos em passos suaves.

Dançamos nas encruzilhadas daquela rua...
num compasso efervescente de amor...
tua mão, feita por mim,
me empurra para ti...
e os nossos pés nos conduzem...

e cada toque teu, eu sinto
e cada olhar em mim, me arrepio
num cruzamento de passos feitos por nós...

e a efemeridade da vida nos acompanha
e o sonho desvanece... e já não o sinto...

(Alexandra Sousa)


A ti Alexandra, um Beijo meu, junto com o meu Muito Obrigado, por este momento.

terça-feira, junho 17, 2008

Curtas 16 – Parte de Mim


Decidi finalmente livrar-me de ti de forma definitiva.
Procurei uma caixa para colocar lá todos os teus pertences, réstias de ti, que ainda andavam espalhadas por aí, como fantasmas alados que teimam em permanecer, negando a sua condição.

“Não deve ser preciso uma muito grande” – pensei eu – “Já passou tanto tempo...”

Coloquei-a em cima da cama e semi-deitado ao lado dela, comecei com calma, sem qualquer tipo de pressa, a colocá-los lá, um por um...

Comecei pelas tuas palavras.
Espalhadas por todos os cantos, pondo todos os meus espaços em completa desordem, fui recolhendo-as e com jeito, com um certo carinho nostálgico, acomodando-as uma a uma, sobre o fundo da caixa. Como é possível? Como é possível que fossem tantas? Em todos os lugares, todos os objectos, todas as lembranças, todas as memórias estavam palavras tuas...
Encheram quase toda a caixa. Fui procurar uma maior.

Coloquei a maior ao lado da primeira, despejei nela todo o conteúdo e continuei...

Passei para as frases.
Aqueles pedaços da tua voz que guardava ainda no vibrar dos meus tímpanos, rabiscados nos meus sentimentos, das quais tantas vezes me lembrava...
Tinhas o dom da palavra e esse hábito de verbalizares frases que deixavam em mim, marcas da tua presença. E até agora, eu ainda não me tinha apercebido do quanto e do tantas que elas eram...
Já não couberam todas na nova caixa! Tive de tratar de arranjar outra ainda maior.

Coloquei a maior agora no chão e despejei uma vez mais, todo o conteúdo da anterior e continuei...

Voltei-me para as imagens.
Desfolhando o álbum de nós, as imagens de ti gravadas na memória, foram passando como um show de slides. Um show que parecia não ter fim... Tinha imagens de ti em tantos lugares, tantas situações, tantas emoções... imagens de ti... imagens de nós...
Imagens das tuas mãos (das tuas mãos nas minhas), dos teus olhos (onde via reflectidos os meus na envolvência de um beijo), dos teus lábios (embrenhados nos meus, passeando-se pela minha pele), dos teus braços (envoltos em mim, nos nossos abraços)...
Foi quando me apercebi que as minhas memórias eram as nossas memórias e apesar de fazer um esforço nesse sentido, não consegui encontrar nenhuma da qual não fizesses parte...

Uma caixa não serve definitivamente. Terei de arranjar um caixote e desta vez, trarei o maior que arranjar.

E foi no jardim que continuei a limpeza.

A primavera deu-me o mote para a próxima secção: os odores.
Como tenho tão presentes em mim ainda os teus odores. Lembro-me do toque de cada essência do perfume que colocavas pela manhã, do perfume que colocavas para sairmos à noite, do odor de ti que deixavas na almofada, do odor de ti que ficava impregnado na tua roupa, mas sobretudo: do odor que a tua pele emanava! A tua pele acabada de sair do banho, a tua pele orvalhada no final das nossas danças a dois, sempre tão íntimas, sempre tão diferentes, sempre tão... nossas! As danças... as músicas... Tantas!!!

E então os sons!
Eram tantos os sons que guardava de ti. Para além dos teus sons, esses que emitias no esgar da intimidade de um Amor feito a dois corpos fundindo-se num só, para além desses sons... impressionante... tenho presentes em mim até os sons do teu quotidiano! O som de ti enquanto lavavas os dentes, sempre com os mesmos gestos, ao mesmo ritmo, em que as cerdas da escova desfilavam notas monocórdicas em uníssono; o som de quando lavavas as tuas mãos (essas mãos...) em gestos mecanizados e propositados; o som da fivela do teu cinto a tilintar enquanto vestias as calças; o som do correr do fecho das botas enquanto o cabedal se moldava ao formato das tuas pernas; o som da escova no teu cabelo, em sons curtos e decididos... Mas sobre todos... o som do teu sorriso... esse som mudo, dos lábios a arquear e a entreabrirem-se, desvendando o branco brilhante do esmalte dos teus dentes perfeitos...

Incrível como por vezes, somos ultrapassados pelos momentos, trespassados pelos sentimentos, sem que de tal nos apercebamos.

Comecei decidido a livrar-me definitivamente de ti,
E nesse processo,
Fui mergulhando cada vez mais fundo em mim,
Encontrando-te nos mais recônditos recantos do meu ser.
Enchi caixas e caixotes com os teus pertences,
E agora...

Nas caixas que foram ficando cheias ao longo do processo,
Nos caixotes nos quais coloquei todo e cada pedaço de ti,
Vejo,
Que não é apenas de ti que me estou a livrar,
Não és apenas tu, retalhos de ti, que estão despojados neles,
Mas todo um EU,
Que sem ti,
Fica tão absurdamente vazio...

Detenho-me e observo-os.
Observo-os e decido.

Esvazio os caixotes.
Despejo-te de novo em mim.

Tudo o que de ti ficou,
Tudo o que de ti existe...
Ficará assim...
Para sempre...

...como Parte de Mim!

quinta-feira, junho 05, 2008

Queria o Teu Silêncio


Queria o teu silêncio.

Queria sabê-lo.
Queria saber o sabor que ele tem para ti.
Queria saber de que cores ele se (te) reveste.
Queria saber que pensares ele te gera,
De como ele te despe,
De como ele te prende,
De como ele te engole.
Queria.

Saber por onde ele te leva na noite,
Por que sentires ele se passeia,
Quais os sentires que te nega,
Em que parte de ti ele te encerra.

Saberás do que ele te priva?
Saberás do que ele te afasta?
Saberás o que te trás, o que te dá?

Saberás que ele tem essa capacidade infinita de crescer?
Crescer, cresCER, CRESCER SEMPRE?
Até te absorver todas as palavras,
Encher todos os teus poros,
Privar-te de todos os sentidos,
Não deixando lugar para nada mais,
Que não apenas esse grande,
Absoluto e Imensurável,
S.I.L.Ê.N.C.I.O ?
Gostava que o soubesses.

Queria sabê-lo.

Queria saber da tua imagem,
Que vês reflectida no espelho,
Enquanto envolta no teu silêncio,
Vagueias alheada do mundo,
Com ele, apenas com ele,
Esse que te rouba de mim,
Que detém o controle sobre o teu ser,
Que não te deixa ver para alem de ti,
Que não te deixa ver-me a mim...

Queria saber do teu silêncio.
Da tua questão em mantê-lo,
Do teu querer alimentá-lo,
Do teu tudo fazeres para desenvolvê-lo,
Fazê-lo crescer,
E fazeres essa TÃO grande questão,
De o manteres,
Só para Ti.

Queria o teu silêncio.

Queira que ele me rasgasse o peito,
Como o fazem as tuas ausências.

Queria que me deixasse só,
Como o fazem as tuas ausências.

Queria que me calasse as palavras e os sentidos,
Como o fazem as tuas ausências.

Queria que ele me implodisse sobre mim,
Como em todos os dias,
Que lentamente vou morrendo no meu interior,
Pela força das tuas ausências.

Queira que me incluísses nele,
Que me afundasses em ti junto com ele,
Com o ecoar do vazio
Nas profundezas do teu corpo,
E me deixasses...
Simplesmente me permitisses...

Limpar-te dele,
Enchendo-te de palavras,
Enchendo-te de cheiros, sabores e saberes,
Enchendo-te de mim e desse tanto de Ti,
Que atiras borda fora,
Quando permites,
Que o silêncio te tome.

Queria saber do teu silêncio.
Mas tu simplesmente não me deixas.
E assim desenvolvo em mim o meu.

Eu,
Que queria tanto o teu silêncio,
Apenas porque,
Te quero assim tanto...
...a Ti!

quarta-feira, junho 04, 2008

Das Palavras que nos unem

Porque mais uma vez, encontro nas palavras deste HOMEM um espelho de sentires de mim, deixo-vos aqui as suas FANTÁSTICAS palavras:

"RASGO

Sacudo de mim cada palavra que em gesto me transborda.

Rompo por dentro de mim mais um lábio mordido, uma lágrima solta de encontro à minha tontura de tanto ter e nada ter!

Quero atirar-me contra uma parede e deixar essa marca da fúria a escorrer-me no rosto e no cansaço.

Rogar a rouquidão de tamanho fogo que se esvai em cada volta.

Tempestadamente criar de novo a ternura e quem sabe poder abraçar.

Ou então perder-me no aconchego do tranquilo manto estendido sobre cada verso que te dou.

Sem saber que nunca mais o tempo me servirá a paz.

Porque morro todos os dias em mim.

No acordar frenético dos embalos, dos gritos, dos saltos, dos perturbantes soluços que me pintam a criação."

Pedro Branco
Blog "Das palavras que nos unem" (com link aqui ao lado)

Para Ti Pedro,
Um ABRAÇO!

terça-feira, maio 27, 2008

Curtas 15 - Recordo

Recordo o momento em que te conheci.

Recordo as tuas mãos, tão imensamente repletas de vários nadas, que a vida te impregnara como uma fatalidade de destino pré-escrito, impossíveis de evitar, incapazes de uma intervenção tua que o pudesse alterar;

Recordo o teu olhar, baço, triste e conformado com um futuro que não escolheras, mas que aceitavas como incontornavelmente definitivo;

Recordo a lenta e progressiva descoberta das tuas nódoas negras, das cicatrizes nos sentimentos, das feridas abertas na alma, que pensavas como eternas, impossíveis de curar;

Recordo a tua normal convivência com a dor, que assumias como um acto tão natural como o respirar, por ela fazer parte da tua existência desde que te conhecias como mulher;

Recordo a tua irreverência defensiva, de menina assustada que tinha no ataque, a forma que a vida te ensinara como defesa antecipada, contra hipotéticos males futuros que aprenderas a ter como certos;

Recordo a tua estranheza com a dádiva simples, com o carinho gratuito, com o interesse desinteressado da minha preocupação por ti;

Recordo...(te)

Recordo horas a fio de conversa, em que bebendo as palavras um do outro com a sede de uma vida inteira de seca, mergulhávamos fundo em cada um de nós e nos esquecíamos das horas, porque o tempo não servia para marcar o que decorria ou faltava, mas apenas para medir a ausência da nossa coexistência;

E recordo que com o tempo foste lentamente mudando. Não ao sabor das estações que dentro de ti era quase sempre Outono, com alguns dias de inverno pesado e frio. Mas, ao sabor do saborear dos pequenos quês que a vida te foi proporcionando e que tu foste como que aprendendo a apreciar;

Recordo horas inteiras que passavas aninhada no meu colo, em silêncio, serena, respirando com a suavidade das ondas numa maré baixa, permitindo que o fluir do ar te limpasse a mente e te aliviasse das mazelas marcadas a fogo na alma;

Naquelas horas... naquelas horas em que tudo fazia sentido, por vezes perguntavas-me o porquê de te sentires tão bem, assim, com a simplicidade de um momento sem nada de transcendentemente arrebatador, sem nenhuns sentimentos maiores, ou algo que te retirasse a respiração e desvairasse os sentidos... apenas assim, na simplicidade de um colo, sem a grandeza dos gestos ou sequer das palavras certas... apenas assim...

E quando eu te respondia que assim era, por ser nas coisas mais simples, nos momentos menos complexos, nos gestos e palavras mais “básicas” que verdadeiramente conseguíamos encontrar a “essência da felicidade”, tu simplesmente sorrias! Colocavas nos teus lábios finos, esse sorriso raro de vislumbrar em ti. Sorriso verdadeiro, livre dos pesos da vida, com a inocência da criança que sempre repreendeste no mais íntimo de ti por teres crescido demasiado depressa e... fechando novamente os olhos, voltavas a cara para o meu peito deitando a cabeça no meu braço e voltavas a respirar ao ritmo das ondas na maré baixa, ao compasso dos afagos dos meus dedos no teu cabelo;

E recordo que com o tempo, algumas feridas abertas se foram fechando, algumas cicatrizes tornando-se meras marcas de pele e o teu olhar... o teu olhar foi ganhando um contorno diferente, um contorno proporcionado pelo brilho que nele se foi instalando, pelo acumular de luz interior que os teus sentires foram lentamente, ao longo do tempo permitindo acontecer e que a partir de determinada altura e em determinadas situações se tornava praticamente impossível de conter e que conjugado com aquele sorriso... te conferiam uma beleza única;

E agora que te penso assim, recordo que nunca te disse que esse teu sorriso simples, esse teu sorriso inocente de menina, era como um sol para mim. Que sempre que me era permitido vislumbrá-lo, o meu dia ganhava outra luz e os meus sentires outras cores.

E agora que o recordo, sinto o quanto gostaria de to ter dito.

E agora que o recordo, só espero, que da próxima vez que a vida se encarregar de cruzar as nossas existências, que pelo menos dessa vez...

...eu me Recorde, de to dizer!

segunda-feira, maio 12, 2008

Curtas 14 – Naqueles dias de Inverno


Dentro do carro, aguardava com expectativa o momento em que ao fundo da rua vislumbraria a tua silhueta.
Nos dias daquele inverno em que ia almoçar contigo, era assim que aguardava a tua chegada.

E tu lá aparecias. Ao longe. E caminhavas em direcção ao meu carro. De cara levantada a exigir o respeito da vida por ti, fechada como o casaco que sempre trazias abotoado como o tempo e de passo certo, para não revelar o inseguro de um passo a anteceder o outro.
Ao aproximares-te, arqueavas um sorriso discreto, quase dissimulado e dirigias-te para a porta direita.
Já dentro do carro, um “Olá!” por entre a abertura de um sorriso nos teus lábios finos e bem delineados que sempre te caracterizaram.

Arrancando, podia observar o teu olhar, ainda meio vago, os pensamentos ainda metade fora, metade dentro do carro e o respirar circunstancial e automático como alimento à sobrevivência do corpo. À medida que o carro ia circulando, também os teus pensamentos se iam recolhendo todos àquele espaço, a cada gota de chuva que lá fora batia de encontro ao vidro e o nós começava a ganhar corpo e a tomar a sua conhecida forma.

Então, a minha mão procurava a tua e ao encontro das duas, o respirar assumia um outro papel e o teu olhar ainda meio vago, já deixava transparecer o quase confinar da tua existência a apenas aquele lugar móvel, em que ambos existíamos e que por algum tempo (pouco, sempre tão pouco) seria um espaço apenas nosso.

Por vezes, seguíamos em silêncio, ouvindo o ritmo das gotas da chuva embebido na música que do rádio soava e sentida em cada carícia que os dedos entrelaçados cantavam uns para ou outros; outras vezes, falávamos de assuntos circunstanciais, daqueles, em que cada palavra não quer dizer o que as letras a fazem, nem as frases terminam nos pontos finais, pois o que se proferia não era minimamente condicente com o que se estava de facto a “dizer”.

Chegados ao local, mudávamo-nos para o banco de trás, no qual os meus braços podiam melhor albergar o teu olhar, as minhas mãos afagar-te os sentires e os meus lábios, beber as tuas palavras.
Num instante, comíamos a nossa “refeição” – duas sandes compradas em qualquer lado, justificativas do adjectivo de almoço para o nosso encontro – para depois… depois usufruirmos do nosso verdadeiro alimento, os olhares de um no outro, o respirar de um no outro, o calor de um para com o outro.

E eram momentos únicos, aqueles que vivíamos ali, naquele espaço confinado a nós, com a música de fundo a fazer-nos companhia e com o tudo que as carícias de pele produziam no sentir de cada um.

E o tempo não passava… o tempo não existia… o tempo… era uma contagem decrescente, sempre galopante, sempre castradora do querer, que dizia que aquele tempo, aquele espaço de tempo, não deveria ser tão imensamente finito, tão imensamente pouco, tão… por nós medido a cada pulsar.

E a chuva lá fora deixava de existir, o vento deixava de se fazer sentir e o frio… era um estado de espírito em forma líquida que como que jorrando de uma chávena de café quente, nos aquecia o corpo.
Nós permanecíamos no carro, mas o nosso espírito, os nossos sentidos, os nossos sentires, estavam muito acima das nuvens, lá, onde os raios de sol nunca deixam de se fazer sentir e a luz demonstra a vida que encerramos em nós, essa mesma que muitas das vezes, sequer, disso nos permitamos aperceber.

E eu sorria. Eu sempre sorria. E o tempo passava. E o tempo terminava.

E eu adorava observar-te sempre em todos os momentos.

No caminho de retorno, tu fazias o percurso inverso. Ias gradualmente transportando-te para a realidade do mundo fora daquele carro, com o olhar vago distante, com os teus dedos (da mão que não estava entrelaçada na minha) seguravas uma ponta do teu cabelo fazendo círculos no ar e mantinhas um sorriso fino, nos teus lábios finos, enquanto o pulsar lentamente se tornava mais lento, para se sincronizar com o do tempo do relógio, que a fatalidade do mundo real nos trás.

Naquele percurso, nos instantes em que ele durava, tu ias descendo de encontro à chuva, ias descendo de encontro ao frio, de encontro à realidade que nos separava, mas… já fora do carro e vendo-te caminhar de encontro à tua tarde, eu conseguia claramente ver, que apesar de não teres nada para te proteger… a chuva não te molhava, o escuro não te encobria, porque tu… tu seguias circundada por uma luz interior, um calor em ti, que não permitia que fosses perturbada pelos indesejos mundanos e eu… eu que no carro ficava a ver-te seguir… eu só desejava, que aquela luz que de ti irradiava, durasse pelo menos… até ao nosso próximo encontro.

quinta-feira, maio 08, 2008

Porquê?


Porque é que
Sempre que te amei,
Não me disseste que não era o meu sentir que procuravas,
Mas o que o meu corpo te fazia sentir a ti?

Porquê?

Porque é que
Nunca me disseste que o calor das minhas palavras,
Só te interessava quando materializado em gestos,
Que na sua essência te proporcionavam prazer?

Porquê?

Porque é que
Nunca me disseste que a distância de mim,
Seria o morrer no teu corpo do desejo,
E não do sentimento que por mim (não) nutrias?

Porquê?

Porque é que
Nunca me deixaste ir além da tua pele,
Nunca me deste sequer hipótese de te chegar ao coração,
De me aninhar, nem que por um momento único, na tua alma?

Porquê?

Porque é que
Me mantiveste preso na ilusão das horas,
A sentimentos que não te eram recíprocos,
E que apenas em mim se faziam sentir, assim, tanto por ti?

Porquê?

Porque é que
Pela força de um querer,
A ilusão em mim foi maior que o discernimento,
E não me permitiu ver a verdade do que a realidade teimava em me mostrar?

Porquê?

Talvez...
...porque nunca to tenha perguntado?

E...
...se alguma vez o tivesse feito,
O que me responderias tu?

...Não sei...

Recolho-me em mim.

sexta-feira, maio 02, 2008

Curtas 13 – Quero que Saibas


Porque quando voltares eu já cá não estarei, deixo-te esta carta porque quero que saibas que esperei por ti.

Quero que saibas que não te deixei do lado de fora da porta, ou sequer arrumada numa gaveta velha, rangente, fechada com uma chave que se partiu. Não;

Quero que saibas, que estiveste sempre ali, na prateleira de mármore sobre a lareira, onde mais se fazia sentir o calor dos meus sentires sempre que te pensava (e era sempre em ti que constantemente pensava);

Quero que saibas que o passar do tempo, não arrefeceu em mim o sentir-te enraizada sob a minha pele, alimentando-te do meu sangue (pois neles tu cresceste e te desenvolveste a cada pulsar, sempre, em contínuo em mim);

Quero que saibas que nunca ninguém te substituiu, nem nada nunca ocupou qualquer um dos teus lugares (pelo contrário, foste tu que foste ocupando cada vez mais lugares de mim, ao ponto de quase não sobrar espaço para mim próprio);

Quero que saibas que sem ti, o tempo passou a correr tão mais devagar e os sentidos que a vida fazia, foram-se esmorecendo, mas não tu (porque tu, foste sendo sempre cada vez mais a espera, o motivo da espera, o tudo que na própria espera, deixa até de ser espera);

Quero que saibas que o sol e a lua se cansaram de passar pelos meus olhos, mas os meus olhos nunca se cansaram de te procurar no caminho de acesso à nossa porta (que passou a nunca estar fechada à chave, com receio que chegasses e por te teres esquecido da tua, fosses de novo embora);

Quero que saibas que os meus braços sempre se abraçavam à noite, na procura da sensação dos teus, que envolta no meu tronco, me trariam uma vez mais o sentir das tuas formas (essas que pelo castigo da tua ausência, eram já apenas uma quimera);

Quero que saibas que as sombras da rua passaram a ser possíveis lugares onde te imaginava escondida a observares-me, pela necessidade que a memória das mãos fazia rasgar em ti de uma simples visão de mim (tal como eu era constantemente dilacerado pelas minhas);

Quero que saibas que por vezes desejei nunca te ter conhecido, mas sem isso, sei que nunca me teria conhecido em pleno a mim e então esse desejo desaparecia e ficava uma vez mais, apenas, o imenso desejo de ti (esse que me fazia crescer uma solidão no peito, por quando nas mãos vazias de ti nelas ver nascer as noites de mim);

Quero que saibas tudo, tantas coisas, tantos sentimentos, tantos sentires, tantos devaneios e até loucuras, tanto tu, tanto eu, tanto, tanto...

Quero que saibas por fim, que eu já cá não estou não porque tenha desistido de ti. Apenas o tempo de espera foi demasiado longo e a minha vida encontra agora o seu término (essa mesma vida, que decorreu numa espera contínua e ininterrupta de Ti);

E quero que saibas, que te deixo esta carta para que fiques a saber tudo isto quando voltares, mesmo... sabendo eu... no mais íntimo de mim... que não voltarás.

quinta-feira, abril 24, 2008

Tenho-te em Mim


Envolta num Silêncio,
Que as palavras por não o saberem falar não dizem,
Trago-te guardada em mim,
Como o bem mais precioso,
Que a minha existência pode comportar.

Tenho-te gravada no calor do sol trazido pela brisa,
Que afagando-me sussurra a tua existência,
Quando por não estares, o tempo teima em eternizar-se,
Num compasso lento que me segreda as sílabas de ti,
Fazendo-te presente em mim,
Mesmo na distância do tempo e do espaço.

E quando a dor da tua ausência,
Insiste em se tornar no maior dos meus sentires,
Grito o teu nome num murmúrio que lanço para dentro de mim,
Fazendo-te ecoar nos poros da pele que sempre te lembra,
Dos momentos em que na tua, numa cumplicidade única,
Deposita a intimidade de um segredo construído a dois.

quarta-feira, abril 16, 2008

Ser


São as palavras que com os olhos,
…Me falas,

São os sons que me sussurras,
...No pensamento,

São as imagens de ti que me atiras,
...Ao peito,

É o odor que emanas,
...À minha memória,

É o calor da tua pele que cristalizas,
...Nos meus lábios,

É o toque do teu cabelo, que me arrepias,
...Nas lembranças,

É o cravar das tuas unhas, que me ecoas,
...Nas cinzas das horas,

É a humidade do teu corpo colado na pele,
...Dos meus sentires,

É o teu passo corrido, saltado adentro,
...Do precipício de mim,

É o TANTO de Ti,
No tão pouco,
De Mim.

sexta-feira, abril 11, 2008

Como ?


Como te fazer chegar este bater no peito?
Como pousar um beijo nos teus lábios?
Como fazer-te sentir, colada a mim, o quanto do acelerado?
Como mostrar-te que,
Quando me levanto,
Não é um dia que começa,
És tu nos meus pensamentos,
Que ecoam sempre mais e mais e mais nos meus sentires,
Como falar-te?
Como conseguir fazer-te aquecer
Como eu aqueço com o meu pensamento
Que apenas te conhece a Ti?

Como?
O que te falar?

Os dedos mandam...
É só deixá-los livres...
E eles expelem para as teclas,
Os ecos dos meus pensar e sentir!

Porque de Ti,
Não tenho só uma imagem,
Não tenho só as palavras,
Não tenho só os carinhos,
Não tenho só as memórias da pele,
Ou sequer apenas o Sorriso,
Esse que eu adoro beijar!

De Ti,
Tenho um Todo,
Tenho um Tudo,
Que reside em mim,
De forma autónoma,
Sem que para tal,
Eu tenha voz activa,
Ou sequer,
Vontade,
Pelo que assim não seja!

Amo-te!

Amo-te como um todo,
Porque é assim,
Que Tu estás em mim,
E em mim,
Assim,
Tu fazes TODO o sentido!

sexta-feira, abril 04, 2008

…e uma vez mais


...

E uma vez mais me atiraste para dentro de mim,
De encontro às paredes do que sou,
Com a força do impregnar do silêncio nos poros,
E do desfocar das imagens nas retinas.

Tudo está,
É,
E pode ser.

Menos o eu sentir-me sepultado em mim,
Sem que tenha a vontade de sair,
Abrir a boca e dizer,
Arquear os lábios e sorrir,
Uma sílaba ou simples letra proferir...

Isso é que,
(...por favor...)
Não.

Não me eleves ao ponto mais alto de ti,
Não me mantenhas no pico de mim,
Não me leves pela mão a conhecer as estrelas,
Não me extasies com o brilho do teu olhar,
Não me dispares o pulsar com o teu toque de pele,
Não me extravases os sentidos,
Não me faças nada disto,
Mas...
...Não me sepultes em mim!

Porque um dia...

Um dia,
Eu posso perder,
Essa quase inata,
Capacidade,

De me...
...Ressuscitar!

quarta-feira, março 26, 2008

Mostra-me


Desenha-me com as palavras
Que dos teus dedos saltam,

Expõe-me a mim próprio
Desvendando-me dos meus olhares,

Mostra-me a mim!

Pois preciso de me conhecer,
Fora das imagens,

Que eu concebi,

De mim próprio!


domingo, março 23, 2008

Aniversário 2º


2 Anos,
177 Posts
305 Visitantes
3143 Comentários
17984 Visitas

Este é o resumo estatístico.
Números.

Mas mais do que estes números,
A partilha,
O carinho,
A amizade,
As palavras…

Faz hoje 2 anos que existe o Taradisses,
E por estes dois anos,
De partilha,
Por estes dois anos,
De P-A-L-A-V-R-A,

A todos,
Que me lêem,
Que me visitam,
Que me escrevem,
Que me referenciam,
A todos,
Que no fundo,
Me acarinham,

O meu,
Sincero,
Sentido,
MUITO OBRIGADO!

Beijo e/ou Abraço,
(como preferirem)

Brain

quinta-feira, março 13, 2008

3 Horas


Foram 3 as horas em que o mundo parou.

Não aconteceu nada de diferente,
Não aconteceu nada de anormal,
Não houve nenhum cataclismo,
Não houve nenhum desastre natural,
Nada.

Mas o mundo parou.
E foram 3.
As horas em que o mundo parou.

Nada de extraordinário se passou,
Mas o meu mundo,
Naquelas 3 horas,
O meu mundo encolheu.

O meu mundo cingiu-se àquele espaço,
Contíguo às paredes de nós,
Onde os dois fomos um,
E onde por 3 horas,
Por 3 curtas longas horas,
O meu mundo encontrou o teu,
O meu olhar entrou no teu,
O meu ar tornou-se o teu,
A tua pele tornou-se a minha,
E por 3 horas,
Por 3 curtas longas horas,
O Tu e o Eu deixaram de existir,
E o Nós, foi o ser maior.

Foram 3 as horas em que o mundo parou.

E o meu sentir,
Nessas 3 horas,
Suspenso ficou.

E eu não sei,
Não sei quando o mundo voltará a parar,
Mas sei,
Que foram 3,
As horas em que o mundo parou,
E sei,
Que pela repetição desse momento,
Irei continuamente…
…Ficar a esperar!

sábado, março 08, 2008

Mulher


Ergues o mundo nos teus braços,
Com a força de quem gera um ser.

Sabes que consegues e conténs,
Na firmeza e calor de um Abraço,
A possibilidade da tempestade acalmar,
E a magia do espírito sossegar.

Elevas
Surges
Seduzes

Insinuas
Envolves
Revolves

E gozas enquanto olhas,
E vês enquanto revês,

Os homens à tua volta a rondar,
Uma série de acções intentar,
Tudo para tentar alcançar,
Mas sem ao de longe,
sequer conseguir tocar,

a Excelência

Dessa tua condição
de M U L H E R

(No dia de hoje, em especial, para as mulheres da minha vida e para todas as restantes, que visitando-me ou não, existem no mundo)

quarta-feira, março 05, 2008

Convicções


Até quando…?

…até caíres?
…te despedaçares?

…até perderes?
…te desiludires?

…até perceberes?
…até aprenderes?

…até morreres?
…até viveres 1000 vidas?

…até ires ao fim de tudo?
…até veres?

Quando mudam as tuas convicções?
Quando passas a (não) acreditar?

O que torna a verdade em mentira?

Quando vês?
Ou…
Quando sentes?

O que torna a mentira em verdade?

Os Sentidos?
Os Sentires?
Ou…
…o Pulsar nas tuas veias?

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Saudades


Tenho saudades de tudo,
O que poderemos viver no futuro.

A vontade do passado,
Não me larga o peito,
Que bate por ti,
Irradiando para a pele,
A sensação de ainda te ter nos meus braços,
Respirando o meu calor,
Sentindo o teu odor,
O pulsar do teu corpo,
E querendo-te cada vez mais.

Na suavidade da eternização do momento,
Sinto-te em mim,
Como o expoente máximo,
Do desejo de futuro.

E relembrando o passado,
Cresce em mim,
A cada compasso do tempo,
Com a força da batida da onda,
Com a impetuosidade do vento,
Com a vontade de um grito,

A saudade de tudo,
O que poderemos viver no futuro.

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Vem


Vem,
Entra em mim com tudo de ti,
Não peças licença que já és da casa,

Vem,
Trás tudo o que tiveres de ti,
Tenho muitos espaços vazios para poderes ocupar,

Vem,
Deixa lá fora o que não quiseres,
Faz de mim o refúgio do teu existir,

Vem,
Que há muito te espero,
E tu já tardas,
Tanto...

VEM!

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Palavras


Com as cores das palavras,
Que rasgando ecos,
Atiras contra o meu peito,
Pinto as paredes do meu ser,
Que embora sendo estreito,
Insiste em todas acolher.

E com uma força capaz,
De arrancar pedras tumulares,
Absorvo-as de forma voraz,
Antes mesmo de te escapares,
Para mais tarde sem sequer as ouvires,
Teres a audácia e a vontade,
De na sua integral totalidade,
Simplesmente mas repetires.

E é de peito aberto,
Que recebo esse jorro,
De palavras que sussurrando me gritas,
Tão junto a mim, tão de perto,
Que só de as ouvir sinto que morro,
Deixando as próprias paredes aflitas.

Paredes de múltiplas cores,
Paredes de múltiplos tons,
Paredes não uniformes, disformes,
Paredes de mim e de ti,
Paredes cujo início nunca conheci,
Paredes cujo fim, nunca antevi.

E tu pintas e repintas,
Essas paredes que existem de mim,
E tu passas e repassas,
As palavras com as cores de ti,
E por entre graças e desgraças,
Vais deixando manchas tuas,
Por vezes feitas apenas de mãos nuas,
Umas aqui. Outras ali.

Um dia se calhar fecho o peito,
E não mais deixo as cores entrar.

Um dia se calhar intento o feito,
De com uma única cor as paredes pintar.

Um dia será o branco ou o preto,
A cor que irá ficar.

O Vermelho sangue, ou o Azul céu,
A que acabará por dominar.

Mas enquanto esse dia chega e não chega,
Enquanto esse dia se demora no vagar,

Eu vou ficando a receber,
De peito aberto todas as cores,

Que com as tuas palavras queiras pintar,
Todas as paredes deste meu ser,
Que por ti...
Em acto eterno e continuo,
Parece não se cansar,
De querer ficar a esperar!

quarta-feira, janeiro 30, 2008

No fundo de mim


No fundo de mim,
Mora um outro eu.

Um eu,
Que não sendo eu,
É por vezes muito mais eu,
Que eu próprio.

É um eu escuro,
Negro e absorvente,
Que continuamente,
Me chama me apela,
Me puxa e empurra,
Me apanha e arrepanha,
Leva-me ao fundo de mim,
E envolvendo-me com as suas negras raízes,
Toma-me todo o ser,
Os quereres e as vontades,
Os saberes e as verdades.

Mas um dia...
Um dia eu ganho-lhe!

É uma sombra,
É um monstro,
Uma besta,
Com quem luto diariamente.
Tentando manter-me afastado,
Tentando manter-me à tona,
Numa luta diária, constante,
Absorvente, desgastante,
Que me levando o tudo,
Me cobre com o seu manto,
Deixando-me assim,
Absorto,
E fora de mim.

Mas um dia...
Um dia eu ganho-lhe!

Ele está sempre lá,
À espreita,
Procurando do lado de cá,
Por uma simples fresta estreita,
Que lhe permita entrar,
As minhas vontades tomar,
Contra o interior de mim me atirar,
E uma vez mais no chão,
Desleixadamente,
Me prostrar!

Mas um dia...
Um dia eu ganho-lhe!
Um dia eu venço!
E prevalecerá apenas aquilo,
Aquilo que eu quero,
Aquilo que eu penso!

Um dia,
Que será só meu!

Um dia,
Que contarei apenas eu!

Um dia,
Que longe não estará,
O olharei nos olhos,
E lhe poderei dizer que já,
Na minha morada não morará mais,
Nem nos anexos,
Ou nos quintais,

E sem complexos,
Com força nos meus reflexos,
Do fundo de mim o arrancarei,
Com todo o meu querer o farei,
Com o desejo pelo momento em que finalmente,
A uma qualquer altura de repente,
Não tenha que com ele encarar,
E para o fundo novamente resvalar.

Um dia...
Um dia sem dúvida eu ganho-lhe!


E esse dia não está longe…
Não, não está nem pode estar,
Porque nesta angústia não posso continuar,
Com este sufoco tenho de acabar,
Isto tem de TERMINAR!

Por isso Monstro,
Vem! Aparece!
Mostra-te para que enfim,
Eu possa tudo acabar,
Este sofrimento terminar,
E para sempre te encerrar,
Nas masmorras de mim.

Um dia… é hoje!
Hoje é o dia,
Em que tu morres para mim,
E eu...
...eu Morro em ti!


(em memória do meu primo Vitor, que cometeu ontem o derradeiro acto de libertação, do suicídio)

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Eu Existo!


Em tudo o que fica por escrever,
Eu existo.
Em tudo o que fica por dizer,
Eu existo.
Em tudo o que fica por fazer,
Eu existo.

Pequenos fragmentos de mim,
Que pela omissão se perdem,
Alguns,
Para sempre no tempo,
Outros,
Para os reencontrar mais tarde,
Mas todos eles,
Num determinado espaço de tempo,
Ausentes de mim.

E como gerir essa ausência,
Essa incomplementaridade de ser,
Que me deixa de alguma forma incompleto,
Num instante,
Num momento,
Numa hora,
Num dia,
Em anos?

Palavras nascem em contínuo na minha mente,
Frases soltas bailam penduradas nelas,
Pulsando o pedido constante de sair,
De ganharem corpo num papel sob a forma de escrito,
E assim se tornarem vivas aos olhos de todos,
Mas isso nem sempre é possível,
Mas isso nem sempre acontece,
E algumas acabam por se perder,
E com elas,
Também.
Um pouco de mim.

E as que se materializam,
E acabam por ser lidas por outros,
Neles acaba por ficar também,
Parte do meu ser,
Ficando desta forma também disperso,
Espalhado pelas células da memória,
Dos que,
Desta forma,
Me absorvem.

Eu existo,
Em tudo o que faço e penso.

Eu existo,
Em tudo o que fica por fazer e dizer.

Eu existo até,
Em todas as lembranças de mim,
Mesmo daquelas de que já,
Não tenho memória.

sexta-feira, janeiro 18, 2008

Prometes?


Prometes?

Prometes:
Ser fiel, amar-me e respeitar-me,
Na alegria e na tristeza,
Na saúde e na doença,
Todos os dias da nossa vida?

Prometo!
Prometo ser-te fiel em razões, pensamentos e sentimentos;
Prometo amar-te enquanto tu o deixares e nada fizeres em contrário;
Prometo respeitar-te sempre, como ser humano e pensante;
Prometo em todas as alegrias que comigo queiras partilhar;
Prometo em todas as tristezas que me permitas aliviar-te;
Prometo na saúde física e mental;
Prometo na doença física e da alma;
Todos os dias da nossa vida,
A dois,
Enquanto ela existir!

E tu?
Prometes?

Prometes:
Ser honesta, sincera e sempre transparente?
Ser amiga e não apenas esposa?
Saber ouvir as minhas razões?
Saber respeitar os meus silêncios?
Ser sempre, para mim, o Tudo e o Melhor de ti?

Prometes?

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Resquícios de nós


Quando foi que o som da tua voz deixou de ser melodia,
E se tornou em mais uma voz na multidão?

Quando foi que o esperar por ti se tornou aborrecimento,
Ao invés de expectativa no teu chegar?

Quando foi que as tuas mãos deixaram de procurar as minhas,
E passaram a procurar os teus bolsos?

Quando foi que a nossa conversa colorida e multifacetada,
Deu lugar ao tom monocórdico da televisão?

Quando foi que passou a ser fácil e a chegar rápido,
O momento de desligar o telefone?

Quando foi que começamos a ouvir músicas diferentes,
Deixando de vibrar em conjunto com as mesmas batidas?

Quando foi que perdemos a vontade de juntos,
Correr descalços na relva,
Ou na areia molhada pelo mar?

Quando foi que o espelho se tornou para ti,
Mais importante que os meus olhos?

Quando foi?

Quando foi que deixaste de caminhar comigo,
Para passares a andar ao meu lado?

Quando foi que os olhos de um,
Deixaram de dançar com os do outro?

Quando foi que o nosso diálogo,
Passou a monólogos a dois?

Quando foi que deixaste de me presentear,
Pela manhã, com o teu sorriso ao acordar?

Quando foi que deixamos de acordar,
Enrolados nos nossos braços como adormeceramos?

Quando foi que deixaste de me sussurrar ao ouvido,
De me beijar com o tudo de ti, sentindo o tudo de mim,
E passaste a apenas aos meus, os teus lábios encostar?

Quando foi que o toque da tua pele,
Deixou de ser arrepio?

Quando foi que pensar-te,
Deixou de ser desejo?

Quando foi?

Quando foi que...
...deixei de pensar-te?

Quando foi?

Quando foi que as nossas linhas se afastaram tanto,
Que passaram a existir em planos distintos?

Quando foi que sem nos apercebermos,
Nos perdemos um do outro?

Quando?
Quando foi?

Eu não sei...

E estou certo...
Que também tu...

Não o saberás.

R e s q u í c i o s . d e . n ó s !

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Olha-me!


Anda cá!
Chega-te aqui.
Assim: Bem perto de mim.

Relaxa o corpo,
Acalma o respirar,
Abstrai-te do mundo e…
Olha-me nos olhos.
Olha-me fundo nos olhos.

O que vês?
Até onde consegues ver?
Em que dobra do sentir páras o olhar?
Em que esquina do querer, cessa a tua vontade?
Em que neblinas da alma, perdes o sentido?

Porque saltam os teus olhos,
Entre um e outro meu?
Tentas alcançar mais?
Ou sentes-te invadida?

Concentra-te!
Foca-te em mim.

O que vês?
Como me vês?
Encontras-me?
Ou encontras outro alguém,
Que te era desconhecido?

Vês-me?
É a mim que me vês?
Ou é um reflexo de ti que encontras,
Quando sentes o meu olhar
A brincar com a tua alma?

Pára!
Nem sequer tentes!
Não deixes cair os olhos!
Deixa cair as barreiras!
No jogo do olhar,
Elas de nada te valem.

Os teus olhos falam mais do que tu.
Os teus olhos falam por ti.

E os meus olhos...
Falam-te de ti!

Vem.
Chega-te aqui.
Bem perto de mim.
Não digas nada.
Olha-me apenas.

S e n t e - m e !

quarta-feira, janeiro 02, 2008

porque, Eu Acredito


O ano de 2006, foi um ano de lágrimas e dor.
De tal forma, que para 2007 apenas desejei que ele fosse um ano diferente.

E o meu 2007, foi sem dúvida, em tudo diferente.
2007 foi um ano de curar mágoas, lamber feridas.

Mas como eu prefiro “inventários” a “balanços”, inventariando o que de “bom” ocorreu em 2007, tenho a lista:

- Uma nova filha (concebida, gerada e nascida em 2007);
- Uma nova empresa constituída;
- Um livro editado;
- Um novo blog;
- Participação nas:
....“Corrida do Dia do Pai” (10 Kms)
....“Mini Maratona Sport Zone” de comemoração dos 10 anos (7 Kms)
....“São Silvestre do Porto” (10 Kms)
- Novas amizades;
- Um novo Amor;
…Até acertei no último euromilhões do ano! (pena que tenha sido apenas o 11º prémio… :)

Mas olhando para trás, vejo que todos os aspectos positivos do ano, surgiram através da minha força e vontade pelo “fazer acontecer”.

E assim, porque Eu Acredito na capacidade individual de cada um, o meu desejo para o ano de 2008, é que:

Cada um tenha a capacidade
de fazer de 2008
um ano Excelente!

E para começar o ano com "palavras", escolhi as palavras de outro alguém, que se sabe expressar desta forma SUBLIME e que neste texto, resume o meu acreditar:

"Tudo é tudo em nós. Dentro de nós, por dentro de nós, através de nós.
Pousamos o amor no colo. No colo onde descansamos, no colo que nos protege, no colo que nos adormece e acorda.
Guardamos as palavras nos silêncios. Nos silêncios dos gritos - todos os gritos -, nos silêncios das memórias - todas as memórias -, no silêncio de tudo.
Tudo é tudo em nós..."

(Pedro Branco)


(e o link está aqui... mesmo ao lado - Das Palavras que nos Unem - e para ti Pedro, Aquele Abraço)