quarta-feira, janeiro 30, 2008

No fundo de mim


No fundo de mim,
Mora um outro eu.

Um eu,
Que não sendo eu,
É por vezes muito mais eu,
Que eu próprio.

É um eu escuro,
Negro e absorvente,
Que continuamente,
Me chama me apela,
Me puxa e empurra,
Me apanha e arrepanha,
Leva-me ao fundo de mim,
E envolvendo-me com as suas negras raízes,
Toma-me todo o ser,
Os quereres e as vontades,
Os saberes e as verdades.

Mas um dia...
Um dia eu ganho-lhe!

É uma sombra,
É um monstro,
Uma besta,
Com quem luto diariamente.
Tentando manter-me afastado,
Tentando manter-me à tona,
Numa luta diária, constante,
Absorvente, desgastante,
Que me levando o tudo,
Me cobre com o seu manto,
Deixando-me assim,
Absorto,
E fora de mim.

Mas um dia...
Um dia eu ganho-lhe!

Ele está sempre lá,
À espreita,
Procurando do lado de cá,
Por uma simples fresta estreita,
Que lhe permita entrar,
As minhas vontades tomar,
Contra o interior de mim me atirar,
E uma vez mais no chão,
Desleixadamente,
Me prostrar!

Mas um dia...
Um dia eu ganho-lhe!
Um dia eu venço!
E prevalecerá apenas aquilo,
Aquilo que eu quero,
Aquilo que eu penso!

Um dia,
Que será só meu!

Um dia,
Que contarei apenas eu!

Um dia,
Que longe não estará,
O olharei nos olhos,
E lhe poderei dizer que já,
Na minha morada não morará mais,
Nem nos anexos,
Ou nos quintais,

E sem complexos,
Com força nos meus reflexos,
Do fundo de mim o arrancarei,
Com todo o meu querer o farei,
Com o desejo pelo momento em que finalmente,
A uma qualquer altura de repente,
Não tenha que com ele encarar,
E para o fundo novamente resvalar.

Um dia...
Um dia sem dúvida eu ganho-lhe!


E esse dia não está longe…
Não, não está nem pode estar,
Porque nesta angústia não posso continuar,
Com este sufoco tenho de acabar,
Isto tem de TERMINAR!

Por isso Monstro,
Vem! Aparece!
Mostra-te para que enfim,
Eu possa tudo acabar,
Este sofrimento terminar,
E para sempre te encerrar,
Nas masmorras de mim.

Um dia… é hoje!
Hoje é o dia,
Em que tu morres para mim,
E eu...
...eu Morro em ti!


(em memória do meu primo Vitor, que cometeu ontem o derradeiro acto de libertação, do suicídio)

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Eu Existo!


Em tudo o que fica por escrever,
Eu existo.
Em tudo o que fica por dizer,
Eu existo.
Em tudo o que fica por fazer,
Eu existo.

Pequenos fragmentos de mim,
Que pela omissão se perdem,
Alguns,
Para sempre no tempo,
Outros,
Para os reencontrar mais tarde,
Mas todos eles,
Num determinado espaço de tempo,
Ausentes de mim.

E como gerir essa ausência,
Essa incomplementaridade de ser,
Que me deixa de alguma forma incompleto,
Num instante,
Num momento,
Numa hora,
Num dia,
Em anos?

Palavras nascem em contínuo na minha mente,
Frases soltas bailam penduradas nelas,
Pulsando o pedido constante de sair,
De ganharem corpo num papel sob a forma de escrito,
E assim se tornarem vivas aos olhos de todos,
Mas isso nem sempre é possível,
Mas isso nem sempre acontece,
E algumas acabam por se perder,
E com elas,
Também.
Um pouco de mim.

E as que se materializam,
E acabam por ser lidas por outros,
Neles acaba por ficar também,
Parte do meu ser,
Ficando desta forma também disperso,
Espalhado pelas células da memória,
Dos que,
Desta forma,
Me absorvem.

Eu existo,
Em tudo o que faço e penso.

Eu existo,
Em tudo o que fica por fazer e dizer.

Eu existo até,
Em todas as lembranças de mim,
Mesmo daquelas de que já,
Não tenho memória.

sexta-feira, janeiro 18, 2008

Prometes?


Prometes?

Prometes:
Ser fiel, amar-me e respeitar-me,
Na alegria e na tristeza,
Na saúde e na doença,
Todos os dias da nossa vida?

Prometo!
Prometo ser-te fiel em razões, pensamentos e sentimentos;
Prometo amar-te enquanto tu o deixares e nada fizeres em contrário;
Prometo respeitar-te sempre, como ser humano e pensante;
Prometo em todas as alegrias que comigo queiras partilhar;
Prometo em todas as tristezas que me permitas aliviar-te;
Prometo na saúde física e mental;
Prometo na doença física e da alma;
Todos os dias da nossa vida,
A dois,
Enquanto ela existir!

E tu?
Prometes?

Prometes:
Ser honesta, sincera e sempre transparente?
Ser amiga e não apenas esposa?
Saber ouvir as minhas razões?
Saber respeitar os meus silêncios?
Ser sempre, para mim, o Tudo e o Melhor de ti?

Prometes?

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Resquícios de nós


Quando foi que o som da tua voz deixou de ser melodia,
E se tornou em mais uma voz na multidão?

Quando foi que o esperar por ti se tornou aborrecimento,
Ao invés de expectativa no teu chegar?

Quando foi que as tuas mãos deixaram de procurar as minhas,
E passaram a procurar os teus bolsos?

Quando foi que a nossa conversa colorida e multifacetada,
Deu lugar ao tom monocórdico da televisão?

Quando foi que passou a ser fácil e a chegar rápido,
O momento de desligar o telefone?

Quando foi que começamos a ouvir músicas diferentes,
Deixando de vibrar em conjunto com as mesmas batidas?

Quando foi que perdemos a vontade de juntos,
Correr descalços na relva,
Ou na areia molhada pelo mar?

Quando foi que o espelho se tornou para ti,
Mais importante que os meus olhos?

Quando foi?

Quando foi que deixaste de caminhar comigo,
Para passares a andar ao meu lado?

Quando foi que os olhos de um,
Deixaram de dançar com os do outro?

Quando foi que o nosso diálogo,
Passou a monólogos a dois?

Quando foi que deixaste de me presentear,
Pela manhã, com o teu sorriso ao acordar?

Quando foi que deixamos de acordar,
Enrolados nos nossos braços como adormeceramos?

Quando foi que deixaste de me sussurrar ao ouvido,
De me beijar com o tudo de ti, sentindo o tudo de mim,
E passaste a apenas aos meus, os teus lábios encostar?

Quando foi que o toque da tua pele,
Deixou de ser arrepio?

Quando foi que pensar-te,
Deixou de ser desejo?

Quando foi?

Quando foi que...
...deixei de pensar-te?

Quando foi?

Quando foi que as nossas linhas se afastaram tanto,
Que passaram a existir em planos distintos?

Quando foi que sem nos apercebermos,
Nos perdemos um do outro?

Quando?
Quando foi?

Eu não sei...

E estou certo...
Que também tu...

Não o saberás.

R e s q u í c i o s . d e . n ó s !

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Olha-me!


Anda cá!
Chega-te aqui.
Assim: Bem perto de mim.

Relaxa o corpo,
Acalma o respirar,
Abstrai-te do mundo e…
Olha-me nos olhos.
Olha-me fundo nos olhos.

O que vês?
Até onde consegues ver?
Em que dobra do sentir páras o olhar?
Em que esquina do querer, cessa a tua vontade?
Em que neblinas da alma, perdes o sentido?

Porque saltam os teus olhos,
Entre um e outro meu?
Tentas alcançar mais?
Ou sentes-te invadida?

Concentra-te!
Foca-te em mim.

O que vês?
Como me vês?
Encontras-me?
Ou encontras outro alguém,
Que te era desconhecido?

Vês-me?
É a mim que me vês?
Ou é um reflexo de ti que encontras,
Quando sentes o meu olhar
A brincar com a tua alma?

Pára!
Nem sequer tentes!
Não deixes cair os olhos!
Deixa cair as barreiras!
No jogo do olhar,
Elas de nada te valem.

Os teus olhos falam mais do que tu.
Os teus olhos falam por ti.

E os meus olhos...
Falam-te de ti!

Vem.
Chega-te aqui.
Bem perto de mim.
Não digas nada.
Olha-me apenas.

S e n t e - m e !

quarta-feira, janeiro 02, 2008

porque, Eu Acredito


O ano de 2006, foi um ano de lágrimas e dor.
De tal forma, que para 2007 apenas desejei que ele fosse um ano diferente.

E o meu 2007, foi sem dúvida, em tudo diferente.
2007 foi um ano de curar mágoas, lamber feridas.

Mas como eu prefiro “inventários” a “balanços”, inventariando o que de “bom” ocorreu em 2007, tenho a lista:

- Uma nova filha (concebida, gerada e nascida em 2007);
- Uma nova empresa constituída;
- Um livro editado;
- Um novo blog;
- Participação nas:
....“Corrida do Dia do Pai” (10 Kms)
....“Mini Maratona Sport Zone” de comemoração dos 10 anos (7 Kms)
....“São Silvestre do Porto” (10 Kms)
- Novas amizades;
- Um novo Amor;
…Até acertei no último euromilhões do ano! (pena que tenha sido apenas o 11º prémio… :)

Mas olhando para trás, vejo que todos os aspectos positivos do ano, surgiram através da minha força e vontade pelo “fazer acontecer”.

E assim, porque Eu Acredito na capacidade individual de cada um, o meu desejo para o ano de 2008, é que:

Cada um tenha a capacidade
de fazer de 2008
um ano Excelente!

E para começar o ano com "palavras", escolhi as palavras de outro alguém, que se sabe expressar desta forma SUBLIME e que neste texto, resume o meu acreditar:

"Tudo é tudo em nós. Dentro de nós, por dentro de nós, através de nós.
Pousamos o amor no colo. No colo onde descansamos, no colo que nos protege, no colo que nos adormece e acorda.
Guardamos as palavras nos silêncios. Nos silêncios dos gritos - todos os gritos -, nos silêncios das memórias - todas as memórias -, no silêncio de tudo.
Tudo é tudo em nós..."

(Pedro Branco)


(e o link está aqui... mesmo ao lado - Das Palavras que nos Unem - e para ti Pedro, Aquele Abraço)