segunda-feira, janeiro 14, 2008

Resquícios de nós


Quando foi que o som da tua voz deixou de ser melodia,
E se tornou em mais uma voz na multidão?

Quando foi que o esperar por ti se tornou aborrecimento,
Ao invés de expectativa no teu chegar?

Quando foi que as tuas mãos deixaram de procurar as minhas,
E passaram a procurar os teus bolsos?

Quando foi que a nossa conversa colorida e multifacetada,
Deu lugar ao tom monocórdico da televisão?

Quando foi que passou a ser fácil e a chegar rápido,
O momento de desligar o telefone?

Quando foi que começamos a ouvir músicas diferentes,
Deixando de vibrar em conjunto com as mesmas batidas?

Quando foi que perdemos a vontade de juntos,
Correr descalços na relva,
Ou na areia molhada pelo mar?

Quando foi que o espelho se tornou para ti,
Mais importante que os meus olhos?

Quando foi?

Quando foi que deixaste de caminhar comigo,
Para passares a andar ao meu lado?

Quando foi que os olhos de um,
Deixaram de dançar com os do outro?

Quando foi que o nosso diálogo,
Passou a monólogos a dois?

Quando foi que deixaste de me presentear,
Pela manhã, com o teu sorriso ao acordar?

Quando foi que deixamos de acordar,
Enrolados nos nossos braços como adormeceramos?

Quando foi que deixaste de me sussurrar ao ouvido,
De me beijar com o tudo de ti, sentindo o tudo de mim,
E passaste a apenas aos meus, os teus lábios encostar?

Quando foi que o toque da tua pele,
Deixou de ser arrepio?

Quando foi que pensar-te,
Deixou de ser desejo?

Quando foi?

Quando foi que...
...deixei de pensar-te?

Quando foi?

Quando foi que as nossas linhas se afastaram tanto,
Que passaram a existir em planos distintos?

Quando foi que sem nos apercebermos,
Nos perdemos um do outro?

Quando?
Quando foi?

Eu não sei...

E estou certo...
Que também tu...

Não o saberás.

R e s q u í c i o s . d e . n ó s !

11 comentários:

Ai e Tal... disse...

Muito bom... :) Mas, realmente, a vida a dois é mesmo assim! Com o passar do tempo deixa de existir preocupação de agradar, mimar, acompanhar...! Acho que o comodismo se apodera dos dois e destrói o que, em tempos, foi enlace e vontade...! É pena... É preciso muito trabalho mútuo para que isto não aconteça...!!!

***MUAH***

Jo disse...

de um nós que já não existe.

sei como é. e não sei quando foi. quando dei conta, já tinha sido.
é sorrateiro, ataca à traição.


beijo*

Som do Silêncio disse...

Olá Querido Brain!

Olha, gostei muito deste teu texto...mas não te sei responder às questões que colocas...
Se um dia passar por essa situação...eu conto-te!

Bjs meus

Hannanur disse...

"Quando foi que sem nos apercebermos,
Nos perdemos um do outro?"

Sabemos sempre.
Bom como sempe este teu texto.

Kiss

Twlwyth disse...

De um momento para o outro, restam fragmentos de um passado partilhado. Encruzilhada de incertezas.
Um beijo

Brain's Wife disse...

Triste, muito triste quando isto acontece.

Grave, muito grave quando não se dá por isso. O resultado é o fim.

Quando se dá conta e se tem vontade de continuar, então talvez não seja o fim, mas um recomeço.

Excelente texto.

Beijos
TUA

eu disse...

eu sei... do que falas...
vivi cada étapa, cada paragrafo que escreveste...
mas também não sei como foi, nem porque foi... um desgaste...
sei...

Sha disse...

Não é possível determinar o momento em que acontece.
É possível (é um dever!) fazer para que não aconteça.

Mais um belo texto Brain!!

Um beijo grande
Sha

Azul disse...

Dear Brain!

Já li e reli cada parágrafo... Cada quando...

E a resposta é: "Eu não sei..."

Sei que não tem data marcada no calendário. Mas talvez seja uma soma de dias que lentamente, ou não, passam a ser "todos iguais"...
Sem brilho, sem cor, sem palavras ou gestos que os preencham...

Mais um... à tua maneira!

Beijo para ti
Azul

Maria José disse...

E quando se dá conta da sua chegada, tenha sido agora ou num tempo sem marca, o que se faz?

Unknown disse...

E S P E C T A C U L A R ! ! !

não há resposta para quando primeiro momento de qualquer tua pergunta se deu. só sei que muita coisa morreu quando se dá conta do que aconteceu...

magnífico... mesmo... quem ama / amou deve ter ficado muito tempo a pensar em tudo isto... eu fiquei..

quem nunca amou, não sabe o que é a dor de quando tudo chega a um fim. mas perdeu o sentimento mais dificil de explicar do mundo.

ABRAÇO