quinta-feira, julho 24, 2008

Curtas 18 - Quase


Olho-te no soslaio de uma certeza de quase te ter tido em completo apenas para mim.

Na incerteza de um acidente que quase não aconteceu, ficou a certeza do choque que as tuas mãos provocaram no meu corpo.

Para mim, serás a eterna dúvida que o teu cheiro me dá como uma quase certeza.

Nas noites em que juntos quase dormimos, elevamo-nos a um estádio maior de sentires, nos lugares onde as nossas mãos quase aconteceram por dentro de nós.

E na emoção das memórias quase diariamente revividas, surges como o todo de um sentir de tudo o que quase foi nosso.

E o mundo que quase se vergou a nós e à explosão do que fomos, quase que ficou deserto, pelo esgar do grito que se soltou, quando tu quase te despediste de mim.

Eu, que quase morri no momento em que me apercebi que tu apenas quase ficaste, abandonei-me em prostração ao desvario dos meus pensamentos que quase pensei controlar, em todos os momentos que no mais fundo da tua ausência, quase te conseguia sentir.

E quase consegui ficar no mesmo lugar.
Mas a ausência dos teus sítios em mim, quase me deixaram vazio ao ponto de quase não conseguir respirar o ar, daquele lugar que quase foi nosso.

E quase consegui continuar a fazer as mesmas coisas.
Mas os teus gestos em mim impregnados, quase me transmitiam a tua omnipresença não me permitindo avançar no perseguir dos meus intentos, quase me prendendo os movimentos.

E... quase consegui continuar a ser eu.
Mas eu quase não existia sem ti; sem o calor que o teu olhar me transmitia quase não sendo necessário nada mais para me aquecer; sem o toque da tua pele que quase sentia quando te pensava; sem o som do teu sorrir que quase ouvia sempre que olhava uma foto tua.

E foi então que me apercebi que não fazia sentido continuar apenas a quase viver. Tu havias fugido para longe de mim. Levaras o teu corpo, o teu odor, o teu olhar, as tuas palavras, as tuas sonoridades... todos os meus sentires e quase a minha sanidade em todos os momentos em que pensava que…
...Quase fomos “nós”!

E agora, que apenas em pensamentos existo, quase vivo em ti, dentro de ti, por ter sido esse o lugar onde me guardaste quando soubeste que eu partira, por não ter sabido viver, sabendo, que apenas, quase te tinha tido!

E ironicamente,
Com isso,
Agora,
Quase posso dizer,
Que finalmente...


...Quase somos “nós”!



(inspirado pela música que tocou em loop durante quase 2 dias, os dedos não resistiram às teclas e saiu isto)

quinta-feira, julho 17, 2008

Curtas 17 – A Surpresa


Um dia, chegaste com ânsia no olhar, um desejo nas mãos e olhando firme nos meus olhos, pediste-me uma surpresa.

E com a certeza de que eu conseguiria corresponder às tuas expectativas, pediste que te oferecesse algo que te surpreendesse, que te fizesse abrir a boca de espanto, se possível te tirasse do sério pela excitação no momento de a receber.

E complementaste a lista de requisitos referindo que deveria ser algo que a cada dia te fizesse sentir renovada, te desse alegria para viveres mais aquele dia, com a pressa do adormecer pela ânsia na expectativa de um novo acordar e de novo viver mais um dia na ânsia pelo próximo.

Pediste-me algo que te desse Vida e Vontade de Viver, algo que te fizesse sentir bem sempre, todos os dias a todas as horas;

Algo que te enchesse o peito, te fizesse sentir bonita e desejada, fizesse irradiar de ti uma Luz, Límpida, Brilhante, que atraísse até ti todos os sentires plenos de um existência Feliz;

Pediste-me um brilho nos olhos, a todos os instantes, na vivência de cada momento e nas mãos, um bom punhado de felicidade para te alimentar e poderes também distribuir alguma;

Pediste-me um coração sempre a bater no peito ao ritmo de 1000 cavalos desenfreados, um fluxo sanguíneo a querer saltar-te das veias, numa seiva de vida, de crescimento, de geração de Ser;

Pediste-me algo que te renovasse todos os dias, que te fizesse sentir que cada novo dia a nascer, serias tu própria a renascer no resultado da soma do melhor de ti em todos os dias anteriores;

Um dia,
Pediste-me uma surpresa assim,

E eu...
...estendi-te a minha mão!

(olhando-me surpresa, vi que o primeiro objectivo estava conseguido)
Segurando firme a tua, levei-te numa viagem inédita pelo interior de um espelho que segurava na outra, com início no fundo dos teus olhos reflectidos na segunda camada de vidro e término no interior da tua alma.

“Tudo o que pediste, encontras aqui!”, disse-te
“E se me quiseres, ficarei contigo para sempre, apenas para to lembrar!”

sexta-feira, julho 11, 2008

Abismo


Do alto do meu ser, observo a profunda imensidão do Abismo sempre tão presente entre nós.

Abismo existente desde o extremo da fina linha dos teus lábios, quando de encontro aos meus, eternizam os momentos até que se toquem;

Abismo existente entre a ponta de cada um dos meus dedos, quando numa incansável procura pelos teus, repetem gestos mecanizados de encontro às teclas em textos que falam de Ti e sempre tão de Ti em mim;

Abismo existente entre as linhas dos meus textos, no fôlego tomado entre o final de cada linha e o início da próxima, numa cadência compassada ao ritmo das batidas que gerem o fluxo de mim para ti, num vai e vem contínuo de sentires e quereres;

Abismo existente entre cada ponto do mostrador do relógio, quando conto os momentos que faltam para o nosso reencontro e o caminho a percorrer pelo ponteiro aumenta por entre os seus avanços através do espaço interior da redoma de vidro que o (te) protege em toda a sua extensão;

Abismo existente na pausa entre cada uma das palavras vertidas de ti directamente para o mais fundo de mim, proferidas dos teus lábios em movimentos contínuos, nos ventos dos tempos infindos, que não param, que nunca param, de me chamar a ti e em ti para eles;

Abismo existente em todo o tempo que deambulando como dois seres autónomos pela vida, não somos nós, num único existente, de apenas um feitos, materializados em dois corpos distintos, de esperanças pequenas e quereres simples;

Há um Abismo imenso sempre tão presente entre nós,
E eu,
De braços abertos e peito a descoberto,
Vou-me atirar!

Encontramo-nos na penumbra...