terça-feira, outubro 04, 2011

(in)existência


Não mais o tempo, nem tu, que lentamente te foste esfumando dos (meus) dias.

Sabia-te viva, porque ainda te sentia em mim.
Sabia-te viva, porque ainda te respirava nos ecos que (agora noutros) reflectias.

Procuravas-te. Sentia-o.
Procuravas-te, enquanto te desprocuravas de mim.

Tu existias algures.
Longe de mim.
Longe das minhas palavras paredes meias com o meu silêncio, que tu (me) impunhas.
E eu, eu aos poucos e poucos fui deixando de saber se ainda me existia em ti.

Vou infinitas vezes aos lugares de nós, com medo que me fales e eu não te ouça.
Com medo que me fales e eu não te responda.
Com medo de perder as tuas frases com palavras para mim e não tas devolva embaladas em palavras minhas para ti.
E que tu, sentindo as minhas portas fechadas, limpes os pés ao tapete pela última vez, antes de embrenhares pelos caminhos da minha ausência em ti.

Vou infinitas vezes aos lugares de nós, mas não encontro a tua voz nos lugares da nossa existência.
Estás num lugar longe de mim.
E eu, muitas vezes imagino-me a esticar (muito) os braços, até ao ponto de te tocar.
Atravesso o teu nome e chego a acreditar que te toco.
Com a ponta dos dedos. Apenas. Ao de leve.
Como um sussurro, por os braços não esticarem mais.
Tão leve que tu não sentes.
Tão leve que tu não me ouves.
Então, abro a boca e recolho o teu nome para dentro de mim, onde te grito.
Tantas vezes te grito.

E tu longe. No teu estado de silêncio.

No imenso desejo de te falar, estive para te enviar uma carta.
Estive para te escrever a palavra amor e te dizer um beijo.
Mas eu não sei se (ainda) a caixa de correio aberta para as minhas palavras.
Mas eu não sei se (ainda) a morada correcta.
Se em risco de outro alguém se apropriar dela.
Se apropriar da minha palavra e ficar com o meu beijo.
E o meu beijo que é só teu e a minha palavra que é só tua, não os quero na boca de outro.
E por isso não a envio.
Deixo-te na tua existência longe de mim.
No teu estado de silêncio.
E levo-te comigo. Sempre.
Guardada como um segredo que se fecha dentro daquela palavra, com o selo daquele beijo. Tão nosso.

...
Nunca as palavras foram um tão grande excesso.
Nunca o silêncio, um tão imenso vazio.