sábado, setembro 24, 2016

INTIMIDADE

Como uma carícia num manto de relva fofa, procurei as tuas mãos em pontas de dedos. Um ritual macio. Mecânico. Como hábito adquirido ao longo dos anos. Por vezes, era o bastante para que todos os sons se aquietassem. Havia apenas, aquele (pequeno) toque de pele. Sorrias. Por vezes olhavas-me. Outras, apenas inspiravas um pouco mais fundo. E eu sabia-te. Em comunicação muda. Em pele. E éramos brisa. Em tempo grande.

Depois vieram os pés. Sob os lençóis. Novo toque de pele. Pequeno. No silêncio. E éramos calor. Em tempo grande. Que pedia os braços. Que nos deixava em saber. Do outro. Mesmo na penumbra. Em escuro. E odores.

E entre nós as palavras. Sempre as palavras. As ditas. Em muitas horas. As que ficam por dizer - mas nunca por saber. E todas aquelas que não sendo nossas, nos dizem.

Somos matéria intemporal. Pele em doses pequenas. Em saberes. Em tempo grande.
Monólogos a dois. Em intimidade maior.

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