quarta-feira, janeiro 31, 2007

Pesos

Por vezes,
Carregamos nos ombros um peso…
Um peso do tamanho do mundo!

Um peso que é nosso,
Um peso que é dos outros,
Pesos,
Que muitas vezes,
Chamamos a nós,
Mesmo sabendo que podem ser superiores
Ao que conseguiremos eventualmente suportar,
Mas não é por isso
Que deixamos de o fazer,
Porque ajudar a suportar um peso,
É muitas vezes,
Mais importante,
Mais necessário,
Mais eficaz,
Do que,
Retirá-lo de outros.

No entanto,
Nós próprios,
Temos os nossos suportes adicionais,
De que necessitamos,
De que mesmo não nos socorrendo sempre deles,
Sabemos que eles estão ali,
À nossa disposição,
Para o caso de necessidade.

A mim,
Podem até faltar-me esses suportes adicionais,
Que eu,
Com a minha gestão de mim,
Consigo,
À base não da força bruta,
Mas do equilíbrio,
Suportar muito(s) peso(s),
MAS,
Por favor,

NÃO ME TIREM O CHÃO!

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Loucura... (?)

No carro,
Vestido a preceito,
Conduzo em direcção a uma reunião,
Há muito marcada,
Importante.

No rádio,
Uma música toca,
Em crescendo como eu tanto gosto,
Aumento o volume,
Absorvo a música,
Acelero o carro.

A cada batida sentida,
O aumentar do volume acontece também.
Já só ouço a música,
Já não ouço o carro.

A música…
Faz-me vaguear por episódios,
E o carro rola na estrada,
Os riscos tornam-se um traço contínuo,
A música toca alto,
Bem alto,
O carro vai rápido,
Bem rápido,

A 200km/h,
Com o volume quase no máximo,
A música tem outro som,
O carro é um outro espaço,
As batidas sucedem-se,
O corpo vibra,
A voz grita os versos!

Cada batida,
Sacode pesos acumulados,
Cada frase gritada,
Expulsa Demónios,
E o espírito vai-se elevando…

Á direita,
Surge o mar.

Altero o destino.

A reunião perdeu a importância,
A praia ganhou relevância.

Correndo pela areia,
As peças vão ficando pelo caminho,
E num salto,
Mergulho no mar!

Loucura?

Não: Libertação!

Acompanhas-me?

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Beijo

A minha imagem de ti,
Tem um gosto.

O gosto de uma visão,
Quase sempre deturpada
Por um odor.

Odor que o meu olfacto,
Só consegue explicar,
Se seguir na direcção
De um beijo,
Que deixado ao vento,
Eu tento que te alcance.

Sentiste?
Sentiste o cheiro deste meu beijo?
Viste o gosto da imagem que tenho de ti?

É isso!

Eu estou nos teus sentidos,
Enquanto tu,
Estiveres no meu pensar!

E enquanto tu me pensares,
Eu irei existir!

Não deixes de me pensar,
Que eu,
Continuarei sempre,
A procurar por ti,
No gosto das imagens,
Nos odores das direcções,
E nas brisas que anseio,
Me tragam de volta,
Um igualmente perfumado,
Beijo teu.

Procura na brisa...

terça-feira, janeiro 09, 2007

Curtas (5) - Mini

Há muitas coisas que eu gostaria de saber hoje sobre ti.

Por diversas vezes, dou comigo a pensar por onde andarás, o que estarás a fazer neste momento, se manténs o mesmo emprego, se continuas a viver com os teus pais, se ainda tens aquele mini velhinho, amarelo, pequenino e tão divertido. De cada vez que saíamos era uma aventura, nunca sabíamos até onde conseguiríamos chegar e isso, tornou-se o objectivo em si, de tantas e tantas vezes que ficamos pelo caminho.

Por vezes, muitas vezes, passamos as noites no meio de nenhures, junto ao carro à espera do auxílio sempre precioso do teu pai, que acordado sobressaltado a meio da noite, lá vinha ao nosso encontro para nos desenrascar uma vez mais. “Mas porque é que continuas a insistir em sair com este? Porque não levas o meu?” E ele nunca soube a resposta a esta pergunta. A verdadeira resposta que cada um de nós guardava dentro si, como um segredo nosso, nunca revelado sequer entre nós, mas que ambos sabíamos ser o verdadeiro motivo pelo qual teimávamos em utilizar aquele carro, ao invés do do teu pai, mais confortável, com melhor sistema de música, com aquecimento, etc. É que no fundo, no fundo o que verdadeiramente interessava, desde há muito que deixara de ser o sítio para onde íamos, ou o que íamos fazer. O que verdadeiramente interessava e nos levava a noite após noite, sair com aquele velho mini, era o facto de ficarmos parados, “encravados” no meio do nada, sem nada para nos distrairmos, fazer ou sequer nos tentar e então… então com a música de fundo a arranhar naquele também velho rádio, dávamos largas à nossa mente e às nossas línguas e, invariavelmente, noite fora, sentados dentro daquele pequeno carro, aninhados sobre nós próprios para combater o frio, dissertávamos sobre todas as coisas, horas a fio.

Naquelas horas, cada um de nós, despia a alma e o espírito e vivíamos apenas para aquelas conversas, que sempre tanto nos aproximavam e nos levavam aos locais mais recônditos do espírito. Falávamos, falávamos, riamos, esconjurávamos os outros, a sociedade, a vida, mas nós… nós éramos cada vez mais nós, mais amigos, mais unidos, mais irmãos.

Em ti, tive o irmão que o meu próprio irmão nunca foi. Contigo, vivi as aventuras que hoje conto aos outros como as minhas melhores memórias da adolescência. E hoje… estamos tão separados!

A vida é um lugar estranho que aproxima e afasta as pessoas com a naturalidade que só ela sabe impregnar às situações, fazendo com que, cada um de nós não se aperceba sequer desse afastamento tão subtil como gradual e quando nos damos conta… já passaram dias, meses e às vezes até anos, sem que nos tenhamos encontrado ou sequer falado.

Penso em ti muitas vezes, há muitas coisas que eu gostaria de saber sobre ti.

Muitas vezes te procuro, por e-mail, sms, telefonema, mas são mais as vezes que por estares demasiado ocupado, não atendes e/ou não respondes. Noutro dia, na passagem de ano, enviaste-me uma sms em que desejavas um bom ano e dizias que contigo estava tudo bem.

Por agora, saber apenas que estás bem, basta-me!

Mas depois… depois vou querer saber se ainda guardas aquele velho mini e se estás disposto a, numa noite destas, sair novamente, comigo, nele.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Vida

Cada um de nós,
Tem em si um dom:
O dom da vida.

Nem todos o sabemos aproveitar,
Nem todos o sabemos apreciar.

As mulheres por seu lado,
Têm esse dom acrescido,
Porque têm a possibilidade de gerar,
Elas próprias,
Em si,
Uma nova vida.

Eu não sou apologista da vida,
Apenas por si mesma.
Eu penso que a vida,
Deverá ser válida,
Deverá ter e fazer sentido,
E que é da responsabilidade
Individual,
De cada um,
Fazer com que assim seja.

Mas isto,
No que a que cada um,
Diz respeito.

E quanto a “terceiros”?
E quanto à geração de uma nova vida?
Será que ela deve ser gerada,
Será que ela deve ser,
Levada a cabo,
A qualquer custo?
A qualquer preço?

Qual a mais valia de um ser,
Indefeso,
De ser colocado no mundo,
Sob a condição de não desejado?
Será sequer justo para ele?
Será que temos esse direito?

E a mulher?

Será justo para ela,
Que tenha de,
Ter a seu cargo,
Uma vida inteira,
Um ser que não desejou?

Será justo para ela,
Que tenha de,
Para não fazer algo
Que não pensa estar correcto,
Colocar em perigo,
O seu dom,
A sua própria vida?

Até que ponto é válido
O argumento da vida,
Quando no limite,
Para preservar uma vida,
Se coloca em perigo duas?

Eu sou MUITO a favor da vida.
Eu sou defensor que a vida é um dom.

Eu sou defensor que todos os que
POSSAM
E todos os que
QUEIRAM
Gerem novas vidas,
Novos seres,
MAS,
Conscientes da responsabilidade
Que isso acarreta em si,
Pois quem o faz,
Tem por obrigação para com
Esses novos seres,
De lhes dar,
O que de melhor de si conseguirem.

E isto…
Isto não se consegue num seio familiar,
Onde a nova vida não é desejada.

Por isso,
Pelas mães,
Pelos filhos,
Pelos futuros filhos,
Eu sou a favor,
Do aborto legalizado.

E vocês?