sábado, janeiro 27, 2024

ESPERA

A vida é tão pequena.

O vento viaja por todos os muros. O mar salga todas as praias. E a solidão é tão grande.

Vivo em permanência por trás desta porta à qual passos nenhuns teus se dirigem. Deito-me em escuridão nesta cama e penso palavras com os lábios. Pronunciam-te. De olhos fechados pergunto-me por onde vagueia a tua sombra. E tenho medo, sabes? Medo de te saber noutro lugar. Medo de te saber com outro alguém. Saber-te que não aqui, por tua vontade.

 

A vida é tão pequena.

O vento viaja por todos os muros. E a estrada está a ficar demasiado longa.

Tenho a casa vazia. Quero ir-me embora. Mas não me movo. Permaneço neste carrocel. Com medo que venhas e não me encontres. Me percas por um segundo de vida. Chegues e eu não esteja aqui. Onde as horas já são tantas. Onde me deito nesta escuridão. Os meus lábios pensam palavras que te pronunciam. O teu nome é uma palavra demasiado funda no meu corpo. E todos os teus beijos vão azedando, um por um, na minha boca.

 

Nenhum espelho aqui lembra já o teu reflexo.

 

Talvez te vá encontrar noutro lugar.

Talvez te vá encontrar com outro alguém.

E o teu silêncio vá ser maior que o mundo.

E apenas consigas dizer o meu nome com os teus dedos.

Quando tocarem a tua pele. Em todos aqueles pontos onde já não os meus.

(há tanto tempo que já não os meus)

 

E então, saberei.

sábado, janeiro 13, 2024

NEM TUDO ESTÁ DITO AINDA

Não. Nem tudo está dito ainda.
Há várias páginas em branco por preencher. Páginas desprendidas que a carne não escreve. Exaltação de fogo que nem os olhos, nem as mãos, nem a razão conseguem dissolver no meu tempo sem ti. Calor insatisfeito na sede de tudo e de coisa nenhuma. Que guardo num espaço que só se abre com a chave da tua boca. E com as metades de cada um de nós, faço um filho às palavras. E espero que cresça. Até à prosa selvagem. A correr à solta. Sob o olhar atento dos teus sentidos. Sem o toque dos meus.


Talvez as palavras que desassossegam as entrelinhas rasguem (todos) os verbos.
Talvez essa carícia que me afaga os sonhos seja precisamente o instante onde me esperas. Onde me fazes sentir que sabes o que sinto em mim. Num tempo sem medida. Onde me és. Como um dia inteiro que acontece num fim de tarde. Pois nunca a ausência dos teus lábios foi a forma de esquecer o que não foi pronunciado. Naquela tua voz. Onde sobra o desejo. À qual sempre chego a ti sem saber o que me acontece ao corpo. Que abre a janela e voa. Cai no chão e chora. Sangra e gosta. Ri do meu silêncio. Faz-me os gestos. Na fuga em que tudo volta. E me chama. Uma vez mais. A ti.

Não. Nem tudo está dito ainda.
Há várias páginas em branco por preencher.

Deixa a porta entreaberta. Apaga a luz.
E grita bem alto o meu nome. Em todos os teus silêncios.

sábado, janeiro 06, 2024

SONHO DE TE TER

Sinto-te permanentemente em mim.
Como chocolate quente que derrete sob o meu corpo e adquire as minhas formas, envolves-me. Ferves(-me). Despertas-me de uma forma única que não sei dizer. Não há como. Quero ser a tua pele. O sangue do teu pulsar. Ser parte de ti. Em prolongamento. Em necessidade. Renascer permanentemente no conforto dos teus lábios. E como uma seiva de ti, quero beber da tua boca todas as palavras que resgatas dos ecos interiores da tua pele. Em sussurros. E deixas espalhadas pelo meu corpo em murmúrios de língua. Depositadas nos poros adocicados de ti.

Com o brilho da ânsia no teu olhar, entro em ti como quem entra em casa.
As tuas pernas o abraço de boas-vindas e o teu peito o sorriso que olhando nos olhos me diz: o teu lugar é aqui! Ouço os sons do teu corpo em ecos dobrados de suspiros e murmúrios de querer-me. Esses que não consegues conter de todas as vezes que me perco em caminhos de ti. Em expedições de anseios e desejos cúmplices. Na densa procura de novos pulsares. No êxtase de um céu em chamas que te sussurro ao ouvido. Envoltos pela mistura de odores que de nós emana. Numa mistura única e nossa. Reinventada de cada vez que fazemos Amor.

Nesta força de existência, transporto nas minhas mãos pedaços da tua essência.
Nas palavras (cheias de ti) frases que me fazem fervilhar as veias. Numa perdição profunda que faz tremer a pele na simples ideia da tua.

E é neste espaço encravado entre o tempo que voa e aquele que pára.
Entre a eternidade e o instante que passa.
Que eu vivo. Intensamente.

O sonho de te ter.