Com as cores das palavras,
Que rasgando ecos,
Atiras contra o meu peito,
Pinto as paredes do meu ser,
Que embora sendo estreito,
Insiste em todas acolher.
E com uma força capaz,
De arrancar pedras tumulares,
Absorvo-as de forma voraz,
Antes mesmo de te escapares,
Para mais tarde sem sequer as ouvires,
Teres a audácia e a vontade,
De na sua integral totalidade,
Simplesmente mas repetires.
E é de peito aberto,
Que recebo esse jorro,
De palavras que sussurrando me gritas,
Tão junto a mim, tão de perto,
Que só de as ouvir sinto que morro,
Deixando as próprias paredes aflitas.
Paredes de múltiplas cores,
Paredes de múltiplos tons,
Paredes não uniformes, disformes,
Paredes de mim e de ti,
Paredes cujo início nunca conheci,
Paredes cujo fim, nunca antevi.
E tu pintas e repintas,
Essas paredes que existem de mim,
E tu passas e repassas,
As palavras com as cores de ti,
E por entre graças e desgraças,
Vais deixando manchas tuas,
Por vezes feitas apenas de mãos nuas,
Umas aqui. Outras ali.
Um dia se calhar fecho o peito,
E não mais deixo as cores entrar.
Um dia se calhar intento o feito,
De com uma única cor as paredes pintar.
Um dia será o branco ou o preto,
A cor que irá ficar.
O Vermelho sangue, ou o Azul céu,
A que acabará por dominar.
Mas enquanto esse dia chega e não chega,
Enquanto esse dia se demora no vagar,
Eu vou ficando a receber,
De peito aberto todas as cores,
Que com as tuas palavras queiras pintar,
Todas as paredes deste meu ser,
Que por ti...
Em acto eterno e continuo,
Parece não se cansar,
De querer ficar a esperar!