sexta-feira, outubro 26, 2007

Chamamentos


Há chamamentos de nós,
A que não conseguimos fugir.

Há palavras de outros,
Que não nos deixam partir.

Há assim, um partir,
Que não é mais do que um ficar.

É deixar o corpo ir,
Deixar o tempo fluir,
Até por fim sentir,
O imperativo desejo de resgatar,
A alma que por aqui,
Ficou a pairar.

Não tens de me chamar.

Apenas...
...saber esperar!

segunda-feira, outubro 22, 2007

Pertenças Minhas



Hoje,
As minhas pertenças são parcas.

Hoje,
Eu não sei ao que atribuir a propriedade de meu.

Talvez por isso,
Hoje,
Eu ainda não tenha acordado.

O meu abrir de olhos de hoje,
Foi apenas o tomar contacto com a luz do dia,
Porque o meu íntimo,
Continua mergulhado,
No meu silêncio.

No meu silêncio que te sonha,
Que a cada batida do ponteiro dos segundos,
Te invoca,
A ti,
Aos teus odores,
Aos teus sons,
Aos teus gestos e olhares,
Nas noites que inventamos,
Que partilhamos os nossos corpos,
Que nos damos um ao outro,
E que ficamos em cada um de nós,
Com um pouco,
De um,
No outro.

Nessas noites,
Em que o meu silêncio fala tanto por mim,
Em que o meu olhar troca palavras com o teu,
Em que em surdina clamo o meu Amor por ti,
Em que do fundo do silêncio,
Arranco a mais absoluta ausência de som,
Para com ela,
Te dar a conhecer,
De forma clara, inequívoca e sem ruído,
A enormidade gritante deste meu sentir,
Que dentro de mim já não cabe,
Que as paredes de mim já não comportam,
Que a velocidade do meu pulsar,
Não consegue acompanhar.

Por isso,
Hoje,
As minhas pertenças são parcas,
Pois de mim,
Já pouco controlo,
De nada tenho propriedade,
Porque para ti tudo cedi,
Nos meandros dos momentos,
Vividos nessas noites,
Essas noites,
Essas mesmas noites,
Que juntos invocamos,
E as clamamos como nossas!

E porque quando contigo não estou,
Não te posso efectivamente ouvir,
Quando contigo não estou,
Não te posso alcançar o olhar,
Quando contigo não estou,
Não te posso realmente tocar,
Quando contigo não estou,
Não te posso sentir o odor,
Eu limito-me,
A assim,
Na pequenez das horas desperdiçadas pela tua ausência,
Nos espaços das letras,
Nas entrelinhas dos sentidos,
No tudo que se revela um nada de ti,
Ficar por aqui,
De olhos fechados,
A simplesmente,

S-e-n-t-i-r T-e!

sexta-feira, outubro 19, 2007

Dor de Alma




Nas dobras do teu corpo,
Guardas marcas de memórias,
De momentos que ainda não viveste.

Nos recantos de ti,
(verdadeiro baú de ser)
Proteges a tua identidade.

Única certeza de ti,
Que te mantém viva,
Desperta para vida.

E enquanto deambulas pelo tempo,
De braços cruzados sobre ti,
(única maneira de te protegeres e sentires intacta)
Carregas contigo as tuas únicas certezas:
De que este tempo não é o teu,
De que o espaço que ocupas,
Não é aquele a que pertences.

E tudo está no seu lugar.
Tudo tem,
O seu sítio definido para estar,
Hora definida para ocorrer,
Duração estipulada,
Resultado esperado,
Ganho garantido,

Menos tu!

Menos tu,
Que em nada te encontras,
Em nada te reconheces,
Em nada te encontras reflectida,
Quer seja na lírica da música,
Na batida da melodia,
Ou no simples reflexo,
Que um qualquer espelho te devolve.

E num impulso contínuo,
De inúmeros momentos feito,
Expeles todo o peso do teu corpo
Sobre as costas da cadeira…
Olhas o céu…
Abres os braços…
E de olhos cerrados,
Sentes a alma elevar-se,
Sentes o espírito voar,
Fundes-te com a brisa,
Saboreias o ar,
Delicias-te com as melodias simples,
Com que os cantos dos pássaros,
Te inundam os ouvidos,
E sentes…

E sentes-te…

E pensando em ti,
Não consegues deixar
De te recriminar,
Por todo o tempo,
Que não te permites a ti mesma voar…
Por todo o tempo,
Em que amarras corpo e espírito…
Por todo o tempo,
Em que não te permites sentires-te…

Pois em cada momento que te sentes,
Em cada momento que verdadeiramente,
Sentes cada partícula do corpo,
Cada poro da pele,
Cada inspiração e expiração,
Cada batida do coração,
Cada movimento dos dedos,
Sobre eles,
Sobre ti,
Tu descobres…

Descobres,
Que entre o sentir…
E o pensar…
Não é a alma que te dói,
Mas sim…

A memória dos dias…

Em que não voaste!

segunda-feira, outubro 15, 2007

Underwater Love

Na continuidade de um intercâmbio de desafios entre mim e a Lya, surgiu este,
em que ela deu as imagens e eu construi o texto.
Eu, que demorei algum tempo a fazê-lo, pois não estou habituado a "produzir à medida", gostei do resultado final.
Partilho-o agora com todos. Espero que gostem igualmente.
E a ti, Lya, o meu obrigado por mais este teu carinho.

As horas descompassadas dos dias,
Arrastam-se pelos limites do relógio,
Com o pulsar dos segundos num peito,
Que de tão apertado já não cabe em mim.

Já não me conheço,
Não sei quem sou.

Vivo num presente,
Composto por memórias do passado,


Com os sons das suas lembranças,
A resultarem no silêncio dos meus dias.


Procuro-me noutros locais,
Revejo-me noutros ambientes,

Onde o silêncio é mais profundo,
E me embrenho nos pensamentos.

À minha volta,
Tudo é calma e tranquilidade,
E o som do meu respirar,
É tudo o que consigo escutar,
Fazendo esta a única verdade,
No reinado dos sentidos.

Elevam-se os seres do silêncio,
Habitantes únicos das profundezas.

Profundezas deste mundo,
De uma paz sem igual,
Profundezas de mim,
Onde secretamente de ti,
Aguardo por um sinal.


Tu não és minha pertença!
Nunca o foste!
Sei-o bem…


E agora que partiste,
Agora que por ti,
Apenas me resta aguardar,
Invoco as forças de um Deus Maior,
Para conseguir num relance,
O que não está ao alcance,
Deste meu ser menor:

Que até mim de novo te traga,
E com a força de uma vaga,
Me venhas deste mundo resgatar,
Para comigo, para sempre ficar.

E é tal este meu querer,
Tem tanta força este meu sentir,
Que chego até por vezes a ouvir,
A melodia dessa corrente singular,
Provocada por esse movimento único,
Que é o teu belo serpentear.


E se tu viesses…

E se neste mundo comigo,
Quisesses para sempre ficar…

Nele intentaríamos danças sem fim,
Dia após dia bailaríamos assim,

Numa dádiva de dois seres a comungar,
Num jogo de almas um pleno e contínuo amar,
Em que tudo quereríamos,

Um ao outro,
Ofertar.


Mas a realidade é algo duro,
Por vezes,
Muito difícil de suportar,
E por isso eu já ficaria feliz,
Se permitisses a ti própria,
Aquilo que eu sempre quis:
Tão somente e apenas,

A "veleidade" de tentar.

Como sempre e em tudo,
Sozinha não irias ficar,
Estaria a teu lado sempre,
Para te acompanhar,
E se de algo tu,
Viesses a necessitar,
Saberias que terias:

Os meus braços
Para te amparar,
O meu corpo
Para te embrulhar,
Os meus olhos
Para por ti ver,
O meu ar
Para por ti respirar,
Todo o meu ser,
Para o teu amar.


Mas tu…
Nunca vieste.

Tu…
Nunca voltaste a me procurar.

E em todos os elementos,
Terra, água, fogo e ar,
Eu continuo em todos os momentos,
A por um sinal teu procurar.

E mesmo que em nenhum deles,
Eu te consiga encontrar,
Isso não impede que em ti,
Eu dê por mim continuamente a pensar,
E continuamente também a desejar,
O retorno à vivência do realizar,
De todos os nossos intentos,
Ter de volta aqueles nossos momentos,
Em que implodíamos de tanto amar.

E eu…
Eu já não me conheço,
Eu já não sei quem sou.

Vivo num presente,
Composto por memórias do passado,
Com os sons das suas lembranças,
A resultarem no silêncio dos meus dias.

E por isso,
Cada vez me embrenho mais neste mundo,
Onde o silêncio é mais profundo,
Tudo é calma e tranquilidade,
E o som do meu respirar,
É tudo o que consigo escutar,
Nas profundezas de mim.


E quem sabe se um dia,
Não acabarei por cá ficar,
Para sempre,
Definitivamente a repousar,
Qual ser petrificado,
Neste mundo eternizado,
A com um raio de luz eterno,
Ser permanentemente iluminado.


Mas se isso ocorrer,
Se algum dia acontecer,
Podes ficar com a certeza,
Que tu para mim,
Foste de todas, a maior beleza!

E de que sempre o horizonte,
Eu irei continuamente perscrutar,
Na esperança eterna,
De alcançar a felicidade plena,
De um dia poder vislumbrar,

O teu belo,

Serpentear!


sexta-feira, outubro 12, 2007

. sabor .

Hoje

Acordei



Com o sabor

do

... s i l ê n c i o ...

Na boca...

quarta-feira, outubro 10, 2007

Jogo

…e agora, que aqui chegamos, o que nos resta?

O que mais posso eu esperar de ti, vida?

Que tipo de caminhos posso seguir?
Que opções me são permitidas tomar?
Seguir em frente, sem olhar para trás?
Levar-te comigo? Ou deixar-me levar por ti?

E o passado?
Deixo-o ficar ou… levo-o comigo?
E levo-o todo? Ou apenas parte dele?

Ou então… esqueço-o…
Ou então… esqueço-me…



O jogo está na mesa…
Aposto? Arrisco?
E o que ganhei até agora?

O jogo está em curso…
O jogo é aos pares.
Os pares estão definidos.
As vitórias e as derrotas, pertencem aos pares.

Mas…
Os sinais…
Esses…
Por vezes ocorrem “trocados”.

E…
Por baixo da mesa,
O jogo é outro!

E os pares…
Esses por vezes “baralham-se”.

Não são as pernas,
Não são os pés.
Não são as cartas,
Sequer os trunfos.

É a cinta!
É um jogo de cintura!

Sabes jogá-lo?
Não?
Dizes isso porque não fazes ideia…
Não tens a noção…

O jogo é duro,
E o resultado…
Uma incógnita!
Sim.
O resultado não está combinado!
É incerto!

O jogo está confuso…
As regras estão alteradas…
As regras já não valem.
Mudam com o desenrolar do jogo.

E o que tenho em mão?
Será esta…
Uma boa mão?
Depende do que tem o meu parceiro…
Mas…
Qual deles?
Tenho de saber qual deles é
Verdadeiramente o meu parceiro.

O jogo está confuso…
Muito confuso…
Demasiado confuso…

Mas é debaixo da mesa!
Sim.
Definitivamente.
É aí que decorre o verdadeiro jogo.
Esse,
O de cintura!

E tu?
Sabes jogá-lo?
Não?

Não fazes ideia…
Não tens a noção…

(E eu… eu nem contar os pontos sei!)