Hoje,
As minhas pertenças são parcas.
Hoje,
Eu não sei ao que atribuir a propriedade de meu.
Talvez por isso,
Hoje,
Eu ainda não tenha acordado.
O meu abrir de olhos de hoje,
Foi apenas o tomar contacto com a luz do dia,
Porque o meu íntimo,
Continua mergulhado,
No meu silêncio.
No meu silêncio que te sonha,
Que a cada batida do ponteiro dos segundos,
Te invoca,
A ti,
Aos teus odores,
Aos teus sons,
Aos teus gestos e olhares,
Nas noites que inventamos,
Que partilhamos os nossos corpos,
Que nos damos um ao outro,
E que ficamos em cada um de nós,
Com um pouco,
De um,
No outro.
Nessas noites,
Em que o meu silêncio fala tanto por mim,
Em que o meu olhar troca palavras com o teu,
Em que em surdina clamo o meu Amor por ti,
Em que do fundo do silêncio,
Arranco a mais absoluta ausência de som,
Para com ela,
Te dar a conhecer,
De forma clara, inequívoca e sem ruído,
A enormidade gritante deste meu sentir,
Que dentro de mim já não cabe,
Que as paredes de mim já não comportam,
Que a velocidade do meu pulsar,
Não consegue acompanhar.
Por isso,
Hoje,
As minhas pertenças são parcas,
Pois de mim,
Já pouco controlo,
De nada tenho propriedade,
Porque para ti tudo cedi,
Nos meandros dos momentos,
Vividos nessas noites,
Essas noites,
Essas mesmas noites,
Que juntos invocamos,
E as clamamos como nossas!
E porque quando contigo não estou,
Não te posso efectivamente ouvir,
Quando contigo não estou,
Não te posso alcançar o olhar,
Quando contigo não estou,
Não te posso realmente tocar,
Quando contigo não estou,
Não te posso sentir o odor,
Eu limito-me,
A assim,
Na pequenez das horas desperdiçadas pela tua ausência,
Nos espaços das letras,
Nas entrelinhas dos sentidos,
No tudo que se revela um nada de ti,
Ficar por aqui,
De olhos fechados,
A simplesmente,
S-e-n-t-i-r T-e!