domingo, dezembro 31, 2006

Omissões

Há feridas que se abrem,
Com palavras por dizer.

Há feridas que se aprofundam,
Com gestos por fazer.

Há noites
Em que o cerrar de pálpebras,
Não nos fecha os olhos,
E todos os longos minutos
Que preenchem as horas
São contados.

E os batimentos,
Que acelerados tentamos conter,
Batem no peito,
Alheados ao nosso querer,
Ecoando no pensamento,
Todos um por um,
Misturando passado e presente,
Numa mescla de sentidos e quereres,
Onde a dor se revela existir,
Até no mais simples dos prazeres.

E os olhos quedam-se secos,
Por não terem mais o que chorar,
Porque a tristeza permanente,
Torna-se difícil disfarçar,
Desvanecendo o sorrir,
Até do mais profundo pensar,
Que não sabendo para onde ir,
Na dor teima em ficar.

E mesmo não a querendo ter,
Mesmo não a querendo ouvir,
Ela faz questão de o ser,
De em nós se fazer sentir.

E por vezes era preciso tão pouco,
Para a fazer desaparecer,
Mas o silêncio não deixa,
Faz questão em permanecer.

Porque se há palavras,
Que por não serem ditas nos ferem,
Há gestos,
Que por não serem feitos,
Nos abatem.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Novo LINK

Nestes tempos de "festejos",
em que tento controlar as minhas vontades de escrita,
decidi apresentar-vos,
(para quem ainda não conheça),
um blog,
onde se escreve muito bem,
e no qual,
a onda de temática,
é "similar" às por nós,
frequentados.

Espero que apreciem
os passeios por lá,
Como eu aprecio.

Seleccionem ao lado,
na secção dos links,
o novo link,
"A Magia das Palavras".

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Este Natal

Este natal,
Vai ser mais pobre que os anteriores.

Neste natal,
Não vão estar presentes
Duas figuras que faziam parte
Do presépio dos anos anteriores.

Este natal,
Vai ter duas novas componentes:
Uma saudade muito grande,
E um desejo impossível de realizar.

Por isso,
Este natal,
Eu vou apreciar ainda mais,
Todos os que me vão fazer companhia,
E todos que não estando presentes,
Me irão acompanhar,
Mesmo que apenas em pensamento,
Pois sendo-o,
Será também em sentimento.

Porque neste ano,
Perdi duas grandes figuras
Do meu presépio.

Mas este ano,
Ganhei novas personagens
No meu palco de vida,
E essas,
Que desde Março
Me foram acompanhando,
Estarão bem presentes,
No meu pensamento,
E no meu sentimento.

Por isso,
Para cada um,
Eu reservei uma prenda:
Um pensamento meu,
Acompanhado de carinho,
Que individualmente,
Vos percorrerá,
Um por um,
Na altura da “distribuição das prendas”.

Porque vocês,
Todos vós,
Um por um,
Me presentearam este ano,
E várias vezes ao longo do ano,
Com a vossa companhia,
Com a vossa participação,
No fundo,
Com o vosso contributo,
Para que este canto,
Este “Espaço onde parte do meu ser coabita”,
Florescesse,
Se desenvolvesse,
E crescesse,
Até ao ponto que conhecemos.

A todos,
O meu desejo de que,
Apreciem devidamente a companhia dos que têm,
Em prol,
Do lamento dos que não têm.

E igualmente a Todos,
Um grande e forte Abraço,
Com o desejo profundo e sincero,
De um Feliz Natal
E um Excelente 2007!

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Excerto (2)

"Os sentimentos, são em si, na sua essência e vida própria, algo muito interessante. Mas, hoje penso que todos eles são efémeros. Todos, excepto um.

O Amor, deverá ser porventura dos mais complexos. É vivido de forma intensa, exige todos os nossos recursos e tem um pico. Esse pico, quando atingido, é sempre um pico. Nunca é, numa perspectiva de tempo, um planalto, que se mantenha por muito tempo no auge. A partir do momento em que se atinge esse pico, começa uma descida, que pode ser mais ou menos acentuada e que pode terminar de duas formas: ou bem, sendo que nesse caso, encontra um planalto num nível mais abaixo do pico (bem mais abaixo) e que se vai mantendo nesse nível, com custo, com trabalho e esforço conjunto. Esforço, porque a vida se encarrega de desgastar esse sentimento, corroê-lo, pelo que se ele não for tratado, cai a pique terminando a queda habitualmente num nível bem mais inferior daquele onde começou, configurando assim a segunda possibilidade de término.

A Amizade, tem duas possibilidades. Se for a escrita desta forma, com letra maiúscula, o tempo é um aliado. Com ele, ela vai crescendo e desenvolvendo-se num crescendo lento mas contínuo, podendo durar toda uma vida. Ela tem no entanto um inimigo, que a pode tornar também ela efémera: A distância. Se os dois (ou mais elementos) se afastam, a necessidade da vivência da amizade, faz com que ela também em si, acabe por cair. Caso seja a amizade escrita toda ela com minúsculas, a própria vida (tal como ao amor) encarrega-se de a fazer perder significado, pois existirá sempre um qualquer factor que fará com que ela desvaneça.

A Alegria, tem também ela picos, mas ao contrário do Amor, esta pode ter vários. Surge por um motivo de peso, provoca em nós uma sensação de euforia, mas rapidamente desvanece, pois o motivo em si, também ele acaba por perder significado, o que deixa sem bases o sentimento de Alegria.

Mas, há um que não é efémero, que não é passageiro. Quando ocorre pela primeira vez, ele não passa por nós apenas, muda-se para dentro de nós, de malas feitas e com tudo para ficar até ao fim dos nossos dias: A Tristeza. A tristeza sentida, profunda, quando experimentada uma vez, fica cá dentro e não mais desaparece. E todos os dias, encetamos uma luta muda com ela, para que não permitamos que ela ganhe terreno sobre os outros sentimentos. Mas ela está cá. Ela está sempre cá. E de vez em quando mostra-se. Aparece e convida-nos para um almoço, um jantar, uma noite ou um simples café. E nós, que embora dela não gostemos, nem sempre temos capacidade para lhe resistir, acabando por algumas vezes, aceder ao seu convite letal. Ela não dorme, não se distrai. É paciente e astuta. Conhece-nos como nenhum outro sentimento e sabe o momento certo para nos falar, mesmo que nós próprios dele, não tenhamos conhecimento. E com isto, com esta forma de se relacionar connosco, por vezes conquista-nos acabando nós até, por acabar por nutrir por ela uma certa “simpatia”. Desta forma, ela consegue fazer do tempo um aliado e encontrar na vida a parceira perfeita, pois esta, tem inúmeras situações que lhe permitem brilhar. No meu caso, com a morte do meu amigo, ela instalou-se e com o teu gesto, deixou de habitar apenas aquele quarto escuro, escondido, sem janelas e passou a ocupar não só o quarto principal, como também a sala e a cozinha de mim."

terça-feira, dezembro 12, 2006

30 dias...

30 dias se passaram Mãe...

Parece que já foi à tanto tempo...

Parece que foi ontem!


Beijo.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Vem...

Vem,
Deixa que os meus braços te levem.

Vem,
Não procures destinos nem razões,
Não faças esforço,
Aninha-te no meu colo,
E deixa que os meus braços te levem.

Vem,
Conheço-te há pouco,
Mas sei-te desde sempre.

Vem,
Vou levar-te a um lugar único,
Que reservei só para nós.

Vem,
Esse lugar só tem coisas boas.
Fica numa praia imaginária,
E é marcado por uma pedra,
Bem polida,
Do tamanho necessário,
Para que nela,
Nos sentemos os dois.

Vem,
Dela se avista o mais bonito por do sol,
Que alguma vez viste e verás.
E está sempre assim!
Mandei o tempo parar nesse sítio,
Para que pudesses,
Sempre que queiras,
Vê-lo assim!

Vem,
Esse lugar é só nosso,
E nele poderás sempre encontrar-me,
Sempre que precises,
Sempre que o queiras,
Eu estarei lá,
Para contigo apreciar,
Aquele por do sol.

Vem,
Se quiseres dou-te a mão,
E saímos a caminhar pela praia.
Se preferires dou-te o meu braço,
Para que nele apoies as costas,
E alivies o cansaço da tua jornada.

Vem,
Trás contigo quem quiseres,
Mas, apenas quem o mereça.
O lugar é especial,
Não tragas quem te entristeça.

Vem,
Neste lugar único,
Quero ver-te sempre a sorrir,
Sentir-te leve,
Quase a voar,
Porque lá sentir-te-ás sempre bem,
Lá que é o teu lugar.

Vem.

Vem sempre que queiras,
Vem sempre que precises,
Vem por todos os motivos,
Vem sem razão nenhuma,
Vem porque sim,
Vem porque não,
Mas…
VEM!

terça-feira, novembro 28, 2006

Excerto

Porque o amor, não é aquilo que cada um de nós deseja. O amor, é o tudo e o nada, sendo que o tudo é feito de pequenos nadas e que um nada pode ser tudo. Tudo contribuiu para que o nosso amor crescesse e se desenvolvesse. Todos os olhares, todos os toques, todas as palavras, todos os pequenos beijos e todos os abraços, porque quando nada se espera o que se obtém é tudo, mas quando tudo se quer, nada é suficiente. E nós fomos com o tempo, sabendo apreciar todos os pequenos nadas e com isso… tivemos tudo!

...

E com isto eu apercebo-me do quão exigente pode ser o amor. Como dando sempre tanto a todo o momento, estamos sempre em falta, porque nunca é possível darmos tudo. Agora vejo que num amor, numa vida a dois, o verdadeiramente importante é a sintonia entre o esperado e o oferecido. Apenas com essa sintonia, estamos permanentemente satisfeitos, porque obtemos aquilo que pretendemos e damos aquilo que o outro espera, ainda que isso sejam apenas pequenos nadas. Pequenos nadas de sorrisos, de palavras e simples atenções feitos, mas que nos enchem o coração e a alma de uma tal forma plena, que nos leva à satisfação connosco e por consequência com os outros. Quando felizes com nós próprios, a felicidade irradia-nos dos olhos, transpira no sorriso, liberta-se no ar com os nossos gestos, espalhando-se à nossa volta contagiando os outros que connosco se cruzam.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Curtas (4) - Esperei

Durante todo o dia, esperei um sinal de ti.

Do rescaldo da noite, ficou o amargo da discussão.
No meu peito, um frio que paralisava o pensamento e o meu tão bem querer por ti.

Durante todo o dia, esperei um sinal de ti.

Do calor das palavras ditas em discussão, uma dor emergiu e povoou o meu ser sentimento não me deixando ter memória dos momentos anteriores a essa hora.

E durante todo o dia, esperei um sinal de ti.

Não me chamaste. Não me falaste. Não quiseste fazer-me sentir, que o nosso amor é mais que um orgulho e que o teu sentir do nosso amor, é para ti bem mais que uma troca de razões.

E eu, durante todo o dia, esperei um sinal de ti.

Não te chamei porque decidi esperar. Se calhar, fizeste o mesmo…
Mas eu penso que tu bem saberás que deverias ser tu a chamar-me.
Eu penso que sabes que o meu conceito de amor, tal como o que nutro por ti, é mais que uma acesa troca de palavras e está acima de qualquer tipo de discussão ou birra.
Tantas vezes to disse…
Tantas vezes to fiz sentir…
E tu sabes que podes sempre contar comigo, incondicionalmente, como o fazem os verdadeiros amigos.
Sim, porque acima de tudo e no início de tudo, está uma bela amizade que desenvolvemos em nós.
O amor… esse foi o florir de uma relação que já pedia por mais e que extrapolava até os sentidos.

Durante todo o dia, esperei um sinal de ti.

E agora, já deitado com os olhos a começarem a acusar o avançado da hora, sou invadido por uma tristeza, que me diz, que tu não me ligaste, não me deste um sinal e assim, quem sabe, marcaste o início da queda de um sentimento que em nós era tão bonito, tão simples e tão completo, por tão sincero e espontâneo.

O amor é para mim (conforme muito bem o sabes) uma dádiva constante.
Um constante dar em todos os momentos e sob todas as formas.
E o pensamento é uma das principais dádivas que podemos oferendar e hoje não foi diferente.
Todos os meus pensamentos foram para ti e com o passar das horas, a ansiedade pelo teu contacto foi sempre aumentando num crescendum que forçava as próprias paredes deste peito onde bate o meu coração por ti.

Durante todo o dia, esperei um sinal de ti, mas agora…

Agora… não mais o vou esperar!

terça-feira, novembro 21, 2006

Toca-me onde me dói...

Toca-me onde me dói
e verás uma flor a abrir-se lentamente sobre a pele,
a maravilha nunca adivinhada de um mistério.

Esta é a tua vez de o desvendares.
Paixão é uma palavra demasiado antiga no meu corpo,
já não sei a última vez,
a única vez.

Toca-me
por isso devagar,
não me lembro da primavera
que fez nascer a doença sobre a ferida,
não sinto o recorte da cicatriz que o tempo
pousou nela.

Agora
chama-me ao teu peito com as mãos,
tal como a chuva
chama pelos narcisos sem cessar,
ano após ano;

diz o meu nome
com os dedos a serem rios
que latejam no coração adormecido
de uma aldeia.

Não me adivinhes.

Lá, onde me doer,
vou recordar-me.

(Maria do Rosário Pedreira)

sexta-feira, novembro 17, 2006

Hoje, não Te vou chorar

Hoje,
Não te vou chorar,
Porque não me vou permitir o egoísmo,
De continuar a querer ter-te aqui comigo.

Hoje,
Não te vou chorar,
Porque vou direccionar o meu pensamento,
Para o final do sofrimento,
Que os teus últimos dias de vida,
Teimaram em te infligir.

Hoje,
Não te vou chorar,
Porque vou lembrar,
A guerreira que sempre foste,
Em luta com a vida,
Que durante tantos anos,
Teimava em te querer fugir.

Hoje,
Não te vou chorar,
Porque já muitas noites o fiz,
Enquanto via,
Dia após dia,
A vida a fugir-te,
Por entre os dedos,
Cada vez mais débeis.

Hoje,
Não te vou chorar,
Porque vou lembrar,
A tua resistência,
Até ao momento,
Em que vendo-te tão cansada,
Acariciando o teu braço,
Num sussurro te disse:
“Descansa Mãe”,
E então tu,
Finalmente acedeste,
E dando o teu último suspiro,
Entregastes-te assim,
À paz do descanso eterno.

Hoje,
Não te vou chorar,
Mas sabes Mãe,
É muito difícil!

Difícil,
Fazer prevalecer o ânimo do cessar do teu sofrimento,
Sobre a tristeza de não mais te ter connosco,

Difícil,
Fazer prevalecer a memória da guerreira,
Sobre o sofrimento da enferma,

Difícil,
Fazer prevalecer o olhar de Mãe para o filho,
Sobre o olhar da doente para o vazio.

Difícil,
Contrariar este desejo,
De agora,
Mais do que nunca,
Querer ter-te de novo,
Aqui,
Comigo.

Só há pouco soube,
O que é ser pai.

Só há pouco compreendi,
A plenitude do amor de um pai pelo filho.

Só há pouco soube em pleno avaliar,
As atitudes que como crianças não entendemos.

Só há pouco soube,
Avaliar e admirar-te devidamente.

Tu,
Geraste-me no teu ventre,

Tu,
Abdicaste muito de ti, por mim,

Tu,
Amaste-me à tua maneira,
Da melhor forma que soubeste e pudeste,

Tu,
Fizeste de mim,
Um prolongamento de ti.

Por tudo isto Mãe,
Hoje não te vou chorar,
Vou ao invés disso,
Exultar a mulher que sempre foste,
E esperar…

Deixar o tempo actuar…

Para que ele,
Transforme a dor da partida
Na memória doce da saudade,

Para que ele,
Desfaça este nó na garganta
Que me embarga a voz,

Para que ele,
Atenue esta dor no peito
Que me faz suspirar,

Para que ele,
Acalme as vagas que teimam
Em querer libertar-me as lágrimas.

Hoje Mãe,
Hoje, não te vou chorar,
Hoje, vou começar!

Vou começar a,
Para sempre,
Te lembrar,
Como “A Minha Mãe”!

quinta-feira, novembro 02, 2006

Momentos

Por vezes,
somos ultrapassados pelos momentos
sem que de tal nos apercebamos.
Uma série de acontecimentos ocorrem em catadupla
e quando deles tomamos consciência,
eles já ocorreram
e a volta ao passado não é possível.

Por vezes,
esses momentos duram breves instantes;
outras quase uma vida.

No entanto,
vezes há,
em que reconhecemos que eles estão a ocorrer,
mas nada fazemos para os evitar.
Ou porque o nosso desejo é contrário a isso,
ou porque somos impotentes perante a força
que os mesmos carregam em si,
capazes de arrancar do seu chão
até o mais resistente ser.

MAS,
Há algo que é sempre possível
E desejável:
O reconhecimento da nossa intervenção,
E o devido retratamento
(se for caso disso)
Perante o(s) outro(s).

Haja coragem para assim agir,
Haja carácter para o fazer.

segunda-feira, outubro 30, 2006

Brisa

Brisa…
Afago de vento,
Que sentimos sem o ver,
Que vem até nós sem o pedirmos,
Que nos trás os salpicos da maresia,
Os odores das estações,
O calor num fim de tarde de verão,
A frescura de um dia de Inverno.

Na brisa,
Circulam sensações.

Na brisa,
Se tentarmos,
E assim o quisermos,
Podemos fazer transportar,
Os nossos desejos e quereres,
As nossas vontades de,
A outros fazer chegar,
O nosso deles tanto gostar.

Assim,
Hoje,
Numa brisa de calor de sentir
E frescura de espírito feita,
Envio,
Para ti,
Um olhar de conforto,
Um afago de carinho,
E um beijo,
Apaziguador de alma.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Nada do que é importante se perde verdadeiramente...

"... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente.
Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

Miguel Sousa Tavares

(a propósito da perda de sua Mãe, a escritora e poetisa Sophia de Mello-Breyner)
Julho 2004

quarta-feira, outubro 25, 2006

Medo

O medo, essa força misteriosa que nos rouba a alegria e o sonho, devia vir no dicionário como antónimo de vontade.
O medo é como um terreno minado; nunca o atravessamos mesmo que do outro lado estejam todos os nossos desejos.

Margarida Rebelo Pinto
in "Diário da Tua Ausência"

terça-feira, outubro 24, 2006

Esperar

Quando se ama alguém, tem-se sempre tempo para essa pessoa.
E se ela não vem ter connosco, nós esperamos.
O verbo esperar torna-se tão imperativo como o verbo respirar.
A vida transforma-se numa estação de comboios e o vento anuncia-nos a chegada antes do alcance do olhar.
O amor na espera ensina-nos a ver o futuro, a desejá-lo, a organizar tudo para que ele seja possível.
É mais fácil esperar do que desistir.
É mais fácil desejar do que esquecer.
È mais fácil sonhar do que perder.
E para quem vive a sonhar, é muito mais fácil viver.

Margarida Rebelo Pinto
in "Diário da Tua Ausência"

terça-feira, outubro 17, 2006

Será

Será que ainda me resta tempo contigo,
ou já te levam balas de um qualquer inimigo.
Será que soube dar-te tudo o que querias,
ou deixei-me morrer lento, no lento morrer dos dias.
Será que fiz tudo que podia fazer,
ou fui mais um cobarde, não quis ver sofrer.
Será que lá longe ainda o céu é azul,
ou já o negro cinzento confunde Norte com Sul.
Será que a tua pele ainda é macia,
ou é a mão que me treme, sem ardor nem magia.
Será que ainda te posso valer,
ou já a noite descobre a dor que encobre o prazer.
Será que é de febre este fogo,
este grito cruel que da lebre faz lobo.
Será que amanhã ainda existe para ti,
ou ao ver-te nos olhos te beijei e morri.
Será que lá fora os carros passam ainda,
ou as estrelas caíram e qualquer sorte é bem-vinda.
Será que a cidade ainda está como dantes
ou cantam fantasmas e bailam gigantes.
Será que o sol se põe do lado do mar,
ou a luz que me agarra é sombra de luar.
Será que as casas cantam e as pedras do chão,
ou calou-se a montanha, rendeu-se o vulcão.

Será que sabes que hoje é Domingo,
ou os dias não passam, são anjos caindo.
Será que me consegues ouvir
ou é tempo que pedes quando tentas sorrir.
Será que sabes que te trago na voz,
que o teu mundo é o meu mundo e foi feito por nós.
Será que te lembras da cor do olhar
quando juntos a noite não quer acabar.
Será que sentes esta mão que te agarra
que te prende com a força do mar contra a barra.
Será que consegues ouvir-me dizer
que te amo tanto quanto noutro dia qualquer.

Eu sei que tu estarás sempre por mim
Não há noite sem dia, nem dia sem fim.
Eu sei que me queres, e me amas também
me desejas agora como nunca ninguém.
Não partas então, não me deixes sozinho
Vou beijar o teu chão e chorar o caminho.
Será,
Será,
Será!

(Pedro Abrunhosa)

quinta-feira, outubro 12, 2006

Tu não Sabes

Tu não sabes
Quanto tempo vais poder
Dizer: "Este sou eu",
Gritar que o chão é teu,
Tu não sabes,
Que o céu chama por ti,
Quando à noite te sorri,
Quando as pétalas se abrem
Só por si,
Tu não sabes.
Tu não sabes
Quanto tempo irás pedir
Quando o sangue te fugir,
Quando o punho se fechar
Sobre ti,
Tu não sabes,
Que o sonho não morreu
Quando o beijo se perdeu,
Que a manhã não acabou
Só por nós,
Tu não sabes.

Que palavras vais usar
Quando o sono não vier,
Quando a noite te disser:
"Vem comigo".
Que loucura irás dizer
Quando a mão que te apertar
Te pedir para ficares
Só mais um dia,
Tu não sabes,
Tu não sabes,
Tu não sabes.

Tu não sabes
Quantos rios se vão deter,
Quantos olhos vão beber
Nas palavras que colaste
Junto ao peito,
Tu não sabes,
Que os teus dedos são já meus,
Que se vão fechar nos teus,
Quando os barcos se despedem
Na maré,
Tu não sabes.

Que palavras vais usar
Quando o sono não vier,
Quando a noite te disser:
"Vem comigo".
Que loucura irás dizer
Quando a mão que te apertar
Te pedir para ficares
Só mais um dia,
Tu não sabes,
Tu não sabes,
Tu não sabes,
Tu não sabes….

(Pedro Abrunhosa)

segunda-feira, outubro 02, 2006

Como Sou

Por vezes escondo-me atrás das palavras,
Outras, escudo-me atrás do silêncio,
Mas sempre,
Sempre me mostro quando me dou,
Na forma e no quanto para os outros sou.

E nesta “dádiva” de amor feito,
Eu surjo aos outros como perfeito,
Mas nenhum ser,
De cérebro escorreito,
Se pode considerar assim,
Como um ser perfeito.

E o que eu penso saber fazer,
Que dos restantes me faz diferenciar,
É antes de alguma coisa dizer,
Recorrer à arte do bem pensar.

E desta forma tão linear,
A de recorrer ao meu pensamento,
Acabo quase sempre por ter,
Algo a dizer, para o momento.

E triste é o ser,
Que procura algo dizer,
Mas a boca abre e nada sai,
Porque até mesmo o seu pensamento,
Ele não sabe por onde vai.

Mas por vezes é assim,
Dias há,
Em que não sei nada de mim,
Procuro,
Procuro sob todas as formas,
E em todo e qualquer lugar,
Mas nem assim,
Nem assim,
Eu me consigo encontrar.

Dias de névoa,
De tempo escuro,
De humidade, chuva,
E vazio interior,
Nos quais não me vejo nem a mim,
Quanto mais a esse amor.

Seja ao menos sempre possível,
Manter a seguro dentro mim,
Ainda que de forma não visível,
(a capacidade e a vontade),
De me manter sempre assim,
Simplesmente como sou!

quinta-feira, setembro 28, 2006

As palavras sempre ficam!

Se me disseres que me amas, acreditarei.
Mas se escreveres que me amas,
Acreditarei ainda mais.

Se me falares da tua saudade, entenderei,
Mas se escreveres sobre ela,
Eu a sentirei junto contigo.

Se a tristeza vier a te consumir e me contares,
Eu saberei, mas se a descreveres no papel,
O seu peso será menor.

… e assim são as palavras escritas:
Possuem um magnetismo especial, libertam,
Acalentam, invocam emoções.

Elas possuem a capacidade
De em poucos minutos cruzar mares,
Saltar montanhas, atravessar desertos intocáveis.

Muitas vezes, infelizmente, perde-se o Autor,
Mas a mensagem sobrevive ao tempo,
Atravessando séculos e gerações.

Elas marcam um momento que será
Eternamente revivido por todos aqueles que a lerem.

Viva o amor com palavras faladas e escritas,
Mate saudades, peça perdão,
Aproxime-se, recupere o tempo perdido.

Insinue-se alegre a alguém,
Ofereça um simples “bom dia”,
Faça um carinho especial.

Use a palavra a todo o instante,
De todas as maneiras.
Sua força é imensurável.

Lembre-se sempre do poder das palavras.

Quem escreve constrói um castelo,
E quem lê, passa a habitá-lo.

(Autor desconhecido)

sexta-feira, setembro 22, 2006

O Amor

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

(Fernando Pessoa)

sábado, setembro 16, 2006

Rimas de uma Vida

Um dia quedou-se criança,
E o mundo ele foi aprendendo,
Era novo, tinha tudo, esperança,
E a vida assim foi correndo.

Estudar, aprender com perseverança,
Aplicar-se para os melhores resultados ir obtendo,
Abdicou das brincadeiras, de ser criança,
E delas se foi esquecendo.

E a vida assim, foi correndo…

E uma jovem, em determinada altura da andança,
Aos poucos o coração lhe foi enchendo,
Viveu dias e noites de plena confiança,
E o amor no seu peito foi crescendo.

E a vida assim, foi correndo…

Na faculdade conseguiu entrar,
E muito estudo ela lhe foi requerendo,
Com a amada já não tinha tempo para estar,
E o amor de outra forma foi vivendo.

E a vida assim, foi correndo…

Com o trabalho e a ânsia da liderança.
Pela disputa, a competição foi desenvolvendo,
Nisto envolvido nem reparou na “matança”,
Que dos sentimentos ele ia fazendo.

E a vida assim, foi correndo…

Com os filhos, cresceram responsabilidades,
O máximo de si, lhes foi oferecendo,
Trabalhou mais, para ter mais possibilidades,
E da companhia deles se foi “esquecendo”.

E quando um dia, parou e olhou,
Para eles, já não os reconhecendo,
Muito chocado consigo próprio ficou,
E os olhos, com lágrimas, tremendo.

Então, estendendo a sua mão,
Procurou a sua companheira de vida,
Já muito tarde se apercebendo então,
Que também ela já estava de partida.

E com os dias correndo ligeiros,
Os anos aos poucos foram mingando,
Os “ontens” dos Dezembros eram os Janeiros,
E cada vez mais cansado, ele ia ficando.

E a vida assim, foi correndo…

Foi então que um dia se apercebeu,
Que no meio da azáfama, do frenesim,
De conviver com os outros se esqueceu,
Dando por si a ficar sozinho, assim.

E aquando da sua partida lhe perguntaram,
Por dele saber querendo,
Então? Como correu a vida para ti?
Olhando para dentro si respondeu gemendo:
A vida? Não sei! Pouco a vivi.
Ela é que foi correndo!


quarta-feira, setembro 13, 2006

O Valor das Coisas

O valor das coisas,
Não está no tempo que elas duram,
Mas na intensidade com que acontecem.

Por isso,
Existem momentos inesquecíveis,
Coisas inexplicáveis,
Pessoas incomparáveis.

Fernando Pessoa

sexta-feira, setembro 08, 2006

Num Momento Fugaz

Num momento fugaz,
Nossos seres cruzaram-se,
Entrelaçamos o olhar,
Nossos olhos tocaram-se,
E eu tive-te assim…
Naquele momento,
Só para mim.

Num momento fugaz,
O meu coração saltou,
O meu peito cresceu,
O meu corpo ficou leve,
E eu tive-te assim…
Naquele momento,
Só para mim.

Num momento fugaz,
Os nossos olhos não se quiseram largar,
As nossas cabeças viraram-se na passagem,
E nós fomos um,
Em olhar,
Em pensamento,
Creio que em sentir,
E eu tive-te assim…
Naquele momento,
Só para mim.

Um momento fugaz,
Que teve a duração da eternidade,
Que teve um sentir exponenciado,
Que me deu um querer até então
Nunca experimentado,
De te ter,
Assim,
Comigo,
Sempre a meu lado,
Como te tive,
Naquele momento,
Só para mim.

E ainda hoje eu me lembro,
Que num momento fugaz,
Eu te tive assim…
Naquele momento,
Só para mim.

quarta-feira, setembro 06, 2006

É Hora!

É hora de respirar fundo,
E expirar todas as mazelas,
Que nos repuxam as entranhas,
E nos fazem amargos,
Connosco próprios.

É hora de abrir os braços
E deixar cair os pesos que se agarram ao corpo,
Não nos deixando correr livres,
Acorrentando até os pensamentos.

É hora de levantar bem a cabeça,
E puxar para cima as forças,
Que nos fazem mover o mundo,
Contra as adversidades que nos teimam impor,
Pelo demover das desgraças certas.

É hora de deixar os lábios esticar,
E formar o sorriso que nos faz levitar,
Por cima das coisas,
Por cima de nós.

É hora de voltar ao meu "eu",
De deixar-me iluminar por todos os Raios de Luz,
De procurar todos os pequenos focos,
E com eles juntos,
Formar um Sol.

É hora de acelerar o passo,
Correr, suar, cansar o corpo,
Para libertar a mente,
Para libertar a alma,
Libertar os olhos,
Já cansados.

É hora…
É hoje…
É já!

terça-feira, setembro 05, 2006

A minha noite

Na minha noite,
Eu sou dono de mim,
E a escuridão é a minha companhia.

Na minha noite,
Com o manto da escuridão a cobrir-me,
Eu desperto os meus sentidos,
E consigo,
Com os olhos da minha mente,
Visualizar.

Visualizo situações,
Pessoas,
Vivências,
Medos e vontades,
As minhas imagens dos outros,
Os meus quereres que acontecessem,
Os meus não quereres que nunca ocorressem,
Os meus…

Nos meus olhos fechados,
Os meus dias repassam,
A minha existência,
De novo acontece,
E depois,
Com eles já abertos,
Constato a realidade,
Do estar ali,
Deitado,
E olhando o relógio,
Vejo que mais uma hora passou,
E eu,
Ainda não dormi.

E então vejo,
E então apercebo-me,
Que dormir não quero,
Por (talvez) saber,
Que depois de dormir,
Um novo dia começará,
Quando neste momento,
O que queria,
Era que ele parasse,
Para que assim,
Eu continuasse na minha noite,
A ver e rever,
Os meus momentos,
E desta forma,
Conseguir,
Que os meus não quereres aconteçam,
Que os meus medos,
Vençam as minhas vontades.

Hoje,
Uma vez mais,
A minha noite vai chegar,
E hoje,
Uma vez mais,
Sei,
Que não vou querer dormir,
E muito menos,
Acordar.

segunda-feira, setembro 04, 2006

Leva-me...

Leva-me,
Leva-me pela mão,
Num fim de tarde,
Até onde se avista o sol
A fundir-se com o mar,
Onde as ondas terminam
O seu constante ir e voltar,
Para que nas suas águas,
Eu possa diluir,
As do meu chorar.

Dá-me um abraço,
Num momento de instantes feito,
No meu silêncio ouve este lamento,
E com a força do teu alento,
Liberta-me desta dor,
Que de tal imensidão,
Já não me cabe no peito.

E quando a noite chegar,
Fica comigo a contemplar,
O céu e todas as suas estrelas,
Num completo manancial,
De pequenos brilhos sem igual,
E com a força do teu amar,
Desfaz-me este nó na garganta,
Que me prende o falar,
Que me impede de gritar,
E assim conseguir-me libertar,
Desta mágoa que me ocupa o pensar.

Leva-me,
Despe-me este peso que carrego,
Liberta-me a alma deste fardo,
E com o poder do teu afago,
Devolve-me a paz ao sentir,
Algo que já há tanto procuro,
E que desta vez,
Está a ser difícil conseguir.

Leva-me,
Leva-me para um lugar,
Onde tranquilos possamos estar,
E nos teus braços deixa-me ficar,
Falando apenas com o olhar,
Sentindo todo o teu amar,
E assim contigo,
Finalmente repousar.

Leva-me...
Leva-me contigo.

E no teu regresso,
Traz-me de volta!

quinta-feira, agosto 31, 2006

Hoje apetecia-me...

Hoje,
Apetecia-me voar,
Para fora de mim mesmo,
Libertar-me das amarras do meu ser,
Que me prendem à minha existência,
E ser outro alguém,
Num outro qualquer lugar,
Numa outra qualquer vida.

Se possível me fosse escolher,
Incorporaria o ser de uma baleia,
Que calma e lentamente,
Perscruta o fundo do oceano,
No seu mover,
Sem pressa,
Sem porquês nem razões,
Sem caminhos ou direcções.

Ou então,
O de uma águia,
Que lá do alto,
De onde nenhum outro pássaro chega,
Observa de forma distante,
Mas atenta e com pormenor,
Tudo o que a rodeia,
E que,
Escudada pela grande distância,
Que dos outros a separa,
Escolhe os rumos a seu bel-prazer,
Sem que nada a force,
A uma orientação,
Ou destino específico,
Aproveitando apenas,
Se assim o quiser,
O caminho dos ventos,
Que de uma forma leve e serena,
A fazem planar,
Sem esforço,
Lá no alto,
No cimo de si mesma.

Hoje...
Hoje Apetecia-me!

terça-feira, agosto 29, 2006

Regresso

Por vezes,
Vamos de férias.

Férias do trabalho,
Férias dos locais,
Férias do trânsito,
Férias dos hábitos,
Que no fundo,
Constituem a nossa rotina
E assim,
Conseguimos a fuga,
Ao nosso quotidiano.

No entanto,
As férias acarretam em si,
Também,
Férias das pessoas,
Dos rostos,
Das conversas,
Da convivência,
Com alguns,
Que nelas não nos acompanham,
E que muito prezamos,
E que com essas férias,
Se evidenciam,
Pela falta que deles sentimos,
Pelas saudades que eles nos deixam.

E no regresso,
O reencontro,
Caloroso,
Afável,
Lembra-nos o quão bom,
É estar com eles,
O quão bom é falar com eles,
O quão bom é tê-los,
“Do lado de lá”,
Ali,
Onde os deixamos,
Ali,
Onde agora,
De novo,
Os encontramos.

No regresso,
De sentimentos refeitos,
E alma limpa,
Revivem-se sentimentos,
Apaziguam-se saudades,
E no fundo,
Bem lá no fundo,
Começam-se já,
A desenvolver,
As saudades,
Das férias futuras.

Meus amigos,
Regressado de férias,
É bom,
Encontrar-vos a todos,
Resistentes,
Aqui reunidos,
Neste cantinho.

Beijo sentido para elas,
E abraço apertado a todos,
Um a um,
Individualmente!

sexta-feira, agosto 04, 2006

Férias



Caros amigos... durante as próximas 3 semanas, estarei de férias!
Por isso as minhas visitas não serão tão assíduas.

Não deixem no entanto na minha ausência, de fazer deste o "nosso cantinho", que da minha parte, de vez em quando, cá virei "dar uma espreitadela".

Um beijo e abraço a todos,
Vemo-nos "por aí"!

História de um Amor desencontrado

Nas memórias de um passado recente,
Encontrei-te, paixão que então não vira,
Delas te arranquei, fazendo-te presente,
Voltando para ti todo um querer,
Que com o tempo vi, que não expira.

Sobre ti investi o meu ser,
Despindo-me das minhas barreiras,
Entregando-me até mais não poder,
Ultrapassando todas as minhas fronteiras.

E com passar dos dias senti,
Nos ventos que do mar sopravam,
Um calor que em mim já ardia,
Mas que do teu coração,
E na minha direcção,
Simplesmente, não se reflectia.

E com toda a minha vontade,
Com uma força de dimensão tal,
Sobre ti sucessivamente investia,
De ti ansiando, por aquele sinal.

Mas o tempo foi passando,
E esse sinal foi tardando.

E apesar do cansaço,
Que de mim se foi apoderando,
Eu prosseguia e insistia,
Diversos caminhos calcorreando,
Numa vontade contínua,
Que até a mim surpreendia.

E a força do sentir dava-me alento,
Levando-me a apreciar cada momento,
De tudo quanto contigo eu vivia,
Tendo por certo que,
Ficar ao teu lado,
Era tudo o que eu mais queria.

Mas o tempo foi passando,
E o sinal foi tardando.

Até que,
Na surpresa de um momento,
Eu vi em ti, aquilo que eu sentia,
Mas que para meu descontento,
Não era para mim que reflectia.

E assim,
Quando o tempo passou,
O tão esperado sinal,
Sem qualquer significado ficou.

Agora,
No lento passar dos meus dias,
Vejo que de ti tive o que queria,
Mas que numa partida de vida,
Não teve a atenção merecida.

E agora que o tempo passou,
Eu não sei se a espera compensou,
Pois o meu coração não sossegou,
E o fogo que no meu peito ardia,
Na realidade apenas me consumia.

E sem que no meu sentir,
Se reflicta a calma da trégua,
Numa realidade que sendo só minha,
Por entre campos de névoa,
Todo o meu ser caminha,
Á procura de um raio de luz,
Nesta minha realidade,
Para a qual eu me transpus.

E aqui, no meu pensar,
Uma dúvida teima insistentemente em ficar,
Se agora sou eu,
Que quero e/ou devo,
Por ti continuar a esperar.

A resposta ainda não a sei,
No meu sentir ela não é clara,
Pois, ainda sinto os teus abraços,
Ainda deténs em mim espaços,
Que nunca atitude que em mim é rara,
Para ti os abri, em actos não escassos.

Mas no final de tudo isto,
Há algo que penso ficar,
Que para dizer em pleno “eu existo”,
Não devo voltar a adiar o amar!

quinta-feira, agosto 03, 2006

Estavas Sentado...

Para partilhar, especialmente contigo: Papoila.

Estavas sentado e havia uma paisagem agreste
nos teus olhos: as nuvens a prometerem chuva,
os espinheiros agitados com a erosão das dunas,
um mar picado, capaz de todos os naufrágios.

O teu silêncio fez estremecer subitamente a casa -
era a força do vento contra o corpo do navio; uma
miragem fatal da tempestade; e o medo da tragédia;
a ameaça surda de um trovão que resgatasse a ira
dos deuses com o mundo. Quando te levantaste,

disseste qualquer coisa muito breve que me feriu
de morte como a lâmina de um punhal acabado
de comprar. (Se trovejasse, podia ser um raio
a fracturar a falésia no espelho dos meus olhos.)

Hoje, porém, já não sei que palavras foram essas -
de um temporal assim recordam-se sobretudo os despojos
que as ondas espalham de madrugada pelas praias.


(Maria do Rosário Pedreira)

quinta-feira, julho 27, 2006

Sombra

Aqui mesmo ao lado de mim,
Está uma sombra.

É uma sombra,
Que me acompanha,
Desde que tenho memória.

Muito escura,
Muito densa,
Muito absorvente.
Difícil de ver qualquer coisa lá dentro.

Embora a sinta ao meu lado,
Embora saiba que ela está ali,
Sempre,
Vigilante,
Raramente olho para ela,
Procuro,
Não me tentar a fazê-lo.

Por vezes,
Com o cair da luz,
Ela cresce,
E parece que só ela existe,
De tão grande que se torna,
Por se fundir com a noite.

Outras vezes,
Com todo o resplendor,
Que a luz é capaz de ter,
Ela fica pequenina,
Quase imperceptível,
Mas,
Não deixa de estar ali,
Não deixa de existir.

Qual planeta,
Ela tem uma força gravitacional,
Que com o cair da luz,
Também ela,
Ganha força.

Por vezes,
Não sei se é a sombra que cresce,
Ou o poder de atracção que aumenta.

Por vezes,
Não tenho vontade de olhar para o outro lado,
Não tenho vontade de lhe fugir,
Apetece-me até,
Nela entrar,
E deixar-me levar,
Até à maior das profundezas,
Que ela conseguir.

E eu sei,
Que ela é como um buraco negro,
Que absorve toda a luz,
E que uma vez lá dentro,
É muito difícil sair.

Do seu interior,
Dificilmente se avista,
O que se passa lá fora.
No seu interior,
Toda a nossa luz,
Toda a nossa vontade,
Todo o nosso querer,
É por ela consumido,
Chegando mesmo,
A tornar-nos fantoches,
Fazendo-nos agir,
E até pensar,
Ao gosto dos seus caprichos.

Essa sombra,
Que eu tão bem conheço,
Não é,
Nem nunca foi minha amiga,
Mas,
Qual amigo que se preze,
Está sempre lá,
Ao meu lado,
Não para me apoiar,
Mas para de mim,
Se aproveitar.

E é incrível,
Como somos capazes,
De,
Por palavras,
Actos,
Ou omissões,
Afastar de nós,
Até os nossos melhores amigos,
Mas a sombra…
A sombra, não!

De onde provém,
A força,
A perseverança,
Que a sombra tem,
Para connosco,
E que nós muitas vezes,
Não conseguimos ter,
Para com os outros?

Qual o segredo dela?
Qual o alimento,
Que permite a sua subsistência?

Eu penso que a resposta,
Está em nós próprios.
O motivo da sua existência,
Está no nosso interior,
Porque ela sabe,
Ela sabe tão bem,
Que mais cedo ou mais tarde,
Para ela vamos olhar,
Com vontade de nela entrar,
E muitas das vezes,
Dela não mais,
Querer sair.

E o que penso,
Constituir o seu verdadeiro alimento,
É a nossa fraqueza!
A fraqueza que todos nós,
Temos guardada no nosso íntimo,
E que de forma infalível,
Mais tarde ou mais cedo,
De uma forma ou de outra,
Por um motivo ou por outro,
Acaba por se elevar em nós,
Superando,
Todas as nossas vontades,
Todos os outros sentires,
E fazendo com que nós,
Não só olhemos para a sombra,
Mas desenvolvamos em nós,
Uma vontade crescente,
De nela entrar.

Porque é assim com a sombra,
E não o é com a luz?
Porque será ela tão mais forte?

Depois de algum pensar,
Concluo que o seu segredo,
Reside no facto de ser,
Muito mais fácil cair,
Do que levantar!

segunda-feira, julho 24, 2006

Tudo e Nada

Há um tudo e um nada,
Que nos deixa à deriva,
Por entre um mar de sentimentos,
Difusos,
Por vezes confusos,
Até contraditórios,
Mas para alguns,
Só para alguns,
Plenos.

Tão plenos,
Com um preenchimento de ser,
Que,
Não sendo tudo,
Também não deixa que seja o nada,
Completando-nos como ser vivo,
Pensante,
Que age,
Que sente,
Que tem quereres,
Que por vezes,
Vão muito além dos poderes,
Sendo que isso,
Constitui,
O tudo de um querer,
Mesmo sabendo,
Equivaler,
Muitas vezes,
A um nada de um poder.

E neste “jogo”,
Não poucas vezes,
Cruzamo-nos com outros,
Sendo que alguns,
Mesmo não sabendo,
São por nós,
Constituídos jogadores,
Ficando eles,
Equipa ou adversários,
Conforme,
A ala do campo
Em que se encontram.

E por vezes,
Este jogo torna-se perigoso,
Até mesmo agressivo,
E desgastante,
Chegando mesmo a ser,
Corrosivo do “Ser”.

E então,
Torna-se necessário,
Procurar quem arbitre,
Quem julgue em “causa alheia”,
Que nos imponha as regras,
Que por muito que delas,
Tenhamos conhecimento,
Por não poder,
Por não querer,
Teimamos em não obedecer.

E assim,
Com este recurso a “terceiros”,
Consegue-se como que
Um equilíbrio,
Que não sendo perfeito,
Por vezes ténue até,
Nos mostra,
Que não é possível,
O tudo,
Sem o nada.

Não é possível querer tudo,
Não dando nada,
Nem é possível,
Não querer nada,
Dando tudo.

E nesta dicotomia de “sentidos”,
Estabelecem-se fluxos de relações,
Com “deves” e “haveres”,
Que colocados numa balança de dois pratos,
Têm cada um deles,
O seu “peso relativo”.

Mas esse peso,
Esse peso é quase sempre viciado,
Quer pelo querer,
Quer pelo sentir,
E quando olhamos,
Do “nosso” lado da balança,
Raramente conseguimos ver,
Os verdadeiros pesos de cada prato,
Pois acrescentamos pesos extras,
Ao prato que,
Nos possibilita obter,
O objecto do nosso tudo querer.

E assim,
Gera-se o conflito,
Entre o querer ter,
E o querer dar,
Sendo que,
Não se tratando,
Do tudo
E do nada,
No final,
Muitas das vezes,
É nesta dicotomia,
Que uma vez mais,
Acabamos por cair.

E nesta posição,
Que uma vez estabelecida,
Torna-se difícil de contornar,
Tornamo-nos fracos,
Escravos de um querer,
Que pelo seu preenchimento do ser,
A outra parte não nos permite ver,
Fazendo com que,
Os pesos extras
Continuem a aumentar,
E com isto,
Os conflitos alimentar,
E no final,
A ruptura,
Inevitável se tornar.

Mas…

Quem são os outros jogadores?
Com que direito,
Os incluímos no “nosso jogo”,
Para no final,
Acabarmos por os lesionar?

Com que vontades,
Entraram eles no nosso jogo?

Ou será,
Que no final de contas,
Sem que de tal nos apercebêssemos,
Não estávamos a jogar o nosso jogo,
Mas sim o deles?

E sendo assim,
Com que direito,
Nos incluiu ele no seu jogo,
Para no final,
Tanto nos magoar?

E desta forma,
Deste “lado de cá”,
Consoante o prisma com que olhamos
Para um mesmo jogo,
Ele assume características
Completamente diferentes.

E no entanto,
O que eu penso ser,
Verdadeiramente importante,
É que cada um de nós,
Tenha a consciência de que,
No jogo da vida,
Cada um de nós,
É simultaneamente,
Caça e caçador,
Apenas derivando,
No plano,
Sobre o qual fazemos a análise.

E sabendo,
Que como caçadores,
Queremos tudo,
E como caça,
Queremos nada,
O que será mais válido?

O tudo do caçador,
Ou,
O nada da caça?

E o “estranho”,
No meio desta reflexão,
É que assumo a plena consciência,
Que a maioria do tempo,
Preferindo ser
E até agindo como caça,
Na maioria do tempo,
Sou caçador!

E sendo assim,
Mediante esta minha constatação,
A todas as minhas “vítimas”,
Deixo aqui o meu pedido de perdão,
E a todos os meus caçadores,
O desejo de boa sorte,
Porque no fundo,
Eu sei,
Que dela,
Bem vão necessitar!

quarta-feira, julho 19, 2006

A nossa "história"

Todos nós temos a “nossa história”.

Alguns com uns caminhos mais ardilosos do que outros,
Com mais passagens do que outros,
Mas todos a temos.

Essas histórias,
Têm em comum uma coisa:
Não são vividas sozinhas.
Existem sempre “mais personagens”.

Só que o papel que essas personagens (incluindo nós próprios) desempenham,
Não está pré-escrito.
É “livre”,
Tendo todos a hipótese de
Optar por quais os caminhos que quer seguir.

Por vezes,
Essa hipótese de opção,
Não está visivel a olho nú.

E por isso,
eu penso que dos maiores desafios de vida
Fazem parte:
- Vislumbrar as opções,
- Saber (com coragem) optar,
- Assumir de forma frontal as nossas opções!

sexta-feira, julho 14, 2006

Neste espaço...

Neste espaço,
Onde parte do meu ser coabita,
O tempo tem outra medida,
O espaço outra dimensão,
E eu expando-me…

Expando o meu ser,
Em forma de pensamento escrito,
E vou vagueando,
Ao sabor das palavras,
Deixando-me por elas levar,
Sabendo bem o começar,
Mas muitas das vezes,
Sem conhecer o acabar.

É uma ideia que se forma,
Que na base das palavras ganha corpo,
Com o correr da pena vai evoluindo,
Terminando na forma de uma reflexão,
Que para o mundo não tem “rosto”,
Mas na qual,
Parte do meu ser é assim “exposto”.

No processo,
Passo por corpos,
Mentes e conceitos,
Pensares e Sentires,
Que se complementam,
E juntos,
Acabam por formar,
Mais um produto
Do meu pensar.

Para que serve?
Com que propósito o faço?
O que com isto consigo?

(não poucas vezes mo questionaram)

Por vezes,
Uma plenitude de satisfação
Complementada com “outros pensares”;

Outras vezes,
Uma satisfação mais solitária,
Pelas interpretações difusas,
Que do meu escrever fazem,
Constituindo também isto em si,
Um interesse,
De observar
E constatar.

Como seres diferentes,
Interpretam de forma diferente,
Um mesmo pensar.

Como seres diferentes,
Incorporam de múltiplas formas,
Um mesmo sentir.

E desta diversidade,
Surge a satisfação de uma partilha,
Que pela sua multiplicidade,
Consegue criar um todo,
Pleno de ideias,
Pontos de vista,
Por vezes até díspares,
Mas que no fundo,
No fundo,
Têm uma mesma base,
Sedeada,
Num meu sentir,
Num meu pensar,
Num meu estar.

E grande parte das vezes,
Como que de uma plenitude tomado,
O “meu” torna-se “nosso”,
Por força da participação,
De todos quantos me queiram acompanhar,
De forma mais ou menos compassada,
Nesta imensa sinfonia,
Que resulta de um pensar.

E o pensar já não é mais “meu”,
E o sentir torna-se comum,
E este espaço,
Onde parte do meu ser coabita,
Transforma-se,
Num albergue de almas,
Que por gostarem de falar,
Pensar, Sentir, Reflectir,
Nele acabam por ficar,
E que com o seu “simples” comentar,
No deles também,
Acaba por se transformar.

Neste espaço,
Onde parte do meu ser coabita,
As palavras,
Deixam de “ser tudo”,
E no final,
Do escrever e do pensar,
É no fundo um sentir,
O que acaba por ficar!

E é por isso,
Talvez por isso,
Que parte do meu ser,
Neste espaço,
Tanto goste de estar,
E nele acabe,
Em si mesmo por ficar,
Neste pequeno canto,
A coabitar.

quarta-feira, julho 12, 2006

Uma noite destas

Uma noite destas,
Eu quero contigo,
Saborear o mundo!

Uma noite destas,
Eu quero contigo,
Inalar bem fundo,
Todos os odores da vida!

Uma noite destas,
Eu quero contigo,
Relaxar num banho quente,
Reconfortante de alma!

Uma noite destas,
Eu quero contigo,
Salpicar o nosso amor,
Com pétalas de rosa!

Uma noite destas,
Eu quero contigo,
Dançar ao ritmo,
Das chamas de 1000 velas!

Uma noite destas,
Eu quero contigo,
Sentir todo o calor,
Concentrado nos nossos corações!

Uma noite destas,
Eu quero contigo,
Libertar os nossos corpos,
Ao ritmo da dança,
Dos nossos desejos!

Uma noite destas,
Eu quero contigo,
Sentir tudo,
Ouvir tudo,
Inalar tudo,
Dar e receber tudo!

Uma noite destas,
Foi ontem!
E dela,
Guardo belas “imagens”,
Do nosso Amor!


























1 Amor, 20 Anos!
Que venham mais 20!

segunda-feira, julho 10, 2006

Passeio

Passeio pela minha vida,
Com vista sobre mim mesmo,
Tentando-me ver,
Como que através de um prisma,
Que separe,
Não as diferentes cores de uma luz
Que sobre mim incida,
Mas que sim,
As diferentes partes do meu ser,
Do meu pensar,
Do meu agir,
Do meu estar.

E com isto,
Tento com o mínimo de ruído possível,
Vislumbrar os porquês de mim,
Captar a essência do meu ser,
Que dão corpo e vida,
A este que sou eu,
Que passeia,
Assim,
Pela vida.

Nos caminhos da minha vida,
Já me deparei com diversos buracos,
Que não estando sinalizados,
Neles caí completamente desamparado,
Sendo que,
Uma vez lá em baixo,
Bem em baixo,
Tão em baixo,
As barreiras que se erguiam sobre mim,
Eram demasiado altas para as minhas capacidades,
Eram demasiado altas para as minhas forças.

Então,
Tive que desenvolver características
E habilidades,
Para que,
No imediato,
Fosse capaz de as transpor,
E num futuro,
Fosse capaz de,
Identificar os buracos desta vida,
Por forma a,
Se não conseguir evitar cair neles,
Pelo menos,
Não o fizesse de forma tão desamparada.

E então,
Descobri,
Que por vezes,
O que importa,
Não é o tamanho da queda,
Mas como se cai,
E principalmente,
De onde se cai.

A origem da queda,
Muitas vezes é tudo!
Sendo que esse tudo,
Pode tornar a queda,
A mesma queda,
Mais ou menos prolongada,
Mais ou menos penosa,
Mais ou menos grave.

Tenho para mim,
Que as quedas,
São como que um processo evolutivo,
Que nos dá ensinamentos de vida,
E que no fundo,
Proporciona-nos,
Por vezes durante o acto da queda em si mesma,
As ferramentas necessárias,
Para a recuperação,
Quer dessa,
Quer de outras quedas futuras.

E então,
Como que descobri,
Que o importante por vezes,
Não será tanto o evitar a queda,
Mas sim,
Saber cair,
Saber levantar,
E sobretudo,
Saber continuar,
Mesmo sabendo,
Que outras quedas virão,
Que outras nódoas negras surgirão,
Mas que nós,
Estaremos prontos para as enfrentar,
Com a consciência de que,
Estaremos sempre a deparar-nos,
Com novos tipos de capacidades,
Necessárias desenvolver,
A par com a convicção de,
Com as “ferramentas” certas,
Sermos capazes de as desenvolver,
E mantê-las em nós,
Guardadas na nossa “mala”,
Para quando delas voltarmos a precisar.

Hoje,
Continuo a passear pela vida,

Mas hoje,
Principalmente a partir de hoje,

Sem medo de,
Voltar a cair!

quinta-feira, julho 06, 2006

Deixa-me ficar...

Deixa-me ficar,
Nesse teu canto,
Só um momento…
Só por enquanto.

Deixa-me ficar,
Nesse teu canto,
Não procures razões,
Dá-me um pouco do teu encanto.

Deixa-me ficar,
Nesse teu canto,
Que neste momento a noite,
Cobre-me com o seu manto.

Deixa-me ficar,
Nesse teu canto,
Que a dor lá fora é muita,
E magoa-me tanto.

Deixa-me ficar,
Nesse teu canto,
Não to peço para sempre,
Só por enquanto!

...//...

Se é neste meu canto,
Que tu queres ficar,
Anda, entra,
Podes-te instalar.

Se é neste meu canto,
Que tu queres ficar,
Não perguntarei porquê,
Podes ficar.

Se é neste meu canto,
Que tu queres ficar,
Mantém-te nele,
Até o teu sol brilhar.

Se é neste meu canto,
Que tu queres ficar,
Nele fica confortável,
Até a dor passar.

Se é neste meu canto,
Que tu queres ficar,
És muito bem-vindo,
Se nele te apetecer
Ficar a morar!

quarta-feira, julho 05, 2006

Dias de Silêncio

Em dias de silêncio,
Fala-nos a alma!

Enceta connosco um diálogo surdo,
E leva-nos pela mão,
Pelo mundo dos sentimentos,
Das lembranças,
Das promessas perdidas,
Das emoções revividas,
Dos seres que mesmo ausentes
Estão (e estarão) sempre presentes,
Dos amores que nos preenchem
E nos tornam os dias mais azuis,
Dos dissabores de um passado
Já não sentido mas lembrado,
Do “nós” que fomos,
Do “nós” que gostaríamos de ter sido,
Dos projectos realizados
E dos que ficaram pelo caminho,
Da inocência e timidez da nossa infância,
Dos dias de glória da adolescência,
Das frustrações das ausências,
Das gratificações dos actos,
Do sentimento de tudo poder,
Da constatação das limitações,
Dos esforços excedidos,
Dos erros cometidos,
Dos testares dos limites,
Dos “rebentar da corda”,
Dos bons e dos maus com que cruzamos,
Da perseguição do óptimo
Quando já dispúnhamos do bom,
Do ficar insatisfeito com o razoável,
Do tanto querer e não poder,
Do poder e já não querer,
Das vontades de um acabar,
Das ânsias de um recomeçar,
Dos dias intermináveis,
Das noites infindáveis,
Dos calores de alguns abraços,
Da frieza de alguns olhares e falas,
Das opiniões obsoletas,
Da falta de vontade de ter opinião,
Das dúvidas da timidez,
Do querer que o tempo passe
E a vontade que um momento perdure,

Tempos de tudo,
Passado,

Vontades de nada,
Presente.

Em dias de silêncio!

terça-feira, julho 04, 2006

Pensar

Uma grande parte do meu tempo,
Dou comigo a pensar.
Grande parte do tempo,
Penso de uma forma consciente,
Mas,
Com a força do hábito do pensar,
De forma subconsciente também.

Consciente que estamos
Permanentemente focados no pormenor,
Reflicto sobre o “todo”.
Amplio os horizontes do pensamento
Até ao máximo que me é possível,
Abrangendo passado e presente,
E tentando levantar o véu do futuro.

E penso por mim,
Penso com o meu “eu”,
Mas penso também com outros “eus”
Com que me cruzo,
Que fazem parte dos meus dias.

Penso muito,
Penso sobre tudo,
Mas não repenso!

Repensar,
Magoa, corrói,
Tira-nos a cor dos dias,
O sabor dos ventos,
Os sons dos sentimentos.

Penso,
Analiso,
Tiro as minhas “conclusões”,
E arrumo os assuntos.

De uma forma lógica,
Os assuntos ficam resolvidos.
De uma forma sentimental,
O tempo,
Encarrega-se de os arrumar.

Só que por vezes,
Muitas vezes,
Demora tanto tempo…
E com isso,
Sofro tanto…

Mas sofro,
De forma consciente,
E sabendo que,
Tenho conhecimento,
Da realidade dos factos
E não uma ilusão egocêntrica,
Sobre a realidade.

A todos,
Dou o melhor de mim.

A todos,
Desejo o melhor que possam,
Da vida obter.

E assim,
Com este meu pensar e estar,
Consigo inclusive sentir,
Que faço alguma diferença.
E isso,
Complementa-me,
Alimenta-me o ego,
E cria em mim a vontade,
De dizer àqueles cujo sorriso fugiu,
Que estou aqui!
Com os braços, coração e alma abertos,
Para com sinceridade, honestidade e prazer,
Os ajudar,
Também a eles a pensar,
E se possível superar,
O momento cinzento,
Que paira no ar,
Que não os deixa o sol vislumbrar,
Que para baixo
Insiste em lhes desviar o olhar,
E até por vezes,
De si,
Deixar de gostar.

Penso…
E gosto de pensar…

Penso…
E assim…
Quero continuar!

segunda-feira, julho 03, 2006

Altruísmo

Podemos nós ser felizes
pela simples e humilde
dedicação ao nosso semelhante?

Podemos nós ser felizes quando,
nessa dedicação,
nos despimos do nosso próprio interesse
e mesmo do instinto de
pensarmos sempre primeiro na nossa pessoa?

Podemos nós ser felizes,
assim “rendidos” a outro,
canalizando todos os nossos esforços
no contributo à outra felicidade?

E onde fica o EU, então?

… talvez,
num olhar e num sorriso de alegria,
na contemplação do bem estar
daquele(s) que dão ao EU
o privilégio
de ser um ponto de referência,
de apoio,
de sustento.

A dádiva de dar sem esperar receber.

(Andarilhus)

sexta-feira, junho 30, 2006

Fico até Adormeceres

Será isto é amizade ou amor?


Fico até Adormeceres
(Paulo Gonzo)

Se quiseres,
Até nem falo,
Ouço só o que disseres,
Vem deitar-te no meu colo,
E diz tudo o que quiseres,
Fico até adormeceres.

Se quiseres,
Mando calar,
O vento que vem do mar,
Rasgando a noite crua,
Ou então,
Se preferires,
Só para te distraíres,
Eu faço dançar a lua.

Fico até adormeceres,
Fico enquanto tu quiseres.
Fecha os olhos se quiseres,
Só até adormeceres.

Deita fora,
As tuas penas,
Pela janela para o rio,
Se quiseres
Eu fico apenas,
Até ver se tu serenas,
A proteger-te do frio.

Fecha os olhos se quiseres,
Que hoje tudo o que disseres,
Nunca sairá daqui.

quarta-feira, junho 28, 2006

Procura-se um Amigo...

Porque por vezes, procuramos algo mais, quando muitas vezes, "apenas isto" chegava.

Procura-se um Amigo...

Não precisa ser homem,
Basta ser humano,
Basta ter sentimentos,
Basta ter coração.

Precisa saber falar e calar,
Sobretudo saber ouvir.

Tem que gostar de poesia,
De madrugada,
De animais,
De sol,
Da lua,
Do canto,
Dos ventos e das canções da brisa.

Deve ter amor,
Um grande amor por alguém,
Ou então,
Sentir falta de não ter esse amor.

Deve amar o próximo
E respeitar a dor
Que os passantes levam consigo.

Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja em primeira mão,
Nem é imprescindível que seja em segunda mão.
Pode já ter sido enganado,
Pois todos os amigos são enganados.

Não é preciso que seja puro,
Nem que seja todo impuro,
Mas não deve ser vulgar.

Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e,
No caso de assim não ser,
Deve sentir o grande vácuo que isso deixa.

Tem que ter ressonâncias humanas,
O seu principal objectivo deve ser o de amigo.

Deve sentir pena das pessoas tristes
E compreender o imenso vazio dos solitários.
Deve gostar de crianças
E lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo
Para gostar dos mesmos gostos,
Que se comova,
Quando chamado de amigo.

Que saiba conversar de coisas simples,
De orvalhos,
De grandes chuvas
Das recordações de infância.

Precisa-se de um amigo
Para não se enlouquecer,
Para contar o que se viu
De belo e triste durante o dia,
Dos anseios e das realizações,
Dos sonhos e da realidade.

Deve gostar de ruas desertas,
De poças de água
De caminhos molhados,
Da beira de estrada,
Do cheiro depois da chuva,
De se deitar na relva.

Precisa-se de um amigo
Que diga que vale a pena viver,
Não porque a vida é bela,
Mas porque já se tem um amigo.

Precisa-se de um amigo
Para se parar de chorar.
Para não se viver debruçado no passado
Em busca de memórias perdidas.
Que nos bata nos ombros
Sorrindo ou chorando,
Mas que nos chame de amigo,
Para ter-se a consciência
De que ainda se vive.

(Vinícios de Moraes)

terça-feira, junho 27, 2006

Não quero viver assim!

Será que vale a pena viver a qualquer custo?

A minha resposta a isto é um redondo NÃO!

Eu não quero viver, se por força de uma doença ou de um acidente, ficar incapacitado das minhas faculdades mentais, que me possam dar autonomia para o meu dia-a-dia, para poder gerir a minha vida.

Eu não quero viver, se não tiver possibilidade de ter autonomia (de qualquer forma, mesmo que não seja a natural) para realizar as minhas necessidades básicas, desde as de locomoção até as mais elementares.

Acredito que a vida deve ser vivida na sua plenitude, sem obstáculos que nos levem a necessitar de terceiros para que ela possa ser vivida.

Assim, desculpem-me as pessoas que amo, não julguem que não penso também em vocês ao ter este profundo desejo. Quero que se lembrem de mim como a pessoa que sou, e não como um “estorvo” ou “incómodo” que nunca quis, nem quero de todo alguma vez vir a ser.

Assim, não hajam sequer dúvidas se, por uma hipótese alguma vez se colocar a questão da eutanásia com a minha pessoa. Eutanásia SIM, comigo pelo menos, SIM!

Na mesma linha, não quero ser enterrado num qualquer campo de mágoas e lamúrias a que denominamos de cemitério.
Não quero que os meus queridos sofram para além da minha morte.
Não quero que os meus queridos tenham obrigações macabras, de visitas programadas à mágoa e à tristeza.

Lembrem-se sempre da minha alegria de viver,
Lembrem-se sempre do quanto eu amo a vida na sua plenitude,
Lembrem-se sempre do quanto eu vos amo,
Lembrem-se sempre do meu desejo profundo e convicto:

Quero ser cremado e as minhas cinzas lançadas ao meu segundo habitat: o mar.

quarta-feira, junho 21, 2006

Quase...

Este texto, não sendo meu, poderia muito bem sê-lo.
Por isso, aqui fica para vocês.


Quase…

Ainda pior que a convicção do não,
E a incerteza do talvez,
É a desilusão de um quase.

É o quase que me incomoda,
Que me entristece,
Que me mata trazendo tudo
Que poderia ter sido e não foi...

Quem quase ganhou ainda joga,
Quem quase passou ainda estuda,
Quem quase morreu está vivo,
Quem quase amou não amou.

Basta pensar nas oportunidades
Que escaparam pelos dedos,
Nas hipóteses que se perdem por medo,
Nas ideias que nunca sairão do papel
Por essa maldita mania de viver no Outono…

Pergunto-me, às vezes,
O que nos leva a escolher uma vida morna...

A resposta eu sei de cor,
Está estampada na distância
E frieza dos sorrisos,
Na frouxidão dos abraços,
Na indiferença dos "Bom dia"
Quase que sussurrados…

Sobra covardia
E falta coragem até para ser feliz!

A paixão queima,
O amor enlouquece,
O desejo trai...

Talvez esses fossem
Bons motivos
Para me decidir
Entre a alegria e a dor…

Se a virtude estivesse mesmo no meio termo,
O mar não teria ondas,
Os dias seriam nublados
E o arco-íris em tons de cinza…

O “nada” não ilumina,
Não inspira,
Não aflige nem acalma,
Apenas amplia o vazio
Que cada um traz dentro de si...

Não é que fé mova montanhas,
Nem que todas as estrelas estejam ao alcance,
Para as coisas que não podem ser mudadas
Resta-nos somente paciência,
Mas,
Preferir a derrota prévia
À dúvida da vitória
É desperdiçar a oportunidade de merecer…

Para os erros…
Há perdão,
Para os fracassos…
Tentativa,
Para os amores…
Tempo.

De nada adianta
Cercar um coração vazio
Ou economizar a alma.

Um amor
Cujo fim é instantâneo ou indolor
Não é amor...

Não deixes que a saudade sufoque,
Que a rotina se acomode,
Que o medo impeça de tentares...

Desconfia do destino e acredita em ti…

Gasta mais horas
A realizar do que a sonhar,
A fazer do que a planear,
A viver do que a esperar…

… embora,
Quem quase morre esteja vivo,
Quem quase vive já morreu.

terça-feira, junho 20, 2006

Aprender

Encontrei este texto por acaso enquanto procurava por outras coisas. Está muito bom. Partilho das suas ideias e por isso, partilho-o convosco.

Aprender ...

"Depois de algum tempo aprendes a diferença, a subtil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma.
E aprendes que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança.
E começas a aprender que beijos não são contratos, presentes não são promessas
E não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai ferir-te de vez em quando e precisas perdoá-la por isso.
Aprendes que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobres que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que podes fazer coisas num instante, das quais te arrependerás pelo resto da vida.
Aprendes que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias.
E o que importa não é o que tu tens na vida, mas quem tens na vida.
Descobres que as pessoas com quem mais te importas na vida, são tiradas de ti muito depressa; por isso, sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas; pode ser a última vez que as vemos.
Aprendes que paciência requer muita prática.
Aprendes que quando estás com raiva tens o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de seres cruel.
Aprendes que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém.
Algumas vezes, tens que aprender a perdoar-te a ti mesmo.
Aprendes que com a mesma severidade com que julgas, tu serás em, algum momento, condenado.
Aprendes que não importa em quantos pedaços o teu coração foi partido, o mundo não pára para que o consertes.
E, finalmente, aprendes que o tempo, não é algo que possa voltar para trás.

PORTANTO, planta o teu jardim e decora a tua alma, ao invés de esperares que alguém te traga flores...
E percebes que realmente podes suportar...
que realmente és forte, e que podes ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.
E que realmente a vida tem valor, e que tu tens valor diante da vida!
E só nos faz perder o bem que poderíamos conquistar, o medo de tentar!"

segunda-feira, junho 19, 2006

Assim !

Plenitude de um sentimento único,
Que gosto de sentir;
Que gosto que sintas!

Sintas este sentimento,
Com a intensidade de um invisível fogo de luz,
Que ilumine em complemento,
A tua alma;
O teu coração;
O teu ser;
A tua vida!

Sentir a tua presença,
Em toda a intensidade e extensão do momento,
Como uma ponte para uma vida feliz,
Está no meu dia,
Como o prazer de viver o próprio dia,
Com toda a minha força,
De pensamento e de vida.

Estar perante o teu rosto,
Ouvir o teu olhar,
Tocar o teu sorriso,
São coisas que me fazem acreditar,
Sonhar com o momento presente,
E olhar-te,
E afastar-me contigo,
Do momento;
Do dia;
Do século.

Sou intensidade extensiva do meu Eu;
Do nosso Eu!,
E como tudo,
Que durante um sonho acordado no imaginário,
Presenciei,
Vejo em ti,
O encontro com a vista sobre o horizonte,
Com um céu de nuvens dispersas,
E sol brilhante.

Tenho-te em mim,
E gosto de te ter!
Gosto de ti,
E gosto desse gostar!
Tenho-te perto de mim,
E tudo o que quero é saber olhar-te,
Saber falar-te,
Saber ter-te presente,
Como forma de conseguir a tua presença!

Com os meus sentidos e pensamento,
Consigo a tua presença na distância,
Consigo encontrar-te na solidão,
De um entardecer de multidão,
No espelhar de mim,
No reflexo da minha própria expressão,
Física e psicológica!

E no âmbito desta nossa relação,
Desejo a tua cada vez mais presença,
No meu dia a dia;
No meu ser;
No meu viver!
Pois isso me agrada,
E me dá um profundo prazer,
No teu existir no meu ser!

terça-feira, junho 13, 2006

Voo do meu Sentir

No lúgrube do meu ser,
Uma luz nasceu!
Atingido pelo foco do teu beijo,
O meu ser despertou numa ânsia de vida,
Numa ânsia de amor,
Amor verdadeiro,
Amor puro,
O teu amor!

Olhando o teu rosto,
Sinto uma brisa de pensamento,
Que me varre o coração,
Aquece o sentimento,
Acende o desejo,
Me mostra,
E que tenta dizer-te,
Que o querer é mais do que o poder,
E que o desejar é mais do que o fazer,
Mas que no entanto,
No interior de ti,
Encontro a profundeza de mim,
No calor de ti,
O amor de mim,
No amor de ti,
O amar de mim!

No desejo da tua vida,
O meu ser tenta ser muito mais,
Tenta alcançar muito mais longe,
Tenta dizer-te o tudo de um amor,
Tenta fazer-me sentir o todo de um amar,
Tenta mostrar-te as ondas do meu calmo mar,
Que ao sabor da tua corrente vive,
Que nas ondas do teu pensamento coloca o seu barco,
E que no balançar do teu desejo vai à deriva,
Tentando,
Encontrar o olhar,
Remar ao sabor da tua maré,
Remar à harmonia do teu ser mar,
À calma do meu ser porto,
Ao cais do meu ser pensamento,
Perante o imenso do teu ser amor!

E como uma gaivota,
Voar livre pelo teu céu ser,
De encontro à tua montanha mulher,
Do teu verde campo sentimento,
Do teu lago pensamento,
Num esvoaçar leve de um amar,
Com todo o peso de um gostar,
Em que todas as penas encontram um para sempre voar,
Num teu ser sempre nela existir,
Para que o voar possa nunca findar,
E no teu ser repercutir,
Todo o voo do meu sentir!

sexta-feira, junho 09, 2006

Acidentes interiores

Por vezes,
Batemos de frente contra nós.

Tentamos desviar,
Tentamos contornar,
Tentamos travar,
Tentamos inclusive,
Dar a volta para trás,
Mas é inevitável:
Batemos de frente contra nós.

E nesse embate,
Sofremos,
Despedaçamo-nos,
E no final,
No calor do momento,
No sentir das consequências,
Decidimos que,
Não voltaremos a fazer o caminho
Que nos levou até ali.

Mais tarde,
Porque nos esquecemos,
Porque não temos vontade,
Porque não temos força,
Batemos de novo.

E de que serviram os embates anteriores?
O que vimos com eles?
O que aprendemos com eles?

Que bater é bom?
Que gostamos?
Que de alguma forma nos torna,
Pessoas melhores?

Não!

Então porque teimamos em embater de novo?
Porque nos deixamos levar por isso?
Porque não reconhecemos os sinais,
E se os reconhecemos,
Porque não os acatamos?

Não faz sentido, pois não?
Todos sabemos que não,
Todos temos caminhos alternativos,
Todos sabemos que eles existem,
Nem que isso implique,
Subir ao topo de nós próprios,
Num esforço tremendo, Impar,
Nem que isso implique,
Ter de voltar atrás, ao início,
E recomeçar de novo.

Mas muitas vezes,
Muitas vezes,
Insistimos em voltar a percorrer,
Caminhos antigos,
Caminhos maus,
Com um destino certo,
Indesejável,
Mas que nós,
Por inércia,
Por falta de vontade,
Por comodismo,
Por saudosismo até, se calhar,
Percorremo-los de novo,
Para no final,
Nos lamentarmos com o novo embate,
Ficarmos com pena de nós próprios,
Com a legitimidade de quem,
Foi surpreendido por ele,
Com a legitimidade de quem,
Não sabia que iria ocorrer,
E por isso,
Nada podia ter feito para o evitar.

Acordemos!

Façamos com que,
O sentimento de “pena de nós próprios”,
Seja sobreposto,
De forma soberana,
Com o nosso “orgulho próprio”,
E digamos alto e bom som:

“EU QUERO O QUE É MELHOR PARA MIM,
E COMO TAL,
VOU FAZER POR ISSO!”

quarta-feira, junho 07, 2006

Depressão

Na vida,
Há uma altura em praticamente todos,
Nos queremos esconder,
Nos queremos refugiar,
Na busca da paz do momento,
Porque as cores são demasiado fechadas,
Porque as horas são demasiado pesadas,
Porque a vida,
Parece ter-nos escolhido como alvo,
E a nós,
Resta-nos a vontade de baixar os braços,
Cansados da jornada,
E sem forças,
Nem vontade,
Para intentar um só gesto,
Para contrariar o que parece,
Ser um rumo único,
Escolhido por todas as coisas,
Todas as situações,
Pelo mundo!

E o que fazemos
Nesses momentos?

Alguns de nós,
Deixam-se levar,
Serem como que inundados
Por uma onda de tristeza,
Contendo em si mesma,
Uma mescla de dor,
Revolta,
Desilusão,
E até mesmo,
Derrotismo.

Alguns de nós,
Deixam-se levar até a um extremo,
Em que a tristeza se transforma,
De um estado momentâneo,
Em permanente,
E por vezes,
Por vezes,
O próprio não é suficiente
Para vencer esse estado,
E a ajuda externa,
Passa de desejável a necessária,
Até mesmo,
Imprescindível.

O que leva a que alguns,
Atinjam esses extremos?

O que leva a que alguns,
Não consigam vencer esse estado,
Antes de atingirem esse extremo?

Onde é que todos os outros,
Ou seja,
Nós,
Falhamos?

segunda-feira, junho 05, 2006

Palavras

Quando li o comentário de hoje da Flôr, lembrei-me desta música.
Aqui fica para todos um excerto da letra de uma música do Paulo Gonzo

Faz-me Bem (Paulo Gonzo)

Há palavras que nos salvam,
São palavras especiais,
Que nos calam,
Nos embalam,
Que nos tocam,
Por demais.

Há que dizê-las baixinho,
Há que senti-las na voz,
Escutá-las,
Com carinho,
E deixá-las,
Pelo beicinho.

Chega mais ao pé de mim,
E repete por favor,
As palavras,
Que me faltam,

...

As palavras pouco valem,
Cada um diz o que quer,
Mas que digam,
Ou que calem,
Ou que deixem,
Por dizer.

Há palavras suicidas,
Outras que calam a dor,
Duvidosas,
Compassivas,
E as que morrem,
Por amor.

Um novo início...

A cada 24 horas,
Um novo dia começa,
Um novo ciclo tem início.

Um ciclo de rotina diária,
De levantar,
Arranjar,
Ir para o trabalho,
Almoçar,
Voltar para o trabalho,
Voltar a casa,
Jantar,
Dormir.

Mas…
Será apenas isto?
Poderá ser apenas isto?

Quantos de nós,
Gostariam de começar
Toda uma vida nova?

Quantos de nós,
Já foram forçados a começar
Toda uma vida nova?

Porque não,
A cada dia que começa,
Que se renova “o ciclo”,
Renovarmos,
Nós próprios,
O nosso ser?

Eu,
Faço de cada manhã,
Um verdadeiro “Novo Dia”.

Durante a noite,
No torpor dos sentidos,
O que se passou
Nas 24 horas antecedentes,
É colocado nos devidos sítios:
As coisas verdadeiramente boas,
No coração,
As coisas agradáveis,
Na memória,
As coisas más,
Na gaveta “A lembrar para não repetir”.

E assim,
A cada novo dia,
Nasce uma nova esperança,
Começa um novo ciclo,
Em que o ponto de partida,
É alegria e luz,
Pois as coisas boas da vida,
Estão aí para serem vividas,
Gozadas na sua plenitude,
Porque a escuridão das mágoas,
Pode ser tão absorvente,
Pode ter consequências tão nefastas,
Que é uma perfeita loucura,
Alimentá-las,
Deixá-las crescer em importância,
Pois com isso,
Corremos o risco,
De nos tornarmos,
O cinzento de nós próprios.

Por isso,
Cada novo dia,
É o um novo início.

O início,
De um ciclo de renovação,
De mim.

quinta-feira, junho 01, 2006

Dia Mundial da Criança

Neste dia, eu recordo.
E eu lembro-me de ser criança.

A primeira coisa que me lembro,
São os dias “eternos”.

Mas também me lembro,
Dos carinhos dos meus pais,
Do verão,
Dos meses de calor,
Dos dias inteiros de praia,
Dos natais em família,
Das férias na aldeia,
Dos dias de colégio,
Das colecções de cromos,
Dos lanches vendidos
para comprar rebuçados
e depois distribuí-los pelos amigos.

Lembro-me também da “pressa”.
Da pressa de crescer,
Da pressa de chegar aos locais,
Da pressa de chegar a hora de qualquer coisa,
Da pressa de chegar as férias,
Da pressa de chegar o natal,
Da pressa de chegar o dia do aniversário,
Da pressa…

Noutra perspectiva,
Também me lembro,
Da despreocupação,
Da alegria “fácil”,
No fundo, da inocência.

Eu gostei de ser criança,
Gostei dos meus dias de “menino”.

Como as coisas mudam…
Como nós mudamos ao longo do processo
A que chamamos “crescer”.
E por vezes,
Crescemos demais.
Crescemos rápido demais.

Longe vão os dias em que
O tempo demorava a passar.
Longe vão os dias em que
Tudo era bonito,
Tudo era calmo,
Tudo podia “ser nosso”.

Hoje tenho uma filha,
Tenho um sorriso simples
de um gostar puro e sincero,
Tenho um beijinho e um abraço
De uns bracinhos que apertam
Não sabendo a força que me dão.

Hoje tenho uma filha,
E ainda hoje,
Me comove a lembrança dos dias em que:
Soube que ela já “existia”,
E em que ela nasceu.

Hoje,
Choro todas as crianças,
Que por esse mundo,
Não têm as condições que merecem,
E dos respectivos pais,
Que sofrem por não lhas poder proporcionar.

Hoje,
Choro todas as crianças,
Que por esse mundo,
O mundo que os adultos fazem,
Não sabem o que é ser criança,
Como eu soube,
Como tento que a minha filha saiba,
E como gostaria que todas,
Soubessem o que é sê-lo.

Hoje,
Gostaria que fosse possível,
Fazer chegar a todas as crianças do mundo,
Um beijo sentido,
E um abraço forte,
Como gosto de fazer a todos
Os que me são queridos.
Porque para as crianças,
Não existe credo nem cor,
Não existe raça nem nacionalidade,
Tal como eu gostaria,
Que assim fosse,
Entre “nós”,
Os “ex-crianças” deste mundo.

E quem não se lembra o que foi ser criança,
Faça um exercício de lembrança e reflexão,
Lembrem-se tanto do que mais gostaram
Como do oposto,
E tentem,
Senão com os restantes adultos,
Pelo menos com as crianças,
Levar a cabo a velha máxima de:
“Não faças aos outros aquilo,
Que não gostarias que te fizessem a ti.”

Um beijo a todas as crianças,
E um aplauso a todos quanto souberam,
Guardar dentro de si,
A criança que outrora foram.

Um beijo aos meus pais,
Um beijo para a minha filha,
E um beijo,
Muito Muito Especial,
Para aquela que,
Possibilitou que o meu mais íntimo e maior sonho,
(o de ser pai)
Se tornasse realidade.

quarta-feira, maio 31, 2006

Se eu mandasse...

Porque acho que este "texto" não deve ficar "perdido" no meio de comentários, aqui fica, da nossa amiga "Flôr"

Se eu mandasse neste dia,
O sol não se deitaria.
Porque a seguir ao dia,outro viria!
E os encantos da lua...
Faria-os eu, sendo Tua!
Numa dança de Amor,
Antes deste sol se pôr!

"Flôr" 2006-05-31

Procuro

Na minha existência,
Sinto uma necessidade permanente.

Como resposta a ela,
Intento uma busca constante,
Pelo tudo,
Que julgo necessitar,
Que penso ser essencial,
Mas que muitas vezes,
Nem consigo definir.

O que procuro afinal?
Após várias reflexões,
A conclusão surge,
Como óbvia,
E simples:
Procuro o “Conhecimento”.

Mas o que é o conhecimento?
Em que consiste?
Onde me leva?
Porquê esta necessidade,
Constante e absorvente
Do mesmo?

Para mim,
O conhecimento é algo mais
Do que a mera constatação,
Empírica dos factos.
É a necessária compreensão,
Em toda a sua extensão,
Do que foi,
Do que é,
Porque foi,
Porque é.

Sem isso,
Sem a devida compreensão,
A informação fica incompleta,
E eu,
No meu íntimo,
Não fico satisfeito.

Para mim,
Muito mais importante do que o acontecido,
É o porquê da sua ocorrência.
E aqui,
Penso que reside a minha verdadeira “essência”.

Não existe consequência sem causa,
E sem compreendermos verdadeiramente,
A causa,
Não conseguiremos nunca,
Apreender a totalidade da consequência.
Porque muitas vezes,
Talvez,
Na grande maioria das vezes,
São bem mais importantes os resultados
Da causa,
Do que da própria consequência.

E é assim,
Através desta busca,
Que empreendo também em mim,
Que consigo,
Em primeiro lugar,
Compreender-me a mim próprio,
Para desta forma,
Conseguir compreender,
E posteriormente ajudar,
Quem me rodeia.

O que procuro?
No limite,
Procuro constantemente,
Por mim.

segunda-feira, maio 29, 2006

Falar sem ser Ouvido

Porque hoje não é um dos meus melhores dias, decidi compartilhar convosco um poema do meu autor predilecto, que demonstra bem, o que sente quem escreve (fala) sem ter quem o Ouça devidamente.
Leiam, e percebam bem, o quanto o vossa participação aqui, é importante.

Numa outra prespectiva da questão, vejam retratado aqui, a angústia de pessoas que não dialogando, fazem monólogos a dois.

Teus olhos entristecem.
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem...
Não me ouves, e prossigo.

Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.

Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.

Continuo a falar.
Continuas ouvindo
O que estás a pensar,
Já quase não sorrindo.

Até que neste ocioso
Sumir da tarde fútil,
Se esfolha silencioso
O teu sorriso inútil.

Fernando Pessoa, 19-10-1935

sexta-feira, maio 26, 2006

À espera de ti...

Para as flores deste espaço.

À espera de ti,
Eu permaneço aqui,
Fechada dentro deste meu mundo,
Sem portas,
E com múltiplas pequenas janelas,
Pelas quais vislumbro,
A vida que lá fora passa!

E tu,
Ser que povoa o meu imaginário,
Não sei sequer se és real,
Não sei sequer se existes,
Se estás longe ou perto,
Só sei,
Que eu aqui permaneço,
À espera de ti!

E quando chegares,
Vais ter de esculpir uma porta,
Apenas com as tuas mãos,
Neste meu mundo,
Para nele puderes entrar,
Sendo que essa,
Será a tua prova,
Do merecimento,
Que dele podes fazer parte.

E eu,
Que tanto anseio pela tua chegada,
Pelo calor do teu abraço,
Pelo teu afago no meu leito,
Pelo preenchimento deste pequeno vazio
Bem latente no meu ser,
Não sei,
Se te quero ver entrar.
E talvez por isso,
Neste meu mundo,
Portas não haja,
E as janelas estejam fechadas.

E apenas uma existe,
Que permanece entreaberta.
É uma pequena clarabóia,
No topo da minha alma,
Que por estar “bem lá em cima”,
(como que a salvo)
Por ela apenas vislumbre,
O pleno de um céu,
Que sabendo,
Ser difícil de igualar,
Vou contemplando,
Enquanto espero por ti,
Meu anjo caído!

terça-feira, maio 23, 2006

Dia Especial

Hoje para mim, é um dia especial.

Por muitos motivos, mas o principal é o festejar mais um ano em que estou vivo e posso desfrutar de tudo o que a vida tem para me oferecer, sem "barreiras" nem condicionalismos.

Estou vivo,
Faço o que gosto,
Vivo como gosto,
Tenho ao meu lado as pessoas de quem gosto,
E tenho aqui,
Neste blog,
O meu lugar de partilha,
De um meu "eu",
Acessível a quem dele gostar
E dele quiser desfrutar.

A característica do blog
Que desde sempre mais me agradou,
É mesmo esta,
O facto de escrevermos para quem nos quiser ouvir,
Sem qualquer tipo de condicionalismos ou obrigações,
E pudermos obter dessas mesmas pessoas,
Um feed-back nessas mesmas condições.

Tudo na vida pudesse ser assim, não é?

Então,
No dia de hoje,
Quero agradecer a todos quantos me ouvem,
De forma livre,
Pois neles reside a base do meu ânimo
Na continuidade desta "partilha".

Em primeiro lugar à minha esposa,
Pois embora a sua participação seja algo “esporádica” o seu apoio é sempre importante;

À “Putty Cat”,
Por ser a mais antiga,
E a que desde a primeira hora acreditou e me apoiou;

À “Kitty”,
Que numa altura inicial,
Fez que os comentários fossem no plural;

À “Papoila”,
Pela sua resistência e agora revelada divulgação;

Ao “Jocares”,
Pois foi através dele que este blog foi tecnicamente possível;

A todos(as) quanto me lêm,
Mas que por um qualquer motivo não comentam;

A todos,
O meu sentido muito obrigado!

E como acredito que as coisas simples são das mais belas,
E podem de facto, fazer a diferença,
A todos vos presenteio
Com uma imagem,
Retirada de um dos meus blog´s de referência,
Que explicita na plenitude a minha forma de estar.


(papoila, esta era a “surpresa” de que falava ;)

segunda-feira, maio 22, 2006

Vagas do Sentir

Há momentos,
Em que somos abruptamente
E de forma avassaladora,
Invadidos por um sentimento,
Que,
Absorve todas as cores do nosso ser,
Nos desnuda a alma,
Nos desarma os sentidos
E faz com que a dor,
Seja maior que o peito.

E assim,
De alma nua,
De sentidos derrotados,
Somos levados a sucumbir,
À inevitável
Implosão do nosso ser,
Sobre nós próprios.

Então,
A saudade do futuro,
Torna-se algo de maior,
E a simples impossibilidade
Da sua existência,
Cria em nós um desejo,
De saltar o presente,
E passarmos a coexistir,
Num universo paralelo,
Em que esse futuro inexistente,
Seja uma realidade,
Em conjunto com o nosso presente,
Completo com todas as suas cores.

E esses sentimentos,
Por vezes,
Surgem como vagas,
De forma sequencial,
Umas após outras,
Numa cadência irregular,
Que por serem assim,
Potenciam a dor,
Pela simples expectativa,
Da sua ocorrência.

Entre as vagas,
Vislumbramos as cores de qualquer céu,
Que não sendo o nosso,
São uma promessa,
São um desejo.

Quando a maré acalma,
E a tempestade passa,
Vislumbramos novamente o nosso céu,
Que,
Com a violência da tempestade,
Nos passa a parecer diferente,
E o azul dele,
Não mais parece o mesmo,
Não mais é o mesmo.

E assim,
Entre as vagas do sentir,
Vamos aprendendo a viver,
Uma vida que não era a nossa,
Uma vida que não gostávamos,
Uma realidade,
Contra a qual queremos lutar,
Que teimamos em combater,
Mas que,
Por existir,
Nos leva por vezes a mergulhar,
Para tentar evitar,
Uma nova “Vaga do Sentir”.

quinta-feira, maio 18, 2006

O Meu Sorriso

Ontem,
Ao sair de casa,
Fui atingido,
De forma “violenta”,
Por um raio de sol.

Olhando o céu,
Vislumbrei um pedaço,
De um azul límpido,
Levemente polvilhado
Por uns bocados de nuvens,
Imaculadamente brancas,
Formando,
No seu conjunto,
Uma imagem idílica,
Que por ser tão perfeita,
Logo me provocou uma paz de espírito,
E conseguiu,
Por si só,
Que se me formasse
Um sorriso nos lábios.

No entanto,
Virando em direcção contrária,
Pude ver umas nuvens negras,
As quais,
Com a sua cor cinza escura,
Tapavam o céu azul
Que para trás ficara.

Mas eu sabia
Que por cima delas,
Estava um céu azul, lindo,
Que embora eu não o visse,
Estava lá,
E o sorriso manteve-se!

No progresso do meu caminho,
Entrei numa estrada ladeada por árvores,
E então,
Deixei de ver o céu por completo.
Para além do cume daquelas árvores,
Eu não conseguia ver o céu,
Não sabia se as nuvens negras
Também ali pairavam,
Mas sabia,
Que lá no cimo,
Bem lá no cimo,
Estava um céu azul, lindo,
Que embora eu não o visse,
Estava lá,
E o sorriso manteve-se!

Percorridos mais uns kilómetros,
Passei por cima de uma ponte,
Sobre um rio.
Olhando-o,
Pude ver o seu correr,
Em direcção ao mar.
Não sei se a corrente era forte,
Não sei se a água estava límpida,
Não sei se a água estava fria,
Mas sei,
Que corria para o mar,
Que no infinito,
Se fundia com um céu,
Que,
Não importa como as nuvens estivessem,
Não importa como elas colorissem a água,
Desse mar e desse rio,
Por cima delas,
Estava um céu azul, lindo,
Que embora eu não o visse,
Estava lá,
E o sorriso manteve-se!

E a memória daquele céu,
Ficou-me gravada na memória,
E ao longo do dia,
De cada vez que dele me lembrava,
Não conseguia deixar de,
Sentir aquela paz de espírito,
Não conseguia deixar de,
Esboçar aquele sorriso,
E assim,
Apesar de não o ver,
Eu sempre soube,
Que bem lá no cimo,
Estava um céu azul, lindo,
Que embora eu não o visse,
Estava lá,
E o sorriso manteve-se!

E o meu dia foi assim,
Por entre trabalho,
Conversas,
Reuniões,
Telefonemas,
Lá me fugia o pensamento
Para a lembrança
Daquele céu,
Azul,
Lindo,
E o meu sorriso,
Devido a isso,
Não esmoreceu!

segunda-feira, maio 15, 2006

Curtas (3) - Cheguei

Eram 11:35 de um dia chuvoso, em que só o respirar me latejava os pulmões e ecoava na alma.
Eram horas de nada, quando soube que tu irias estar naquele local no final da tarde. Desde esse momento, o meu espírito ficou tomado por esse facto e tudo o demais perdeu importância.
Tu ias lá estar ao fim da tarde e eu tinha de lá estar, para te ver. Só para te ver.
Não podia almejar mais do que isso.
O que tive outrora, sabia ser impossível agora.

O toque das tuas mãos, o sentir do seu calor nas minhas, o teu olhar em exclusivo para mim, a tua atenção aos meus pormenores, as tuas palavras meigas, ternas que me apaziguavam o espírito e me reconfortavam de uma forma tão plena, tão completa, sabia-o que nunca mais teria, por isso, só por isso, o simples facto de te poder ver, estar de alguma forma perto de ti, era-me suficiente, tornara-se suficiente, tornara-se tudo!

Eram 11:35 de um dia chuvoso, e eu saía porta fora, para te encontrar.

Os 400 km´s de viagem, não eram obstáculo, nem desmotivadores.
A chuva que caía, não era obstáculo nem desmotivadora.
A quase inacessibilidade do local não era obstáculo nem desmotivadora.

Tu ias lá estar, e eu, tinha de te ver.

Fiz-me à estrada, com a ânsia de quem persegue um rasgo de luz que teima em se esconder por trás de uma qualquer nuvem negra e absorvente.
Percorri todos aqueles metros de estrada, um por um, sem uma única paragem, sem uma única pausa, porque, eu tinha de estar contigo, eu tinha de te ver.

Pelo caminho, vislumbrei outras vidas que por mim passavam e eu questionava-me se também elas, corriam para ver alguém, corriam para te ver, a ti, que já não eras só minha, que já não eras sequer minha.

Cheguei.

O local estava repleto de seguranças.
Pequenas barreiras que me impediam de te ver, de vislumbrar o teu simples olhar que sempre me confortou, sempre me animou, sempre me mostrou com a sua simplicidade, que na simplicidade das coisas, encontramos o todo de nós e o possível ânimo para uma vida.

Uma vida… essa que eu tinha contigo, de que tanto gostava e nunca me apercebi o quanto. De que tanto gostava e que não me apercebi, com o decorrer do tempo, que a ia perdendo, em prol de… nada.

Cheguei, mas não te vi.
Cheguei e com a pressa de chegar, esquecera-me de te trazer algo.
Algo que não apenas o meu olhar de saudade, o meu desejo de estar contigo, a minha busca pelo teu ser, de que o meu tanto gostava, de que o meu tanta falta sentia.

A tua falta, nunca a consegui colmatar.
Foram demasiados momentos de vida que passara contigo, foram demasiadas trocas de sentimentos a dois, para que o meu corpo me permitisse esquecer-te, ou sequer, de alguma forma, substituir-te.

Cheguei e tu ainda não estavas.
E com a espera, a expectativa aumentava e eu imaginava-te.

Será que ainda estarias na mesma, assim linda com esses teus cabelos longos que me preenchiam os meus sonhos, com os quais neles me aparecias com eles levemente levados por uma brisa quente, que esvoaçando ao vento, completavam a tua silhueta delgada, esguia, perfeita!

Será que ainda terias a mesma ternura no olhar, a mesma leveza no toque, a mesma suavidade de pele, o mesmo carinho na voz, o tudo que me fazia tanto gostar-te, tanto amar-te e que sem me aperceber, tinha perdido!

Cheguei, e tu… simplesmente… não vieste!

Marcas de Vida

Uma cicatriz algures,
Umas rugas na face,
Umas mãos mais ásperas,
Marcas de vida,
Marcadas na pele.

Um olhar mais profundo,
Uma reserva no contacto,
Uma serenidade no diálogo,
Marcas de vida,
Marcadas na forma de estar.

Uma data que ficou,
Um momento que não esquece,
Um dia diferente,
Marcas de vida,
Marcadas na memória.

Uma mágoa no lembrar,
Uma alegria no viver,
Um gostar de alguém,
Marcas de vida,
Marcadas no sentir.

São várias e de vários tipos,
As marcas,
Que a vida nos vai imprimindo.

Algumas,
Surgem de onde menos esperamos,
Em completa surpresa.

Outras,
Surgem de forma natural,
E fazem parte de um processo saudável.

Mas há outras…

Outras,
Que somos nós próprios,
Que as fazemos.

A nós,
Por passividade,
Por falta de capacidade,
Ou simplesmente,
Por não saber lidar com elas.

A outros,
Por vezes a quem mais gostamos,
E ficamos a desejar nunca o ter feito.
E ao fazê-las,
Ficamos com uma cópia delas,
Gravadas em nós próprios.
E nunca,
Por muito que nos esforcemos,
Conseguimos apagar,
Sendo que em nós,
Doem muito mais,
Do que neles.

A outros,
Porque simplesmente lhes estendemos a mão,
Porque simplesmente os ouvimos,
Porque simplesmente existimos,
E estamos ali,
Dispostos,
A ouvi-los,
A apoiá-los,
A fazê-los sentir,
Que não estão sozinhos,
E que a vida,
É mesmo algo,
Que vale a pena,
Ser vivido.

Eu gosto de pensar
Que marco de alguma forma alguém.

Eu gosto de pensar
Que essa marca,
Acompanhará esse alguém,
Ao longo da sua existência.

Eu gosto de pensar,
Que esse alguém,
Quando um dia se lembrar de mim,
Irá sentir,
Em si,
Uma marca de vida,
Marcada no sentir!