sexta-feira, junho 30, 2006

Fico até Adormeceres

Será isto é amizade ou amor?


Fico até Adormeceres
(Paulo Gonzo)

Se quiseres,
Até nem falo,
Ouço só o que disseres,
Vem deitar-te no meu colo,
E diz tudo o que quiseres,
Fico até adormeceres.

Se quiseres,
Mando calar,
O vento que vem do mar,
Rasgando a noite crua,
Ou então,
Se preferires,
Só para te distraíres,
Eu faço dançar a lua.

Fico até adormeceres,
Fico enquanto tu quiseres.
Fecha os olhos se quiseres,
Só até adormeceres.

Deita fora,
As tuas penas,
Pela janela para o rio,
Se quiseres
Eu fico apenas,
Até ver se tu serenas,
A proteger-te do frio.

Fecha os olhos se quiseres,
Que hoje tudo o que disseres,
Nunca sairá daqui.

quarta-feira, junho 28, 2006

Procura-se um Amigo...

Porque por vezes, procuramos algo mais, quando muitas vezes, "apenas isto" chegava.

Procura-se um Amigo...

Não precisa ser homem,
Basta ser humano,
Basta ter sentimentos,
Basta ter coração.

Precisa saber falar e calar,
Sobretudo saber ouvir.

Tem que gostar de poesia,
De madrugada,
De animais,
De sol,
Da lua,
Do canto,
Dos ventos e das canções da brisa.

Deve ter amor,
Um grande amor por alguém,
Ou então,
Sentir falta de não ter esse amor.

Deve amar o próximo
E respeitar a dor
Que os passantes levam consigo.

Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja em primeira mão,
Nem é imprescindível que seja em segunda mão.
Pode já ter sido enganado,
Pois todos os amigos são enganados.

Não é preciso que seja puro,
Nem que seja todo impuro,
Mas não deve ser vulgar.

Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e,
No caso de assim não ser,
Deve sentir o grande vácuo que isso deixa.

Tem que ter ressonâncias humanas,
O seu principal objectivo deve ser o de amigo.

Deve sentir pena das pessoas tristes
E compreender o imenso vazio dos solitários.
Deve gostar de crianças
E lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo
Para gostar dos mesmos gostos,
Que se comova,
Quando chamado de amigo.

Que saiba conversar de coisas simples,
De orvalhos,
De grandes chuvas
Das recordações de infância.

Precisa-se de um amigo
Para não se enlouquecer,
Para contar o que se viu
De belo e triste durante o dia,
Dos anseios e das realizações,
Dos sonhos e da realidade.

Deve gostar de ruas desertas,
De poças de água
De caminhos molhados,
Da beira de estrada,
Do cheiro depois da chuva,
De se deitar na relva.

Precisa-se de um amigo
Que diga que vale a pena viver,
Não porque a vida é bela,
Mas porque já se tem um amigo.

Precisa-se de um amigo
Para se parar de chorar.
Para não se viver debruçado no passado
Em busca de memórias perdidas.
Que nos bata nos ombros
Sorrindo ou chorando,
Mas que nos chame de amigo,
Para ter-se a consciência
De que ainda se vive.

(Vinícios de Moraes)

terça-feira, junho 27, 2006

Não quero viver assim!

Será que vale a pena viver a qualquer custo?

A minha resposta a isto é um redondo NÃO!

Eu não quero viver, se por força de uma doença ou de um acidente, ficar incapacitado das minhas faculdades mentais, que me possam dar autonomia para o meu dia-a-dia, para poder gerir a minha vida.

Eu não quero viver, se não tiver possibilidade de ter autonomia (de qualquer forma, mesmo que não seja a natural) para realizar as minhas necessidades básicas, desde as de locomoção até as mais elementares.

Acredito que a vida deve ser vivida na sua plenitude, sem obstáculos que nos levem a necessitar de terceiros para que ela possa ser vivida.

Assim, desculpem-me as pessoas que amo, não julguem que não penso também em vocês ao ter este profundo desejo. Quero que se lembrem de mim como a pessoa que sou, e não como um “estorvo” ou “incómodo” que nunca quis, nem quero de todo alguma vez vir a ser.

Assim, não hajam sequer dúvidas se, por uma hipótese alguma vez se colocar a questão da eutanásia com a minha pessoa. Eutanásia SIM, comigo pelo menos, SIM!

Na mesma linha, não quero ser enterrado num qualquer campo de mágoas e lamúrias a que denominamos de cemitério.
Não quero que os meus queridos sofram para além da minha morte.
Não quero que os meus queridos tenham obrigações macabras, de visitas programadas à mágoa e à tristeza.

Lembrem-se sempre da minha alegria de viver,
Lembrem-se sempre do quanto eu amo a vida na sua plenitude,
Lembrem-se sempre do quanto eu vos amo,
Lembrem-se sempre do meu desejo profundo e convicto:

Quero ser cremado e as minhas cinzas lançadas ao meu segundo habitat: o mar.

quarta-feira, junho 21, 2006

Quase...

Este texto, não sendo meu, poderia muito bem sê-lo.
Por isso, aqui fica para vocês.


Quase…

Ainda pior que a convicção do não,
E a incerteza do talvez,
É a desilusão de um quase.

É o quase que me incomoda,
Que me entristece,
Que me mata trazendo tudo
Que poderia ter sido e não foi...

Quem quase ganhou ainda joga,
Quem quase passou ainda estuda,
Quem quase morreu está vivo,
Quem quase amou não amou.

Basta pensar nas oportunidades
Que escaparam pelos dedos,
Nas hipóteses que se perdem por medo,
Nas ideias que nunca sairão do papel
Por essa maldita mania de viver no Outono…

Pergunto-me, às vezes,
O que nos leva a escolher uma vida morna...

A resposta eu sei de cor,
Está estampada na distância
E frieza dos sorrisos,
Na frouxidão dos abraços,
Na indiferença dos "Bom dia"
Quase que sussurrados…

Sobra covardia
E falta coragem até para ser feliz!

A paixão queima,
O amor enlouquece,
O desejo trai...

Talvez esses fossem
Bons motivos
Para me decidir
Entre a alegria e a dor…

Se a virtude estivesse mesmo no meio termo,
O mar não teria ondas,
Os dias seriam nublados
E o arco-íris em tons de cinza…

O “nada” não ilumina,
Não inspira,
Não aflige nem acalma,
Apenas amplia o vazio
Que cada um traz dentro de si...

Não é que fé mova montanhas,
Nem que todas as estrelas estejam ao alcance,
Para as coisas que não podem ser mudadas
Resta-nos somente paciência,
Mas,
Preferir a derrota prévia
À dúvida da vitória
É desperdiçar a oportunidade de merecer…

Para os erros…
Há perdão,
Para os fracassos…
Tentativa,
Para os amores…
Tempo.

De nada adianta
Cercar um coração vazio
Ou economizar a alma.

Um amor
Cujo fim é instantâneo ou indolor
Não é amor...

Não deixes que a saudade sufoque,
Que a rotina se acomode,
Que o medo impeça de tentares...

Desconfia do destino e acredita em ti…

Gasta mais horas
A realizar do que a sonhar,
A fazer do que a planear,
A viver do que a esperar…

… embora,
Quem quase morre esteja vivo,
Quem quase vive já morreu.

terça-feira, junho 20, 2006

Aprender

Encontrei este texto por acaso enquanto procurava por outras coisas. Está muito bom. Partilho das suas ideias e por isso, partilho-o convosco.

Aprender ...

"Depois de algum tempo aprendes a diferença, a subtil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma.
E aprendes que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança.
E começas a aprender que beijos não são contratos, presentes não são promessas
E não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai ferir-te de vez em quando e precisas perdoá-la por isso.
Aprendes que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobres que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que podes fazer coisas num instante, das quais te arrependerás pelo resto da vida.
Aprendes que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias.
E o que importa não é o que tu tens na vida, mas quem tens na vida.
Descobres que as pessoas com quem mais te importas na vida, são tiradas de ti muito depressa; por isso, sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas; pode ser a última vez que as vemos.
Aprendes que paciência requer muita prática.
Aprendes que quando estás com raiva tens o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de seres cruel.
Aprendes que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém.
Algumas vezes, tens que aprender a perdoar-te a ti mesmo.
Aprendes que com a mesma severidade com que julgas, tu serás em, algum momento, condenado.
Aprendes que não importa em quantos pedaços o teu coração foi partido, o mundo não pára para que o consertes.
E, finalmente, aprendes que o tempo, não é algo que possa voltar para trás.

PORTANTO, planta o teu jardim e decora a tua alma, ao invés de esperares que alguém te traga flores...
E percebes que realmente podes suportar...
que realmente és forte, e que podes ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.
E que realmente a vida tem valor, e que tu tens valor diante da vida!
E só nos faz perder o bem que poderíamos conquistar, o medo de tentar!"

segunda-feira, junho 19, 2006

Assim !

Plenitude de um sentimento único,
Que gosto de sentir;
Que gosto que sintas!

Sintas este sentimento,
Com a intensidade de um invisível fogo de luz,
Que ilumine em complemento,
A tua alma;
O teu coração;
O teu ser;
A tua vida!

Sentir a tua presença,
Em toda a intensidade e extensão do momento,
Como uma ponte para uma vida feliz,
Está no meu dia,
Como o prazer de viver o próprio dia,
Com toda a minha força,
De pensamento e de vida.

Estar perante o teu rosto,
Ouvir o teu olhar,
Tocar o teu sorriso,
São coisas que me fazem acreditar,
Sonhar com o momento presente,
E olhar-te,
E afastar-me contigo,
Do momento;
Do dia;
Do século.

Sou intensidade extensiva do meu Eu;
Do nosso Eu!,
E como tudo,
Que durante um sonho acordado no imaginário,
Presenciei,
Vejo em ti,
O encontro com a vista sobre o horizonte,
Com um céu de nuvens dispersas,
E sol brilhante.

Tenho-te em mim,
E gosto de te ter!
Gosto de ti,
E gosto desse gostar!
Tenho-te perto de mim,
E tudo o que quero é saber olhar-te,
Saber falar-te,
Saber ter-te presente,
Como forma de conseguir a tua presença!

Com os meus sentidos e pensamento,
Consigo a tua presença na distância,
Consigo encontrar-te na solidão,
De um entardecer de multidão,
No espelhar de mim,
No reflexo da minha própria expressão,
Física e psicológica!

E no âmbito desta nossa relação,
Desejo a tua cada vez mais presença,
No meu dia a dia;
No meu ser;
No meu viver!
Pois isso me agrada,
E me dá um profundo prazer,
No teu existir no meu ser!

terça-feira, junho 13, 2006

Voo do meu Sentir

No lúgrube do meu ser,
Uma luz nasceu!
Atingido pelo foco do teu beijo,
O meu ser despertou numa ânsia de vida,
Numa ânsia de amor,
Amor verdadeiro,
Amor puro,
O teu amor!

Olhando o teu rosto,
Sinto uma brisa de pensamento,
Que me varre o coração,
Aquece o sentimento,
Acende o desejo,
Me mostra,
E que tenta dizer-te,
Que o querer é mais do que o poder,
E que o desejar é mais do que o fazer,
Mas que no entanto,
No interior de ti,
Encontro a profundeza de mim,
No calor de ti,
O amor de mim,
No amor de ti,
O amar de mim!

No desejo da tua vida,
O meu ser tenta ser muito mais,
Tenta alcançar muito mais longe,
Tenta dizer-te o tudo de um amor,
Tenta fazer-me sentir o todo de um amar,
Tenta mostrar-te as ondas do meu calmo mar,
Que ao sabor da tua corrente vive,
Que nas ondas do teu pensamento coloca o seu barco,
E que no balançar do teu desejo vai à deriva,
Tentando,
Encontrar o olhar,
Remar ao sabor da tua maré,
Remar à harmonia do teu ser mar,
À calma do meu ser porto,
Ao cais do meu ser pensamento,
Perante o imenso do teu ser amor!

E como uma gaivota,
Voar livre pelo teu céu ser,
De encontro à tua montanha mulher,
Do teu verde campo sentimento,
Do teu lago pensamento,
Num esvoaçar leve de um amar,
Com todo o peso de um gostar,
Em que todas as penas encontram um para sempre voar,
Num teu ser sempre nela existir,
Para que o voar possa nunca findar,
E no teu ser repercutir,
Todo o voo do meu sentir!

sexta-feira, junho 09, 2006

Acidentes interiores

Por vezes,
Batemos de frente contra nós.

Tentamos desviar,
Tentamos contornar,
Tentamos travar,
Tentamos inclusive,
Dar a volta para trás,
Mas é inevitável:
Batemos de frente contra nós.

E nesse embate,
Sofremos,
Despedaçamo-nos,
E no final,
No calor do momento,
No sentir das consequências,
Decidimos que,
Não voltaremos a fazer o caminho
Que nos levou até ali.

Mais tarde,
Porque nos esquecemos,
Porque não temos vontade,
Porque não temos força,
Batemos de novo.

E de que serviram os embates anteriores?
O que vimos com eles?
O que aprendemos com eles?

Que bater é bom?
Que gostamos?
Que de alguma forma nos torna,
Pessoas melhores?

Não!

Então porque teimamos em embater de novo?
Porque nos deixamos levar por isso?
Porque não reconhecemos os sinais,
E se os reconhecemos,
Porque não os acatamos?

Não faz sentido, pois não?
Todos sabemos que não,
Todos temos caminhos alternativos,
Todos sabemos que eles existem,
Nem que isso implique,
Subir ao topo de nós próprios,
Num esforço tremendo, Impar,
Nem que isso implique,
Ter de voltar atrás, ao início,
E recomeçar de novo.

Mas muitas vezes,
Muitas vezes,
Insistimos em voltar a percorrer,
Caminhos antigos,
Caminhos maus,
Com um destino certo,
Indesejável,
Mas que nós,
Por inércia,
Por falta de vontade,
Por comodismo,
Por saudosismo até, se calhar,
Percorremo-los de novo,
Para no final,
Nos lamentarmos com o novo embate,
Ficarmos com pena de nós próprios,
Com a legitimidade de quem,
Foi surpreendido por ele,
Com a legitimidade de quem,
Não sabia que iria ocorrer,
E por isso,
Nada podia ter feito para o evitar.

Acordemos!

Façamos com que,
O sentimento de “pena de nós próprios”,
Seja sobreposto,
De forma soberana,
Com o nosso “orgulho próprio”,
E digamos alto e bom som:

“EU QUERO O QUE É MELHOR PARA MIM,
E COMO TAL,
VOU FAZER POR ISSO!”

quarta-feira, junho 07, 2006

Depressão

Na vida,
Há uma altura em praticamente todos,
Nos queremos esconder,
Nos queremos refugiar,
Na busca da paz do momento,
Porque as cores são demasiado fechadas,
Porque as horas são demasiado pesadas,
Porque a vida,
Parece ter-nos escolhido como alvo,
E a nós,
Resta-nos a vontade de baixar os braços,
Cansados da jornada,
E sem forças,
Nem vontade,
Para intentar um só gesto,
Para contrariar o que parece,
Ser um rumo único,
Escolhido por todas as coisas,
Todas as situações,
Pelo mundo!

E o que fazemos
Nesses momentos?

Alguns de nós,
Deixam-se levar,
Serem como que inundados
Por uma onda de tristeza,
Contendo em si mesma,
Uma mescla de dor,
Revolta,
Desilusão,
E até mesmo,
Derrotismo.

Alguns de nós,
Deixam-se levar até a um extremo,
Em que a tristeza se transforma,
De um estado momentâneo,
Em permanente,
E por vezes,
Por vezes,
O próprio não é suficiente
Para vencer esse estado,
E a ajuda externa,
Passa de desejável a necessária,
Até mesmo,
Imprescindível.

O que leva a que alguns,
Atinjam esses extremos?

O que leva a que alguns,
Não consigam vencer esse estado,
Antes de atingirem esse extremo?

Onde é que todos os outros,
Ou seja,
Nós,
Falhamos?

segunda-feira, junho 05, 2006

Palavras

Quando li o comentário de hoje da Flôr, lembrei-me desta música.
Aqui fica para todos um excerto da letra de uma música do Paulo Gonzo

Faz-me Bem (Paulo Gonzo)

Há palavras que nos salvam,
São palavras especiais,
Que nos calam,
Nos embalam,
Que nos tocam,
Por demais.

Há que dizê-las baixinho,
Há que senti-las na voz,
Escutá-las,
Com carinho,
E deixá-las,
Pelo beicinho.

Chega mais ao pé de mim,
E repete por favor,
As palavras,
Que me faltam,

...

As palavras pouco valem,
Cada um diz o que quer,
Mas que digam,
Ou que calem,
Ou que deixem,
Por dizer.

Há palavras suicidas,
Outras que calam a dor,
Duvidosas,
Compassivas,
E as que morrem,
Por amor.

Um novo início...

A cada 24 horas,
Um novo dia começa,
Um novo ciclo tem início.

Um ciclo de rotina diária,
De levantar,
Arranjar,
Ir para o trabalho,
Almoçar,
Voltar para o trabalho,
Voltar a casa,
Jantar,
Dormir.

Mas…
Será apenas isto?
Poderá ser apenas isto?

Quantos de nós,
Gostariam de começar
Toda uma vida nova?

Quantos de nós,
Já foram forçados a começar
Toda uma vida nova?

Porque não,
A cada dia que começa,
Que se renova “o ciclo”,
Renovarmos,
Nós próprios,
O nosso ser?

Eu,
Faço de cada manhã,
Um verdadeiro “Novo Dia”.

Durante a noite,
No torpor dos sentidos,
O que se passou
Nas 24 horas antecedentes,
É colocado nos devidos sítios:
As coisas verdadeiramente boas,
No coração,
As coisas agradáveis,
Na memória,
As coisas más,
Na gaveta “A lembrar para não repetir”.

E assim,
A cada novo dia,
Nasce uma nova esperança,
Começa um novo ciclo,
Em que o ponto de partida,
É alegria e luz,
Pois as coisas boas da vida,
Estão aí para serem vividas,
Gozadas na sua plenitude,
Porque a escuridão das mágoas,
Pode ser tão absorvente,
Pode ter consequências tão nefastas,
Que é uma perfeita loucura,
Alimentá-las,
Deixá-las crescer em importância,
Pois com isso,
Corremos o risco,
De nos tornarmos,
O cinzento de nós próprios.

Por isso,
Cada novo dia,
É o um novo início.

O início,
De um ciclo de renovação,
De mim.

quinta-feira, junho 01, 2006

Dia Mundial da Criança

Neste dia, eu recordo.
E eu lembro-me de ser criança.

A primeira coisa que me lembro,
São os dias “eternos”.

Mas também me lembro,
Dos carinhos dos meus pais,
Do verão,
Dos meses de calor,
Dos dias inteiros de praia,
Dos natais em família,
Das férias na aldeia,
Dos dias de colégio,
Das colecções de cromos,
Dos lanches vendidos
para comprar rebuçados
e depois distribuí-los pelos amigos.

Lembro-me também da “pressa”.
Da pressa de crescer,
Da pressa de chegar aos locais,
Da pressa de chegar a hora de qualquer coisa,
Da pressa de chegar as férias,
Da pressa de chegar o natal,
Da pressa de chegar o dia do aniversário,
Da pressa…

Noutra perspectiva,
Também me lembro,
Da despreocupação,
Da alegria “fácil”,
No fundo, da inocência.

Eu gostei de ser criança,
Gostei dos meus dias de “menino”.

Como as coisas mudam…
Como nós mudamos ao longo do processo
A que chamamos “crescer”.
E por vezes,
Crescemos demais.
Crescemos rápido demais.

Longe vão os dias em que
O tempo demorava a passar.
Longe vão os dias em que
Tudo era bonito,
Tudo era calmo,
Tudo podia “ser nosso”.

Hoje tenho uma filha,
Tenho um sorriso simples
de um gostar puro e sincero,
Tenho um beijinho e um abraço
De uns bracinhos que apertam
Não sabendo a força que me dão.

Hoje tenho uma filha,
E ainda hoje,
Me comove a lembrança dos dias em que:
Soube que ela já “existia”,
E em que ela nasceu.

Hoje,
Choro todas as crianças,
Que por esse mundo,
Não têm as condições que merecem,
E dos respectivos pais,
Que sofrem por não lhas poder proporcionar.

Hoje,
Choro todas as crianças,
Que por esse mundo,
O mundo que os adultos fazem,
Não sabem o que é ser criança,
Como eu soube,
Como tento que a minha filha saiba,
E como gostaria que todas,
Soubessem o que é sê-lo.

Hoje,
Gostaria que fosse possível,
Fazer chegar a todas as crianças do mundo,
Um beijo sentido,
E um abraço forte,
Como gosto de fazer a todos
Os que me são queridos.
Porque para as crianças,
Não existe credo nem cor,
Não existe raça nem nacionalidade,
Tal como eu gostaria,
Que assim fosse,
Entre “nós”,
Os “ex-crianças” deste mundo.

E quem não se lembra o que foi ser criança,
Faça um exercício de lembrança e reflexão,
Lembrem-se tanto do que mais gostaram
Como do oposto,
E tentem,
Senão com os restantes adultos,
Pelo menos com as crianças,
Levar a cabo a velha máxima de:
“Não faças aos outros aquilo,
Que não gostarias que te fizessem a ti.”

Um beijo a todas as crianças,
E um aplauso a todos quanto souberam,
Guardar dentro de si,
A criança que outrora foram.

Um beijo aos meus pais,
Um beijo para a minha filha,
E um beijo,
Muito Muito Especial,
Para aquela que,
Possibilitou que o meu mais íntimo e maior sonho,
(o de ser pai)
Se tornasse realidade.