Como imagens perservadas num recanto de papel,
tenho partes de ti gravadas nos recantos do meu corpo.
Escrevo as partes sobre o teu nome. Nesse em que me imagino. Em estremecimento.
Num outono longíquo no qual te quero esperar. Em contínuo. Em profícuo.
Na devastação da melancolia do chilrear dos pássaros sobre o silêncio das flores.
Onde as tuas mãos. Nas quais somente eu posso acordar.
Quero rodear-te em todas as pequenas trevas. Na ponta da caneta.
No término dos teus dedos sobre os meus poros. Em movimento.
Na seiva que sobre mim emanas. Porque o Amor.
Tenho partes de ti gravadas nos recantos do meu corpo.
São pequenas madrugadas. Em estrutura. Estrelas.
Pequenas luzes que em conjunto irradiam esta luz.
Que me ilumina. Me divide. Me faz líquido.
Em cada imagem Tu.
Em cada imagem o todo de cada uma das partes.
A profundidade do que (nos) somos.
Nelas mergulho para me encontrar.
Para te ter perto em distância.
Como o braço que suporta a mão.
A sonhar.
Num "mundo de loucos", em que as relações interpessoais muitas vezes nos "passam ao lado", vamos, com base nas nossas vivências e alguma imaginação à mistura, fazer deste cantinho um centro de reflexão e de diversão.
sábado, fevereiro 25, 2023
PARTES DE TI
sábado, fevereiro 18, 2023
MALA VAZIA
Sabes Amor, hoje acordei triste. Não que o dia não tenha despontado, os pássaros não tenham chilreado, uma criança rido alto, não tenha encontrado uma flor no meu caminho ou não me tenha cruzado com um olá sorrido. Não. Tudo aconteceu normalmente. Apenas eu é que acordei assim. Os sentimentos não se regem pela geometria do mundo, não é?
Acordei triste sem necessitar de nenhuma explicação para isso.
Quis falar-te. Dizer-te de mim. Mas estavas de partida. Saíndo para te levar,
deixei que a brisa me embrenhasse para o arrepio do sorriso. Queria que me
visses em alegria. E detivesses em ti essa minha imagem. Esperei-te no carro.
Sereno. E quando chegaste dei-te a melhor versão de mim. Afinal estavas ali. E
isso (não) justificava a minha alegria(?). Recebi-te em ternura. Abraço. E conduzi-te
ao aeroporto em carinho. Onde me despedi em saudade. Sentimentos simples. Mas
tão cheios de ti.
Na volta, fui fazer a minha mala. Nela coloquei a falta do teu olhar. A
ausência da tua pele, logo ao lado da saudade dos teus lábios. Juntei-lhes a
memória da voz e das tuas mãos na noite. Em calor. Carinho e sorriso. O teu. Em
alegria. E acomodei o sabor do vinho que ficou por beber e o som das notas da música
que ficou por ouvir. A todos aconcheguei bem, como se aconchega um filho. Com
cuidado. Para ficarem a salvo da vida. As carícias, claro, junto com as
palavras, sobrepuseram-se a tudo, como um manto protetor, fechando a mala de
seguida. Foi desta forma que te trouxe comigo. Sem olhar para trás, para não
correr o risco de não conseguir sair.
Nunca uma mala vazia me foi tão pesada.
sábado, fevereiro 11, 2023
FOI TALVEZ
Fronteiras de Ti. Em delicado. Quando tocam meus lábios.
Se cravam no meu tronco, e me levam para outros lugares.
Foi talvez os olhos.
Onde me procuro em Ti. Mergulho. Em Vertigem. Fundo.
Que encontro mesmo nos lugares em que não estás. E onde tudo ganha sentido.
Foi talvez a voz.
Que primeiro me toca. Nomeia. Vibra em mim. Te diz minha.
Me fala em nenhum idioma. Em pleno. Onde tudo é outra coisa.
Que me sorve. Me diz do teu desejo. Me faz absoluto.
Foi talvez a pele.
Odor ímpar. Textura íntima. Respiração confusa.
Na qual me acolhes em abraço de casa. Te dás. Tremes em mim.
Foi talvez todos. Ou talvez nenhum.
Talvez apenas a Lua.
Que em surdina me sussurra o teu nome. Através da minha voz.
Em contínuo.
sábado, fevereiro 04, 2023
POEMA NO BOLSO
Do desassossego dos sentidos. Olhares em infinito. Peito rasgado.
Viagens de pele em delírio de sentidos. Em que somos.
Enlouquecedor de futuros, em que nos fazemos.
Os dois como coragem. Os dois como segredo.
Tenho um poema no bolso com a palavra Amo-te. Fala-me de ti.
Fala-me do teu corpo. Do meu. Tão escuro na ausência do teu.
Fala-me da tua boca. Na minha. Onde desejo que me leves em ti.
E onde espero que ainda me tenhas quando voltares.
Que não me tenhas deitado fora. Esquecido o sabor.
Promete-me que o futuro virá.
Que tu voltarás para ler o poema. Deixar-me sussurrar-to ao ouvido.
Como numa prece que não se sabe. Não se decora. Nem existe.
Apenas se sente. Como a palavra que está no poema.
Que me fala de ti. Desassossega. Rasga. Viaja. Enlouquece. E cala.
Tenho um poema no bolso com a palavra Amo-te.
E o poema és Tu!