quinta-feira, setembro 27, 2007

Despedida


Hora a hora,
Minuto a minuto,
Segundo a segundo,
Despeço-me de um pouco de mim.

Despeço-me das palavras já ditas,
Que largadas no ar,
Não voltam mais para mim.

(como as que te falo em surdina…)

Despeço-me dos olhares,
Que não se voltam a repetir,
Nem mesmo com toda a força de um querer sentido,
Pois sequer a luz,
Terá a mesma tonalidade ou intensidade,
Nem os olhos o mesmo brilho.

(como os com te olho, fundo em ti…)

Despeço-me dos pensares,
Seres indomáveis
Que em mim habitam,
Se deleitam com o seu deambular livre,
Não me dando qualquer opção,
Sequer a de retorno.

(como os que me levam a ti. Continuamente a ti. Sempre para ti.)

Despeço-me dos gestos,
Cuja força e intensidade nunca têm igual,
Onde sequer o calor da pele,
Ou os arrepios sentidos,
Se repetem.

(como os abraços e os afagos que na tua pele deixo…)

Despeço-me dos sentires,
Que com o tempo evoluem,
Em constante mutação,
Transformando-se a cada ocorrência,
Sentidos sempre,
De maneira diferente.

(como os sentimentos que por ti moram em mim…)

Despeço-me dos sabores,
Com paladares sempre distintos,
Com gostos sempre renovados,
Ao sabor dos condimentos,
Que os condicionam.

(como os sabores dos nossos beijos…)

Despeço-me das letras,
Que vou conjugando em palavras,
Sempre com pontuações a mudar-lhe a entoação,
Produzindo coisas novas de cada vez que são usadas,
Fazendo-se sempre diferentes,
Ao gosto dos pensamentos.

(como as que sempre te escrevi…)

Despeço-me dos cheiros,
Esses que me chegam dos mares e das marés,
Dos rios e da terra,
Da chuva e do sol quente,
Do negro do céu rasgado pelo brilho da lua,
Pois até o tempo já não é o mesmo,
E muda a cada ano que passa.

(como os odores que da tua pele emanam…)

Aos poucos,
Aos poucos e poucos,
Vou-me despedindo de mim,
Pois tudo muda e se transforma,
Nada é estático e imutável,
E o meu eu de hoje,
Nunca é igual ao de amanhã.

(como Tu e o teu Eu…)

Lentamente,
Aos poucos e poucos,
Vou-me despedindo de mim…

(Da mesma forma,)
(Intensidade,)
(E medida,)
(Que sinto,)

(Lentamente…)

(Aos poucos e poucos…)

(Tu…)

(A despedires-te…)

(…De mim!)

segunda-feira, setembro 24, 2007

Se Tu soubesses...


Se tu soubesses,
Da resposta cá dentro,
Que encobre a pergunta...

Se tu soubesses,
Do silêncio cá dentro,
Que prende o grito...

Se tu soubesses,
Do desânimo cá dentro,
Que seca as lágrimas...

Se tu soubesses,
Da dor cá dentro,
Que desmancha o sorriso...

Se tu soubesses,
Das tuas raízes cá dentro,
Que se espalharam por mim...

Se tu soubesses...
Do tanto de mim cá dentro,
Que pede por ti...

Se Tu soubesses...

quarta-feira, setembro 19, 2007

Eu? Eu provavelmente falava-te...


Eu?
Eu provavelmente falava-te,
Do calor tépido que de mim emana,
Que em mim está sempre presente,
Por te saber aí,
Por te saber assim,
Por te ter,
Tão completamente,
Absorvida em mim.

Esse mesmo calor,
Que ao toque dos teus dedos inflama,
Que só de olhar-te aumenta a chama,
Deixando-me em tão completo ardor,
Que me chega a fazer questionar,
O porquê deste tanto amar,
Qual a sede de todo este Amor?

Eu provavelmente falava-te,
Que as necessidades físicas
Quase não existem,
Quando nos alimentamos de um sentir,
Tão forte,
Tão pleno,
Que nos tira por completo a fome,
Nos ilumina o ser,
Nos mostra o caminho,
Nos faz rir dos medos,
Nos enche de alegria
Provocando-nos um sorriso contínuo,
Nos enche os ouvidos com os sons do mundo,
Que até então sequer eram sentidos.

Eu provavelmente falava-te,
Deste sentimento,
Que nos faz esquecer toda e qualquer dor,
E nos preenche as saudades,
Pois é tão pleno,
Tão absorvente de energias,
Que não deixa lugar para outros,
Que por serem menos "nobres",
Não têm lugar em nós.

Eu provavelmente falava-te,
Da minha aprendizagem,
De que no Amor,
As razões pouco interessam,
Que as vontades são Maiores,
Que as coisas simples, são as mais complexas,
Que o impossível se torna possível,
Que o Nós é bem Mais do que o Eu,
E que eu não preciso de te tentar compreender,
Pois Tu...

Tu és parte de mim,
Estás-me no sangue,
És-me intrínseca,
E que por isso...

Por isso eu não estou sempre a teu lado,
Mas sempre, sempre em Ti,
Como Tu, igualmente, sempre em mim!

E eu...
Eu não preciso de te dizer,
Eu não preciso de te falar,
Eu não preciso de me fazer notar,
Perante ti,
Com bens, gestos ou palavras,
Porque tu estás,
No início dos meus pensamentos,
No fim do meu olhar,
E é lá,
Sempre lá,
Que tu me aconteces,
Naquele fio de tempo,
Em que olhos nos olhos,
As nossas almas,
Conversando em surdina
Uma com a outra,
Silenciosamente
Se fundem,
E renascem conjuntamente,
Dia após dia,
Num acto único,
A duas mãos,
Que unidas,
Podem calcorrear todos os caminhos,
Alcançar todos os objectivos,
Ser em tudo a unidade,
Que faz,
Que consegue,
Que acontece,
De uma forma,
Simples,
Mas completa.

Eu?
Eu provavelmente falava-te de tudo isto...

Simplesmente,
Se tu me dissesses,
Tudo isso!

sexta-feira, setembro 07, 2007

Se eu te dissesse...




Se eu te dissesse, que tinha frio,
Cobrias-me com teus braços,
Ou corrias a tentar parar o vento?

Se eu te dissesse, que tinha calor,
Abrias a janela,
Ou tentavas apagar o sol?

Se eu te dissesse, que tinha fome,
Repartias o teu pequeno pão comigo,
Ou saías para comprar comida?

Se eu te dissesse, que tinha sede,
Davas-me um beijo molhado,
Ou ias à fonte buscar a água mais fresca?

Se eu te dissesse, que estava escuro,
Iluminavas-me com os teus olhos,
Ou ias comprar candeeiros?

Se eu te dissesse, que não conseguia ver,
Ficarias a meu lado para me guiar,
Ou oferecer-me-ias uma bengala?

Se eu te dissesse, do medo que mora em mim,
Davas-me as mãos,
Ou ias espantar fantasmas?

Se eu te dissesse, da solidão que me invade,
Abraçavas-me em silêncio,
Ou telefonavas a todos para virem?

Se eu te dissesse, da tristeza que me assola,
Acariciavas-me a face,
Ou contratavas um palhaço?

Se eu te dissesse, da vontade de chorar,
Choravas comigo,
Ou contavas piadas?

Se eu te dissesse, do silêncio que trago em mim,
Sentavas-te ao meu lado compartilhando-o,
Ou ias por música a tocar?

Se eu te dissesse, da dor que tenho no peito,
Procurarias saber da razão,
Ou chamarias um médico?

Se eu te dissesse, da saudade dos que partiram,
Davas-me a tua companhia,
Ou tentarias substituí-los?

Se eu te dissesse, do amor que sinto,
Retribuirias na mesma forma,
Ou ficavas de peito cheio?

Se eu te dissesse, das minhas razões,
Tentarias compreender-me,
Ou contraporias com as tuas?

Se eu te dissesse, da minha vontade de partir,
Irias fazer as malas para me acompanhar,
Ou tentarias convencer-me a ficar?

Se eu te dissesse, o tudo de mim,
Dir-me-ias o tudo de ti,
Ou ficarias apenas a ouvir?

Se eu te dissesse,
Que não quero bens,
Apenas quem me acompanhe…

Se eu te dissesse,
Que não quero impossíveis,
Apenas gestos simples…

Se eu te dissesse,
Que não quero razão,
Apenas compreensão…

Se eu te dissesse,
Que não quero palavras,
Se tiver um olhar…

Se eu te dissesse,
Tudo isto...
...O que me dirias tu?

segunda-feira, setembro 03, 2007

Curtas 11 – Impossíveis


( ... )

- “Diz-me: se somos impossíveis, porquê continuar assim, como estamos?”


Impossíveis? Nós somos impossíveis?
Sabes o que te digo?

Impossível, é ser estúpido ao ponto de não (querer) viver este amor;
Impossível, é tentar descrever o que sinto por ti;
Impossível, é conter-me quando estou junto a ti;
Impossível, é pensar em ti e não sorrir;
Impossível, é pensar em ti e não sentir a respiração a acelerar;
Impossível, é não olhar o céu sempre que estou fora;
Impossível, é estar muito tempo sem te procurar na lua;
Impossível, é não estar constantemente a pensar em ti e em nós;
Impossível, é segurar este sentimento que só cresce, cresce e cresce e CRESCE em mim;
Impossíveis?

Nós não somos impossíveis.
Nós tornamos o impossível possível.
Nós fazemos o escuro brilhar,
Nós fazemos as trevas luminosas,
Nós somos muito mais que aquilo que imaginamos.

E eu, que para nós desejei uma história bonita,
Tenho a certeza que ela assim será,
Porque eu sei,
Eu sinto,
Eu vivo,
Eu sou,
A vontade de te ter,
A vontade de contigo estar,
A vontade de te abraçar,
Com gestos, com beijos, com palavras,
A vontade de seguir,
A vontade de fazer,
Sempre,
Cada vez mais,
Sob todas as formas e sentidos.

Eu,
Que te quero levar comigo,
Que te quero mostrar lugares,
Que te quero dar sensações, sentires,
Experiências até à data sem igual,
Também eu vivo a diferença,
Pois ao teu lado,
Ao teu lado tudo é diferente,
A luz tem outra intensidade,
A cor tem outros tons,
O som é mais límpido e nítido,
Os cheiros são mais puros,
E o cheiro da tua pele,
O cheiro de ti,
Em mim,
Espalhado sobre mim,
No olfacto,
Na roupa,
No corpo,
Na alma,
Eleva-me,
Faz-me querer ser sempre mais,
Faz-me querer ter sempre mais de ti,
Faz-me ser Maior,
Maior do que eu próprio,
Maior do nós dois juntos,
Maior do que a nossa longevidade ou mesmo a eternidade.

E Tu,
Diva inspiradora de mim,
Diva dos meus sentires,
Das minhas palavras rabiscadas,
Dos meus desejos mais profundos,
Dos meus pensamentos mais arrojados,
Tu,
Tu comandas as minhas mãos, os meus dedos,
Quando pousam no teclado,
E numa torrente de batidas,
Despejo de uma assentada,
As palavras que arranco de dentro de mim,
Que se atropelam, se espezinham, se sobrepõem,
Na luta pela primazia do existir,
Tal é o rol, a quantidade de conteúdos,
O turbilhão de sentimentos em sentidos,
Que despoletas em mim,
Que me injectas nas artérias,
Deixando prostrado,
Com o corpo fragilizado, tremente,
Rogando descanso,
Qual anjo alado,
Na senda da cura de todos os males,
Qual guerreiro único de uma causa,
Na conquista de um império,
Qual simples mortal que me revelo e sou,
Na vivência deste nosso amor.

Por isso te digo:
Impossíveis? Nós somos impossíveis?
Não…

Impossível é o mundo,
O mundo das pessoas,
Que nele habitam,
Sem conhecer um sentimento como este,
Que nos transcende,
Nos espicaça em contínuo,
Nos arranca pelas raízes,
E nos leva para lá das nuvens,
Onde ficamos a pairar.

E eu acredito que assim é,
Pois sempre que te quero ter,
Elevo os meus olhos,
E mesmo que em imagem ficcionada,
És tu que reflectes no fundo da minha retina,
És tu que ecoas nos meus sentires,
És tu,
Quem me preenche por inteiro,
Poro a poro,
Célula a célula,
Gota a gota,
De mim,
Que se encontra,
Tanto,
E sempre,
Em ti.

Por isso Meu Amor,
Por isso não digas que nós somos impossíveis,
Porque impossível,
É eu não te ter,
Sempre,
Assim,
Aqui,
Bem dentro de mim,
Preenchendo-me,
Por inteiro,
Fazendo-me sentir,
Sempre,
E cada vez mais,
TEU!