quinta-feira, dezembro 31, 2009

Memórias de um sorriso


Tenho réstias de pele tua nos meus aromas.

Passeio-me nos locais em que não existimos
E sinto-te como uma imensa falta em mim.

Como se a troca dos dias
fossem anjos caindo do topo de nós.

Como se pequenos alicerces ruíssem
pelos nossos entrespaços.

Como se caminhar sobre o abismo
Fosse um passo natural no percurso de vida.

Tenho réstias de pele tua nos meus aromas
e memórias de um sorriso.


Do TEU sorriso,
Onde feliz,
Eu existo.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Lembrar


Hoje lembro.
Acordei assim.
Hoje especialmente lembro.
Lembro tanta coisa...

Lembro aqueles dias inteiros de praia,
Lembro aquele episódio no dispensário,
Lembro de tantas vezes me dizeres
“quando o teu pai chegar, vou-lhe dizer!”
E eu sempre com medo à espera…
...e tu que nunca dizias.

Lembro o teu espírito guerreiro face à doença,
Lembro os teus últimos dias.
Lembro o teu último dia.

...

Lembro-me de ti quando me olhavas e sorrias.

Mas sobretudo,
Lembro-me da tua alegria de dar.
De como os teus olhos sorriam quando oferecias algo a alguém.
A expectativa era mais tua que de quem recebia.
Percebi hoje que foi de ti herdei isso.

Farias hoje 66 anos.

Ainda me aqueces…

Ainda me dóis.



Parabéns Mãe!



... e eu ...
... queria tanto sorrir ao lembrar-te ...
... mas não consigo ...
... ainda não consigo.

quinta-feira, outubro 29, 2009

Pesadas Palavras


Pesam-me nas mãos, as palavras.
Presas.
Que por tão grandes não escorrem.
Que por tão grandes não cabem.
No caminho dos dedos, até à ponta da caneta.

Palavras minhas grandes,
Por tão de Ti!


terça-feira, outubro 20, 2009

Ausência


Há sítios onde me perco sempre…

Os caminhos da tua ausência são labirínticos
E parecem infindáveis,
Tal como os meus passos, quando os percorrem
Procurando ecos de ti.

Sinto-te perto na ausência
Porque a tua ausência não sou eu sem ti.
És tu espalhada, por todos os espaços.
Pedaços de ti, por entre todas as coisas.

A tua ausência:
A exacta medida,
Do espaço,
Que separa,
Os teus lábios dos meus.

quarta-feira, agosto 12, 2009

Estarás?


Quando eu já não for vigor,
E apenas um par de pernas fracas e trémulas,
Estarás lá comigo (por mim)?

Quando eu já não for alegria,
E apenas um amontoado de mágoas da vida,
Estarás lá comigo (por mim)?

Quando eu já não for sorriso,
E apenas músculos empedernidos no meu rosto,
Estarás lá comigo (por mim)?

Quando eu já não for aquele que te ampara,
Mas o que procura amparo,
Estarás lá comigo (por mim)?

Quando eu já não for porto,
Mas uma constante tempestade incerta,
Estarás lá comigo (por mim)?

Quando tu me perguntares pelo ser,
E eu te responder com o tempo que (não) faz,
Estarás lá comigo (por mim)?

Quando tu me falares de ti e dos teus,
E eu te olhar com ar de desconhecido,
Estarás lá comigo (por mim)?

Quando me abraçares à procura do meu calor,
E apenas o frio sentires nos meus braços,
Estarás lá comigo (por mim)?

Quando o meu cair for uma constante,
Quando o meu existir for uma dúvida,
Quando a dor for o meu sentir,
Quando eu já não acreditar,
Estarás lá comigo (por mim)?

Quando não for capaz,
Quando não ambicionar o amanhã,
Quando as maiores penas,
Quando as (não) lembranças,
Quando a frustração
Quando a angústia
Quando a dor
Quando a noite
Quando o frio
Quando o ontem
Quando o MEDO
QUANDO O NÃO EU

Serás TU...
...o EU de mim?

quarta-feira, agosto 05, 2009

Quebraste-me as Palavras


Quebraste-me as palavras
E os monossílabos não conseguem exprimir o que sinto.
É um complemento que falta,
Uma metade de mim, num todo em que me minto.

Quebraste-me as palavras
E nas metades eu não me encaixo,
São apenas partes de mim,
Não me elevam, arrastam-me, baixo.

Quebraste-me as palavras
Deixaste-me incompleto,
E agora em nada me encontro,
Sempre distante, num sempre, sempre perto.

Quebraste-me as palavras
E eu não tenho mais como te dizer,
Que não foi só pelas palavras,
Mas por todos os gestos, que ficaram por fazer.

Quebraste-me as palavras
E agora eu...
...não sei se as consigo de novo...
...juntar!


segunda-feira, julho 27, 2009

Curtas 23 - Hoje


Desde que te conheci sempre foste igual a ti mesmo, até ontem.

Um peito que albergava todos. Um sorriso que nos abraçava. Sentia que naquele teu sorriso podias abraçar o mundo inteiro, sabias? Concentrar nele toda a existência de todas as coisas, sem que para isso sequer te esforçasses.

Era inato. Fazia parte de ti.

E os teus braços... o calor do teu abraço... eram um porto de abrigo para quem te procurava. E não eram poucos os que te procuravam. E os teus braços sempre disponíveis para todos. Até para os que notoriamente não o mereciam e que mesmo sabendo tu disso, não deixavas de os oferecer, assim, de forma tão absolutamente gratuita, como se do teu melhor amigo se tratasse. Se é que o tinhas. Porque nesse teu imenso dar, nessa tua tão grande dádiva de ti próprio para com os outros, poucas vezes vi um retorno na tua direcção. É verdade. Mas a tua naturalidade na dádiva era tão grande, que muitas vezes me “recriminei” a mim mesma essa opinião, porque achava ser impossível que assim fosse. Não podia mesmo ser assim, pois caso contrário não estarias sempre tão disposto para os outros…

Hoje sei que tal não é verdade!

Hoje compreendo aquele teu olhar preso no infinito em que algumas vezes te encontrei, como que procurando algo no horizonte. Como que esperando algo que viesse dali e só dali fosse possível vir.

Hoje compreendo-te. Hoje sei o que fazias com esse olhar. Procuravas.

Hoje sei que o calor da brisa te era algo absolutamente necessário à tua própria existência, pois nela encontravas o que tantas vezes precisavas e não conseguias obter por outros meios, de outra forma ou a partir de outras origens materializado em algo diferente. Hoje compreendo que era no abstracto que encontravas tantas vezes o teu complemento, por não ser possível teres esse complemento a partir do que te rodeava. Hoje sei.

E no fundo, acho que nunca te compreendi em pleno. Se calhar a culpa nem é minha. Se calhar, como tu tantas vezes dizias, nem sequer há lugar a culpa. Não é possível conhecer o que se desconhece. Não é possível conhecer o que é inalcançável. E muitas coisas, é preciso senti-las para as conhecer e só depois tentar compreender. Mas tu eras único. Tu tinhas sentimentos e atitudes, muito teus, muito próprios. E muito difíceis de compreender e aceitar.

Hoje, acho que apenas tu te poderias compreender a ti próprio em pleno.

Hoje, acho que não fiz tudo o que poderia ter feito para te compreender e agora vejo que afinal, até era tão fácil... bastava aceitar as tuas palavras… sem reservas. Porque tu não tinhas reservas nas palavras. Também nelas eras dádiva. Através delas fazias dádiva. E tinhas uma quantidade enorme delas, sempre prontas, sempre em fila para a saída. Sempre dispostas àquelas horas que pareciam não acabar, nem que por isso, tivesses de seguida de entrar noite dentro para terminares a tarefa que tinhas em mãos.

Hoje, gostaria de te dizer que finalmente te compreendo.

Hoje, gostaria de te demonstrar que posso aceitar sem reservas as tuas palavras.

Hoje, gostaria de te dar, nem que numa pequena parte, tudo aquilo que sempre me deste e dizer-te o quanto me arrependo de durante todos estes anos não ter sido capaz de o fazer.

Mas hoje... hoje é tarde Meu Amor. Hoje já não to posso dizer. E sei que estas palavras vão para sempre ficar presas em mim.

E hoje...
Hoje eu só espero, que leves guardado em ti, não as minhas palavras, mas os melhores momentos de Nós.

Renasces em mim!

- “Podem fechar o caixão.”

quarta-feira, julho 08, 2009

Curtas 22 – “Aquele nosso mundo”


Meti pela última vez a chave na porta daquele que era o nosso mundo. E naquele momento houve algo que mudou em mim.
Como se sentisse a chave entrar de uma forma diferente;
Como se o barulho que a mesma fazia na sua progressão tivesse outro tom;
Como se a fechadura fosse mais larga;
Como se oferecesse menos resistência;
Como se uma camada de ar revestisse a chave e a auxiliasse no seu caminho por entre os pinos da fechadura que pareciam não se quererem contrapor aos dentes da chave;
Como se houvessem menos obstáculos ao acto em si;
Como se a mão que empunhava a chave não fosse mais a mesma, ou o corpo que a suportava não tivesse mais os mesmos sentires…

Meti pela última vez a chave na porta daquele que era o nosso mundo, e entrei no lugar que não era mais teu. Estava vazio de ti. Levastes-te para sempre dali, arrancando-te de mim à força como um vendaval que passa e arrasta consigo os haveres. Os teus haveres. Todos os teus haveres que levaste contigo, deixando no lugar deles o silêncio dos espaços vazios. O vazio dos espaços em silêncio.

Aquele nosso mundo que agora não era mais teu, era o lugar onde o silêncio se havia perdido e estava espalhado e derramado e impregnado por toda a casa. Não havia ruídos de ti. Não havia mais do que as memórias dos ruídos de nós. Não se faziam ecoar nas paredes mais do que os meus gritos mudos, que em segredo lançava para dentro de mim e me arrancavam as minhas certezas mesmo das minhas mais recônditas profundezas.

Aquele nosso mundo não era mais teu.
E aquela casa era eu.
Vazia de ti.

E lentamente sucumbi…
…para dentro de mim…
…ao sabor da minha implosão.

quinta-feira, julho 02, 2009

Texto para uma imagem

Curtas 9 - Desde sempre


Desde sempre soube que um dia serias meu.
Desde a nossa infância, sempre senti isso, no mais fundo de mim sem nunca to ter dito, porque isso, para mim, era uma certeza.

Eu fui acompanhando o teu crescimento, fui acompanhando os teus casos, os teus sucessos, os teus fracassos, sempre com essa convicção, de que um dia serias meu.

E em cada volta, com o fracasso de mais um caso, eu pensava: “será agora?” Mas não! O agora teimou em tardar e o tempo foi passando.
Passando tanto que, de repente dei por mim a pensar que, o tempo havia passado e que a nossa oportunidade se havia perdido, algures, nos meandros das nossas vidas.

Lembrando-nos, lembro-me das noites que dormimos lado a lado, das nossas conversas, dos nossos afagos e penso… penso que nunca me terás visto como a mulher que sempre fui, cujos poros pulsavam por ti, cujo corpo te esperava no silêncio do desejo.

Agora pedes-me… Agora dizes-me… Que me queres… Que concluiste que sempre tiveras a teu lado a pessoa certa mas que nunca me viste…

Não sei como devo interpretar isto mas… também não quero!
Quero-te como sempre e desde sempre e por isso, não vou perder tempo a filosofar.

Vou abraçar-te, dizer-te, mostrar-te o quanto desde criança eu te quero e te desejo, fazer-te ver finalmente, porque nunca conseguiste uma relação com outro alguém, pois estavas predestinado para mim.

Sabes, hoje, à distância de todos estes anos, ainda nos consigo ver… no leito das nossas sestas, no qual quero, contigo ficar… Sempre!

Amo-te!

terça-feira, junho 16, 2009



Cheguei para sempre a este lugar que és Tu.

Descreve-me agora
Como se eu fosse possível de existir sem ti

Porque eu já não sei falar-me,
Sem dizer-Te.


segunda-feira, junho 08, 2009

"Desafio"

A Nuvem (do blog A minha Nuvem) a propósito do tamanho dos meus textos (a que chamamos de lençóis) vs. os dela (que por comparação, passamos a chamar de "fronhas de almofada"), um dia escreveu-me isto:

"Brain, um dia desafio-te a escrever uma "fronha de almofada" das minhas, e eu prometo tentar escrever um "lençol" dos teus :) Beijinhos”

Daí "nasceu(-me)" a ideia de cada um, a partir de uma imagem utilizada num texto do outro, fazer "a sua versão", sendo que eu teria de escrever uma "fronha" e ela um "lençol".

O acordado foi que aqui eu colocaria o texto dela, seguido do meu texto.
E no "A Minha Nuvem" ela faria o mesmo.

Aqui ficam então eles:


NO SILÊNCIO DO TEU TOQUE (por Nuvem)

Quero-te.

E é no silêncio do teu toque
que te digo que sou tua.

Digo-to com os meus olhos
rasgando o mar dos teus olhos,
e os meus lábios, segredando
as marés dos teus cabelos
que ondulam nas minhas mãos.

Digo-to sem falar,
porque entre as nossas bocas
as palavras já não têm espaço...

Digo-to com a minha pele
respirando ávida nos teus dedos,
como se fosse morrer no segundo
em que deixasses de lhe tocar.

Sinto-te como o vento,
percorrendo cada recanto meu
como se sempre tivesse sido a sua casa,
como se me conhecesse
mesmo antes de eu saber que existia.

Houve um dia em que eu não era tua.
E tu também não eras meu.

Um dia em que vento e mar
eram só palavras vazias para mim.
Um dia em que o mar e o vento
não me conheciam.

Um dia em que os meus olhos
não sabiam navegar,
e os meus lábios padeciam de sede
sem saber...

Um dia em que o meu corpo
não tinha janelas.

Sim, houve um dia,
um dia muito distante,
um dia que já não sei lembrar,
em que eu não sabia que tu eras vida
e mar e vento e tudo o que há.

Hoje só sei ser tua.
(Como a espuma pertence ao mar,
como as janelas se abrem ao vento.)

Só sei querer-te.
(Como o coração quer a vida
que pulsa a cada segundo dentro dele.)

E digo-to no silêncio do teu toque,
sempre que os meus olhos
são os teus olhos e os meus lábios
são segredos que se perdem
nos teus cabelos,
que se perdem nas minhas mãos...


DESAFIA-ME (por Brain em 2007.04.30)

Desafia-me!
Tira-me do sério,
Obriga-me a uma loucura,
Leva-me a uma superação de ser.

Espicaça-me!
Vira-me do avesso,
Arrepia-me os sentidos,
Revela-me as entranhas.

Tenta-me!
Faz dos teus lençóis o meu chão,
Do teu corpo o meu alimento,
Do teu suor a minha água.

Surpreende-me!
Leva-me por um caminho sem rumo,
Tira-me as direcções,
Atira-me ao ar sem rede,
Obriga-me a cair de pé.

Desafia-me,
…a mente!

Espicaça-me,
…os sentidos!

Tenta-me,
…a pele!

Surpreende-me,
…os sentimentos!

(Tira-me desta letargia!!!)


(Resta-me agradecer-te Nuvem o carinho da partilha. Do fundo de mim, um Beijo meu)

quarta-feira, maio 27, 2009

Finalmente a noite


Abri os braços.
De mãos abertas estendi-te os dedos e como quem se despe por dentro disse-te que entrasses.
Entrasses tão cheia desses teus nadas que te prendem aos dias.
Que viesses com tudo isso que de ti te faz.

E em segredo, disse-te que ficasses.
Que nada precisavas fazer ou sequer falar.
Que te bastava apenas isso: ficar.

E tu vieste.
Tu vieste e sem que eu o soubesse, trouxeste contigo, materializado na ponta dos teus dedos o meu desejo.
Foste a pouco e pouco, com os teus sons e odores preenchendo espaços de mim.
Espalhaste as tuas raízes pelos meus sentires e tornaste-te Tu em Mim.

E eu assisti.
Eu assisti à tua lenta mas progressiva e decidida ocupação.
Eu assisti e fui-te abrindo frestas. Indicando-te caminhos escondidos e escorrendo-te em mim.
E letra a letra, fui gravando o teu nome dentro da pele para que não o pudesses ver.
E com isso, sonhei que para sempre ficarias em mim.
Sonhei que para sempre me acompanharias no meu percurso até ao infinito.
Que para sempre serias sede e água. Serias fome e alimento.
Serias mais tu em mim do que eu, por eu ser mais tu em ti do que tu.

E por fim aprendi.
Aprendi que para sempre é muito tempo.
Que para sempre não existe, tal como não existiam espaços vazios na tua imensidão para me gravares em ti, sequer por dentro das linhas da tua mão.
E dou por mim a desejar que me tivesses levado contigo, agarrado ao silêncio da tua voz, nas voltas sem dormir de tanto me quereres abraçar dentro desse teu refúgio (secreto).

E tu sempre foste segredo.
Tu sempre foste frio na noite e medo no escuro. Palpites de incerteza no meio da estrada.
Esperança de alguém te encontrar, sem contudo com ninguém quereres ficar.
E agarrando-te à tua desculpa das tuas mãos vazias, nada nunca de ti deste (para que não te conhecessem), mesmo quando fixavas o teu olhar no meu ficavas sempre longe de nós, dentro de um lugar desejado para lá do teu disfarce.

E no repente da memória do momento de um Beijo,
O toque ao de leve do fundo de uma saudade,
Quando olhando-me em silêncio no fundo dos olhos
Me encheste a alma com palavras de Ti,
Presenteando-me a existência com o teu ser,
Que de tão de mim feito existiu,
Que nos teus olhos se reflectiu,
E me fez assim, acontecer.

Hoje, procuro no infinito um sinal de ti.
Procuro no silêncio do horizonte um sinal teu de vida em mim.
Tento sentir na brisa um sussurro do teu peito enviado em direcção ao meu.
Tento sentir dentro de mim uma réstia de calor teu: em palavras que ficaram por dizer; no segredo húmido dos meus olhos.

Mas hoje não te encontro.
Já não te encontro.

E é quando então,
Finalmente,
A noite acontece.

quarta-feira, maio 06, 2009

Sabes


Sabes que o olhar me diz muito.
Sabes disso e sempre fizeste questão em me desafiar com o teu.

Sabes que os odores mexem sempre comigo.
Sabes disso e sempre fizeste questão em deixar os teus impregnados em mim.

Sabes que o toque me faz vibrar.
Sabes disso e sempre me cravaste as unhas, quando a dois éramos um.

Sabes que os sons me dizem muito.
Sabes disso e sempre tiveste o cuidado de me deixares os teus, bem perto dos meus ouvidos.

Sabes que há imagens que me perseguem.
Sabes disso e sempre fizeste questão de mas querer mostrar.

Sabes que nunca tive uma imagem límpida de mim mesmo.
Sabes disso e sempre fizeste questão em me manter no turvo do meu ser.

Sabes que o silêncio sempre foi meu inimigo.
Sabes disso e sempre fizeste questão em me ferires com o teu, sempre que me querias atingir.

Sabes que a distância física a mim não me importa, desde que não te sinta distante.
Sabes disso e tantas vezes juntaste uma à outra, para me atirares para dentro de mim.

Sabes tantas coisas sobre mim…
Ao ponto...
...de não me conheceres!

sexta-feira, abril 17, 2009

Lançamento de novo livro



No próximo dia 25, pelas 22:00 no Bela Cruz - Porto, terá lugar o espectáculo "Palavras do Fogo", que servirá de base ao lançamento do meu novo livro "Palavras de Mim", junto com o "Oráculo de Fogo" do autor Jorge Pópulo.

O espectáculo contará com a participação musical da Sónia Amaral (voz), Ana Rita (voz), Rita Campos (Harpa), Pedro Lopes (Piano) e Teresa Pereira (Violino).

Aqui fica o convite para todos os que possam e queiram participar.


Informo ainda, que no dia seguinte (dia 26) pelas 16:00, ocorrerá na loja PortoSigns (na ribeira do Porto - Rua da Alfândega, 17) uma sessão de apresentação dos mesmos livros, para a qual deixo igualmente o convite.


A todos quantos queiram e possam participar, SINTAM-SE desde já CONVIDADOS!

E... até dia 25!
...ou 26!

quinta-feira, abril 09, 2009

Em ContraMão


...e de repente surge o desvio.
...e de repente, o entroncamento, a bifurcação, o escuro, um encandeamento de luzes e quando damos por nós, estamos em contramão.

O sentido proibido já ficou lá atrás, mas nós continuamos.
Porque há um gozo. Um gozo intrínseco. Um inexplicável gozo, que faz correcto o incorrecto, que nos faz pulsar as veias, que nos dá um (novo) (in)sentido de vida.

E por isso, prosseguimos.

E não são os sinais dos outros, que aflitos nos tentam fazer ver o (in)correcto.
E não são os sinais que só vemos pelas costas, ou sequer as setas na estrada que apontam para nós.
E não é o avançar dos outros num sentido oposto ao nosso.

Somos nós!
Somos nós que empurramos o mundo para (trás) a frente, numa vontade própria e única, que reforça essa capacidade a cada kilómetro, a cada metro, a cada centímetro percorridos.
Somos nós!

E o mundo não é que está correcto.
Somos nós!

E as convenções... de repente mudam.

E de repente, olhamos o retrovisor e vemos que estamos a ser seguidos.
E já não é pela autoridade repreendedora; mas por outros.
Tantos outros iguais a nós, que entretanto inverteram também a marcha e que seguindo-nos de perto, fazem-nos líderes de um movimento que é apenas nosso. Que não quisemos partilhar sequer, mas que agora foi também apessoado por terceiros.

Não somos líderes mas lideramos.
Não os outros.
Mas a nós próprios.
Cada um líder de si mesmo, na força que o intento lhe confere.
No pulsar das veias.
No querer.

E no caminho crescemos.
E no caminho fazemo-nos. MAIORES.

E de repente… o caminho é o nosso.
E de repente… já não há ninguém em contramão da nossa marcha.
E de repente… o mundo.
E de repente… nós.

Paramos.
Chegamos ao nosso (desconhecido) destino.
Estamos parados na faixa contrária.
Estamos virados no sentido oposto.
Mas CHEGAMOS!

E saímos.
E batemos a porta com o orgulho do sentimento do dever cumprido.
Enchemos o peito e respiramos fundo, sabendo que a nossa satisfação reside no facto, não de termos percorrido todo o caminho, mas sim, de o termos feito NOSSO!

Fizemos o caminho à nossa imagem. Ao nosso pulsar.
De trás para a frente ou da frente para trás?
Não sabemos.

Mas também…
…não interessa!

É NOSSO!

terça-feira, março 31, 2009

Tu!


Não são apenas os teus olhos,
Esses que quando me olhas,
Fazem prisioneiros os meus,
E passeando-se pelo interior de mim,
Tecem a teia em volta dos meus sentires,
E regeneram sempre a minha vontade,
De que me faças prisioneiro de Ti.

Não é apenas a tua boca,
Essa de lábios finos,
Que quando sorri,
Concentra nela o meu mundo,
E despoleta em mim,
A vontade quase louca de os beijar,
Beijar esse sorriso de menina,
Que esconde esse estar de Mulher!

Não são apenas os teus cabelos,
Longos fios de memórias a dois,
Que ocultam os lóbulos,
Que ocultam o pescoço,
Que me invocam memórias de pele,
Memórias de arrepios de ser,
Memórias que são maiores que tu,
Maiores que eu,
Maiores que o mundo,
Do tamanho de Nós!

Não é apenas esse pescoço,
Onde me perco na suavidade,
Onde me perco no odor,
Onde gosto de me encontrar contigo,
A sós,
Numa dança de lábios,
Tão minha,
Tão nossa.

Não,
Não é apenas um qualquer destes elementos,
Não é apenas o conjunto,
Não é sequer o todo.
ÉS TU!
Tu que me dominas o pensamento,
Me espicaças os sentidos,
Me despertas o desejo,
Me levas ao rubro,
Me tens a mim,
Assim,
Neste pequeno e perfeito estar,
Que é,
O Tanto do Quanto te Amar!

(beijo)

quarta-feira, março 18, 2009

Dia de Nada

Aquele era um dia de nada.

Um tão completo, perfeito e absoluto nada que acontecia em mim, com a mestria que só o tempo sabe empenhar na força dos sentidos perdidos.

Aquele era um dia de nada.

Um dia em que a nulidade das referências era tão útil quanto a valia das vontades. E eu (hoje sei-o) passeava-me apenas. Passeava-me pela via sacra da nulidade da vida, quando tu.

Aquele era um dia de nada. Em que tu aconteceste.

Aconteceste apenas no sorriso de um olhar, que involuntariamente (hoje sei-o) deixaste cair na direcção de mim. E eu, que (hoje sei-o) andava sôfrego por um sorriso olhado, agarrei-o com as duas mãos e escrevi-o no fundo da parede das palavras, para que (hoje sei-o) ficasses para sempre lá. Para que sempre aparecesses por trás das palavras, mesmo quando as palavras não falavam de ti. Para sempre eu te sentisse como uma presença efectiva, mesmo quando era a tua ausência que ecoava nos sentires da leitura das palavras do escrito.

Aquele era um dia de nada. Em que tu me inundaste.

Inundaste-me e fizeste-me líquido em mim, sem terra onde me agarrar, sem um porto de ancoragem, sem um vínculo ao ser que incessantemente me escorre por entre os dedos, por tão vazios de ti. Mas as palavras não! As palavras carregam-te com elas, nos espaços em branco que o desenho das letras deixa em vazio nas folhas. Fazendo-te maior nas maiúsculas - não pela área da maior dimensão dos espaços - pela força do grito que cada uma delas encerra.

Aquele era um dia de nada. Em que tu te instalaste por completo em mim.

E tu não sabes, porque eu nunca te expliquei, mas a tua presença é algo de mim para além de mim. Não está implícita sequer na minha vontade. É uma omnipresença única, que me espreita a cada passo, apenas para me lembrar da tua existência no meu sorrir. E mesmo quando até de mim duvido e me confronto com os meus valores, há sempre uma réstia de mim que diz que vale a pena. Ainda vale a pena. Mesmo que por vezes não te sinta, mesmo que o que saiba de ti, seja o que sei de cor, tu vives em mim. Nem sempre o que temos é apenas aquilo que vemos. E tu… tu és a demonstração disso.

Aquele era um dia de nada. Em que tudo se transformou.

Era um dia de nada que transformou: um nada de mim, num tudo de ti.

segunda-feira, março 02, 2009

Quando já nada mais te resta...




Quando os dias se sucedem uns após os outros e a vontade pelas manhãs é a mesma que pelos dias e pelas noites…

Quando as horas são meras sucessões de minutos, que apenas marcam o completar do número certo de segundos e a tua vontade é a mesma, a mesma tanto para que o tempo passe como pelo seu parar…

Quando a noite chega e te é indiferente, não te interessa se ficas ou se sais…

Quando amanheces embrenhada nos braços dos lençóis, amarrotados pelas tuas vontades e olhas… olhas as tuas mãos que encobrem o teu rosto, para o espelho não mostrar o amarrotado da tua pele… que contorna o esgar do teu olhar fundo… vazio…

Quando os teus pensamentos não se transformam em voz,
Quando tudo está sempre bem, num lado de ti,
Enquanto o outro, o das vontades,
Permanece sempre adormecido,
E raramente está,
Raramente se faz sentir,
E tu já não tens certezas,
Já nem em ti acreditas.

Quando o pior é sempre o que esperas,
E nos entretantos em que te desesperas,
Abres os braços e as mãos,
Ergues a cabeça e negas todos os teus nãos,
E deixas cair o nada que há em ti,
Enquanto repetes numa voz que fala para dentro de si,
Que vai ficar tudo bem,
Vai ficar tudo bem…

Quando tudo te sugere que partas, tanto quanto fiques…
Que faças tanto como que pares,
Que olhes tanto como que ignores,
Que grites tanto como que cales…

Já nada mais te resta…

Mas tu sabes,
Apesar de tudo tu sabes…
Sabes que a tua hora não chegou,
Sabes que o teu tempo não acabou,
Mas também nada mais tens a esperar,
Nada mais tens a tentar,
Nada mais,
Tens…

Já nada mais te resta,
Nenhuma alternativa mais,

Senão,

Continuares a viver.
Até ao teu final.

Quando já nada mais te resta…

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

...excerto...

Porque o tempo para as palavras tem sido pouco...
Porque as palavras que me povoam a mente têm sido canalizadas para o meu 3º livro... (o 2º será lançado no próximo mês)
Em jeito de um "obrigado" pela continuidade, pelo acompanhamento, pelos chamamentos, aqui partilho com todos um pouco dele.

"...
E voltou a beijá-lo profundamente. A beijá-lo com a força de uma maré baixa que se fazia praia. A beijá-lo com a vontade de uma tempestade que crescia. A beijá-lo com um sentir de ser maior, que crescia para ele próprio, que se tornava nele próprio, que era ele próprio para além dele próprio. E o beijo acontecia e o beijo crescia e as mãos que se juntaram ao beijo fizeram-se desejo, reinventaram o respirar. Procuraram-se os corpos. Os corpos uniram-se num abraço. Exploraram-se. As mãos eram elas. As mãos sentiam-se. Um ao outro. As mãos, os lábios, o beijo, sempre o beijo a acontecer, sempre o beijo a crescer. E o beijo transbordou. E o beijo inundou o corpo dela. Passou-lhe para a pele (de que ele não conhecia o odor). O beijo falava-lhe ao ouvido. O beijo dizia-lhe dele. E ela era nele. E a pele descobria-se para o avançar dos lábios. Passou-lhe para o pescoço. O beijo percorria-lhe o ombro. E as mãos dela, queriam a pele dele. E a pele mostrava-se. E os olhos viam-se. O beijo continuava. Mais pele. Sobre a pele. Toda a pele. E tudo ficou pele. Todo ele era pele. Toda ela era pele. E a pele pedia mais pele. A pele exigia mais pele. E então… ele vestiu-a por completo com a pele dele. Ele foi a pele que a revestia. Foi a pele que interiormente a continha, não a conseguindo no entanto nunca conter.
A música que transitara do dia mais longo que ainda não acabara, continuava a tocar e parecia agora ter sido colocada para aquele momento. Os corpos que se encontraram dançavam agora. Dançavam ao ritmo da música que parecia ter sido escolhida para aquele momento. Dançavam ao ritmo do pulsar. Dançavam livres, desenfreados, ao sabor das batidas, mas já não da música. Das deles. Das batidas deles, que cada vez cresciam mais. Mais. Mais. Mais. MAIS! E os corpos abrandavam. Mas as batidas não acompanhavam. As batidas eram mais lentas na descendência. As batidas eram mais exigentes na mudança, porque exigente era também o momento e as mudanças que ele trazia. As batidas. O respirar. Em uníssono. Como um só. A decrescer. Lentamente.

De cara encostada ao peito dele, ela respirava profunda serenidade. E no reflexo que a claridade que chegava de fora provocava, ele viu. Ele viu que ela de novo sorria. Sorria como uma missão cumprida. Como um objectivo atingido. Como um mais querer finalmente satisfeito. Ela estava. Ela era. Sorriso. Mas um sorriso diferente. Um sorriso pleno. Um sorriso que nunca lhe vislumbrara antes e que lhe dava a conhecer, uma nova faceta da Rita. Uma faceta mais íntima. Uma faceta mais… verdadeira.
..."