terça-feira, setembro 13, 2011

Excerto "A Vida nos Dias"

Na apresentação do passado sábado, Miguel Leitão brindou-me com duas leituras expontâneas, de segmentos do livro.
As leituras na sua voz, na voz de outra pessoa, trouxeram-me uma sensação diferente, num misto de emoção.

Partilho aqui com todos um dos segmentos escolhidos, juntamente com um agradecimento ao já referido autor das leituras:

"O tempo já é muito. Já não me sei. Perdi-me totalmente de mim. Não me tenho. Imaginei-me (sonhei?) a correr numa praia de mão dada contigo. Senti o teu rosto, o teu corpo, o seu odor e o teu sorriso repousado em mim no embalo de um olhar. Os nossos pés descalços num embrenhar de areia, com frinchas de dedos em arrepio. Um odor a mar, num gélido salgado de ossos. Um odor acre a maré baixa com uma floresta de rochas a descoberto. Desviámos aqui. Saltámos ali. Mais um passos de cautela um pouco mais à frente. E o teu apertar firme de mão segurança. De mão equilíbrio. O mergulho ao fundo e a nossa lentidão no chegar. As nossas palavras abertas para o outro e o mundo à nossa volta. Uma floresta de rochas com o mergulho ao fundo. Desvios sucessivos. Apertos da mão. Mergulho ao fundo. Mergulho sempre ao fundo. Mergulho que não chega. Avançando. Por entre apertos de mão e desvios de floresta. Mergulho cada vez mais ao fundo. Mão que se larga. Rosto que se procura. Um tropeçar em algo. Um corpo. Ricardo em mergulho. Tu longe, muito longe. Acordei(?)".

1 comentário:

Trapezista disse...

Estive ausente um tempo, ausente de mim, de palavras...
E é sempre tão bom voltar a mergulhar nas tuas :)

Trapezista