segunda-feira, abril 16, 2007

Sucumbimos

Resposta ao desafio "Uma imagem, 1 devaneio..."
colocado pela Putty Cat
no seu blog "Palavras em Flor"



Sucumbimos,
Dentro das paredes que era o nosso amor,
Sucumbimos.

Dentro destas paredes sujas
Pelas palavras que nos dissemos,
Dentro destas paredes gastas
Pelo que nos desgastamos,
Dentro destas paredes
Que outrora pintamos
De branco resplandecente,
E que com o correr do tempo,
Fomos conspurcando,
Sob o chão riscado
Pelos nossos passos vãos,
Sucumbimos.

Estávamos um perante o outro,
E o que fomos…
Já não o éramos,
E o que somos…
Já não chega.

Olhávamo-nos,
Mas não no víamos,
Falávamo-nos,
Mas não nos ouvíamos,
Estávamos tão perto,
Mas não nos tocávamos,
E com a fuga permitida,
Do olhar, da palavra e do toque,
Deixamos morrer o amor,
Sucumbimos.

Sucumbimos,
Mesmo perante aquela porta,
Que nos levaria a um mundo novo,
Um mundo de luz,
Onde se quiséssemos,
Poderíamos recomeçar,
Onde tudo seria possível,
Mas nós…
Nós resistimos,
Nós não nos permitimos
Uma nova oportunidade,
Nós…
Deixamos que o tempo nos levasse,
Nos levasse os carinhos e os mimos,
As palavras e os olhares,
A atenção e o calor,
De um para com o outro,
Sem nada fazermos,
A não ser,
Deixarmo-nos ir.
E com isso,
Sucumbimos.

E agora,
Aqui deitados,
Sob este chão,
Que já não nos suporta o peso,
Entre estas paredes,
Que já não nos ouvem,
Frente a esta porta,
Que já a lado nenhum nos pode levar,
As nossas mãos,
Agora vazias de nós,
Estão tão próximas…
À distância de um último esforço…

Mas não consigo,
Faltam-me a força e a coragem,
Por tudo o que passamos,
Por tudo o que nos fizemos,
Por tudo o que nos dissemos
Por tudo o que se entre nós se passou,
Que não nos permite um retorno,
E que nos deixa,
Por fim,
Assim…
Sucumbidos.

Nós,
Deixamos que a vida nos levasse,
Deixamos que a rotina se apoderasse,
Deixamos que um,
Deixasse de ser,
O complemento do outro.

Nós…
Deixamo-nos sucumbir.

Não procures razões,
Não culpes palavras ou emoções,
Não procures falhas ou insanidades,
Não procures responsabilidades,
Não faças nada…
Deixa…
É tarde…
Sucumbimos!

22 comentários:

Lu disse...

Um texto muito bonito apesar de triste. Demonstra bem o desgaste de uma relação e a forma como chega o seu fim!!!
Beijo

Maria disse...

Espectacular!

Triste mas muito bonito e verdadeiro

Beijinho
Maria

Anónimo disse...

Ola,

Porque nos deixamos socumbir a nós proprios, remetendo-nos ao silencio dos sentimentos que precisam soltar-se e fazer-se ouvir .....
Fechados em "conchas" deixamos de viver .... e, acabamos por arrastar connosco aqueles que nos rodeiam, e, que tal como nós, se deixaram fragilizar ao ponto de já não conseguirem falar, sentir, amar, viver.....
Sucumbimos e connosco arrastamos a nossa historia, que tambem é a historia de outros....
Muito intensas as palavras deste poema, como intensa é a tristeza de nos vermos sucumbir....
Beijo
Vity

Anónimo disse...

bela foto e belo texto

Jose disse...

Este post é daqueles que nos deixem sem palavras mas em profundos pensamentos.
Está divino..


Um abraço



José

as velas ardem ate ao fim disse...

Lindo text triste.Mas a tristeza pode ser bela.Aqui esta a prova.

Sucumbi.

bjinhos

impulsos disse...

Belíssimo poema que retrata uma vida tão cheio de tudo...
Que o tempo se encarregou de matar!
E agora
De tanto que tinha, apenas restam as recordações do quanto que foi...
Uma vida tão cheio de tudo
E ao mesmo tempo
Tão cheia de nada...

Gostei... muito!

Lara disse...

Sucumbimos... tão real, tão verdadeiro, acontece todos os dias... o amor desaparece com a mesma velocidade com que apareceu.

beijo

Anónimo disse...

Poema que transmite sentimentos muito verdadeiros e intensos...bjca e meu rasto_______
Cõllybry

Sea disse...

sucumbir é, em última instância, perecer perante os acontecimentos.

Anónimo disse...

Estamos deitados os dois numa esteira debaixo do que outrora foi o "nosso" mundo, e recordamos indiferentes o passado, sem vontade de por o pé no chão molhado pela chuva e cheio de peças de puzzle que mais não são do que memórias, mas que não temos paciência de voltar a juntar. Olho para o lado contrário e o caminho parece mais curto e fácil, a luz parece mais forte e agradável e pergunto-me se a saída será ali. Afinal estou acordado. Só tenho que largar a mão e deixar-me levar. Algo lá fora me chama. Aqui já não há nada.

Será o caminho menos percorrido o mais difícil? ou até impossivel? Será que aquela luz que vejo, me leva para fora deste limbo?
Será que de facto está tudo irremediavelmente perdido?

Ou será que simplesmente é necessário desinstalarmo-nos no lugar? Morrer e voltar a nascer para sermos melhores homens e mulheres?

Azul disse...

Olá Brain!

Um texto tão real e verdadeiro. Sucumbimos e nem damos por isso... e quando nos apercebemos... é tarde demais...

Beijo
Azul

Brain disse...

Tempestade,

Por não ter mais onde te procurar, aqui, te deixo um abraço.

Anónimo disse...

Brain,
As tempestades andarilham neste mundo suavemente por entre flores e papoilas.

Brain disse...

LOL,

Eu sei que sim Tempestade...
Eu sei que sim.

Twlwyth disse...

Se algum dia "temos" que sucumbir, que seja dessa forma tão poética.
Beijo

DDivinal disse...

:) adorei o cantinho :) e quanto ao escrito... ai... vidas...

Unknown disse...

silêncio...
e em silêncio li...
e em silêncio fiquei depois de ler...

e é em silêncio q agarro nas teclas e tento dizer algo... mas o silencio das teclas n o permite...

sucumbi no silencio... atraves das tuas palavras...

um abraço, que te erga no mto q temos de caminhar nesta vida dos momentos...

NARNIA disse...

Sucumbimos muita x para voltar a renascer, mais fortes, inteiros.


BJS

Jo disse...

acontece...
tantas e tantas vezes.
beijo*

Estranha pessoa esta disse...

Simplesmente .. sei lá.. olha, nem sei...........
Raramente digo isto num blog mas, vou ter que o dizer.. Gostei para caraças destas linhas.

È que gostei mesmo.
Então dos últimos versos...........

Volto amanhã para sentir as entrelinhas.

Genial!

...HOJE.SOU.A.PAULA disse...

Olá Brian,

Foi um prazer enorme ter recebido no meu cantinho a tua visita.

Não interessa como chegamos uns aos outros, interessa sim a forma como nos identificamos uns com os outros.

Ao passear-me pelos ultimos posts que escreveste, posso dizer-te que tal como gostaste da minha escrita, também eu gostei muito da tua. Escreves com alma e sentimento e gosto disso.

Parece-me que seguiremos viagem juntos, pois também eu considero já, o teu espaço como um espaço de referência.

Senti-me deveras lisonjeada com as palavras que me deixaste.

Bjinho grande e até outro momento.