sexta-feira, setembro 19, 2008

Curtas 19 - Tempo


Tento arrancar de mim as palavras, que a força do silêncio teima em segurar.

Palavras que falem de mim sem que te digam.
Palavras que falem do tempo, esse que acalma a dor da ausência, mas não cala a ausência nos sentidos.
Palavras que falem do espaço, essa pequena imensidão que me separa dos teus poros.

As palavras, agitam-se no meu pensamento, ao ritmo das batidas céleres do fluxo da vida, pela força de te pensar com este querer de te sentir.

E na força da tua ausência, essa que tem a mesma intensidade do toque e da forma, que o teu ser exerceu sobre o meu, no repente em que nos inventamos com um só, Existes em mim, como uma tatuagem invisível impregnada sob a pele, que esse momento deixou como herança de nós em nós.

Hoje espero-te.
Espero-te em cada palavra largada ao vento, que me chega trazida pela brisa,
Espero-te em cada esquina do tempo, que no seu dobrar me traga o teu vislumbre,
Espero-te em cada levantar do lençol, em cada virar de cabeça, em cada sorriso sedento dos teus lábios.
Espero-te em cada som, em cada odor, em cada toque nos meus braços que hoje abraçam o nada.
Espero-te, assim como espero um sinal teu, que cada vez mais pareço sentir que não vem.

Mas a espera não desvanece,
E o meu sentir-te não esmorece...

E chamo a mim as palavras para a formação de frases novas, que quero sentidas ao longo do branco das folhas em que te sinto e te escrevo, espelhando-te nas curvas de cada letra que dando no seu fim início à próxima, me levam numa corrida de palavra em palavra em busca de ti, deixando-me ofegante, até ao fôlego do suspiro de uma vírgula ou término de um ponto.

E tu... tu estás presente em tudo, pois tu existes em tudo o que é de mim.
E assim, ficas tão por dentro de mim, que eu quase te sinto e quase te toco e fico assim a beijar em pensamento, esse teus lábios, pequenas fontes de calor húmidas, que me trazem o acelerar dos sentidos e a guerra à paz dos sentires, no calor do teu peito junto ao meu.

A música ecoa, mas não é a melodia dela que ouço. O que ecoa em mim, é o teu respirar, forte, profundo, o teu grito solto do fundo de ti, quando juntos, nos dávamos ao som destas mesmas músicas, balançávamos os corpos ao ritmo destas mesmas melodias e líamos-nos um ao outro, no fundo dos olhos de cada um de nós, a cada compasso, em profunda partilha de alma, em profunda partilha de Ser.

O tempo é contagioso e retém de nós os momentos que não estando juntos, ficam desperdiçados para proveito de ninguém.
O tempo é contagioso e leva-nos os sentimentos para auras do pensar em auroras de sentir.
O tempo é contagioso e leva-te a ti, de mim. Leva-me os teus momentos, leva-me os teus sorrisos, leva-me os teus olhares, leva-me o tudo e o tanto de ti, que por não te ter perto de mim, deles fico despido.

O tempo é contagioso, mas o tempo... o tempo não consegue apagar o tudo que vivemos, nem as saudades que eu tenho de ti e de tudo aquilo que contigo ainda não vivi.

O tempo é contagioso, mas o tempo...

Esse mesmo tempo,

Um dia,

Será para sempre...
...o “nosso tempo”!

16 comentários:

Brain's Wife disse...

I love you

Simplesmente belo, tal como o é o Amor

BEIJOS
TUA

Anónimo disse...

Um segundo é uma hora
e uma hora é um segundo
no relógio da paixão.

Não há tempo nesse tempo.

Quem ama nunca sabe
as horas que são.

E as horas também não sabem
onde os amantes estão.

No relógio da paixão
O tempo pára, retrocede, avança.

Não está parado nem está
em movimento.

Está perdido, mas não está perdido.

Como tu, que amas, apenas dança.

Álvaro Magalhães

Freyja disse...

Caro Brain,

Fiquei estupefacta a le-lo... foi de uma virada só!

"E tu... tu estás presente em tudo, pois tu existes em tudo o que é de mim."

Faça o favor de a respirar!

Adorei!

[Gratz pelo Blogue.]

Melhores Cumprimentos,

Amor amor disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Amor amor disse...

Esse texto está "perigoso", hahaha... Se eu ler mais vezes, vou acabar acreditando que possa acontecer comigo esse ainda...

Lindo, Brain!!!

Beijinhos doces cristalizados!!! :o*

A Coração disse...

Como sempre... maravilhoso. Amei!

Walter disse...

Brain...

O texto é poderoso, tal como o é o amor. Não sei onde guardes todo esse sentimento que emprestas às palavras e a quem te lê, mas deixa-me dizer-te que ler este texto acompanhado por "Kissing you" transforma esta experiência em algo mágico!Excelente Brain...
Abraço

Helena disse...

Que dizer?
É bom ver que ainda existe o amor, e que ainda existem pessoas que o conseguem sentir desta maneira.
Adorei ler.
beijinho

borrowingme disse...

não foi só o texto
não foi só a música
não foi só o facto de me sentir como sinto
não foi só o medo
não foi só a saudade
não foi só a vergonha
não foi só a falta de paz
não foi só a falta da felicidade

mas este texto levou-me a limpar a lágrima que hoje, teima em não se soltar do meu olho.

felicidades.

Reticências disse...

Brain,
já sentia falta de te ler, mas a ausência nos últimos tempos foi mais do que compensada por este texto magnífico!

Gosto mesmo muito da tua escrita. E este post… nem sei o que dizer, só apetece ler, ler, e ler!

Parabéns. 1 beijo enorme.

Mαğΐα disse...

Canta a Susana Felix que o tempo tem "mais olhos que barriga."

"O tempo, esse bandido clandestino
Salteador de estradas e memórias
Mistura numa névoa libertino
O passado e o futuro das histórias."

Fizeste-me lembrar...

Um beijo

as velas ardem ate ao fim disse...

Que bonita declaração de humor!Eu ate chorei.

bjo

Seagull disse...

Que bela descrição de um amor que se quer real...

Belo, muito belo!

:-)

Anónimo disse...

Fantastico !!!
Gosto de te Ler !


Abraço , A.B.

Anónimo disse...

ok, picada no ego... mas não gostei do texto e nem vou comentar a faixa que colocaste aí.

tens capacidade de escrever algo mais criativo.
e conheceres um pouco mais de música.

Anónimo disse...

Perdi as minhas palavras, perante a intensidade das tuas...