(memórias de uma noite de ausências)
Porque sempre foste um homem de mãos abertas, para tudo e para todos, foi apenas no final da noite que, quando finalmente olhaste as mãos, reparaste que apenas tinhas recolhido 3 dedos.
Não necessitando seres tu um especialista em matemática, olhaste os restantes e viste que não só havia mais dois pares de 3, como ainda sobejava um outro. E ao contrário do que pensaste, nem era sequer o mais pequeno. Era o maior de todos.
Incrédulo, ficaste a olhar as mãos.
E não sabendo se deverias ficar preocupado, indignado, triste ou magoado, procuraste por razões. Procuraste. Mas não as encontraste.
Porque não havia razões capazes de te afagar o desolo.
Não havia razões que justificassem a ausência.
Não havia razões que minorassem o mau sentir, pela falta sequer, de uma simples palavra.
E então reviste-te. Olhaste-te por dentro. Foste às entranhas de ti.
E viste. Viste que aquilo que cada um deles era para ti, tu não o eras para eles.
Tu eras apenas um. Mais um, quando não eras a necessidade do momento.
E então, fechaste as mãos. Recolheste todos os dedos. Todos com excepção de um. O maior. Com a certeza de que, o gesto não havia partido de ti, mas daquele, que pela força da sua ausência, não fez com que ele se recolhesse, de forma autónoma.
E aquele gesto, o gesto que ficou, não era teu.
Naquele momento, aquele gesto, eras TU!
1 comentário:
Às vezes somos egocêntricos até ao dia em que acordamos para os outros. Nesse dia pedimos piedade...
Muito bonito, este texto.
Abraço.
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