terça-feira, outubro 17, 2006

Será

Será que ainda me resta tempo contigo,
ou já te levam balas de um qualquer inimigo.
Será que soube dar-te tudo o que querias,
ou deixei-me morrer lento, no lento morrer dos dias.
Será que fiz tudo que podia fazer,
ou fui mais um cobarde, não quis ver sofrer.
Será que lá longe ainda o céu é azul,
ou já o negro cinzento confunde Norte com Sul.
Será que a tua pele ainda é macia,
ou é a mão que me treme, sem ardor nem magia.
Será que ainda te posso valer,
ou já a noite descobre a dor que encobre o prazer.
Será que é de febre este fogo,
este grito cruel que da lebre faz lobo.
Será que amanhã ainda existe para ti,
ou ao ver-te nos olhos te beijei e morri.
Será que lá fora os carros passam ainda,
ou as estrelas caíram e qualquer sorte é bem-vinda.
Será que a cidade ainda está como dantes
ou cantam fantasmas e bailam gigantes.
Será que o sol se põe do lado do mar,
ou a luz que me agarra é sombra de luar.
Será que as casas cantam e as pedras do chão,
ou calou-se a montanha, rendeu-se o vulcão.

Será que sabes que hoje é Domingo,
ou os dias não passam, são anjos caindo.
Será que me consegues ouvir
ou é tempo que pedes quando tentas sorrir.
Será que sabes que te trago na voz,
que o teu mundo é o meu mundo e foi feito por nós.
Será que te lembras da cor do olhar
quando juntos a noite não quer acabar.
Será que sentes esta mão que te agarra
que te prende com a força do mar contra a barra.
Será que consegues ouvir-me dizer
que te amo tanto quanto noutro dia qualquer.

Eu sei que tu estarás sempre por mim
Não há noite sem dia, nem dia sem fim.
Eu sei que me queres, e me amas também
me desejas agora como nunca ninguém.
Não partas então, não me deixes sozinho
Vou beijar o teu chão e chorar o caminho.
Será,
Será,
Será!

(Pedro Abrunhosa)

7 comentários:

Anónimo disse...

Um senhor por excelência,a quem teimam e não chamam cantor.Mas tem o dom de dar ás palavras a melodia de cada um,o espaço que acerta em cada vazio.
Não tenho estado cá,não tenho cuidado de nós,mas gerou-se para todos um outuno repentino.
As folhas caíram,os tons pintaram cada canto e tu a nossa árvore quase passou a folha caduca e não persistente.
A terra tem cheiro,a folhagem apad«ga a marca de passadas de ontem.O tempo ,recolhe o ser a casa e ao seu interior.E nisso amogo,um cantar falahdo de Abrunhosa,é o eco do intimo,É o grito calado e subtil da revolta de quem parte sem nunca partir.Fico contigo,envolvida nessas letras,e fazendo pensar-te que depois do cair da folha.novos verdes,novos rebentos,vida e sequência.e cada sorriso do teu tesouro,será mais uma flor do canteriro,que um outro tesouro partilha contigo.
Tiram-nos coisas,para nos colocarem nesses sitios novas coisas.Para corações alerta,coisas boas!Para quem não entende o fosso.
Um beijo terno para ti,para vocês.

Anónimo disse...

Cada um vai lendo, ouvindo e dando interpretações às palavras de acordo com a sua experiência de vida. experiência que se torna cada vez mais dura à medida que vamos vivendo.

um dia vi um spot, ou mail que andava a circular na net que dizia que a lógica da nossa vida está errada.

nascemos na melhor altura (crianças, puras) e vamos vivendo, sofrendo à medida que a idd passa.

deveriamos "nascer" velhinhos e ir-mos vivendo a vida ao contrário acabando felizes no ventre das nossas mães.

mas não é assim.

cabe-nos amar em cada dia para minimizar a dor de crescer. é o minimo que devemos fazer.

beijos para vocês os três

Anónimo disse...

... Será que ser-se humano é uma constante inconstância? É isso que a razão nos traz (e distingue dos outros seres): a consciência do que é bom e do que é mau, de forma tão intensa e sentida que não permite que deixemos impunemente passar os nossos dias, as situações, os ditos? Tantos abalos, de alegria e de tristeza...
Brain, onde obtenho o mail afecto ao teu blog? o meu é andarilhus@sapo.pt

Brain disse...

Bom dia a todos(as)

Flor: Sê bem re-aparecida. É sempre bom ver-te por cá. Quanto ao Pedro Abrunhosa, acho-o um verdadeiro poeta, que produz letras de músicas tão plenas, tão abrangentes, tão verdadeiras. E isto, desde sempre.
Beijo.

Papoila: Partilho contigo em toda a linha a tua afirmação:
"Cabe-nos amar em cada dia para minimizar a dor de crescer. é o minimo que devemos fazer."
Beijo.

Andarilhus: o endereço de e-mail afecto ao meu blog é o mynewbrain@gmail.com
Abraço

Brain's Wife disse...

Pedro Abrunhosa....
Sem dúvida o meu preferido...

Muita tristeza nestas letras, tão tristes como o tempo, e como algumas almas...

Papoila, fantástico, não diria melhor. Amar, amar, amar, sem dúvida a solução para a maioria dos nosso problemas.

Brain, aguardo pacientemente, que nos ofereças um dos teus escritos, mas com um toque mais leve do que estes últimos posts, afinal a escrita é também uma brisa que nos faz sentir melhor, certo?

Beijos para todos, em especial para ti, Brain.

Anónimo disse...

sempre que o tempo ,esta vida composta por sequência de dias com alegrias,tristezas e nadas.Sim,esses dias de nada que tão estupidamente quiemamos as horas de oferta para sorrir para olhar para nós e para os outros.
Pois,mas esses dias,que teimam,por ritual,a determinada hora despirem a nossa força,e revestir-nos de mágoa e saudade,são as doses de força divina que nos são impostas.
Numa letra "Rui Veloso,ele diz:"nem deus tem os que mais ama".
É certo amigo,é certo amigos...quem tem o que quer? quem tem o que ama...e pior quem se distraí e não ama o que tem?!
Cada momento,é para ser absorvido.UNs devem partir,pois aqui já não faz sentido.Mas os outros tem de continuar a obra deixada e a força transmitida.
A cada nascença a cada morte,o florescer da primavera o encanto a responsabilidade.
Sejamos atentos!Acabar,ser morto vivo é não dar sentido,expressao ,ao sofrimento,ao arranacar de cada um um pedacinho que é fundamental.
Mas Deus,e ele existe,tem ainda os seus apóstolos espalhados.
Os que sorriem para te levar força.Os que te esperam para os seguires.Os que se mostram e em silênciao,encostam um pouco a cabeça,fecham os olhos e sorriem.
Esses ,"tu",és a força que eu nunca vi.Um beijo,terno para ti,prar vocês.

Anónimo disse...

Bom dia,

Brain,
Para mim também és um verdadeiro poeta e tão abrangente quanto o Pedro Abrunhosa.
Esta letra é triste, como o dia cinzento de hoje,espero que venham dias melhores...
Para ti Poeta, beijo com carinho!