sábado, junho 04, 2016

PESO

É tremendo todo este peso que se apoia sobre os meus pés. Ando. Corro. Mas o peso é maior.
Tenho esta cabeça. A minha cabeça. Com tudo o que está dentro dela e teima em sair. E teima em ficar. Em me tomar. Como um todo. Minhas mãos querem ser mais. Maiores. Mas é o peso. Este peso. Que me domina. Olho em volta. Quero ser outro. Neste momento não quero ser eu. Outro. Um pássaro. Porque há pássaros livres. Sem peso. Mas não sou. Sou eu. Não sou pássaro. Sou chão. Peso. E raízes. E tudo isto que está dentro da minha cabeça. E não sai.

Há momentos tudo era alegria. Expectativa. Futuro. Ouro por cima. Neste momento tudo é peso. Tremendo. A grande roda da vida levou-me. Tirou-me de casa. E eu fui. Confiante. E agora não me encontro. Procuro-me. Não sou eu. Não percebo. Não me percebo. Não me quero. Quero-me outro. Mas não o sou. Continuo. Ao fundo vejo um rio. Parece fluir. Correr em direcção ao mar. Seu fim. Sinto-me na corrente. Com o percurso já completo. No fim. Mas não estou. Trago-me para cima. E permaneço. E as palavras não são nada. Nada mudam. Mas são tudo o que me resta. E por isso elas. Na boca. Em desagrado. Em desgosto. Na distância. Mas única coisa. Como coisa única.

Quero sair. Desaparecer. Mas não posso. E continuo. E permaneço. E sou eu.

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