Aqui estou eu outra vez. Frente a esta porta. Sempre a mesma porta. A chave na mão. Olhos no chão. Pés parados. Tudo tão pesado. A vida em atraso. Querer abraçar-te e não ter coragem. Aqui, todo eu sou nojo. E como que ardo por dentro. Chega-me o cheiro a café. Com ele a imagem da (nossa) cafeteira. E eu um fraco. A vida como justificação. Em mentira. Eu todo culpa. A tua imagem em mente. E por isso parado. Sem coragem para entrar. A imaginar-te em palavras:
- Correu bem no trabalho?
E eu com os olhos em fuga a responder-te que sim. Que o trabalho é muito. Por isso o chegar mais tarde. A mentira a pesar. E o medo que a vejas nos meus olhos. Mais ninguém me conhece assim. Tu em aproximação. E o receio maior:
- Que cheiro é este?
E eu não saberia o que te responder. Em denúncia. Por isso cheiro uma vez mais a minha roupa. Em procura. E só o meu cheiro. Em descanso. Junto com o cheiro a medo. Que só eu sinto. Pelo menos acho que é assim. Que só eu. O medo de tudo. E o desejar não o ter feito. Arrependimento. E o saber que amanhã será igual. É sempre igual. E o cheiro do café. E tu lá dentro. E eu fora. Em culpa.
Tivesse eu coragem. Seria outro.
Não sem ti. Nunca sem ti. Sem ela. Ou então… sem mim.
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