sábado, janeiro 21, 2023

CONTORNAR O MURO

Revirar gavetas. Revolver os passados. Gavetas fundas. Interiores. Em armários escuros.
(agora) Vazios. Repletos de silêncios. Abrir as portas e retirar as camisas.
As que ficaram. Por não interessarem. Por lhes faltarem um ou dois botões.
Como eu. Com pedaços em ausência. Arrancados. Em parte incerta.
 
Mergulhar nas artérias e navegar os sentidos.
É por elas que circulam os pensamentos. E nos roem. Numa devastação inteligente.
Remanescem nos silêncios. Nos finais. Que repartem a coabitação entre nós e as gavetas.
As que estão dentro dos armários. E as outras. Em partes alheias.
 
Por fim, procurar pelas palavras.
Perceber quais. Para depositá-las na tua boca. Para que cresçam. Floresçam.
Convertam os silêncios em sons. Teus. Que me trazem o teu nome. Em desejo.
Querer profundo que te nomeia. No estertor dos dias. De todos os dias.
Até ao último instante da consciência. À boca da noite.
 
Apenas o teu ventre seca as minhas lágrimas.
E me faz de novo. Em estremecimento.


1 comentário:

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Dolorido
e
em espera de algo
que...

:(