sábado, fevereiro 18, 2023

MALA VAZIA

Sabes Amor, hoje acordei triste. Não que o dia não tenha despontado, os pássaros não tenham chilreado, uma criança rido alto, não tenha encontrado uma flor no meu caminho ou não me tenha cruzado com um olá sorrido. Não. Tudo aconteceu normalmente. Apenas eu é que acordei assim. Os sentimentos não se regem pela geometria do mundo, não é?


Acordei triste sem necessitar de nenhuma explicação para isso.
Quis falar-te. Dizer-te de mim. Mas estavas de partida. Saíndo para te levar, deixei que a brisa me embrenhasse para o arrepio do sorriso. Queria que me visses em alegria. E detivesses em ti essa minha imagem. Esperei-te no carro. Sereno. E quando chegaste dei-te a melhor versão de mim. Afinal estavas ali. E isso (não) justificava a minha alegria(?). Recebi-te em ternura. Abraço. E conduzi-te ao aeroporto em carinho. Onde me despedi em saudade. Sentimentos simples. Mas tão cheios de ti.

Na volta, fui fazer a minha mala. Nela coloquei a falta do teu olhar. A ausência da tua pele, logo ao lado da saudade dos teus lábios. Juntei-lhes a memória da voz e das tuas mãos na noite. Em calor. Carinho e sorriso. O teu. Em alegria. E acomodei o sabor do vinho que ficou por beber e o som das notas da música que ficou por ouvir. A todos aconcheguei bem, como se aconchega um filho. Com cuidado. Para ficarem a salvo da vida. As carícias, claro, junto com as palavras, sobrepuseram-se a tudo, como um manto protetor, fechando a mala de seguida. Foi desta forma que te trouxe comigo. Sem olhar para trás, para não correr o risco de não conseguir sair.

Nunca uma mala vazia me foi tão pesada.

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