Aquele foi o momento. Deu por si no meio da casa a arder. Aquela que era a sua. Em formato de vida. Tendo de escolher sobre o que salvar, escolheu o fogo. O que mais se assemelhava a ela. Por querer preservar-se. Manter-se viva. Sobreviver ao desaire. No culminar da surpresa.
Depois disso, foi cinza. Fénix. Renascimento. Nova vida. Porque novas
possibilidades. Novas razões. E então quis saber do mundo. Quis saber do que (já)
não era. Quis saber de tudo do agora. E, porque (ainda) as mesmas vontades, quis
saber dele.
Foi ainda sentindo o ardor do fogo na pele bem como no
interior de si mesma, que ao fim de todos aqueles anos que os separavam, num
rasgo de (difícil) coragem, lhe falou. Como se fala a um novo velho conhecido.
Porque assim eram. Em perto. Em íntimo. Contínuo. Mas há tanto tempo.
Quis dizer-lhe dos quereres. Quis dizer-lhe dos todos e quis dizer-lhe dos
nadas. Mas no momento não o sabia. Como ele não a sabia a ela. E foi a medo,
mas com todas as vontades. Foi a medo, mas com todas as palavras. Acumuladas. De
todos aqueles anos. De todas as ausências. De todas as urgências. Abafadas. Até
de si. Não sabendo o que esperar. Que premiu o botão.
Dividida entre o (profundo) querer e a (falsa) esperança que
não. Entre o querer, mas não saber o que esperar. O acreditar na resposta, mas
(até) chegando a duvidar da mesma. Que ficou a olhar o monitor. Algumas poucas (longas)
horas. Em espera infinita. Tempo em excesso. Até que o brilho. Até que o
retorno. Sem reservas. Sem limites. Em continuidade de tudo o que (até então)
não tinha sido. Como um hiato temporal anulado instantaneamente por um
acontecimento de vida. Mas com (muito mais) vontades. Com (muito mais)
intensidade. Com (ainda mais) vida. A que era dele. E (agora) também dela.
Porque há fogos que nos consomem, mas que por isso nos
renascem.
E por isso, os chegar a desejar. E por isso o neles mergulhar.
Do qual só lemos o fim.
E nada mais interessa.
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