Como
um acto contínuo, inevitável, (e por vezes até) absurdo, volto a ti. Agora que
os telefonemas diminuiram de frequência. Que as mensagens vão rareando. Que as
vidas continuaram (menos a tua). Que os pensamentos aos poucos se foram desviando.
Agora filho, agora somos só nós.
Há tantas coisas que acredito que saibas que sinto e que não te sei dizer. Doem
em mim todas as palavras que te ficaram a faltar. Todos os metros de caminho
que te ficaram por percorrer. O não saber com que pensamento adormeceste. E (num
acto egoísta) o acreditar que chamaste por mim, como eu não me cansei de fazer por
ti, quando soube que partiras.
- Foi o meu nome que o teu coração articulou na sua última batida?
Agora somos só nós. E o tempo não passa. Permaneço a saber de ti. A ouvir
aquelas palavras a perfurar a minha mente. A estilhaçar ecos por todo o corpo. O
peito a apertar. As pernas a falhar. E esta sombra que se espalhou dentro de
mim. Semeou escuridão. Encobriu todos os prazeres. Relembro os pedidos que em
menino me fazias e eu não podia satisfazer.
- Fui eu a tua última e maior falta?
Agora somos só nós filho. E esta dor que é tanta. Doem-me as culpas todas que
sinto. Doem-me as memórias que me fazem sorrir. Doem-me as mãos que seguram esta
tua foto. Em que correndo ao meu lado olhas a meta. Marcando o ponto a que iríamos
chegar juntos. Como eu pensei que sempre aconteceria. Até eu não. Eu. Não tu.
Porque assim o determina o normal da vida. E agora, sem ti, como conseguirei eu
chegar onde quer que seja?
- Fui eu a tua maior dor na partida?
Agora somos só nós.
E eu não sou mais que um mar de dúvidas. Em tumulto.
Em vazio.
Num "mundo de loucos", em que as relações interpessoais muitas vezes nos "passam ao lado", vamos, com base nas nossas vivências e alguma imaginação à mistura, fazer deste cantinho um centro de reflexão e de diversão.
sábado, julho 15, 2023
AGORA SOMOS SÓ NÓS
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