Imersos na noite, minhas mãos deslizam sobre a tua pele procurando pelo teu apaziguamento. És um conjunto de pequenas dores. Sonos em falta. Estranhas palavras que acumulas nos poros. Te prendem as vontades. Arrefecem a vida e te agigantam sombras. Pelas minhas mãos, que te percorrem o corpo procurando pelas dores físicas, expeles as outras, em pequenos suspiros. Os teus, que libertas do íntimo, e os das minhas mãos que suspiram por ti. Que percorrem o teu corpo, mas que era rompendo vontades que queriam estar. Em diálogos surdos de bocas. Em profundo. Em calor.
Deitada deixas-te ir. Os caminhos das minhas mãos elevam-te. Resgatam-te dos meandros dessas pequenas loucuras. Enquanto eu inverto. E mergulho em vontades reprimidas. De te ter. Por completo. Olho-te nesse teu disfrute. Vejo que o teu rosto se abre. Que a tua luz, a pouco e pouco, vai chegando. Voltando a casa. E sinto-te a ir. Já não és tu que estás comigo. Mas o que restou da purga. Apaziguada. Como quem diz sereno. Quase paz. É agora o teu sono que me faz companhia. Me fala de ti pelo teu corpo que permanece em repouso. Inerte. Muito tempo. Como quem não tem do que fugir. Como quem fica porque quer ficar. Como quem está em casa. Em aconchego.
Deito-me ao teu lado e num abraço, cubro-te o corpo. Sincronizo o meu respirar com o teu. E ali. Naquele momento. Somos um só. Em existência. Em físico. E na minha (enorme) vontade de ti. Que permanece desperta. Não dorme. Sentindo-te. E que num repente se agita quando a tua mão, num movimento (inconsciente?) procura pela minha. E a agarra. E apertando-a fica. Como barco que se amarra ao cais. E lhe dá a razão da sua existência.
É noite. É já tarde. É já tão tarde.
E eu fico no desejo que ela não acabe.
Que o dia não nasça.
E que nós sejamos assim. Um só.
Até o amanhecer de uma nova vida.
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