Estão
já frias as páginas do livro que deixaste sobre a cama. Calor nenhum da tua
pele repousa agora sobre elas. Nem partículas do teu olhar. Ou algum dos ímpetos
com que o fechaste para me olhares. Bem dentro dos olhos. Fundo.
- Sempre me soubeste despir com o olhar.
Dizias que no meu peito batia um coração selvagem. E insistias para que eu o libertasse.
Enquanto com as unhas me sulcavas na pele passagens para ele emergir. Caminhos de
sentido único. Em jeito de lava. Como torrentes. Enquanto com o corpo chamavas
pelo que dizias ser esse outro que habita em mim. Rebelde. Desregrado.
Mas eu sempre fui ser dominante. E cobri de gelo todas as fissuras. Selei todos
os acessos. E fui sempre eu. Apenas eu. E por entre todos esses bloqueios,
fomos acontecendo. Como seres únicos. Que nos reconhecíamos. Em pele. Em Toque.
Odores. Existência.
O livro permanece sobre a cama.
Foram momentos únicos. Irrepetíveis. E na sua irrepetibilidade reside o
conforto da familiaridade do porvir. Ainda que em surpresa. Sempre em surpresa.
Para além de todas as letras. Sobre todos os espaços de silêncios. E de todas
as palavras que ficaram por dizer.
Porque as palavras nem sempre são complemento.
E as aspas não nos dizem do texto completo.
Num "mundo de loucos", em que as relações interpessoais muitas vezes nos "passam ao lado", vamos, com base nas nossas vivências e alguma imaginação à mistura, fazer deste cantinho um centro de reflexão e de diversão.
sábado, dezembro 02, 2023
FRIO
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