sábado, janeiro 13, 2024

NEM TUDO ESTÁ DITO AINDA

Não. Nem tudo está dito ainda.
Há várias páginas em branco por preencher. Páginas desprendidas que a carne não escreve. Exaltação de fogo que nem os olhos, nem as mãos, nem a razão conseguem dissolver no meu tempo sem ti. Calor insatisfeito na sede de tudo e de coisa nenhuma. Que guardo num espaço que só se abre com a chave da tua boca. E com as metades de cada um de nós, faço um filho às palavras. E espero que cresça. Até à prosa selvagem. A correr à solta. Sob o olhar atento dos teus sentidos. Sem o toque dos meus.


Talvez as palavras que desassossegam as entrelinhas rasguem (todos) os verbos.
Talvez essa carícia que me afaga os sonhos seja precisamente o instante onde me esperas. Onde me fazes sentir que sabes o que sinto em mim. Num tempo sem medida. Onde me és. Como um dia inteiro que acontece num fim de tarde. Pois nunca a ausência dos teus lábios foi a forma de esquecer o que não foi pronunciado. Naquela tua voz. Onde sobra o desejo. À qual sempre chego a ti sem saber o que me acontece ao corpo. Que abre a janela e voa. Cai no chão e chora. Sangra e gosta. Ri do meu silêncio. Faz-me os gestos. Na fuga em que tudo volta. E me chama. Uma vez mais. A ti.

Não. Nem tudo está dito ainda.
Há várias páginas em branco por preencher.

Deixa a porta entreaberta. Apaga a luz.
E grita bem alto o meu nome. Em todos os teus silêncios.

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