sábado, abril 09, 2016

FOMOS

Preenchi todas as rugas e arranjei cada fio de cabelo. Revi o meu léxico. Anulei a pronúncia, e levei em mãos todas as palavras para ti.
Falei-te. Disse-te do amor. Mas tu (já) não eras mais do que um amontoado de silêncios. Em acumulação. Delírio de significantes. Por saber.

O pão permanecia em cima da mesa. Semi-cortado. A mesa era a mesma e o banco também.
(tábuas velhas - dizias tu). E eu, olhando para elas, só nos via em vida. Tu: o pão fresco, saboroso, ainda morno. Eu: A mesa que te dava suporte. E o banco(?), algo que estava por ali. À procura de se encontrar.
Delírio (meu) de significados.

Tu eras o pão, a mesa e até a própria faca. Tu própria. Apenas. Só. Em autonomia. Não nós.
E eu, mais não era senão o banco. Perdido. Sem função (para ti). Na tentativa de me encontrar. Em significados.

Parei. Olhei-nos no tempo e vi-nos em unidade. Em alegria e carinho. Em toque e pele. Lábios em sorriso. Uma casa única, audível, sensível. Líquida. Quadro distante de uma realidade alheia.
Falei-te. Gritei-te para dentro da pele. Mas eram os teus silêncios que habitavam dentro de ti. Não eu. Não as minhas palavras que não te alcançavam. No profundo.

Pensas. Olhas-me. E de ti monossílabos. Palavras nuas. Isoladas. Em ardor e escudo terrífico. Habitas um lugar longínquo. Em abismo. Conjunto penumbra, lento de várias mortes. Onde não estou. Nunca estive. Nem o banco. Nem tu.

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