sábado, abril 02, 2016

NUNCA EM MIM A RÉSTIA DO TEU NOME


A paixão é já uma palavra antiga na memória do meu corpo, e a luz que sempre trazias e com que me multiplicavas é a mesma que agora me divide. Fala-me. Chama-me. Mas não me digas do meu nome na tua boca. Porque há na boca palavras aninhadas. Empedernidas pelo tempo. Que não querem ser proferidas de viva voz. Eu digo-te: a minha luz és tu. Mas o que é a luz? Por que palavras se mede o tempo da paixão? Tu não sabes. Sempre adormeceste primeiro e era eu quem me perdia no tempo da contemplação. Sonhavas longe enquanto repousavas das curvas do meu corpo. E eu era o sonho.

Passa ao longe um barco. Devagar. Eu seguro a luz com ambas as mãos num abraço total dos momentos. Mergulho em mim. Já não te sinto. Divido-me. Divides-me. E no frapé ainda a garrafa virada. O gelo derretido no tempo futuro e os copos em ausência. Fragmentos de passado. Como tu. Sou agora um corpo de ausências absolutas. Que te imaginam. Que te sonham. Que gritam baixo o teu nome na sombra dos lençóis, cansados dos dias e das noites em branco. Sem os teus lábios no meu ouvido à boca da noite. Sem as tuas palavras no meu ventre. Sem a réstia do teu nome no meu.

É fria esta luz. Está escuro. E tu agora és só sombra. E tempo. Em falta.

(foto: Mandrake)

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