Pés. Renúncia. Velocidade. Medo.
Equipado corres o vento. Colocas tudo quanto és nas pernas, e sais para te enfrentares. Todo tu és uma só coisa. Respiração. Todo tu és um só esquecimento. Em dor. Procuras o espírito do dia, mas apenas uma lírica estranha te assola. São teus os pés que te levam. São tuas as pernas que te carregam. Anatomia em funcionamento. Mas nunca são apenas tuas as vontades. Sinapses. Todas as coisas te forçam. Muitos os sonhos. Todos os pesadelos. Pálpebras que não (te) cobrem.
Há um silêncio único dentro de ti. Que te impele. Te conta os minutos e os quilómetros. Te mede a pulsação. E que te diz. Que tu não és nunca apenas tu. És também outros. Outra coisa. Outras coisas. Fora de ti. Há outros com que te cruzas. Mas não estão alinhados contigo. Tu és apenas tu. Em velocidade. Em medo. Medo de te cruzares contigo. De te encontrares dentro da tua fuga. Porque ninguém se perdoa. Nem o tempo o faz.
Os olhos em frente. É grande a loucura. É pura a dor. Minado o teu chão. Por vezes páras. Por vezes aceleras ainda mais. Porque são vivas essas outras coisas. Algumas mortas também. E tu és um lugar de loucura. Em pele. Em fuga. Imaginas-te em fim. Objectivo conseguido. Mas ele longe. E tu continuas. Em demência. Para conseguires ainda sorrir.
Porque só o esquecimento o permite. Em absoluto. Mas nunca tu.
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