Como uma carícia num manto de relva fofa, procurei as tuas mãos em pontas de dedos. Um ritual macio. Mecânico. Como hábito adquirido ao longo dos anos. Por vezes, era o bastante para que todos os sons se aquietassem. Havia apenas, aquele (pequeno) toque de pele. Sorrias. Por vezes olhavas-me. Outras, apenas inspiravas um pouco mais fundo. E eu sabia-te. Em comunicação muda. Em pele. E éramos brisa. Em tempo grande.
Depois vieram os pés. Sob os lençóis. Novo toque de pele. Pequeno. No silêncio. E éramos calor. Em tempo grande. Que pedia os braços. Que nos deixava em saber. Do outro. Mesmo na penumbra. Em escuro. E odores.
E entre nós as palavras. Sempre as palavras. As ditas. Em muitas horas. As que ficam por dizer - mas nunca por saber. E todas aquelas que não sendo nossas, nos dizem.
Somos matéria intemporal. Pele em doses pequenas. Em saberes. Em tempo grande.
Monólogos a dois. Em intimidade maior.
Num "mundo de loucos", em que as relações interpessoais muitas vezes nos "passam ao lado", vamos, com base nas nossas vivências e alguma imaginação à mistura, fazer deste cantinho um centro de reflexão e de diversão.
sábado, setembro 24, 2016
sábado, setembro 17, 2016
DIZER AMOR
Retenho sons de ti. Alguns articulados em palavras. Outros em gestos. Em pupilas dilatadas. Fixas. Em aconchegos. E quando te quero dizer Amor, são apenas gestos que penso. Na flor em cima da mesa. Na reticente vela. No odor da tua pele. Teu cerrar de pálpebras.
Sei-nos numa canção. Lá longe no tempo. Sei-nos numa praia em primeiro beijo. Em tempos de projectos. Sonhos. Medos também. Alguns. Sei-me num querer. Intenso. Imenso. E sei-me em ti. Em Amor. Esse. Que te queria dizer. Mas não consigo.
Como te posso dizer Amor, se é no silêncio que ele existe maior?
Como se escreve felicidade? Como se diz Instante? Entardecer? Brisa? Morada? Ou infinito? Numa voz? Em duas? Quantas vozes são precisas para (te) dizer? Não sei. As palavras são tão imperfeitas. Carregam tantos significados. Calma e serenidade não são a mesma coisa. E eu não sou essa coisa. Em significado. Ou em essência.
Eu sou tudo. A mão que te suporta na dor. O som da gargalhada que te eleva. E o ferro que (mesmo não querendo) te pode ferir de morte. Esse sou eu. Assim. Porque imperfeito. Como as palavras. Palavras. Muitas. Que dizem tanto. Mas que não servem para eu te dizer Amor.
Porque eu, quando digo Amor, é apenas uma coisa que quero dizer: Tu.
Sei-nos numa canção. Lá longe no tempo. Sei-nos numa praia em primeiro beijo. Em tempos de projectos. Sonhos. Medos também. Alguns. Sei-me num querer. Intenso. Imenso. E sei-me em ti. Em Amor. Esse. Que te queria dizer. Mas não consigo.
Como te posso dizer Amor, se é no silêncio que ele existe maior?
Como se escreve felicidade? Como se diz Instante? Entardecer? Brisa? Morada? Ou infinito? Numa voz? Em duas? Quantas vozes são precisas para (te) dizer? Não sei. As palavras são tão imperfeitas. Carregam tantos significados. Calma e serenidade não são a mesma coisa. E eu não sou essa coisa. Em significado. Ou em essência.
Eu sou tudo. A mão que te suporta na dor. O som da gargalhada que te eleva. E o ferro que (mesmo não querendo) te pode ferir de morte. Esse sou eu. Assim. Porque imperfeito. Como as palavras. Palavras. Muitas. Que dizem tanto. Mas que não servem para eu te dizer Amor.
Porque eu, quando digo Amor, é apenas uma coisa que quero dizer: Tu.
sábado, setembro 10, 2016
TODOS OS DIAS FOSTE OUTRO
Faz sete anos que chegaste.
Lentamente (como a árvore que cresce), foste entrando. E sem pedir permissão (assim como o tempo), foste ficando. Como uma hera foste-me enleando, enredando-me no costume da tua presença. E eu fiquei menos só. Já não sabia se era a mim que o sol beijava primeiro, ou se à tua presença em mim. Que já não me distinguia de ti.
O tempo foi passando. Tu foste crescendo. Em idade. E em mim.
E tu sempre cumpriste. Todos os dias foste outro. Com uma alegria genuína. Ímpar. Com as tuas palavras sempre frescas. Sombra de árvore. Chilrear de pássaro. Em palavras. Em afectos. Gestos indizíveis. Em colo. (porque não?) Em amor.
Eu sabia que este dia chegaria. Sabia que chegarias ao final da tua jornada e partirias. Qual pássaro em bando. Mas secretamente, mesmo sem saber, fui alimentando. A esperança. (embora te soubesse andorinha). Que o teu bando fosse de cegonha. E decidisses ficar.
Faz dois anos que partiste.
Todos os dias te lembro. Todos os dias te falo. Ainda que a tua voz não cá.
Depois de ti vieram outros. Vários. Nenhum ficou tanto tempo quanto tu. Nenhum me aliviou da minha solidão de ti. Nenhum outro foi água. Ou brisa. Nem deixou raízes. Foste único.
Todos os dias foste outro.
E eu, sem ti. Fiquei.
Lentamente (como a árvore que cresce), foste entrando. E sem pedir permissão (assim como o tempo), foste ficando. Como uma hera foste-me enleando, enredando-me no costume da tua presença. E eu fiquei menos só. Já não sabia se era a mim que o sol beijava primeiro, ou se à tua presença em mim. Que já não me distinguia de ti.
O tempo foi passando. Tu foste crescendo. Em idade. E em mim.
E tu sempre cumpriste. Todos os dias foste outro. Com uma alegria genuína. Ímpar. Com as tuas palavras sempre frescas. Sombra de árvore. Chilrear de pássaro. Em palavras. Em afectos. Gestos indizíveis. Em colo. (porque não?) Em amor.
Eu sabia que este dia chegaria. Sabia que chegarias ao final da tua jornada e partirias. Qual pássaro em bando. Mas secretamente, mesmo sem saber, fui alimentando. A esperança. (embora te soubesse andorinha). Que o teu bando fosse de cegonha. E decidisses ficar.
Faz dois anos que partiste.
Todos os dias te lembro. Todos os dias te falo. Ainda que a tua voz não cá.
Depois de ti vieram outros. Vários. Nenhum ficou tanto tempo quanto tu. Nenhum me aliviou da minha solidão de ti. Nenhum outro foi água. Ou brisa. Nem deixou raízes. Foste único.
Todos os dias foste outro.
E eu, sem ti. Fiquei.
sábado, setembro 03, 2016
GRANDE O MAR
É grande todo este mar à minha frente.
Depósito de memórias. Alegrias. Temores. Tristezas também. Com fumo de cigarro. (de mim que não fumo). Os rochedos que tão bem conheço. O toque desta areia. Olhar longe.
Com aquele dia. Negro. Súmula de vida. Vim aqui para me perguntar. Para me encontrar. Sem saber se continuava. Ou desaparecia. Quando a tua voz rouca
- Estás sozinho?
Quando isso era de todo impossível. Tantas as vozes dentro de mim. Mas tu não sabias.
- Que fazes aqui?
E eu sem saber o que te dizer. Procuro-me. Mas não me encontro. Só. Perdido na tua voz. Rouca. E o meu silêncio. De pés enterrados na areia. Húmida. Em arrepio de frio.
Olhavas-me. Curiosa. Por entre os teus cabelos. Pretos. Longos. Ondulados. Misturados com a tua voz. Masculina. No teu corpo feminino. Bem trabalhado. Como a tua voz. Que me atraía.
Sentaste-te a meu lado e ficaste comigo a olhar o mar. Este. Todo. Grande. Que se estende à minha frente. Perguntei-me se seria o mesmo. O que tu vias. Quando uma gaivota ao longe. Teus olhos acompanharam-na. De encontro aos meus.
- Nunca te vi por cá. Costumas cá vir?
E eu ali. Todo nos teus olhos. Com toda a minha vida. Naquele momento acumulada. Em pressão. Entre as mãos. (estranhamente não me lembro das tuas) Com o meu corpo a responder por mim. No meu silêncio. No teu sorriso.
Afastado, um homem chamou-te.
- Tenho de ir. Sou a Laura. Estou sempre por cá. Aparece.
E de um salto correste em direcção a ele. Quando finalmente a minha boca em movimento. Para te falar. Dizer o meu nome. Despedir. Mas nenhum som.
Voltei. Várias vezes. Não mais te encontrei. E até hoje não sabes.
Que os meus dias não terminaram. Que continuo por cá. E ainda me lembro de ti.
Depósito de memórias. Alegrias. Temores. Tristezas também. Com fumo de cigarro. (de mim que não fumo). Os rochedos que tão bem conheço. O toque desta areia. Olhar longe.
Com aquele dia. Negro. Súmula de vida. Vim aqui para me perguntar. Para me encontrar. Sem saber se continuava. Ou desaparecia. Quando a tua voz rouca
- Estás sozinho?
Quando isso era de todo impossível. Tantas as vozes dentro de mim. Mas tu não sabias.
- Que fazes aqui?
E eu sem saber o que te dizer. Procuro-me. Mas não me encontro. Só. Perdido na tua voz. Rouca. E o meu silêncio. De pés enterrados na areia. Húmida. Em arrepio de frio.
Olhavas-me. Curiosa. Por entre os teus cabelos. Pretos. Longos. Ondulados. Misturados com a tua voz. Masculina. No teu corpo feminino. Bem trabalhado. Como a tua voz. Que me atraía.
Sentaste-te a meu lado e ficaste comigo a olhar o mar. Este. Todo. Grande. Que se estende à minha frente. Perguntei-me se seria o mesmo. O que tu vias. Quando uma gaivota ao longe. Teus olhos acompanharam-na. De encontro aos meus.
- Nunca te vi por cá. Costumas cá vir?
E eu ali. Todo nos teus olhos. Com toda a minha vida. Naquele momento acumulada. Em pressão. Entre as mãos. (estranhamente não me lembro das tuas) Com o meu corpo a responder por mim. No meu silêncio. No teu sorriso.
Afastado, um homem chamou-te.
- Tenho de ir. Sou a Laura. Estou sempre por cá. Aparece.
E de um salto correste em direcção a ele. Quando finalmente a minha boca em movimento. Para te falar. Dizer o meu nome. Despedir. Mas nenhum som.
Voltei. Várias vezes. Não mais te encontrei. E até hoje não sabes.
Que os meus dias não terminaram. Que continuo por cá. E ainda me lembro de ti.
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