É grande todo este mar à minha frente.
Depósito de memórias. Alegrias. Temores. Tristezas também. Com fumo de cigarro. (de mim que não fumo). Os rochedos que tão bem conheço. O toque desta areia. Olhar longe.
Com aquele dia. Negro. Súmula de vida. Vim aqui para me perguntar. Para me encontrar. Sem saber se continuava. Ou desaparecia. Quando a tua voz rouca
- Estás sozinho?
Quando isso era de todo impossível. Tantas as vozes dentro de mim. Mas tu não sabias.
- Que fazes aqui?
E eu sem saber o que te dizer. Procuro-me. Mas não me encontro. Só. Perdido na tua voz. Rouca. E o meu silêncio. De pés enterrados na areia. Húmida. Em arrepio de frio.
Olhavas-me. Curiosa. Por entre os teus cabelos. Pretos. Longos. Ondulados. Misturados com a tua voz. Masculina. No teu corpo feminino. Bem trabalhado. Como a tua voz. Que me atraía.
Sentaste-te a meu lado e ficaste comigo a olhar o mar. Este. Todo. Grande. Que se estende à minha frente. Perguntei-me se seria o mesmo. O que tu vias. Quando uma gaivota ao longe. Teus olhos acompanharam-na. De encontro aos meus.
- Nunca te vi por cá. Costumas cá vir?
E eu ali. Todo nos teus olhos. Com toda a minha vida. Naquele momento acumulada. Em pressão. Entre as mãos. (estranhamente não me lembro das tuas) Com o meu corpo a responder por mim. No meu silêncio. No teu sorriso.
Afastado, um homem chamou-te.
- Tenho de ir. Sou a Laura. Estou sempre por cá. Aparece.
E de um salto correste em direcção a ele. Quando finalmente a minha boca em movimento. Para te falar. Dizer o meu nome. Despedir. Mas nenhum som.
Voltei. Várias vezes. Não mais te encontrei. E até hoje não sabes.
Que os meus dias não terminaram. Que continuo por cá. E ainda me lembro de ti.
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