sábado, dezembro 10, 2016

QUANTO FICA

Do tudo que dás, quanto guardas em ti?
Qual a reserva com que ficas para o após? Para a partida? Separação? Para a dor?
E da vida que fica quanto ainda és tu? Sobram palavras, ou apenas espaços? As Pausas. Todas.

És sempre o tudo em que te dás? Deixas que levem o melhor de ti?
Ou guardas-te em baú? Em proteção de ti? Em controle?

Controlas? Controlas-te?

É na esteira do barco que vive a espuma. E é nela que os peixes formulam os regressos.
A esteira existe, quer o barco passe rápido ou devagar. Mas é na pressa dos dias que a esteira é maior. A espuma mais densa. Em êxtase. Em absoluto. Em tempo. Mas sem pensar no regresso. Sem pensar no ficar. Nos lugares. Ou nas pessoas. Nos nomes em que nos tecemos.

Ficamos com o barco, com o mar e com as memórias porque esses não partem. Mas as nossas partes sim. Com os peixes que regressam ao longo da esteira. E as levam como se fôssemos deles. Pedaços nossos alheios de nós. E ficamos vazios. No vazio. Num para sempre finito.

Controlas? Controlas-te?

Eu não quero retalhos de mim. Quero-me inteiro. Quero-me em sempre.
Quero-me em ti. Todo. No teu nome. No meu nome. Em todos os nomes de todos em que me teço. Não me quero em cuidados de dádiva. Em resguardo. Em controle. Quero-me em esteira larga. Sempre. Agitada. Espuma densa. Em regressos ternos. Em cuidados raros. Em todos os nadas plenos de tudos.

Quanto fica do tudo que dás? Não sei. Só sei que dou tudo. Esperando que retorne tudo.
Mesmo sabendo, que tu não retornarás.

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