sábado, dezembro 17, 2016

TARDE DE VERÃO

De repente, ali estávamos nós.
Uma mesa frente ao rio. A chávena do café do cliente anterior. As tuas mãos. A água ao fundo. O Sol. A calçada. O teu cabelo. Tudo ali era nosso. O chilrear dos pássaros. O teu pescoço. Um novo passado em construção. E toda uma vida lá atrás. Quando tu

- Gosto das tuas mãos.
E eu a pensar em todas as coisas. Nas que as tuas palavras me diziam. Naquelas que te poderia dizer. Nos teus dedos. Nos teus lábios. Na tua pele.

- São perfeitas. Embora pequenas.
Quando ali a perfeição eras tu. E todo eu pequeno perante ti. Tentando crescer. Ser maior. Em palavras. Em ser.

Depois os lábios. O amor. O querer e todas as vontades.
Fomos cama. Fomos chão. Fomos serenidade em desvario. Todos os gostos. Gozo. Dádiva. Ternura. Animais. Pedaço de tempo finito. Até que a Lua.

- É tarde. Tenho de ir.
E tudo ainda por dizer. Tudo ainda por fazer. Um passado novo. Um diferente nós. Declarações de vontades. Amanhã.

Saímos e não mais o rio. Não mais os pássaros. A chávena do café, nem a calçada.
Agora tudo era tempo. Em falta. Em correria. Para mim. Para ti... não sei. Embora tu

- Queria prolongar este momento eternamente.
Enquanto os beijos em despedida. Os olhos em despedida. As mãos em despedida.
O teu corpo em definitivo.

O novo passado não se escreveu. O presente continuou. Em vidas. Em manutenção.
Mas ficou mais doce. Em memória. Em pele. E em sorriso.

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