Todos os dias penso em ti.
Na tua boca. Delicada e rude. Cheia de palavras fortes. Na tua voz. Rouca. A dizer-me tua. Como se tu. Vou até ao teu silêncio. Em círculos. Ao teu tempo. Onde eras. Teu chão de pedras. Afiadas. Para te encontrar. Em pegadas de sangue. Deixadas pelos meus pés. Nelas, amo-te em serenidade desesperada. Nos teus mistérios também.
Todos os dias penso em ti.
Vejo-te ao longe como navio que abandona o porto. Imagino-me água. Olho-te, mas não te falo. Sei que na tua distância lês os meus silêncios. Mas desconheço se a leitura corresponde ao que não te digo. E ainda hoje te espero. No nosso tempo partido. Como se viesses. Ou como se precisasse da tua autorização para te esquecer. Para ser.
Sou ilha na distância dos nossos corpos. Mar tumultuoso. Inavegável. Antes de ti, não sabia da minha solidão. Hoje, sei apenas isso. Sou tempo em falta. Pó dos teus segredos. E sangro. Jamais alguém me conhecerá como tu. Serei apenas nome. E distância. Porque no meu perto só existes tu. Ainda que não aqui.
Todos os dias penso em ti.
Ninguém me conhece. Sou longe. Mistério. E vazio.
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