Nas
intermitências da vida, desta que é a nossa, deixei-me encurralar. Eu, que
nunca quis ficar presa. Eu, que nunca abdiquei de voar. Fiquei. E durante este ir
ficando, fui-me perdendo. Distante de mim. Até à dormência. Até o não querer
voltar. Desse lugar onde me fiquei. Ao longo do percurso. Como quem já não quer
voltar a casa. Como quem carrega as sombras do caminho. Para com elas encher os
espaços (agora) vazios. Todos. E tê-las como companhia.
Por isso, acorda-me agora Meu Amor, e diz-me.
Diz-me que ainda acontecemos. Diz-me que não tenho porque correr. Que a nossa
casa (ainda) é a meta. E que já não há caminho a percorrer. E que aqui (ainda)
é onde sempre quisemos estar. Mas diz-mo baixinho. Numa língua de carinho.
Macia. Com palavras limpas. Não nessa língua suja e estranha, que me atiras.
Que me inflama a pele. Me diz todo o inverso das palavras que pronuncias. Como
pedras que apanhas do chão. Em ferida.
Acorda-me agora Meu Amor, e diz-me num beijo.
Diz-me que devo ficar. Porque não são os copos que (já não) bebemos. Porque não
são as conversas que (já não) temos. Porque não são os carinhos que (já não)
trocamos. Mas sim porque (ainda) somos nós. Diz-me que não há nenhum outro
lugar onde prefiras estar. Que (também) a tua luz nasce aqui. Que a doçura das
palavras não se perdeu. E que ainda somos tudo.
Ou então,
Se o teu beijo já não é capaz de dizer nada disto,
Deixa-me partir.
A ver se ainda não é tarde de mais.
Para me (re)encontrar.
Num "mundo de loucos", em que as relações interpessoais muitas vezes nos "passam ao lado", vamos, com base nas nossas vivências e alguma imaginação à mistura, fazer deste cantinho um centro de reflexão e de diversão.
sábado, junho 03, 2023
ACORDA-ME AGORA
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