sábado, maio 27, 2023

PEQUENO CRIME

Sem nenhum anúncio chegaste. Trazias nas mãos toda a dor do teu imenso pequeno mundo. E com toda a força nelas o encerravas. Era só teu. Mesmo quando olhavas as mãos vazias em dias de tempestade, e esse mundo não era mais que uma superfície inteiramente líquida. Um mar de ausências no qual mergulhavas. Não para te encontrares. Nunca para te encontrares. Mas para (propositadamente) te perderes. E enquanto ficavas nessa solidão fabricada, eras sempre distância. E frio. Para mim. Por não me conseguires conter nessas mãos, enquanto dançavas descalça uma dança que era só tua. Sobre vidros. E desejavas que a vida não fosse mais que um instante.

Pequeno crime.

Hoje, seguro essas mesmas mãos. Olho-as atentamente enquanto tento abrir caminho por todos os mares. Porque sei que nelas serás sempre tu. Em qualquer lugar. Mesmo que não aqui. Mesmo que não comigo. Porque é nelas que tu existes e onde está a tua essência. Extensão dos teus olhos. Os mesmo que respiro. Em profundo. E através deles viajo como um postal endereçado a um destino desconhecido. Sem importar onde é a chegada. Porque sei que lá (sempre) te irei encontrar.

Já quis ser o teu olhar. Extremidade do teu sol.
Agora apenas quero continuar a viajar nele.
Porque hoje sei que

O meu destino
Sempre serás tu.

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