sábado, agosto 19, 2023

EM PERTO

Parar. Recompor os caminhos. Evidenciar importâncias e descartar pormenores. Daqueles. Que não nos fazem. Que não são os que nos definem. Mas que tantas vezes assumem a primazia sobre nós. E passamos mais nós a ser eles do que eles a não sermos nós. Respirar. Relembrar propósitos. Reordenar vivências. Música em fundo. E tu em perto. Tu sempre em perto.

Um pássaro pousa na varanda. Olha-me fixo. Diria que calmo. Agitando todos os outros que vivem em mim. Retirando-te detrás da cena (de onde nunca sais). Trazendo-te às palavras. Nesta distância próxima em que estamos, fazemo-nos dois. Mas no entanto, ainda assim, como se todos os pássaros se unissem, os nossos corpos crescem. Fazem-se caminho. Unificação. E são propósito. E são vivência. E tu em perto. Tu sempre em perto.

Olho o horizonte e tento perceber o que os teus olhos vêem neste momento. Fecho os meus para voar o futuro. Com o pássaro vou onde ainda não estamos. Onde tudo é (também) sobre ti. Uma brisa eleva-te. Segue-te até esse lugar onde sempre acontecemos. Onde a música nos diz segredo e onde nos sabemos. Atravessamos impulsos. Bebemos olhares. E somos respiração. E canto. E sangue. Masculinidade de pensamento. Em estremecimento.

Agarra-me agora as mãos e diz-te outra vez minha.
Leva-me onde quiseres. A todos os lados ou a lugar nenhum.
Mas faz (uma vez mais) tudo recomeçar.

Contigo em perto.
Dentro de mim.

Sem comentários: