sábado, agosto 26, 2023

O MESMO AR

Com os dedos tocando-se sobre a mesa, olho-te nos olhos e é-me impossível não sorrir naquele instante que é todo o meu mundo. Olhar-te é um diálogo intenso. Absorvente. Onde qualquer palavra é excesso. São ainda tantos os nadas que nunca te disse. Digo-os direto para os teus lábios que articulam também nenhuma palavra. Como em eco. Como quem leva no bolso as chaves da mesma porta. Para as usar no final de todos os dias. Para o repouso dos corpos sob o mesmo lençol. Respirando o mesmo ar.

Sobre a mesa trocamos dedos. Pelas suas pontas tocamo-nos por inteiro. Em harmonias de silêncio. Plenas. Formas incompreensíveis de Amor para os demais. Quem nos olhasse não veria mais que dois silêncios. E no entanto, os toques em toda a sua suavidade, não são menos que desejos intensos. Violentos até, na sua tão grande força de amar. No desvario de todos os sentidos ouço os teus lábios mudos chamar por mim. O teu cabelo ondular brisas de corpos. A tua pele fulminar loucuras nossas. Orquestra de sentidos. Em apogeu. Como se não ali. Como se não mais nada.

As mesas contigo são mundos. Quero as mesas todas.
Quero as tuas mãos sobre elas todas.
E os teus dedos. E os teus olhos.

Respirando o mesmo ar.
Sempre.

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