sábado, agosto 05, 2023

LINGUAGEM PARA AMAR

Parecem-te fortes estes braços que te sustêm. Que num abraço são capazes de te erguer. Elevar-te acima de ti. Ser-te proteção. Segurança. Mas é porque não sabes. Não sabes quando a palavra Amor. Ou a palavra Beijo. São meras fibras de sementes. Apenas com a força de promessas do porvir. Que se questionam com a expectativa do futuro. Em incógnita. Dúvida.

Parecem-te firmes estas mãos que te agarram. Que seguram as tuas com a firmeza de porto. Te são garantia. Certeza. Eternidade. Mas é porque não sabes. Não sabes quando a palavra Pele. Ou a palavra Boca. São apenas fragilidade de dedos. Incerteza de palmas. Na constante dúvida do saber. Do ir acontecer.

Parece-te firme este tronco que te envolve. Te transmite calor. Aconchego. Batidas. Mas é porque não sabes. Não sabes quando a palavra Amo-te. Ou a palavra Quero-te. É apenas tremor. Inconstância. Debilidade. Doce devastação interior.

O amor no seu tempo futuro, é terrivelmente profundo. Desconstrução. Linguagem para amar. Sem base de saber. Sem perdão na roda da vida. Porque apenas expectativa. Porque apenas quereres. Que não seguem outra lógica que não a dos desejos. Pensar com delicadeza. Agir com ferocidade. Em nome de todas as loucuras contidas. Por sem ti. Aqui. Agora.

O meu corpo é construído pelas palavras. São elas que o fazem. Construído com base em sílabas únicas. Ainda que comuns. Todas elas te dizem. Todas elas te chamam. Sem tempo. Sem lugares. Porque em mim tu existes. Em frases (in)completas. Em palavras. Sílabas. Até à mais ínfima letra.

Em contínua espera.
Pelas tuas.

Sem comentários: