sábado, outubro 07, 2023

A TUA AUSÊNCIA

Desculpa hoje não ter palavras.
Todas as mãos estão fechadas e todos os braços me apertam o corpo.
Não há horizonte para lá das minhas varandas interiores. Em escuro. Sou apenas sombra. Caminhos curtos. Becos. Minha voz perde-se nas minhas próprias paredes. Sem melodia ou sentido. E eu não me reconheço em nada. Em sítio nenhum. Sou pó. Sobras de outras línguas. Sílabas por dizer.

Hoje não tenho palavras. E dói-me.
Dói-me ser silêncio. Peso. Ausência de som. Que não sendo dito estrilha. Em rasgos. Pequenas lâminas de papel. De cortes finos, invisíveis. Porque assim me é a inexistência da tua presença. Paralisa-me. Não me permite. Aniquila-me e não me deixa ser eu. Pelo que tudo o que resta é apenas isto: o não eu. Que se confunde. Que me confunde. Me leva a questionar qual deles sou.

Não quero ser este ninguém. Que não conheço.
E no entanto, já vou conhecendo vezes demais.

A tua ausência dói-me.
Hoje, é tudo o que tenho para te dizer.


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