quinta-feira, maio 23, 2013

Palavras de ausência

Há palavras.
Várias palavras.
As palavras que nos dissemos
e aquelas que não fizemos nossas em boca
por tanto as sentirmos.

Há palavras.
Muitas palavras, tuas, espalhadas pela casa.
E há o meu nome,
proferido em duas pela tua boca
que não mais irei ouvir.

Há palavras.
Todas as palavras.
E há todo este silêncio, a escorrer pelas paredes
na direcção da tua imagem, emoldurada.



(no dia do meu aniversário, as minhas palavras para ti mãe)

quinta-feira, janeiro 24, 2013

Pai


Diz-me outra vez.
Diz-me onde fica o início de todas as coisas.

Diz-me onde começa o sorriso e como nasce uma flor.
Diz-me onde começa um abraço e como nasce uma cor.
Diz-me onde começa o amor e como nasce uma canção.

Diz-me pai.
Diz-me onde começa a voz e como nascem as palavras.
Diz-me onde começa um olhar e como nascem as certezas.
Diz-me onde começa a ausência e como nascem as tristezas.

Diz-me pai.
Diz-me onde eu começo e tu acabas.
Diz-me onde o meu nome é mais, senão
no momento em que nasce o teu.
Diz-me onde és apenas tu, e não um todo eu.

Diz-me pai.
Diz-me outra vez.
Que eu quero de novo ser menino,
- em casa e outra vez pequenino -
aconchegado nos braços do meu herói.

terça-feira, outubro 04, 2011

(in)existência


Não mais o tempo, nem tu, que lentamente te foste esfumando dos (meus) dias.

Sabia-te viva, porque ainda te sentia em mim.
Sabia-te viva, porque ainda te respirava nos ecos que (agora noutros) reflectias.

Procuravas-te. Sentia-o.
Procuravas-te, enquanto te desprocuravas de mim.

Tu existias algures.
Longe de mim.
Longe das minhas palavras paredes meias com o meu silêncio, que tu (me) impunhas.
E eu, eu aos poucos e poucos fui deixando de saber se ainda me existia em ti.

Vou infinitas vezes aos lugares de nós, com medo que me fales e eu não te ouça.
Com medo que me fales e eu não te responda.
Com medo de perder as tuas frases com palavras para mim e não tas devolva embaladas em palavras minhas para ti.
E que tu, sentindo as minhas portas fechadas, limpes os pés ao tapete pela última vez, antes de embrenhares pelos caminhos da minha ausência em ti.

Vou infinitas vezes aos lugares de nós, mas não encontro a tua voz nos lugares da nossa existência.
Estás num lugar longe de mim.
E eu, muitas vezes imagino-me a esticar (muito) os braços, até ao ponto de te tocar.
Atravesso o teu nome e chego a acreditar que te toco.
Com a ponta dos dedos. Apenas. Ao de leve.
Como um sussurro, por os braços não esticarem mais.
Tão leve que tu não sentes.
Tão leve que tu não me ouves.
Então, abro a boca e recolho o teu nome para dentro de mim, onde te grito.
Tantas vezes te grito.

E tu longe. No teu estado de silêncio.

No imenso desejo de te falar, estive para te enviar uma carta.
Estive para te escrever a palavra amor e te dizer um beijo.
Mas eu não sei se (ainda) a caixa de correio aberta para as minhas palavras.
Mas eu não sei se (ainda) a morada correcta.
Se em risco de outro alguém se apropriar dela.
Se apropriar da minha palavra e ficar com o meu beijo.
E o meu beijo que é só teu e a minha palavra que é só tua, não os quero na boca de outro.
E por isso não a envio.
Deixo-te na tua existência longe de mim.
No teu estado de silêncio.
E levo-te comigo. Sempre.
Guardada como um segredo que se fecha dentro daquela palavra, com o selo daquele beijo. Tão nosso.

...
Nunca as palavras foram um tão grande excesso.
Nunca o silêncio, um tão imenso vazio.

terça-feira, setembro 13, 2011

Excerto "A Vida nos Dias"

Na apresentação do passado sábado, Miguel Leitão brindou-me com duas leituras expontâneas, de segmentos do livro.
As leituras na sua voz, na voz de outra pessoa, trouxeram-me uma sensação diferente, num misto de emoção.

Partilho aqui com todos um dos segmentos escolhidos, juntamente com um agradecimento ao já referido autor das leituras:

"O tempo já é muito. Já não me sei. Perdi-me totalmente de mim. Não me tenho. Imaginei-me (sonhei?) a correr numa praia de mão dada contigo. Senti o teu rosto, o teu corpo, o seu odor e o teu sorriso repousado em mim no embalo de um olhar. Os nossos pés descalços num embrenhar de areia, com frinchas de dedos em arrepio. Um odor a mar, num gélido salgado de ossos. Um odor acre a maré baixa com uma floresta de rochas a descoberto. Desviámos aqui. Saltámos ali. Mais um passos de cautela um pouco mais à frente. E o teu apertar firme de mão segurança. De mão equilíbrio. O mergulho ao fundo e a nossa lentidão no chegar. As nossas palavras abertas para o outro e o mundo à nossa volta. Uma floresta de rochas com o mergulho ao fundo. Desvios sucessivos. Apertos da mão. Mergulho ao fundo. Mergulho sempre ao fundo. Mergulho que não chega. Avançando. Por entre apertos de mão e desvios de floresta. Mergulho cada vez mais ao fundo. Mão que se larga. Rosto que se procura. Um tropeçar em algo. Um corpo. Ricardo em mergulho. Tu longe, muito longe. Acordei(?)".

quarta-feira, setembro 07, 2011

Apresentação do livro "A Vida nos Dias"


Caros amigos,

Convido todos a estarem presentes na sessão de apresentação do meu livro “A Vida nos Dias”, que irá ter lugar no próximo sábado, 10/SET pelas 18h00, no Piano Bar do emblemático Clube Literário do Porto.

Na apresentação participarão Celeste Pereira (na voz) e Pedro Lopes (ao piano).
Estão reunidas as condições para uns momentos agradáveis.
Espero poder encontrar-vos.

Até lá,
Com um forte Abraço.

quarta-feira, junho 29, 2011

3 Dedos

(memórias de uma noite de ausências)

Porque sempre foste um homem de mãos abertas, para tudo e para todos, foi apenas no final da noite que, quando finalmente olhaste as mãos, reparaste que apenas tinhas recolhido 3 dedos.

Não necessitando seres tu um especialista em matemática, olhaste os restantes e viste que não só havia mais dois pares de 3, como ainda sobejava um outro. E ao contrário do que pensaste, nem era sequer o mais pequeno. Era o maior de todos.

Incrédulo, ficaste a olhar as mãos.

E não sabendo se deverias ficar preocupado, indignado, triste ou magoado, procuraste por razões. Procuraste. Mas não as encontraste.

Porque não havia razões capazes de te afagar o desolo.
Não havia razões que justificassem a ausência.
Não havia razões que minorassem o mau sentir, pela falta sequer, de uma simples palavra.

E então reviste-te. Olhaste-te por dentro. Foste às entranhas de ti.
E viste. Viste que aquilo que cada um deles era para ti, tu não o eras para eles.
Tu eras apenas um. Mais um, quando não eras a necessidade do momento.

E então, fechaste as mãos. Recolheste todos os dedos. Todos com excepção de um. O maior. Com a certeza de que, o gesto não havia partido de ti, mas daquele, que pela força da sua ausência, não fez com que ele se recolhesse, de forma autónoma.

E aquele gesto, o gesto que ficou, não era teu.
Naquele momento, aquele gesto, eras TU!

terça-feira, maio 31, 2011

Lançamento de "A Vida nos Dias"

Não existe uma só verdade.
A verdade é o somatório de múltiplas realidades.

Por vezes,
seguem caminhos separados,
eventualmente até paralelos,
sem nunca se tocarem.

Outras vezes,
encontram-se de forma perfeita,
numa autêntica simbiose,
como se não fosse possível até,
terem existido como realidades separadas.

Não existe uma só verdade.
Existem pelo menos tantas
quantos os intervenientes.

(Filipe Paixão in "A Vida nos Dias")


Caros Amigos,

É já no próximo dia 17/Jun (sexta-feira), pelas 21h30 no Café-Teatro Rivoli (Porto), que vou lançar o meu 3º livro.
Um novo romance, escrito durante os últimos 3 anos que tem por título “A Vida nos Dias”.

Porque a presença de cada um faz a diferença, gostaria de poder contar com todos vocês.
A animar o evento, estará a 575 Band, com todos os seus êxitos e algumas surpresas…

Aparece e traz um amigo!